MacGuffin escrita por Yuu-Chan-Br


Capítulo 1
Prólogo


Notas iniciais do capítulo

Para quem não sabe, MacGuffin se passa após Dream Café, outra história minha, deixarei o link nos comentários finais.
Tl;dr - MC se chama Jiyeon e está morando com Jaehee, ambas são um casal e todos os membros do RFA sabem. ♥



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Agonia, suplício, tortura… Poderia pensar em diversas denominações para a sensação em seu peito enquanto ouvia o celular chamar do outro lado da linha. Agachado num canto dos bastidores do palco, a mão tamborilava contra a parede sem muito ritmo, as sobrancelhas franzindo grado a grado a cada toque não atendido. Grunhiu. Ergueu-se e andou de um lado a outro por entre o cenário pré-montado, a ansiedade lhe correndo e o âmago lhe implorando por um cigarro. “Só um, que mal pode fazer? Só pra dissipar essa maldita tensão”, uma vozinha sussurrava no fundo de sua mente conquanto em simultâneo lhe vinha a imagem da amiga morena de cabelos compridos a o fitar numa braveza encantadora. “Nada de fumar também!”, riu-se ao lembrar da cena, levando uma das mãos à boca.

— Zen-ssi?

A ligação conectou no exato momento, o susto da interrupção de seus pensamentos quase o fazendo derrubar o celular no chão.

— Ji-ssi?! – exclamou, exasperado. Acomodou o aparelho contra a orelha com ambas as mãos, fazendo uma concha perto da boca, ampliando sua voz e diminuindo o barulho.

— Aconteceu alguma coisa? – Houve uma pequena pausa, durante a qual Jiyeon pareceu se certificar de algo. – Já está quase na hora da peça começar, não?

O albino grunhiu outra vez, esfregando a palma sobre o rosto antes de retornar à posição anterior.

— Sim, vai, é por isso mesmo que eu liguei… – pausou. Sentiu a necessidade de engolir, mas a boca estava tão seca quanto um deserto, podia quase sentir os grãos de areia. Mordeu o lábio inferior em nervosismo antes de, por fim, fazer a pergunta. – Você sabe por que Han Jumin está na primeira fileira da plateia?

Em contraste ao burburinho do outro lado da linha, houve uma considerável pausa da morena antes de explodir em gargalhada. Ouviu Jaehee a repreender de forma sutil e passos apressados ao fundo. O riso continuava, contudo, um pouco mais abafado do que antes  – talvez tivesse coberto a boca. Puxando o ar para si com dificuldade, Jiyeon perguntou, alternando entre risadinhas e resfolegar:

— Ju-ssi está na plateia?

Zen estalou a língua ao ouvir o nome do outro, sua irritação tão discreta quanto um elefante fantasiado de palhaço:

— Ele não está só na plateia, ele está bem no meio da primeira fileira! – Ergueu-se outra vez e abriu uma fresta da cortina do palco, espiando o assunto ali, erguendo a manga de seu terno para consultar as horas em seu rolex. Revirou os olhos em desgosto. – O que infernos ele tá fazendo aqui? Ele nem gosta das minhas peças!

“Ele nem gosta de mim!” pensou consigo mesmo, embora a frase tivesse saído de outra forma.

— Eu não sei, mas gostaria de estar aí pra ver – ela admitiu, divertida.

— Então não foi você que deu essa ideia pra ele? – Fechou a cortina e voltou para sua posição anterior, embora os funcionários de apoio começassem a organizar os cenários.

—  Não, mas quero abraçar quem deu! – Riu outra vez. Começou baixo, chocalhado, evoluindo aos grados para algo mais intenso. — É genial!

— Jae-ssi tem razão, às vezes a semelhança entre você e o Seven dá calafrios… – Pressionou uma mão contra a testa, sentindo-a latejar.

— Então não foi ideia dele também?

— Não – bufou. – Eu entrei no aplicativo antes de te ligar e ele teve a mesma reação… riu até não poder mais e disse não ser o culpado, mas queria que tivesse sido. – Ouviu-a voltar a rir. –  Ah, quando eu descobrir quem foi – ameaçou, apesar de nem ele mesmo saber ao certo como ou se de fato puniria a pessoa em questão.

— Talvez você devesse agradecer a essa pessoa – disse a sério, apesar do tom de brincadeira em sua voz. – Ah, Zen-ssi, Jaehee-ya está me chamando, preciso ir. A loja começou a ficar movimentada!

— Ah, sim, claro! – Animou-se. – Sei que já devo ter dito isso um milhão de vezes, mas parabéns pelo sucesso da loja!

— Hm – fingiu ponderar. – Acho que já contou um milhão e meia agora – riu-se. – Até! Quebre uma perna? Não de verdade, já bastou da outra vez.

Zen viu graça em sua tentativa de usar um jargão do meio teatral e de sua preocupação. Agradeceu, despediu-se e desligou o celular. Agachado e escorado numa parede com o ombro, enxergou-se como um tolo a pressionar a testa contra o aparelho e pensar no quão adorável era possível uma pessoa ser. Suspirou. Havia prometido a si mesmo não alimentar mais esperanças – elas eram comprovadamente nulas –, porém seu cérebro e seu coração discordavam nos mais básicos dos fatores, o desnorteando. O sorriso morreu aos grados enquanto contornava a tela com o polegar. Vislumbrou de esguelha a cortina fechada e grunhiu. Preferia mil vezes Jiyeon na plateia, não havia sequer comparação. “Você devia agradecer pra pessoa”, ecoou-lhe na mente, irritação a lhe fervilhar o âmago. Como poderia agradecer? Decerto estava lá com o único intuito de encontrar falhas em sua atuação e o desmotivar de alguma forma. Enquanto rangia os dentes em frustração, um de seus colegas o avisou estar quase na hora de entrarem em cena. Zen ergueu-se, respirou fundo, cerrou os punhos e balançou o rosto para os lados. Seus olhos arderam um tanto ao abrir das cortinas revelar a iluminação intensa do outro lado. Sorriu. Han Jumin à parte, era sua hora de brilhar.

***

Não conseguia se recordar da última vez em que pusera os pés num teatro. O burburinho de pessoas lhe incomodava um tanto a audição, embora o fato de os assentos adjacentes ao seu estarem vazios aliviava um bocado sua frustração. Não havia como ser diferente, afinal, fora ele próprio a comprar os lugares. Na verdade, havia considerado comprar a fileira inteira, mas possuía a certeza de ouvir o ator reclamar por horas e horas caso o fizesse, embora o fato de a fileira ser preenchida por pessoas ou permanecer vazia não influenciasse financeiramente a peça. Os ingressos já estavam comprados. Convivência social humana não era muito seu forte, mas se esforçava, como naquele momento. Esforçava-se, por exemplo, para não perguntar a algum funcionário o motivo de a peça não ter começado mesmo seu relógio indicando ter passado cinco minutos do horário impresso no folheto informativo. Conformou-se. Buscou uma posição confortável na cadeira algumas vezes apenas para chegar à conclusão de a mesma ser inexistente. Conformar-se-ia com muitos fatos no decorrer da noite, ao andar dos acontecimentos. Preparava-se para recorrer ao celular no bolso quando as luzes da plateia se apagaram e as do palco se acenderam, mostrando o diretor da peça ao centro dos holofotes, orientando-os.

Jumin acomodou o folheto sobre as pernas cruzadas e ergueu os olhos claros aos atores rumando palco adentro. Segundo as informações colhidas no panfleto, a história era a respeito de um policial investigador à procura de um serial killer. Deveria ser surpresa, mas ele sabia que em determinado ponto ambos teriam um relacionamento amoroso – podia agradecer aos dotes fotográficos de Jiyeon pelo informe – e pelo próprio Zen a respeito de suas frustrações quanto à cena de beijo. Chegou a pôr em cheque o profissionalismo dele ao reclamar de algo inerente a seu trabalho, embora estivesse cansado demais para iniciar uma conversa cujo final mais provável seria uma discussão. Por ora, contentar-se-ia em avaliar se o amigo de fato necessitaria de algum tipo de ajuda – embora duvidasse muito que ela fosse aceita, caso ofertada. Exalou pelo nariz e encolheu os ombros, acompanhando com a visão a cena diante de si.

A ambientação do local mudara por completo numa questão de segundos, muito curioso. Tornara-se lúgubre, à meia-luz, dando um ar de melancolia condizente ao acontecimento: um corpo no chão, com o inspetor de polícia – Zen –  a avaliar a situação. Seus trejeitos eram um bocado exagerados – provavelmente para que todos enxergassem –, a atuação era convincente. Sem perceber havia se inclinado um bocado para frente a fim de prestar atenção em cada meneio. Perguntou-se qual teria sido sua inspiração para o papel. Sem sombra de dúvidas a primeira indicação para um personagem com tal função seria Sherlock Holmes e, ao pensar no fato, seus devaneios começaram a percorrer um caminho próprio e se desvencilhar dos acontecimentos diante de seus olhos. Quando deu por si, já ocorria outra cena e ele levou alguns instantes até se situar outra vez, precisando recorrer ao resumo da obra em seu folheto, satisfeito por se localizar com facilidade. Tomaria cuidado dali em diante para não cometer a mesma gafe.

Olhava, cuidava, analisava. De quando em quando erguia uma sobrancelha, cruzava e descruzava os braços e apoiava melhor as costas na poltrona, tudo de acordo com sua imersão na história. Apesar de suas expectativas serem sucessivamente superadas, havia um certo desconforto em pontos específicos da atuação do albino. Por vezes, por exemplo, apercebia-se de seu olhar sobre a plateia – em específico sobre si –, não lhe parecendo de todo profissional. Estava nervoso por lhe ver ali? De fato era a primeira peça do amigo a ver em pessoa – havia cedido à curiosidade de assistir os DVDs de algumas outras peças por conta de Jaehee, embora se recusasse a admitir o fato em público –, mesmo assim custava a compreender a necessidade. Não negava a análise crítica feita e, sabia, seria julgado por isso, apesar de o fazer com o simples intuito de aconselhar o outro em caso de necessidade, além de, claro, cumprir seu objetivo ao assistir a peça, cético como fosse.

“Se você quer entender melhor ela, por que não tenta fazer o que ela gostava? Tentar se pôr no lugar dela?”, o conselho em forma de pergunta pairou sobre sua mente. Lembrava-se de uma conversa no aplicativo onde Jaehee dizia usar seu tempo livre para assistir as peças de Zen, então a ideia veio em automático. Agora, contudo, começava a se questionar quanto à validade de sua autossugestão. Apesar de a peça lhe servir como entretenimento, falhava miseravelmente em compreender o ponto de vista da ex secretária. Perdido em pensamentos, sentiu o celular vibrar no bolso e olhou em sua direção, a possibilidade de o retirar do bolso e checar seu conteúdo o tentava, mas se conteve. Poderia checar o assunto ao fim do ato teatral, não desejava ser indelicado com o trabalho do amigo.

Apesar do incômodo por ser observado com olhos perfurantes de quando em quando, estava disposto a dar ao outro uma boa nota de avaliação – embora não fosse tão extraordinário quanto Jaehee fizesse parecer –, nota esta revista de imediato em conseguinte. Estavam ele e o ator do assassino – embora o detetive não o soubesse ainda àquela altura –, e, em determinado ponto, após um aprofundar de sua relação, ocorreu a tão esperada cena de beijo. Jumin se inquietou. Não pelo ato em si, e sim por se recordar da foto tirada por Jiyeon e a atmosfera atual estar muito diferente daquilo. Houve uma estranheza por parte de Zen, segundos durante os quais ambos  os atores se encararam na expectativa de algo e nada aconteceu, seguido dos olhos vermelhos outra vez sobre si. Soltou um suspiro cansado. Considerou com veemência a possibilidade de se levantar e ir embora após ter suas expectativas quebradas – e não eram altas–, mas ficou. Assistiria tudo até o fim, pois esta seria a única forma de poder avaliar o que fosse; bom ou ruim. Não teria propriedade para falar a respeito caso saísse no meio, não? Voltou a cruzar os braços e se recostar contra a poltrona. Já ponderava como abordaria o amigo após o fechar das cortinas e se conformava com a certeza de um novo conflito consequente. Pressionou a testa. Não seria uma noite fácil.

***

— Bom trabalho, a gente se vê amanhã! – Um de seus colegas disse ao lhe dar leves tapas nas costas e se afastar.

Zen se apressou em afastar da boca a garrafa d’água e se despediu com igual amabilidade, muito embora o sorriso se desfizesse conforme a figura sumisse de suas vistas. As pálpebras lhe pesaram sobre os olhos rubros e um suspiro foi inevitável. Rosqueou a tampa de volta na garrafa e a guardou de volta na mochila. A lembrança de seus erros durante a peça martelava sua cabeça ao ponto de desnortear. Mais ainda, acontecia em específico quando o maldito Han Jumin estava na plateia! Estalou a língua em irritação, agarrou intempestivamente a jaqueta da cadeira onde repousava e a vestiu, galgando os passos para fora. Terminava de enfiar o outro braço na manga – fazendo malabarismos para não derrubar os pertences no processo –, estacando de repente. O sorriso antes azedo terminara de se estragar por completo, decompondo-se. Logo na saída da concentração estava o motivo de seu desagrado: rolava o dedo pela tela do celular, como se buscasse uma forma de distração durante a espera. Quem havia contado onde estava? Decerto subornara algum funcionário e apenas o pensamento já era o bastante para fazer seu sangue ferver. Lamentável como fosse, não havia uma outra passagem além daquela, era um rato encurralado. Resignar-se-ia. Arrumou a alça da bagagem no ombro e tentou deixar sua expressão mais neutra possível. Talvez não fosse notado se andasse rápido o bastante, ele estava distraído! A possibilidade o animou e já se apressava para a saída, quando foi chamado. “Zen-ssi, seu amigo está te esperando, você não viu?”, avisou uma colega de trabalho.

— Ah, não, eu não percebi – mentiu. Por melhor ator que fosse, não conseguiu ocultar por completo sua irritação. Olhou de esguelha e notou o moreno a se aproximar, contendo o ímpeto de bufar outra vez. – Han Jumin – disse sem fazer questão de virar em sua direção.

— Zen – respondeu em igual entonação, o celular guardado no bolso durante o caminho percorrido.

— A que devo a honra de sua presença? – Podia sentir a ironia a lhe escorrer da boca enquanto as palavras eram proferidas.

— Pode-se dizer ser um tipo de laboratório.

A resposta dada com naturalidade – ignorando o cinismo com o qual fora abordado – irritava o ator ainda mais. Em uma situação normal ele se vangloriaria e perguntaria sua opinião sobre a peça, mas não era esse o caso em questão. Sentia-se mal. Sabia não ter dado o melhor de si e o fato o corroía por dentro com mais intensidade a cada segundo passado na companhia do outro.

— Laboratório? – perguntou, torcendo para o assunto se desviar a partir de lá.

— Sim, laboratório. Foi sugestão recebida e não achei de todo ruim, então a segui.

Zen ainda gostaria de torcer o pescoço da pessoa em questão, ou ao menos lhe dar uma bronca, mas manteve-se como estava. Longos segundos se arrastaram por uma eternidade enquanto ambos se entreolhavam. Aliás, enquanto Jumin o olhava, pois ele se angustiava e acabava por desviar a atenção para um ponto qualquer.  Por fim o moreno disse:

— Sinceramente, eu esperava um pouco mais.

O ator sentiu uma veia pulsar em sua pálpebra.

— Oh, não correspondi às expectativas do Sr. CEO?

Jumin arqueou uma sobrancelha ao elevar de sua voz,  sutil como fosse. Pareceu confuso, embora sua expressão não fosse lida com facilidade pelo outro.

— Com toda a sinceridade, não. – Notou o franzir de seu cenho. Desânimo se apossou de si ao pressentir uma tempestade chamada Zen. – Mas imagino que não queira ouvir uma crítica detalhada a respeito da minha opinião.

“Óbvio que não! Quem ia querer ouvir a sua opinião? Você nem deve entender nada de teatro!” o albino pensou em gritar aos quatro ventos. Conteve-se. Reconhecia seus próprios erros e sabia não ter feito uma performance de fato digna de elogios. Respirou fundo, engoliu o amargo de ter seu orgulho afrontado e respondeu:

— Certo, sou todo ouvidos.

Se houve algum tipo de gratificação em sua atitude, sem sombra de dúvidas fora a expressão atônita de Jumin ao receber um retorno positivo.


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Notas finais do capítulo

[Yuu-Chan-Br]: Pois bem, minha gente, eis aqui o primeiro capítulo da prometida história. ♥ Espero que gostem! E para os que pegaram o bonde andando, essa fanfic se passa na mesma linha temporal de Dream Café ( https://fanfiction.com.br/historia/720209/Dream_Cafe/ ), minha fanfic Jaehee x MC. Tenho muitas ressalvas, dúvidas e inseguranças quanto a esta história, em principal sobre como fazer ambos ficarem juntos de forma saudável enquanto Jumin faz parte de uma família de renome num país tão conservador quanto a Coréia do Sul orz… bora lá.