WSU's A Frente Unida escrita por Lex Luthor, WSU


Capítulo 11
Epílogo




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Os olhos se abriam e fechavam.

Abriam e fechavam.

A luz não deixava que ele visse bem, sua visão era embaçada. Porém, logo podia ver melhor, um enfermeiro. Um rapaz negro e de aparência simpática. Confuso, sedado, olhava os arredores e viu que estava num quarto de hospital.

Conferiu se estava tudo bem com ele mesmo, mas não.

Não estava nada bem.

Marcos pôde ver ao lado direito da maca o seu Gato albino colocando uma cédula de cinquenta reais na boca de uma cabeça decepada, que sempre o assombrara.

— Tudo bem, ele não morreu dessa vez. — lamentou o felino.

A cabeça recebeu o dinheiro com felicidade.

O cão deitado com olhos esperançosos lamentava triste:

— Papai cachorro quebrou a asa — disse o cão num uivo de tristeza.

Ainda sentindo o efeito dos remédios que tomara, Marcos olhou para o lado esquerdo.

— Que “viage” é essa? — indagou confuso ao perceber a falta do membro. — Meu braço! — gritou desesperado. — Você. — Apontou para o enfermeiro. — Você arrancou o meu braço!

O enfermeiro se espantou, mas assim que ouviu os balbucios da voz do paciente, viu a graça da situação. 

— Calma, senhor. — pediu educadamente abrindo um sorriso. — É um momento difícil.

— Não me manda ter calma! — Marcos esbravejou.

Atualmente, Marcos era um empresário, mas ainda pesava sobre si o fato de lecionar artes marciais e ser ex-lutador de MMA. Não era um peso que carregava, mas um prazer, algo que havia aprendido a gostar de fazer. Talvez, não naquelas circunstâncias.

Pensava no quão difícil seria manter seu ofício, seu prazer, a partir daquele momento. Aquele era mais um ponto baixo na curva da vida do confuso Marcos.

— Você tem um sorriso muito simpático — comentou Marcos com lágrimas nos olhos. —, deveria ser garoto propaganda da Colgate e não me pedir pra ter calma!

— Obrigado — agradeceu o rapaz. —, mas eu insisto que o senhor deve acalmar-se.

— Eu quero o meu braço! — disse Marcos fazendo birra. — Eu vou te derrubar com a minha canhota. — Olhou mais uma vez para o braço. — Não, pera...

A porta amarela do quarto branco, monocromático e branco se abriu. Vanessa, sua linda e adorável filha entra.

— Va-va — Marcos gaguejava, a voz trava.

E aquele pequeno momento o fazia esquecer-se da gaze no coto que restou do braço esquerdo.

Vanessa, inocente. Um sorriso triste e amargurado estava na boca da garota. Ela segurava um barbante preto na mão. Correu ao ver o pai consciente e o abraçou.

— Meu amor. — Marcos a pressionou contra seu peito com a mão direita enquanto é abraçado.

Ela sorriu.

— Tava fazendo o colar mais bonito para você. — disse Vanessa pondo o barbante preto envolta do pescoço do pai.

Pendurado no barbante, a aliança. Símbolo de seu casamento.

A porta aberta deixava que mais uma enfermeira adentrasse. Esta carregava uma criança em seus braços.

— Não, não. — disse Marcos cobrindo a boca. — Isso não é real, eu morri.

A enfermeira entregou sutilmente a criança ao pai. Ele pega o garoto e aninha com ternura em seu colo. Lágrimas começavam a correr em seu rosto.

— Oi, campeão. — Sorriu. — Eu sou seu pai!

O bebê recém-nascido dá uma risada. As pessoas no quarto, maravilhadas com o momento.

 — É, desgraça! — disse Marcos, numa felicidade que não podia ser explicada. — Eu sou seu papai.

Ele se deu conta de que falta algo naquele momento. Levantou-se da maca com a criança no braço, fazendo com que os enfermeiros se assustassem.

— Calma! — gritou o simpático enfermeiro.

— Rapaz, se tu me pedir outra vez isso eu te prometo que vou achar o meu braço e enfiar ele completo no seu grande... — ameaçou Marcos com raiva.

— Pelo menos leve o soro, senhor. — sugeriu a enfermeira.

Pelo corredor do hospital, seguia um homem de avental hospitalar, apenas um braço e neste, um recém-nascido. Uma garota puxava uma haste de rodinhas com um soro pendurado.

— Sabe onde a mamãe está? — perguntou Marcos à filha e ela acenou positivamente. — Velozes e furiosos no corredor? — propôs para a filha.

As pessoas ficam espantadas com o deficiente correndo com uma criança no braço e outra ao seu lado, o avental deixava amostra suas partes traseiras e isso aumentava o constrangimento das pessoas.

Chegaram ao quarto.

Ofegantes.

Elisa, operada e de touca os olha. Marcos encheu mais ainda os seus olhos de lágrimas. Olharam-se. Marcos pôs o filho no colo da esposa e a beijou. Vanessa ficou ao lado dos dois, abraçando a mãe. Quando os lábios se separaram, ele tentou falar:

— Eu sei que eu devia te escutar mais. — O seu nariz começa a assobiar com o choro. — Mas você conhece como o seu homem é burro.

Vanessa soltou uma gargalhada.

— Você não é o meu homem — disse Elisa com um sorriso no rosto. —, é o meu super-homem.

Talvez você esteja se perguntando: “Ele acabou de perder um braço, por que a esposa está sorrindo?”.

Talvez eu não saiba como responder você ao certo.

Mas se permite dizer...

Existem sete bilhões de humanos, entre 30 milhões de espécies nesse planeta.

Tudo num sistema solar de 100 bilhões de estrelas, que está entre 200 bilhões de galáxias e estas formam um dos possíveis universos no multiverso.

E nas entrelinhas, percebo todos os dias que apesar dos pesares a sorte, ou o acaso, ou destino me deu a chance de ver o sorriso e sentir o abraço dessas três pessoas à minha volta.

E se nada disso acontecesse, nada faria sentido para mim.

 

 

 

Carol chegava à surdina ao quarto. Sua amada, deitada na cama, coberta pelos lençóis de cetim bege. A expressão no rosto angelical enquanto ela dormia a fez parar e admirá-la por segundos que se tornam eternos.

O canto vazio na cama logo foi preenchido por Carol vestida com seu lingerie azul. Ela a abraçou e, logo, Ana despertou.

— Cansada de salvar o mundo? — perguntou Ana aos bocejos, ao virar-se para Carol.

Carol sorriu.

— Cansada de me afastar de você toda vez que eu tenho que fazer isso. — respondeu Carol.

— Não está pensando em sair para... — disse Ana, quando foi interrompida.

— Sim! — respondeu animada. — Veneza, Londres, Paris? É só escolher. — disse Carol esperançosa.

Ela acariciou os curtos cabelos negros de sua amada e seus lábios se encontraram.

Pois se os sentimentos não acontecerem, não há por quer viver. Os sentimentos nos unem, fortalecem e trazem esperança mesmo quando não tenhamos a mínima chance. 

 

 

 

Arthur Brandão fazia fisioterapia, treinava a coordenação e a força sobre dois longos corrimãos de aço inox. Percorria lentamente, enquanto o fisioterapeuta o auxiliava. Azathoth e Erik o observavam.

— Eu sei que ele vai se recuperar — disse Azathoth. —, mas acha que ele vai nos perdoar, Erik?

— Diabos! Somos como heróis para o garoto, Victor. — Erik respondeu ao seu amigo.

— Acho que desta vez, o herói dele deve estar sendo sepultado. — respondeu Azathoth.

E a esperança é nutrida desses sentimentos, tenho certeza de que é uma dádiva. Uma daquelas que foram reservados exclusivamente para a humanidade, ou qualquer outra droga de significado para outras espécies. Que contraditório, mas é o que nos move, e assim, nascem os heróis.

 

 

 

A ONU fazia uma reunião para prestar condolências às vítimas de Washington e homenagear os heróis de Nova York e do Rio de Janeiro.

Enquanto o presidente da organização discursava, Karen e Aracnídeo representavam a Frente Unida.

Aracnídeo tinha um gesso com a assinatura de Rafael e seus amigos do colégio no braço e a faixa que pendurava o gesso presa ao seu ombro. Jovens influentes, condecorados com medalhas de honrarias no peito, mais acima, olhos tristes. 

— Eu sabia que esse momento iria chegar, mas não achei que seria melhor. — Aracnídeo desabafava intimamente para Karen.

Karen não conteve as lágrimas e desceu do palanque escondendo o choro.

Heróis podem nascer da humanidade, mas ela não é eterna.

E assim como humanos morrem um pouco a cada dia, heróis também morrem como todo humano. Um dia, eles nos deixam.

 

 

 

O Soldado Fantasma andava cambaleando com suas vestes ensanguentadas pelas ruas cariocas após a batalha contra os terroristas e, seu próprio aliado, O Temerário. 

Sua cabeça doía, seus olhos ardiam. A respiração ofegante e o suor frio demonstravam mais do que cansaço. Escorava-se nas paredes para que pudesse andar. As pessoas, em pânico, transitavam assustados pelas calçadas lotadas e carros em alta velocidade pelas avenidas.

Ele ouviu uma voz rouca e falha em sua cabeça.

Não é engraçado, Tales? Ser o vilão do dia?

Tales olhou para si mesmo e abriu um sorriso confuso, ria de sua própria situação.

— Eu salvei pessoas, Ragnar — respondeu o Soldado.

Não, você fez mais do que isso! Vê o sangue no seu traje? — O Soldado olhou para seu traje ensanguentando. — É o sangue do Caveira nas mãos.

Mais fortes dores começavam a atormentá-lo, levou as mãos à cabeça e sentou-se no canteiro da rua.

— Não pode ser verdade — afirmou o Soldado.

Lágrimas percorriam o seu rosto, quando viu uma garotinha, com um urso na mão, chamando pela mãe na multidão desesperada com o ataque. O fluxo de pessoas era enorme, um cotovelo sobrou e acertou o olho da garota, fazendo-a tombar para a avenida.

Um veículo 4x4 vinha em alta velocidade na direção da garota. Vendo aquela situação, o Soldado não tinha tempo para pensar e sim tomar uma atitude. Correu o mais rápido que pôde e empurrou a menina para a calçada, mas não pode evitar a colisão consigo.

Ficou no chão estendido, um filete de sangue saindo de sua boca, um corte indo de sua testa à orelha esquerda, seus olhos fixos e sem vida para o céu, um urso de pelúcia ao seu lado.

Qualquer caminho que optarmos vão existir pedras e nelas os tropeços.

Aprendemos com os erros, nos levantamos e fazemos mais: Tiramos as pedras do caminho, para ajudarmos o próximo.

A humanidade é frágil, mas não está estilhaçada.

 

 

 

Na Colômbia, o cemitério de Medellín lotado. Dava adeus a Jamez González, outrora traficante da cidade, agora herói mundial. As pessoas deixavam o túmulo, mas só um restava na chuva intensa.

Neverfallen usava uma capa de chuva com capuz preto. Em suas mãos um chapéu Homburg branco. Aproximou-se do túmulo e deixou o chapéu à frente da placa de mármore preta com letras douradas gravadas:

 

Vésper

 

— Vaya com Diós, hermano — disse Neverfallen ao dar as costas e ir embora.

Apesar do grande vazio, temos que superar as perdas.

Todos erramos e morremos como humanos.

É isso que nos dá essa condição.

É isso que nos torna heróis.

 

A FRENTE UNIDA

 

 

 

Seis meses depois

 

Karen Maximus entrou na nave Carmem, com seu traje branco. Caminhou cansada até o monitor principal da sala de estar. Com dois toques na tela, o ambiente da nave enchia-se com uma música.

Boa noite, Lady Hornury. — cumprimentou Carmem.

O cansaço começava a dar espaço ao som de Kool and The Gang – Hi De Hi De Ho, a garota batia o pé acompanhando o hit dos anos 1980.

— Já disse que adoro os anos 1980, Carmem? — indagou Karen.

Já disse exatamente o contrário, Lady Horbury. — respondeu o sistema operacional.

— Bem, acho que as coisas mudam. — rebateu a garota Maximus. — E a situação do Tales, mudou?

Ainda está desaparecido, lady Horbury. — respondeu Carmem. — Entretanto, há uma peculiar mudança ocorrendo, mas comportamental. Seria ótimo que fosse de seu conhecimento.

— Manda bala, tigresa. — disse Karen sem expressão no rosto.

A música parou aos poucos e um holograma começou a ser reproduzido nas imediações da nave. Eram recortes de jornais locais do Mato Grosso.

Na cidade de Cáceres, uma família inteira morta a facadas, o principal suspeito: o filho de apenas oito anos de idade, que está desaparecido. — disse o repórter enquanto as imagens mostravam os mortos de rosto coberto pela perícia. — A perícia ainda não sabe explicar como o garoto teve força para movimentar os corpos.

Surreal! — enfatizou uma repórter. — Briga de bar entre dois amigos, na Cidade de Cáceres, generaliza e acaba em mais de vinte mortes.

Rebelião no presídio da Cidade de Cáceres, deixa hospitais superlotados, a lista de feridos só não é maior do que os obituários. — disse outro repórter.

O holograma apagou-se.

Os últimos três dias foram bem movimentados na Cidade de Cáceres, Lady Horbury, nesse intervalo ultrapassou a Cidade do Corsário no ranking de violência.

Karen estava perplexa, havia algo de sobrenatural ali. 


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Notas finais do capítulo

A FRENTE UNIDA RETORNARÁ EM “A FRENTE UNIDA EXTRAORDINÁRIA”.



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