Tóxico escrita por Bia


Capítulo 1
Capítulo I




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Existe uma série de coisas incontestáveis. Ou, pelo menos, que ninguém esperto o bastante ousa contestar. Como o fato da Terra ser redonda, ou talvez que seres humanos são compostos de células. Há milhares de milhões de exemplos como esses, todos de base científica e aceitos pela sociedade.

Mas só porque não há uma comprovação de pessoas especializadas, não quer dizer que não se caracterize como fato incontestável. Deixe-me explicar melhor. Quando um professor, da matéria que você detesta, anuncia que vai entregar as provas, justo aquela que você sabe que se deu mal pois todos os seus amigos responderam diferente de você, e a probabilidade de você estar certa e um número considerável de pessoas errada é mínimo. Levando em conta que você decidiu não pensar muito no assunto até que soubesse com certeza o resultado da prova, bem... Eu diria que você se sentiria nervoso, nem que fosse só um pouco, dependendo da pessoa que você é.

No meu caso, era inevitável bater com as unhas na mesa, formando um som padronizado, uma forma do desespero de não conseguir ficar parada pela ansiedade.
Isso é um fato incontestável – ou talvez não tão incontestável assim.

Se você se identifica com uma pessoa que fica incomodada com pequenas coisas irritantes, certamente teria de admitir que, em uma outra situação, alguém perto de você na sala de aula batendo com as unhas na mesa enquanto você se esforça para não produzir ruídos é uma coisa que te deixaria de mau humor. E quanto mau humor. Principalmente se a pessoa em questão é alguém que você não goste, aí você sente o calor do ódio se espalhar pelo seu corpo.

— Miss Evans. Por que não compartilha suas anotações com o resto da classe?

— Eu só estava anotando o dever de casa. Desculpe, senhor.

É claro que o professor não havia caído nessa, ele percebera o tempo que Lily passara escrevendo, e uns bons 10 minutos eram muito mais do que o suficiente para ela ter escrito o dever de casa, mas ele não insistiu. Tinha apenas mais alguns minutos de aula e discutir com uma aluna do segundo ano não parecia a coisa mais sensata a se fazer.

Lily fechou o seu caderno, semelhante a um sketchbook, e o guardou na mochila. Não tocaria mais nele até que estivesse fora da sala de aula, mais uma situação parecida levantaria suspeitas sobre o que diabos ela tanto escreve, chamaria atenção para o caderno, e alguém certamente teria a curiosidade de lê-lo, o que estava fora de questão.

Podia-se explicar o seu pequeno caderno como um diário, mas não escrevia apenas coisas do seu dia a dia, escrevia monólogos, discursos, sequência de ideias e pensamentos. Há alguns anos deve ter visto que isso ajudava a incentivar a criatividade, e realmente ajudou. Ajudou em vários outros aspectos de sua vida. O lado ruim é que se tornou uma pessoa quase compulsivamente organizada.

Mal teve tempo de fechar o zíper de sua bolsa quando a pessoa atrás dela lhe entregou um pedaço de papel. Antes de abrir ela olhou para trás, mas a pessoa apenas deu de ombros, indicando que não fora ela quem escreveu e que também não sabia de quem era.

Curiosa, desdobrou o bilhete, não reconheceu a caligrafia.


York, Lime Avenue, 24
21:00h – 18/11
Traga bebida

Era um convite para uma festa?! Não que não houvesse ido em festas antes, mas nenhuma tinha sido convidada através de um bilhete sem remetente. Que curioso. Talvez não fosse para ela, mas se não fosse a pessoa que a passou o bilhete simplesmente diria para quem ela deveria passar. Ou talvez esse fosse um convite para a classe inteira e não apenas para ela, então ela deveria ler e passar adiante.

Mal teve tempo de ler e pensar em algumas perguntas relacionadas ao bilhete quando o sinal tocou. Se a pessoa enviou isso tão em cima do toque, talvez realmente fosse para ela.

Ela pegou sua mochila e caminhou decidida entre a multidão de alunos em direção a saída. Resolveu não esperar por seus amigos nesse dia específico, seu pai estaria em casa. Não queria chegar atrasada em seu primeiro dia na cidade depois de semanas, principalmente quando ele descobrir as últimas notas que sua filha tirou.

Com a pressa que saiu da escola, sendo uma das primeiras, não havia pessoas o suficiente para que um pequeno grupo de garotos no canto passasse despercebido, um tanto afastados da escola. Matando aula para usar drogas. Ou seja lá o que estivessem fazendo. Ao notarem os alunos começando a sair da escola, eles jogaram os cigarros fora – mais especificamente no chão –, pegaram suas mochilas e simplesmente saíram.

Bando de delinquentes. Nunca entrariam em uma universidade que se preze.

No caminho para casa mandou uma mensagem para Marlene, talvez ela soubesse alguma coisa sobre a festa a noite. Ou talvez não. Geralmente era ela quem vinha falar de festas para Lily, a maioria recusada. Lene dizia que ela não sabia aproveitar o tempo que tinha quando seu pai não estava em casa. Ao que Lily sempre retrucava que ela falava como se fosse uma raridade ele estar fora, quando na verdade era uma raridade ele estar dentro. Então ela possuía tempo de sobra para aproveitar a ausência de seu pai.

Marlene gostava de passar um tempo – muito tempo – na casa de Lily. Era relaxante, libertador.

— Nunca tem ninguém para te encher o saco e te dizer o que fazer. Você só precisa aproveitar o silêncio e a paz.

— Não seja tão injusta. Eles não são tão ruins.

— Ah, quando você tiver uns três irmãos menores que disputam quem faz o barulho mais esquisito mais alto, e uma mãe que parece não ter nada melhor para fazer do que ficar brigando e mandando em como e quando você deve fazer as coisas você terá argumentos válidos para discutir comigo.

— Pelo menos ainda tem o seu pai...

— Ele é ótimo, pena que fica tão pouco em casa.

Antes de entrar em casa, pegou o bilhete que estava em seu bolso e colocou-o dentro de seu caderno. Poderia acabar esquecendo e colocar a roupa para lavar com o bilhete, e caso fizesse isso dentro de casa, seu pai, sempre incisivo, poderia fazer-lhe um questionário sobre o que era aquilo e quem a dera. Mesmo se tratando de uma coisa tão simples, seu pai não conhecia muito o que significava a palavra privacidade. Bem, não desde... Aquilo.

Ou talvez só fingisse não conhecer. Quando estava fora só se falavam, no máximo, uma vez por dia, e às vezes, nem isso. Provavelmente só estava tentando compensar o tempo que passava fora e fingindo preocupação.

Mas, apesar de serem poucas vezes, ainda era chato aguentar isso toda vez que seu pai não estava trabalhando. Felizmente ela não tinha que aguentar muito disso, ele costumava passar semanas seguidas fora de casa por causa do trabalho. Lily era quase emancipada, vivia sozinha em sua casa na maior parte do tempo. Mas isso não era incômodo, trazia seus amigos para lá sempre que podia. E não é como se não conhecesse ninguém, morava naquela cidade há uns bons anos. E estudara com as mesmas pessoas por tempo o suficiente para não se sentir sozinha por não conhecer ninguém.

Além disso, sempre podia sair, não precisava de permissão e, dependendo, dinheiro não era um problema muito grande. Não precisava ficar trancada sozinha em casa. Nunca ficava trancada sozinha em casa, a não ser que quisesse.

Fechou o zíper da bolsa e adentrou sua casa. Notou algumas poucas coisas diferentes de quando saiu, indicando que alguém havia habitado aquele espaço além dela.

Tinha mais de uma chave no recipiente perto da porta, um casaco que não era o seu estava pendurado na entrada, alguns móveis estavam um pouco deslocados e definitivamente não deixara o controle remoto ali.

Ao que tudo indicava, seu pai estava em casa.

Como de costume, foi para o seu quarto sem dizer nada, pois, normalmente, o que diria? “Cheguei”? Sendo que não há ninguém para ouvir.

Depois de tomar um banho, foi à cozinha, seu pai estava cozinhando alguma coisa.

— Ah, olá, querida!

Parou o que estava fazendo e se aproximou para dar-lhe um abraço. Apesar da gordura em seu avental, Lily não se importou. Mesmo que tivesse acabado de tomar um banho, estava com saudades o suficiente de seu pai para não recusar o abraço.

— Não achei que já tivesse chegado. Não disse nada.

— É o costume. – ela respondeu, dando de ombros – O que está fazendo?

— Algo que você vai gostar!

Era sempre assim, ele nunca revelava o que estava cozinhando, mas ela nunca deixava de perguntar.

Uma vez quando era bem pequena, seu pai disse para ela que estava fazendo um prato com sardinha. Apesar de gostar por já ter experimentado antes, a garota nunca mais comeu por saber que se tratava de um animal. Não que fosse vegetariana, mas aos seis anos, ficara horrorizada com a ideia de comer um peixe que já fora vivo. Ideia que já foi completamente desconstruída agora, com 17 anos.

Desde então, seu pai se recusou a dizê-la qual prato estava cozinhando. Afinal, pela concepção dele, ela poderia deixar de comer ou até julgar pelo nome, imaginando que seria uma coisa ruim ou até se forçar a sentir um gosto ruim só por causa do nome.

Lily sentou-se à mesa da cozinha e conversou um pouco mais com seu pai. As coisas de sempre, como havia sido a viagem, como era a cidade, alguma situação relevante para contar, se havia comprado alguma coisa interessante por lá. Quando todas as perguntas foram respondidas chegou a hora de falar sobre a vida dela. Como estavam as coisas, os amigos, a escola...

Ela adiou o máximo o assunto, enrolando falando sobre seus amigos, suas notas boas, sobre como seus amigos estavam. Até que finalmente tomou coragem e disse de uma vez só, as palavras se unindo como se fossem uma.

Seu pai a encarou como quem não entendeu o que ela disse.

— Eu posso ter tirado duas ou três notas vermelhas. – ela disse mais lentamente, como que com medo de pronunciar as palavras.

Seu rosto, que estava virado para baixo levantou-se até que seus olhos encontrassem o rosto pasmo e decepcionado de seu pai.

Ela lembrava de como ele ficou quando sua irmã o disse a mesma coisa, com as mesmas palavras. Sua reação havia sido um tanto diferente. Ele primeiro riu, esperando por ela dizer que era brincadeira ou algo assim.

Quando se deu conta de que era sério, ele deu uma bronca e confessou realmente estar surpreso.

Na época achou tudo um absurdo, ele fazer tanto caso de uma ou duas notas ruins do boletim perfeito da sua irmã mais velha. Mas como ele havia agido com ela, na opinião de Lily, havia sido melhor do que como ele estava agindo naquele momento.

Ele sequer pensou duas vezes. A ideia de que seu pai duvidava de seu esforço passou momentaneamente por sua cabeça e ela sentiu a pontada de raiva e constrangimento formar uma careta no seu rosto.

— Mas que porra você anda fazendo quando eu não estou em casa? – Ela surpreendeu-se com o palavrão. Não era usual do seu pai usar palavras assim. – Onde pensa que vai chegar com notas assim? Acha que alguma universidade vai sequer pensar em aceitar você?

Ele estava chegando perto de onde ela queria que ele não falasse.

— Você sabe como a sua irmã conseguiu entrar na Universidade de Bristol? Acha que eles iriam querer qualquer uma com notas assim?

— Mas...

— Não. Eu achei que fosse melhor que isso.

Ele pôs-se em silêncio por alguns momentos, o qual Lily não ousou quebrar. Depois de um tempo, talvez percebendo o que havia falado, retomou.

— Não me leve a mal. Eu só estou preocupado com o seu futuro. É errado um pai querer que suas duas filhas sejam bem-sucedidas? Ouça, eu confio em você, me pergunto se não confio demais, até. Mas se isso se repetir serei obrigado a tomar alguma providência. Entendeu?

Ela afirmou com a cabeça.

— Eu vou estudar um pouco. – Ela saiu com a cabeça baixa, sem olhar na direção do pai.

Às vezes achava que ele era muito duro com ela, mas era compreensível. Não é como se fosse completamente culpa dele. Depois que sua mãe morreu, ele precisou de comprimidos bem fortes para superar, se é que chegou a superar. Lily chegava a pensar que ele podia se culpar e isso o fazia ter recaídas. Por isso era bom evitar estressa-lo, já bastava o trabalho, ele não precisava de mais preocupações.

Quando pequena, ela não conseguia compreender por que seu pai sentia-se tão triste e culpado por causa disso. Apesar de tentar manter-se forte, quem realmente precisou cuidar da saúde mental e emocional da família foi Petúnia. Lily mal imaginava na época que aqueles seriam os momentos mais felizes que poderia ter com sua irmã.

Quando ela a abraçou e dedicou a maior parte de seu tempo em confortar a irmã que descobriu que a mãe não ia mais voltar, ainda mais depois, quando descobriu que a mãe havia se jogado ao mar. Não parecia tão ruim, talvez houvesse, em algum momento, até pensado uma coisa boa sobre isso, mas quando encontraram o corpo e a cabeça cheia de ferimentos de tanto chocar-se contra as pedras por causa das ondas. Aquela cena horrível da carcaça de sua mãe vista por uma garotinha de oito anos a traumatizou e acompanhou seus sonhos durante muitos anos.

Talvez fosse quase improvável que Lily algum dia se recuperasse da forte depressão que se seguiu, mas por sorte, ela, agora, não precisava mais tomar remédios para se sentir melhor ou dormir.

Adentrou seu quarto, não permitiu-se ficar chateada por muito tempo, já conhecia as alterações de humor de seu pai. Não achava justo que ela, com suas emoções normais, na medida do possível, as comparasse com as de seu pai que eram afetadas por cápsulas de comprimidos.

Organizou sua mesa de estudo, pronta para estudar, ou pelo menos para fingir que estudava. Não estava com humor para isso, pensou em esperar mais uns dez minutos antes de abrir os livros.

Seu celular, que sempre deixava no canto da mesa, vibrou.

Lene: ah, sim, eu fiquei sabendo

Lene: mas não achei que iria querer ir... Seu pai não chegou hoje?

Lily: Foi

Lily: Às 11, então?

Lene: Tudo bem. Você quem sabe

Apesar de não terem combinado nada mais do que a hora, já estava subentendido de que Lene a pegaria em casa com seu carro. Ou seja, era o dia dela de não beber. O que chegava a ser um pouco injusto, já que Lene ia a mais festas que Lily e como era ela quem dirigia na maior parte das vezes, ela também não podia beber. Mas, ainda assim, ela não falou nada. Lily nunca queria sair quando seu pai estava em casa, e se ela queria agora, deveria ter algum motivo.

Seu pai costumava dormir cedo, e não acordava com qualquer barulho.

Ela se olhou no espelho uma última vez antes de sair de casa. O delineador a fazia parecer mais velha do que realmente era, talvez uma universitária. As roupas um tanto provocantes. Definitivamente ela não era uma daquelas pessoas que não sabiam se vestir. Tomou cuidado para não fazer tanto barulho com o salto enquanto saía de casa, todo o cuidado era pouco, apesar de ter certeza de que seu pai não acordaria.

Lily adentrou o carro, que deu partida milésimos antes dela fechar a porta.

— Precisamos comprar bebidas antes.

Lene a olhou de canto.

— Bebidas? Está bem. Tem um lugar que eles não pedem identidade. Mas vai demorar um pouco mais para chegarmos na festa...

— Não importa. Eu não tenho hora para voltar pra casa. Meu pai vai dormir a noite inteira.

Ela não precisou de mais explicações, Lene já sabia que Lily se referia ao remédio para dormir que o Mr. Evans tomava.

A loja de conveniência que elas foram tinha um sino na porta, que tocava toda vez que alguém a abria.

As garotas entraram rindo de alguma besteira, tropeçando um pouco por causa dos saltos. As únicas duas pessoas que já se encontravam dentro do estabelecimento as olhou, entediados.

Elas pararam de rir, ou pelo menos tentaram.

— Ali. – Lene disse indicando onde ficava o álcool.

Elas pegaram uma boa quantidade e levaram ao caixa, que provavelmente acreditou que elas eram mais velhas do que pareciam e vendeu sem desconfiança.

— 20 libras. – Lily estendeu o dinheiro – Mas sai mais barato com uma chupada.

Ela fez cara de nojo, ele devia ter uns vinte anos a mais que ela. Deixou a nota sobre o caixa e pegou as bebidas sem sacolas.

Lene saiu atrás da ruiva rindo e xingando o homem que as atendeu.

Faltavam, no mínimo, dois quarteirões para chegar à casa, mas a música já era audível da distância em que estavam. Tiveram que estacionar por ali também, não havia mais vagas ao redor da casa.

Assim que adentraram, um garoto apareceu na frente delas, deu um meio sorriso e pegou as bebidas.

Lily fez como quem iria acompanhá-lo, mas Lene a puxou.

— O que você está fazendo? Ele só foi colocar no gelo, não precisa ir atrás dele.

— Certo, eu sei.

Lene sorriu.

— Não. Ele não faz o seu tipo, acredite em mim.

Lily corou.

— O quê? Eu não disse nada! E como pode saber se ele faz ou não o meu tipo.?

— Acredite em mim, não vai querer se envolver com ele.

— Experiência própria?

— Talvez...

— E se eu quiser mesmo assim? – Lily cruzou os braços em sinal de desafio.

— Você quem sabe, depois não diz que eu não avisei. – Ela deu de ombros e saiu na direção oposta ao que o garoto tinha ido.

Lily seguiu para onde o menino poderia estar, cortando o caminho entre as pessoas. Como Marlene havia dito, ele estava colocando as bebidas no gelo. O cabelo partido de lado com a franja caindo em frente a um dos olhos. A manga longa da camisa levantada até antes do cotovelo, marcando ainda mais seus músculos. Não chegava a ser exatamente atlético, mas que era gostoso, era.

Ela se aproximou, fingindo estar ali apenas para pegar uma bebida.

— Vocês só têm cerveja?

O garoto que parecia sério e concentrado colocando as bebidas no lugar ergueu o rosto com o mesmo sorriso torto de antes.

— Na verdade não. O que gostaria de beber?

A menina deu de ombros.

— Algo que não seja cerveja. – Ela fez uma breve pausa – O que me recomenda?

Ele a fitou com o olhar intenso. Procurou alguma coisa em meio ao gelo e levantou na altura dos olhos, lendo o rótulo. Depois a entregou.

— Aqui. Por que não experimenta esse, acho que vai gostar.

Ela abriu e bebeu ali mesmo.

— Hm.

— Hm? – Ele parecia curioso.

— Até que não é ruim.

— Claro que não é ruim – Ele sorriu – É a minha favorita. Também não sou muito fã de cerveja.

Ela deixou a bebida de lado.

— Você precisa de ajuda? Com as bebidas? Parece que deixaram o trabalho todo pra você.
Ele negou com a cabeça.

— Não. É bom que esteja só eu aqui. Assim garotas bonitas podem vir me pedir algo que não seja cerveja – Ele piscou.

— Moony! – Alguém gritou e o garoto com quem conversava virou para onde o chamavam – Sua vez, gatão!

Ele olhou mais uma vez para a garota ruiva em sua frente.

— Se me der licença. – E virou-se para sair, mas parou para completar – Nos vemos depois?

— Claro – ela confirmou.

Moony? Que tipo de apelido era Moony? Se é que era um apelido.

Lily foi, discretamente andando pela casa, para onde o tinham chamado. Não parou, porém, continuou andando, como se aquele não fosse o seu destino. Só queria ver o que estava acontecendo, mas sem deixar muito óbvio.

O garoto com quem conversava a pouco estava de cabeça para baixo, em cima de um barril de bebida fazendo um keg stand. As pessoas ao redor contando o tempo e conversando alto, alguns faziam apostas.

Ela caminhou até fora da casa, onde havia ainda algumas pessoas. Mas ninguém que conhecesse. Se perguntou como os vizinhos não se importavam com o barulho daquela casa, talvez eles mesmos fizessem festas regularmente.

Adentrou a casa, decidida a encontrar alguém que conhecia. Nesse passeio entrou em um quarto, onde Lene já estava nas preliminares, saiu discretamente. Pela casa encontrou alguns rostos familiares, onde não se deteve muito, mas algumas pessoas a paravam para conversar.

Entrou em um banheiro da casa, procurando ficar sozinha por alguns segundos. Talvez depois fosse dançar ou encontrar outro cara gato.

Assim que trancou a porta encontrou um garoto dentro da banheira vazia, ele estava vestido e a encarava.

— Desculpe, eu não sabia que já tinha alguém aqui.

— Sem problemas. Você quer um? – Estendeu a mão com um maço de cigarros aberto para que ela pegasse um – Não é pesado, mas dá pro gasto – Ele deu de ombros.

— Não, valeu. Eu vou... Procurar outro banheiro.

— Não precisa. Pode usar esse aqui. – Ela não se convenceu – Se tem vergonha eu posso olhar para o outro lado, mas não prometo nada!

— Não, pode deixar. – E saiu sem dizer mais nada.

Queria voltar para fora da casa, talvez tomar um pouco de ar fresco. Mas antes que alcançasse a porta da frente, o mesmo garoto de antes, o Moony, apareceu em sua frente.

— Ei! Eu estava te procurando. Lily... Não é? – Ela pareceu surpresa – Nós temos uma ou duas aulas juntos. – Ele explicou.

— Ah, claro, Moony – Ela sorriu ao pronunciar o apelido.

Ele pareceu um pouco envergonhado.

— É, você ouviu... Eu sou Remus, Remus Lupin. Mas você pode me chamar como preferir.

Apesar do keg stand ele não parecia bêbado. Talvez já estivesse acostumado.

— Eu não te vejo muito fora da escola – ele disse entregando-a uma bebida – Você não gosta muito de festas, gosta?

— Só às vezes. Quando eu estou a fim de sair.

— Isso é uma pena. Eu iria adorar te ver mais sem ser na sala de aula.

— É. Eu gostaria de te ver mais também.

Ele sorriu, mas olhou para um ponto mais distante da sala e seu sorriso vacilou. Quase imperceptivelmente.

— Escuta, você – ele se aproximou dela – Não quer ir para um local menos cheio?

Ela não havia bebido muito, no máximo duas garrafas, não era o suficiente para ficar bêbada ao ponto de não se lembrar de nada. Mas os poucos momentos que se seguiram foram tão insignificantes que, mais tarde, tudo o que lembrava desse meio tempo era dele a puxando pela mão em meio às pessoas, sua mão era quente e firme. Foram para um cômodo não completamente vazio, mas com o mínimo de pessoas possível sem que estivessem sozinhos. Ele a puxou para perto de si, os corpos cada centímetro juntos.

Lily não lembrava ao certo por quanto tempo ficaram ali, mas entre beijos e toques quase apropriados, sua libido foi subindo, até que queria ir para um local mais privado. Tentou sair para puxá-lo para um quarto. Quando ele entendeu o que ela queria, disse que não estava a fim no momento, deixando-a um pouco confusa. Ele não parecia como quem não está a fim.

— Está bem tarde. Eu preciso ir. – Ela ficou um tanto decepcionada – Posso pegar seu número?

Ela anotou no celular dele antes dele sair. Apenas teve tempo de beber e dançar umas poucas músicas antes que Lene aparecesse.

— Não vai beber nada? – Lily perguntou, ainda um pouco para baixo.

— Não precisa, estou completamente satisfeita por hoje.

— Pelo menos uma de nós.

— Você foi atrás dele, não foi? – O silêncio de Lily confirmou – Eu avisei. Se fosse você, saía fora antes que sobrasse pra mim.

Mas ela não queria desistir. Não queria nem um pouco.

Estavam passando em meio às pessoas em direção a saída, mas ainda havia muita gente por ali, metade delas bêbada, uma boa parte drogada. Lily olhava para o nada enquanto andava, seus pensamentos perdidos no motivo pelo qual Moony ficara tão desconfortável antes de deixá-la sozinha.

Acabou esbarrando em outro garoto que segurava duas bebidas. Ele fazia parte do grupo bêbado e chapado, no entanto, apenas um pouco bêbado e razoavelmente drogado.

As bebidas derramaram, a maior parte, na roupa dela, fazendo-a soltar um palavrão, agora teria de esconder as roupas de seu pai até que estivessem muito bem lavadas. O garoto, que saiu quase intacto, limitou-se a um meio sorriso.

— Olha por onde anda, ruiva.

Ele não estava irritado. Mas ela estava prestes a cortar a cabeça dele fora.

Não havia tomado cuidado durante toda a festa para não ficar cheirando a algo que a entregasse, para que quando estivesse de saída, um idiota derramasse álcool nela. Ele fez como quem ia continuar seu caminho, sem maiores preocupações. Mas Lily acertou-lhe um soco, abaixo dos óculos, deixando o garoto desnorteado por alguns milésimos. Não havia praticado artes marciais durante anos para não dar um soco que se preze.

— Seu filho da... – Ela não chegou a completar a frase.

O garoto se tornou demasiadamente agressivo, talvez efeito das drogas e do álcool.

Um outro garoto, de cabelo mais comprido, percebendo a situação, chegou por trás e segurou o primeiro, antes que ele tomasse uma atitude imprudente.
Marlene puxou a amiga para fora daquela casa o mais rápido possível, enquanto o garoto a xingava com tudo que lhe viesse a cabeça.

Lily esperava mais que tudo que nunca precisasse reencontrar esse garoto novamente. Nunca.


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Notas finais do capítulo

E então, o que acharam? Reviews? ^^



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