Olá, Happy. escrita por Letley


Capítulo 18
Quinta-feira, 12 de Janeiro de 2017.


Notas iniciais do capítulo

Boa leitura!



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Olá, Happy.

Acabei de ter um sonho maluco. E você estava nele. 

Ele foi exatamente assim: Eu acordei no meu quarto, estava tudo escuro e horripilante. Eu me levantei e tentei acender as luzes, mas elas não ligavam, pareciam estar queimadas, então eu sai do meu quarto chamando por Zeref. Fui até o quarto dele e bati diversas vezes, mas ninguém respondeu, então eu entrei, mas assim que atravessei a porta não era o quarto de Zeref. Não era a minha casa. Era o banheiro feminino da escola. Era Levy encolhida no canto, sentada no chão frio, segurando uma lâmina sobre os pulsos enquanto chorava compulsivamente. Eu corri até ela e agarrei seus braços antes que ela pudesse fazer qualquer coisa. 

— Porque você está se intrometendo nisso, Natsu?! – Ela perguntou aos gritos enquanto se debatia. 

A lâmina nas mãos dela rasgaram minha mão direita, eu gritei de dor e então tudo parou. De repente Levy não estava mais chorando nem gritando comigo, ela estava imóvel como uma pedra. Quando tirei minhas mãos de cima dos braços dela vi cortes profundos de onde escorria tanto sangue que eu mal pude aguentar a vontade de vomitar. Olhei para ela aterrorizado sem entender o que estava acontecendo.  

— Por que você não me deixa ir, Natsu? – Ela perguntou. A voz estava tão baixa que eu mal conseguia ouvir – Você ao menos sabe o quanto isso dói? O quão alto é o preço que eu tenho de pagar? Tudo bem eu sofrer desde que você esteja feliz?

— Não é isso, Levy. Eu nunca quis que você sofresse. 

— Mas eu estou sofrendo muito, Natsu.

— Levy, por favor… 

— Por favor, Natsu – Olhei para ela. Tudo nela me deixava apreensivo e assustado, tudo nela me lembrava de como eu era patético – Por favor, me ajuda. 

Eu fiquei estático por alguns segundos, sem saber o que fazer ou o que responder. Aquelas palavras me atingiram de uma forma que eu nem sei como explicar. E então você apareceu… Apareceu não, você já estava lá, escondido por trás de Levy, esperando o momento certo para levá-la para longe. E foi o que você fez, você a agarrou pela blusa e saiu em disparada com ela pela janela. Ela gritou, parecia assustada. Eu também estava e não tive coragem para ir atrás de vocês, meus pés não se moveram um centímetro, eu só conseguia encarar o chão, completamente petrificado. 

Quando resolvi me mover, quando me levantei e saí do banheiro esbarrei em Laxus. De todas as pessoas no mundo eu esbarrei logo em quem eu menos queria ver naquele momento. E tudo parecia girar, minha mão direita latejava, meu estômago estava embrulhado, eu estava a ponto de desmoronar ali mesmo, no meio do corredor, na frente de Laxus. 

— Veja só quem temos aqui, o Dragneel! – Ele falou animado, com um sorriso presunçoso nos lábios. Agora que paro para pensar, foi o mesmo que aconteceu no dia em que briguei com ele. Ele disse a mesma coisa para mim, a mesma pergunta que me atormentou durante meses – Fiquei sabendo por aí que seu pai morreu a dois anos, isso é verdade? – Tentei passar por ele, mas ele me impediu se colocando a minha frente – Até onde sei ele poderia ter sobrevivido se você tivesse ligado para uma ambulância assim que o encontrou, mas você não ligou, não é? Você apenas chorou e ficou vendo seu pai morrer. Ah, aposto que ele morreu de desgosto.  

No dia da briga, eu havia socado ele exatamente nesse ponto, mas dessa vez não o fiz. Olhei para ele e concordei. Porque eu sei que é verdade, assim como todo mundo também sabe. Meu pai morreu porque eu fiquei assustado, ele morreu porque eu não pedi ajuda. 

Fechei os olhos tentando me acalmar, mas quando os abri novamente Laxus não estava mais lá, ou melhor, aquilo nem mesmo era a escola, era apenas nossa sala de estar. Foi então que eu o vi; Sentado na poltrona da mesma forma como estava naquele dia, os olhos vidrados na televisão ligada que chiava sem sinal. Andei até ele com cuidado, com medo. 

— Pai? – Chamei. 

Ele olhou para mim da mesma forma que sempre olhava; Primeiro seu olhos eram carinhosos e acolhedores, como se estivesse aliviado de me ver ali, mas então sua expressão mudava e parecia que todas as decepções que eu havia lhe trago batiam nele com todas as forças. No final, tudo que tinha nos olhos dele era dor. 

— Ah, Natsu – Ele falou segurando minha mão – Ah, meu filho, porque você fez isso comigo?  

— O que eu fiz, pai? – Perguntei confuso. 

— Está doendo, sabia? Está doendo, está doendo e a culpa é toda sua! 

Me agachei ao lado dele, completamente desnorteado, sem saber o que fazer, com medo do que poderia acontecer. Ele segurou meu rosto com as duas mãos e me fez olhar para ele. 

— Você está vendo, Natsu? Está vendo o quanto dói?! 

— Papai, do que você está falando? O que está acontecendo?  

— Essa dor, Natsu – Ele colocou a mão sobre meu peito, me afastei assustado e cai no chão – Essa dor, não há nada que possa curá-la, você entende? Essa dor não é algo físico. Ela vem de dentro, ela te corrói e você não pode fazer nada para impedi-la.

De repente ele colocou as mãos na cabeça e gritou, gritou e não parava de gritar. Fui até ele e tentei acalmá-lo mas nada parecia dar certo. Ele estava desesperado, gritou pelo nome de Zeref, pelo o da mamãe, ele gritou por ajuda, ele gritou por mim. Eu também gritei, como uma criança vendo um fantasma, gritei pelo meu irmão, gritei por ajuda. Pedi por favor, eu implorei para não ver meu pai morrendo na minha frente outra vez. 

E então você apareceu voando pela casa. Um único ponto de luz naquele cenário escuro de filme de terror, suas asas irradiavam tanto brilho que tive de fechar os olhos por uns segundos para me acostumar a elas. Fiquei esperançoso de que quando os abrisse eu não estivesse mais ali, mas eu ainda podia ouvir os gritos do meu pai e você estava lá, me encarando como se eu fosse um estranho. 

— Algo de errado, Natsu? – Você perguntou. Você falou, Happy. Você era um gato azul da mesma forma em que eu te fiz e você tinha asas! Asas de verdade que te levavam para onde você quisesse.  

— Meu pai está morrendo, eu preciso chamar ajuda – Falei rápido. Olhei ao redor, tentando encontrar algum telefone, algo que pudesse ajudar. 

— Ele vai morrer, você sabe disso. 

— Só preciso chamar alguém. Uma ambulância ou sei lá, um médico? Eu só preciso fazer isso. 

— Você não pode, Natsu. Ele vai morrer mesmo que você chame mil médicos – Você se virou para meu pai, parecia triste por ele. Eu não conseguia olhar para meu pai, então continuei encarando você – As pessoas morrem, Natsu. Você querendo ou não, elas morrem e você não pode mudar isso. 

— Talvez eu possa. 

Você sorriu e bateu suas asas até ficar da altura do meu rosto. 

— É melhor você voltar agora, ela está te chamando já faz um bom tempo. Da próxima vez que vier, me traga um peixe. 

— Quem está me chamando?

Você não respondeu, apenas sorriu mais ainda e me empurrou. Achei que fosse cair no chão, mas ao invés disso eu acordei. Suado, assustado e respirando com dificuldade. Mavis estava sentada do meu lado na cama me olhando com preocupação, ela segurava meu braço direito tão forte que tive que pedir para ela soltá-lo ao invés de só puxar. O estranho nisso Happy, era que minha mão estava sangrando, a mesma mão que Levy cortou em meu sonho. 

— Natsu, com o que você estava sonhando? – Mavis perguntou passando a mão pelo meu rosto, foi só nesse momento que eu percebi que havia chorado – Você estava gritando e quando cheguei aqui sua mão estava sangrando, acho que você se cortou na quina da cômoda.

— Desculpe por ter te acordado – Foi tudo o que consegui dizer para ela. 

Ela sorriu e tentou se abaixar para me abraçar, mas a barriga de grávida dela (que por sinal, cresce mais a cada dia) a atrapalhava, então ela me puxou pelo braço até eu me sentar cama e me abraçou tão forte que eu achei que meus ossos fossem quebrar. Enquanto ela me abraçava olhei por cima dos ombros dela e vi meu irmão parado na porta, nos encarando. Ele parecia triste e acho que ele percebeu o que eu estava pensando porque apontou para o calendário grudado na parede do meu quarto. 

Sabe Happy, hoje é o aniversário do papai. Hoje ele ia fazer 40 anos.

Hoje faz três anos que ele morreu. 

N.D.


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Notas finais do capítulo

Até a próxima ♥



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