Olá, Happy. escrita por Letley


Capítulo 14
Terça-feira, 29 de Novembro de 2016.


Notas iniciais do capítulo

Boa leitura!



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Olá, Happy.

Na sexta passada fez uma semana que Levy tentou se matar e hoje (ontem, na verdade) vai fazer uma semana que me encontrei com Michelle. Duas pessoas quase mortas em uma semana (agora que parei para olhar isso soou meio cruel, queria apagar, mas escrevi a caneta).

Na semana passada eu mal conseguia andar na escola sem que alguém me parasse para me perguntar sobre o dia em que encontramos Levy. Sei que todos estão curiosos e querem entender o que exatamente aconteceu ali, mas nem mesmo eu sei. Todos os dias os professores chamavam a mim e a Lucy para ficarmos enfurnados na sala de Mavis durante uma hora respondendo às mesmas perguntas de:

“Ela estava acordada quando a encontraram?”

“Vocês sabiam sobre isso?”

“Tem certeza de que foi tentativa de suicídio?”

“Porque Levy faria isso?”

Eu não sei. Eu queria saber, mas eu não podia porque Levy mesmo depois de ter acordado não queria dizer nada, ela não queria ver ninguém, nem mesmo Gajeel que veio o mais rápido que pôde para vê-la. Lucy também, ela está escondendo algo, ela sabe de algo mas não quer falar.

Levy saiu do hospital na quinta e ninguém a viu durante todo o fim de semana. Pensei que ela estivesse com a família já que eles não apareceram no hospital, mas na verdade ela estava com Lucy, que estava agindo mais como uma mãe super-protetora do que como uma amiga. Não posso culpá-la, até eu estou cuidadoso. Acho que toda essa história causou um estrago em nós dois. Na semana passada quando estava chegando na escola vi Lucy parada em frente ao banheiro feminino, ela não se movia, só ficou lá encarando a porta e quando alguém a abria ela fechava os olhos, como se tivesse medo do que quer que estivesse lá dentro.

— Eu não consigo entrar – Ela falou assim que me aproximei.

— Por que?

— Sinto que ela está lá, no chão, prestes a morrer.

A porta se abriu outra vez e eu me surpreendi quando também desviei o olhar. Percebi que eu também não conseguia, a imagem de Levy sobre um poça de sangue ainda está muito viva na minha mente. Tentei passar por lá várias vezes, mas não dá. Eu não consigo, simplesmente não consigo. Lucy também não, por isso sempre nos encontramos nos corredores dos fundos que é o único lugar pelo qual podemos entrar e sair da escola sem passar em frente aos banheiros.

Somos como dois gatinhos medrosos. Levy não morreu, sabemos disso, mas o que nós vimos, o desespero que sentimos, a forma como pensamos que nunca mais a veríamos… Ainda estamos assustados, com medo de que Levy faça uma segunda tentativa. Pelo menos eu estou.

Hoje Levy foi a escola. Ninguém esperava a ver tão cedo, mas ela estava lá, com um olhar vazio, ataduras nos braços e a cabeça baixa. Nem mesmo parecia aquela garota baixinha que era mais inteligente que boa parte da escola, dava sorrisos tortos quando as pessoas a cumprimentavam e se assustava sempre que alguém olhava feio para ela. Eu tentei falar com ela, estava curioso demais para deixar essa história como estava, então durante o período entre uma aula e outra eu me sentei ao lado dela para tentar conversar um pouco. Eu queria ter perguntado “Você está bem?”, mas a única coisa que saiu da minha boca foi:

— Você odeia a sua vida?

Ela me olhou assustada, acho que ela não esperava que eu falasse com ela. Sinceramente, nem eu esperava.

— Não – Ela respondeu baixinho desviando o olhar para o outro lado.

— Se não odeia então porque tentou se matar?

— Eu não aguento as condições.

— Que condições?  

— As condições para viver – Ela se voltou para mim. Quando olhei nos olhos dela senti como se tivessem tirado a alma de Levy e levado para longe – Eu não odeio minha vida, mas o preço que eu tenho de pagar para viver ela é alto demais. É uma dívida que não posso pagar.

E então o professor entrou na sala e me mandou de volta para o meu lugar. Depois disso eu evitei ela.

Eu quero entender Levy, Happy. Quero de verdade, mas não posso. Não a conheço o suficiente, não sei o que ela passa muito menos o que se passa na cabeça dela e não posso culpar ela por querer morrer, não posso dar uma bronca nela por tentar se suicidar, nem fingir que está tudo bem.

Me sinto um pouco responsável pelo o que aconteceu, talvez seja porque Gajeel me pediu para cuidar dela e eu falhei, mas me sinto realmente muito culpado. É como se Levy tivesse cinco anos e os pais dela me pediram para olhar ela, mas então eu desviei o olhar por um segundo e ela se queimou. Uma queimadura de 3° grau que não pode ser curada.

Acho que no final eu estava certo. Não posso ajudar Levy. 

N.D.


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Notas finais do capítulo

Até o próximo ♥