Black Star escrita por loadiing


Capítulo 1
A Menina No Porão




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Era noite, escuro, e bastante frio naquele porão sujo, meu aniversário de 7 anos estava cada vez mais próximo e minhas chances de ser uma bruxa cada vez menores também. Se eu fizer alguma mágica acidental até meu aniversário de 7 anos, talvez mamãe me tirem daqui, mas se eu não fizer, vou ser realmente um aborto e nunca vou deixar esse porão.

Não sei que horas são, só que ainda deve estar de dia ou o sol já está se pondo lá fora.

A duas noites foi o pior dia da minha vida. Sabia que estava próximo do meu aniversário e que se eu não fizesse magia como o Regulus, meu irmão mais novo, ou o Sirius, meu gêmeo, eu seria um aborto, no fundo eu me sentia incomodada por não poder fazer magia como os outros, mas não achava que isso podia ser tão ruim.

Mamãe disse que eu era uma abominação, um aborto da natureza e que estava manchando a árvore genealógica da família e até mesmo a casa, foram as palavras mais crueis que eu já ouvi. Eu chorei, tentei sair do aperto que ela fazia no meu braço, Sirius tentou impedir ela mas ela ameaçou dizendo para não obrigar ela a usar a Maldição Imperius nele ou algo pior, no final acabei nesse porão.

Ainda estou com as mesmas roupas que usava há dois dias só que agora cheias de poeira, estou cheia de fome mas a única coisa que me deram desde que entrei aqui foram dois pedaços de pão velho e um copo de água que papai me trouxe ontem. Achei algumas coisas aqui no porão, como um piano velho e com teclas faltando, vários frascos de poções, livros e um espelho rachado que estou encarando agora, estou usando um vestido de listras vermelhas e roxas, meu cabelo negro que chega a altura dos cotovelos está bagunçado e até a fita branca -que agora parece mais cinza por causa da sujeira- estava com o laço aparecendo pouco acima da minha orelha, pelo menos meus olhos azuis-acizentados estão os mesmos.

Eu sabia que minha família não tinha pessoas boas, até porque eu não acho que seja comum cortar as cabeças dos elfos domésticos e pendurar elas nas paredes, eles sempre diziam que os trouxas e os mestiços eram nojentos, que nós nascemos acima deles, mas nunca entendi o que eles faziam de tão mal, sentia que não pertencia a essa família e que eu e o Sirius viemos parar aqui por engano. Será que eles fazem isso com os trouxas? Com os mestiços? Eu pegaram leve comigo porque sou da família? Se isso é pegar leve, não quero nem imaginar o pior.

— Ally? – Ouvi a voz de Sirius abafada, me chamando pelo apelido que ele costuma usar quando fala comigo quando mamãe não está por perto, ela sempre nos quer sérios, não gosta de "bobagens" como esses apelidos. Sempre os achei fofos.

A voz parecia estar vindo de cima, de trás da porta que levava ao porão. Me levantei do chão de corri desajeitada para as escadas que levavam a porta branca. — Estou aqui, Sirius.

Teve um pequeno momento de silêncio até ele falar de novo.

— Encontrei algumas velas e fósforos para você, sei que não gosta do escuro, mas a porta está trancada e não consigo te dar. – Ele diz com um quê de tristeza na voz.

— Obrigada mesmo assim Sirius... – Sabia que ele não gostava de eu estar aqui talvez até tanto quanto eu. Ele sempre me entendeu, talvez fosse coisa de gêmeos mesmo que não sejamos idênticos. — Eu tô com medo...

— Talvez a mãe te tire dai, falta menos de uma semana. – Tentou me dar esperança. — Sinto muito, Alioth.

Antes que eu pudesse responder minha barriga roncou. Olhei para baixo das escadas e vi a única fonte de luz naquele lugar horrível, uma janelinha que dava para o gramado fora da casa. — Tem uma janelinha que dá aqui pro porão, tá lá fora....você pode trazer algo para mim comer?

— Eu pos-

— O que está fazendo aqui? – Ele foi interrompido pela voz do Regulus. — Mamãe falou para a gente ficar longe dela.

— Ela é nossa irmã!

— A mamãe disse que vai ser pior se nos vir aqui, ela não gostou quando você tentou impedir ela... - O tom de Regulus parecia receoso.

Regulus era um ano mais novo que eu e o Sirius, tinha 5 anos, e parecia escutar e ser obediente aos nossos pais mas no fundo sei que ele é melhor que eles.

— Reggie? – Comecei. — Eu não gosto daqui, estou com fome, por favor, me ajuda. – Juntei minhas mãos enquanto pedia, mesmo que eles não pudessem ver.

— Disseram que não deviamos te ajudar, pra agir como se você não existesse, que é você é um aborto e por isso está ai.

— Reggie...você acha mesmo que eu sou algo ruim?! – Senti meus olhos marejando, nenhum deles respondeu e fez um breve momento de silêncio.

Um horrível momento de silêncio para mim.

— Vamos trazer comida para você. – Disse Sirius decidido, como se ele estivesse deixando claro que Regulus iria ajudar.

Ouvi baixas exclamações assustadas.

— É ela.

— Até mais, Ally. – Murmurou Sirius antes de eu ouvir passos rápidos, eles foram embora.

E mais uma vez eu estava sozinha...

...

Acordei um tempo depois, o porão estava mais escuro, tinha dormido num montinho de cobertores velhos que achei aqui no porão para ver se a fome passava, foi um pouco difícil já que a minha barriga revirando não me deixava dormir.

Olhei para a janelinha que dava para fora de casa, agora deveria ser mesmo de noite. Se eu conseguisse alcançar aquela janela e ela fosse um pouquinho maior talvez eu tentaria sair por ali.

Só ai eu percebi que tinha uma cestinha em cima do piano velho e quebrado que ficava logo abaixo na janelinha, me levantei me sentindo um pouco tonta e depois continuei andando até o piano, me estico ficando na pontinha dos pés e com a ajuda de alguns pulinhos eu consigo pegar a cesta que também tinha um bilhete.

"É melhor que a comida que o papai disse que ia te dar. Também tem algumas velas e fósforos para você. Te amo mana.
— S"

Na cesta tinha um lampião, 3 velas, uma caixinha com fósforos, 2 bolinhos e um pedaço de empadão de carne e rins. Voltei para meu montinho de cobertores e deixei a cesta na minha frente do lado do lampião que eu já aceso e comecei a comer primeiro o empadão.

Cada vez mais eu queria sair daqui, era um terrível castigo sendo que eu não fiz nada de errado. Eu nunca fiz nada para ser chamada daqueles nomes feios, ser jogada aqui, ter ficar todo esse tempo sozinha e no escuro, eu detesto o escuro!

Quando eu percebi eu já estava chorando enquanto comia, queria voltar pro meu quarto, minha cama, abraçar meu urso de pelúcia e dormir. Mas papai e mamãe não deixariam, aliás, Sirius disse que papai ia me dar comida. Engulo o empadão que estava na minha boca e vou para a onde fica a porta, logo a frente dela ta um prato de comida com uma cara não muito boa e um copo de água, eram os restos do jantar, isso se não forem do almoço ou do jantar de ontem.

Pego o prato e jogo para longe começando a sentir raiva. Raiva por estar ali, raiva por estar sendo maltratada e humilhada, raiva por estarem me tratando como se eu fosse um verme, raiva por não poder fazer nada.

Sento no chão e me encosto na porta, ou pelo menos eu pensei que ia encostar na porta porque eu passei direto e bati com a cabeça no chão, seguro um gritinho de dor e me levanto esfregando atrás da cabeça olho para o batente da porta. Não tinha nada.

Como assim?! Tinha uma porta ali! Estava fechada e trancada tem nem um minuto. Eu saberia se tivesse sido aberta, a porta nem mesmo está ali agora.

Eu teria feito ela desaparecer?

Ainda faltava poucos dias para o meu aniversário de 7 anos.
Não tem mais ninguém por perto.
A porta estava aqui e agora simplesmente sumiu das dobradiças.
Isso foi mágica e eu que fiz.

Eu sou uma bruxa.

De um momento para o outro eu fiquei mais feliz, eu não sou um aborto, tenho magia e estou livre.

O que faço agora? Se eu sair o que mamãe vai fazer? Não duvido se ela ficar furiosa ou me machucar, e se ela pensar que foi um dos meninos que me tirou de lá, não quero que ela faça mal para eles.

Chega. Me cansei, eu não posso ficar aqui, qualquer lugar é melhor do que esse, que eu preciso ir embora.

Nem pensei mais no assunto e voltei para onde estava o montinho de cobertores, coloquei a alça da cesta com bolinhos no meu ante-braço esquerdo e peguei o lampião com a mão do mesmo braço e com o direito peguei o cobertor e sacudi ele pra tirar a poeira e depois coloquei o cobertor no meu ombro. Saí do porão entrando num corredor e fui em direção ao meu quarto para pegar meu urso de pelúcia. O meu quarto estava do mesmo jeito que eu o deixei e meu urso estava em cima da cama.

Tenho esse urso a anos, gosto muito dele, ele tem um pequeno rasgo no pescoço dele que eu teria que costurar mais tarde. Coloqui o lampião em cima da mesinha e o apaguei, lá fora tem luzes, não iria precisar dele quando saísse da casa. Quando sai do quarto eu fechei a porta silenciosamente, a porta do quarto do Sirius e do Regulus estava praticamente na minha cara, por um instante eu pensei em deixar um bilhete para eles, mas acho que seria melhor se eu apenas ir embora, podem pensar que eles me ajudaram. Respirei fundo e fui andando direto até a saída, no caminho eu vi a tapeçaria da família, no início eu achava que estava da mesma forma de quando eu vi pela última vez até que notei que o lugar onde eu deveria estar estava queimado.

Ótimo, além de tudo eles me queimam, que lugar amoroso, continuei andando até ver a porta e quando eu passei pela por ela e senti a brisa gelada da noite. Estranhamente eu me senti como um passarinho que saiu da jaula depois de dias presos, uma jaula com cheiro de mofo.

Usei o cobertor como uma capa por causa do frio que estava arrepiando os pelos dos meus braços, e no caminho -para onde quer que eu esteja indo- fui comendo os bolinhos que Sirius me deu. Como ele vai ficar pela manhã quando perceber que eu fui embora?

Abanei a cabeça afastando os pensamentos olhando em volta, nunca tinha vindo a um lugar como esse antes, os jardins na frente das casas eram bonitos. Comi o último bolinho deixando papel das formas na cesta junto com o bilhete do Sirius, a caixinha de fósforos e o ursinho, o resto que tinha na cesta ou eu deixei na casa ou já tinha comido.

Depois de longos minutos caminhando, algumas coisas metálicas sobre rodas com luzes passarem por mim na rua me deixando ligeiramente assustada e quando as construções estavam ficando cada vez mais e mais altas encontrei um prédio que pelo o que estava escrito numa placa, era uma orfanato. Meus pés já estavam doendo então me deitei num dos degraus da pequena escadaria na frente da grande porta de madeira do prédio.

Me enrolei no cobertor e deixei a cesta no degrau abaixo bem ao lado da minha cabeça e fiquei pensando se o Sirius e o Regulus ficariam bem até dormir.

...

— Hey, garotinha. – Acordei com a voz doce de uma mulher e com uma mão balançando meu ombro. Esfreguei meus olhinhos com as costas das mãos e pisquei deixando meus olhos se acostumarem com a claridade. — Está perdida?

Era uma mulher baixinha com cabelo cacheado, a cor da pele dela se assemelhava a chocolate e os olhos castanhos-claros tinham um ar de bondade dele junto com seu sorriso. Não precisei pensar tanto na resposta, eu tinha fugido de casa, não estava perdida. Balancei minha cabeça indicando que não.

— Não tem família? – Ela volta à perguntar.

Abanei minha cabeça dizendo que não.

O sorriso dela caiu um pouco antes dela fazer mais uma pergunta. - Qual o seu nome?

— Alioth. Alioth Merak Black. – Minha voz saiu rouca, pelo tempo que passei sem usar ela talvez?

— Quer entrar? Acho que você vai ficar melhor lá dentro. – Ela disse indicando para o prédio atrás de nós agora com a porta de madeira aberta. — Não se preocupa, não vou te fazer mal. – Ela piscou um dos olhos para mim.

Um pouco receosa eu fiquei de pé, peguei meu cobertor e a cesta, dei a mão para a moça e fui para dentro do "orfanato". Ela parecia uma boa moça, gostei dela.


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Notas finais do capítulo

N/A: Aqui está (finalmente)o primeiro capitulo dessa fanfic. Espero que tenham gostado e que saibam que esse é apenas o inicio.