Nós escrita por Matheus Gama


Capítulo 1
Promessa é dívida


Notas iniciais do capítulo

Acredito que seja a minha primeira vez escrevendo em primeira pessoa. Só queria compartilhar isso mesmo, sem nenhum motivo específico... talvez só seja eu querendo sempre falar muito mesmo, vai saber. hahahah
Enfim, boa leitura!

(POV Humberto)



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Abrindo os olhos com dificuldade pela claridade que pairava sobre meu rosto, avistei Léo próximo à janela, já vestido e de cabelo penteado. Poderia ter começado a apreciar sua beleza — que parecia ainda maior sob aquela iluminação. Contudo, essa mesma iluminação me lembrava de que se ele não estivesse na janela, ela estaria fechada. Logo, eu ainda estaria dormindo. Maldito — porém bonito — seja!

Acordar sempre foi e talvez sempre seja algo desagradável, não importa o quão de bem com a vida eu esteja. Disseram-me, mais de uma vez, que isso se chama preguiça e, embora esse nem seja o maior dos meus pecados, tive de concordar. Pelo menos até arranjar algo que se encaixe melhor.

— Léo — chamei enquanto me espreguiçava, ainda espalhado sobre a cama de solteiro. — Que horas são?

— Hora de você levantar porque aquela louça não vai ser lavada sozinha — ele brincou, deitando-se ao meu lado.

Virei de lado, não somente para liberar um pouco mais de espaço para ele, mas também para poupá-lo de aguentar um bafo matinal. Inclusive, essa é uma das razões pelas quais eu odeio as manhãs. Alguém não odeia?

Léo virou-se também, juntando seu corpo ao meu, e passou a acariciar meus cabelos. Sentia-me tão confortável em momentos como aquele que, por alguns segundos, esqueci de respondê-lo — assim como esquecia do meu desgosto pelas manhãs.

Elas nem pareciam mais tão ruins.

— E quem disse que eu vou lavar a louça? — perguntei. — Cadê seu cavalheirismo?

— Cavalheirismo? Pode não parecer, mas eu sou quase uma dama. — Nós rimos e ele continuou: — Mas beleza, então deixa a cozinha comigo… aí você fica com o banheiro, porque ele também não vai ser lavado sozinho.

— Ah, não… — resmunguei, encolhendo-me mais sob o edredom. — Vamos relaxar, sem ficar pensando em faxina…

— Beto, nós temos visitas hoje. Esqueceu?

Não sei se o longo e pesado suspiro que ele deu em seguida foi por tristeza, acreditando que eu realmente tinha esquecido que tínhamos marcado um almoço com os nossos pais, ou se ele apenas estava preocupado com o rumo que as coisas tomariam dali em diante. Afinal, aquele almoço poderia causar efeitos bons ou ruins — instantâneos ou não — em nosso relacionamento.

— Não esqueci não — respondi, ainda deitado numa posição quase fetal.

— Então vai, levanta — pediu, levantando-se. — Temos que causar uma boa impressão pra eles, né?

Nenhum de nós conhecia os pais do outro. Era, inclusive, a primeira vez que ele apresentaria um namorado à família. Bem, apenas à sua mãe, visto que o pai recusou o convite para o almoço no mesmo instante em que Léo telefonara convidando-o.

Apesar de sua mãe ter aceito o convite de bom grado, a recusa de seu pai deixou Léo um pouco abalado. Mesmo sabendo que seu pai não era a favor de vê-lo com outro homem, Léo acreditava que o tempo entre a revelação de sua sexualidade e o convite teria bastado para fazê-lo compreender que não havia nada de errado no nosso relacionamento e que ele aceitaria — se não por nós, como um casal, que fosse apenas pela importância que a sua presença naquele almoço teria para o seu filho.

Tive de me desdobrar para conseguir confortá-lo, mantendo sua mente ocupada para que não pensasse muito sobre aquilo. Era difícil estar naquela posição, tendo toda a responsabilidade de ajudá-lo a melhorar, sabendo que eu não podia fazer nada diretamente efetivo sobre o motivo que o deixara assim; porém, deveria ser ainda mais difícil estar no lugar dele, sem ter o apoio de uma das pessoas mais importantes em sua vida. Para tentar amenizar essa dor, recorri a um grande esforço: arrastá-lo até o bar para assistirmos um jogo de futebol juntos. Sofrido, não?

Desculpa, sociedade, mas futebol não tem a menor graça. Talvez a única coisa que se salve seja a beleza dos jogadores, mas só um ou outro que realmente chama a minha atenção. Sobrepondo-se sobre os rostos não tão atraentes, existem aquelas coxas invejáveis. Isso sim seria um bom motivo para assistir aos jogos, porém, Léo também tem um belo par de coxas, mesmo não possuindo o porte físico de um atleta — longe disso, na verdade; até prefiro assim. Então, satisfeito com as que eu tinha em casa e que inclusive podia tocá-las sempre que sentisse vontade, assistir outras coxas — por mais torneadas que fossem — pela televisão não era grande coisa.

Acabei assistindo ao jogo, quase inteiro, comentando sobre um lance ou outro como se realmente entendesse do esporte. Às vezes eu recebia alguns olhares cheios de ódio por não concordarem com meus comentários, mas o que eu podia fazer se meu conhecimento sobre esportes era muito mais voltado ao vôlei do que ao futebol?

Foi um saco? Foi, não vou mentir. Mas pelo menos ele não ficou trancado em casa, pensando em coisas ruins.

Sempre que necessário, eu fazia o que ele queria — e vice-versa — mesmo que sem achar a coisa mais agradável. Por isso levei-o ao bar: ele gosta. Só que arrumar a casa logo cedo não parecia apenas como um simples esforço desses que eu fazia de vez em quando, soava mais como um verdadeiro sacrifício.

— Ai, Léo, o que tu acha de ficar deitadinho aqui comigo e quando eles chegarem a gente fala que o banheiro tá entupido e que a pia tá cheia de louça porque a gente demitiu a empregada pra cortar gastos?

— Ah, claro que eles vão acreditar nisso… — Ele riu. — A gente tinha uma empregada quando só eu trabalhava e agora que você arranjou um emprego a gente resolve cortar gastos?

— Sim, ué. Não é óbvio? A gente tá economizando pra arrumar o banheiro!

— Agora entendi porque você tem esse nariz grande…— disse em meio ao riso. — Minha mãe não vai acreditar que eu namoro o Pinóquio.

— É mesmo, ela vai ficar um pouco chocada que você ama um pedaço de pau literalmente — respondi, deixando-me levar por aquela risada contagiante.

— Não só um pedaço — retrucou, inclinando-se sobre mim para um beijo rápido. — Mas o que eu amo mais ainda é ver minha casa arrumada, então chega de papo.

— Isso é mesmo necessário? — perguntei enquanto ele puxava o edredom de cima de mim.

— É sim. Prometo que depois eu fico deitado contigo o tempo que você quiser.

— Promessa é dívida, hein? Agora vai ter que pagar... — Puxei o edredom de sua mão e comecei a dobrá-lo, mesmo sentado na cama. — Até porque o caloteiro do casal sou eu.

— É claro que é — riu. — Como eu sou a dama, você é o vagabundo.

Dei risada com a comparação, mas a graça logo deu lugar à insegurança. E se a mãe dele pensasse o mesmo?


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Notas finais do capítulo

Quem gostou bate palma. Quem não gostou, paciência! hahahah
Brincadeira, gente. Caso alguém não saiba, isso é apenas um meme.
Positiva ou não, seria muito importante saber a opinião de vocês. Não somente pela minha insegurança sem tamanho, mas também para corrigir possíveis falhas que existam e melhorar constantemente. Então, não se acanhem, quero ouvir qualquer coisa que vocês estejam dispostos a dizer. ;)
Até logo!



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