Quase Sem Querer escrita por Chiisana Hana


Capítulo 2
Amigos


Notas iniciais do capítulo

Avisos: Contém spoilers do mangá Episode G Assassin e relacionamento amoroso entre homens. Se não curte, não leia. Reclamações quanto a isso serão ignoradas. Aliás, reclamação sobre qualquer coisa será ignorada porque não sou obrigada.



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Capítulo II -  Amigos

Shun tocou quatro vezes a campainha do apartamento de Hyoga, até que o loiro veio atender, de pijamas e esfregando os olhos. Natássia veio logo atrás dele, saltitando de alegria, usando somente o short que vestia no dia anterior.

— Oi, tiooooo! – ela gritou e agarrou-se às pernas de Shun.

— Boa tarde, dorminhocos – Shun cumprimentou. Estava carregado de sacolas.

— Estávamos dormindo até agora… – Hyoga disse, sentindo-se meio desorientado. – Aliás, que horas são mesmo?

— Quase uma da tarde!

— Nossa! Você deve estar com fome, né, filha? – ele perguntou. Sentiu que estava começando mal, que seria um péssimo pai por ter dormido tanto, sem pensar na refeição da menina. Depois pediu calma a si mesmo. Era só o primeiro dia. Ia acabar aprendendo.

— Fome? – ela indagou, piscando repetidamente os grandes olhos cinzentos. – Sim! Muuuuuuuuita fome, papai!

— Eu imaginei – riu Shun. – Trouxe almoço pra vocês.

— Shun, não sei o que seria de mim sem você – Hyoga disse. – Entra. Vou escovar os dentes e… ok, devia ter comprado escova de dentes para ela. Nem pensei nisso. Ainda não tive tempo de pensar em nada.

— Eu pensei – disse Shun, erguendo uma sobrancelha de modo cômico. – Passei na farmácia e comprei escova, creme dental infantil, xampu, essas coisas. No caminho para cá, também passei por uma lojinha de roupas infantis e comprei algumas peças, umas calcinhas. Ela não pode ficar só com essa roupa de ontem!

— Você tem toda razão – Hyoga disse, sem conseguir evitar sentir-se novamente péssimo.

— Roupas bonitas, tio? – Natássia perguntou a Shun.

— Acho que você vai gostar, Nat – Shun disse e balançou a sacola das roupas, que ela saltou e tentou agarrar. – Só vou dar depois que lavar o rosto e escovar os dentes. – Ele entregou a sacola da farmácia a Hyoga. – Eu vou esquentar o almoço. Você pegue sua filha e vá logo para o banheiro.

Hyoga obedeceu a ordem de Shun e pegou Natássia no colo.

— Você dormiu bem? – ele perguntou a ela, enquanto tirava da sacola a escova que Shun comprou.

— Como é? Deixa eu ver! – ela pediu, ansiosa. – Quero ver, papai! Me dá logo!

— Calma! Não vai fugir. Responde para mim. Você dormiu bem?

— Eu dormi bem demais! Agora deixa eu ver! – Ele entregou a escova a ela. Ah, é de ursinho! Eu amei! Eu amei!

Ele sorriu, colocou um pouco de pasta na escova, molhou e deu novamente a ela.

— Você sabe fazer isso, não sabe? – perguntou.

— Eu acho que não lembro…

Então ele pegou a própria escova e foi mostrando a ela, que repetiu tudo certinho.

— Muito bem, você é uma menina inteligente – ele cumprimentou, dando um beijo no rostinho dela.

— Claro que eu sou, papai! Agora vamos, quero ver minhas roupas novas! Vem, vem, papai! Anda!

Hyoga foi acompanhando-a, praticamente arrastado por ela, e quando chegou na cozinha o cheiro da comida que Shun esquentava fez sua barriga roncar alto. Lembrou-se que não comia nada desde o começo da noite anterior. Ele e Natássia sentaram-se à mesa, e Shun os serviu.

— Trouxe arroz e frango frito – Shun disse. – Achei que isso seria mais fácil de agradar o paladar infantil. Você gosta de frango frito, Natássia?

— Eu não sei. Deixa eu ver. O cheiro é bom, tio!

Shun sorriu e sentou-se para comer com eles. Natássia olhou curiosa os dois homens comendo com hashis.

Não sei fazer isso! – ela exclamou.

— Com o tempo você vai aprender – Shun disse e deu a ela uma colher que pegou na gaveta de talheres.

— Você é um anjo, Shun – Hyoga disse. – Fazer isso por nós depois de 24 horas de plantão! Só você mesmo.

— Eu sou seu amigo, estou acostumado a não dormir e vocês merecem. Estão começando agora uma nova família!

— Estou feliz por ter você aqui – Hyoga disse, segurando a mão de Shun. – De verdade.

— Está me deixando sem graça – replicou o médico, realmente envergonhado. – Come aí seu franguinho.

— Está delicioso – Hyoga disse, provando a comida. – Depois acho que tenho que sair. Você está certo, preciso comprar coisas para ela.

— Eba! Comprar coisas! – Natássia gritou, com a boca cheia de frango e arroz. – Eu adoooooro!

— Querida, não deve falar com a boca assim tão cheia – disse Hyoga, em um tom carinhoso. – Engula a comida primeiro.

— Assim, papai? – ela perguntou, depois de engolir como Hyoga disse.

— É, amor – ele respondeu, fazendo um carinho na cabeça dela. Depois dirigiu-se a Shun: – Vou preparar o quarto de hóspedes para ela.

— Eu quero continuar dormindo com o papai! – protestou Natássia.

— Não. Você precisa ter seu quarto. Vou deixar você escolher umas coisas bem legais pra colocar lá, você não quer comprar coisas legais?

— Então assim eu quero um quarto só meu!

— E você tem que comprar roupas, sapatos, coisas que ela precisa – completou Shun. – Eu só trouxe duas mudas de roupa, ela precisa de mais. Eu vou com vocês.

— Tem certeza? Você estava de plantão, cara.

— Eu vou e pronto. Não tente me impedir.

Hyoga assentiu. Sabia que não conseguiria detê-lo. Os três terminaram a refeição e enquanto a menina se divertia abrindo os pacotes das roupas, os dois homens lavavam os pratos e conversavam.

— Passei no laboratório e dei uma olhada nos resultados dos exames – Shun disse. – Do ponto de vista sanguíneo, ela é completamente saudável. E humana. Seria bom levá-la ao curandeiro do Santuário para que ele avaliasse outras coisas, mas fisicamente garanto que ela está ótima.

— Quantos anos acha que ela tem? – Hyoga perguntou.

— É difícil saber assim, mas acredito que entre cinco e seis. Me diz, o que você vai fazer com ela à noite quando for para o bar?

— Eu não sei! – disse Hyoga levando as mãos à cabeça. – Não pensei. É muita coisa pra pensar tão de repente.

— Quer que eu fique com ela?

— Não, Shun. Você também precisa dormir! Eu vou dar um jeito.

— Eu realmente posso ser esse jeito. Posso ficar com ela.

— Não vamos começar a explorar você agora, Shun – Hyoga disse. – Depois talvez a gente explore. Com certeza a gente vai explorar, mas por enquanto, não.

— Que tal Shiryu? – Shun sugeriu. – Será que ele e Shunrei não podem ficar com ela hoje?

— Boa ideia. Vou ligar pra ele – disse e pegou o celular. Achou o número de Shiryu e chamou. O amigo logo atendeu. – Shiryu, você está ocupado hoje?

— Na verdade, não. O que foi?

— Preciso te pedir um favor imenso – disse o loiro, dramatizando. – Não tenho mais ninguém a quem recorrer.

— Parece sério. Pode pedir, você sabe que pode.

— Eu adotei uma criança. Uma menina.

— É o quê? Repete! – Shiryu perguntou depois de alguns segundos de silêncio, tentando entender se tinha ouvido corretamente. Era só o que faltava, além da tendência a ficar cego, agora estava ficando meio surdo?

— É isso. Eu adotei uma menina. Vou te contar tudo direitinho, mas preciso que você e Shunrei fiquem com ela essa noite. Shun está aqui em casa, ofereceu-se pra ficar, mas ele estava de plantão, e já vai me ajudar hoje à tarde. Se continuar assim ele vai acabar virando o Dr. Zumbi.

— Eu disse a ele que ficava com ela mesmo assim! – Shun falou bem alto a fim de que Shiryu também ouvisse.

— É, mas ele precisa descansar… E não quero levar ela para o bar. Deixo ela aí no começo da noite e pego de manhã cedinho. Por favor, somente essa noite. Amanhã vou arrumar alguém para ficar com ela aqui em casa. Me ajuda, Shiryu!

— Calma, cara! Eu só estou meio chocado com a novidade, mas é claro que pode trazer a menina para cá. Shunrei não está em casa agora, mas tenho certeza que ela vai adorar.

— Você me salvou, amigo!

— Não faça tanto drama. Traga a menina para conhecermos e ouvirmos essa história inteira. Vai ser um prazer.

— Tudo resolvido – Hyoga disse a Shun depois de desligar. – Shiryu pode ficar com ela.

— Quem tem amigos, tem tudo, não é assim o ditado? – riu Shun e deu um tapinha nas costas de Hyoga.

O loiro assentiu. Sim, era verdade. Ele pensou que podia fazer isso sozinho, mas precisava de ajuda. Felizmente, tinha a quem recorrer.

— Vou dar um banho nela e depois tomar um também – ele disse. – E aí a gente vai às compras.

— Vai. Eu termino as coisas aqui na cozinha. Me chame quando terminar o banho dela. Eu a arrumo enquanto você se banha.

Hyoga fez exatamente como Shun disse e quando terminou de se aprontar o médico já estava penteando os longos cabelos de Natássia. Parou um pouco e observou. Ela estava usando o vestido amarelo que Shun trouxe.

— Você quer uma trança? – Shun perguntou.

— Sim! Trança, tio!

Shun então separou o cabelo fino dela em mechas e fez uma intrincada trança francesa. Hyoga pensou que jamais seria capaz de reproduzir aquilo.

— Ficou linda! – Hyoga disse, aproximando-se. – Vamos?

Os três partiram para o shopping, onde compraram mais algumas roupas e sapatos para Natássia. Depois, na loja de móveis, Natássia escolheu móveis cor-de-rosa: cama, guarda-roupa e penteadeira. Mais tarde, ela viu um urso polar na vitrine de uma loja e cismou que queria. Hyoga não resistiu e comprou. Quando terminaram, já estava na hora de levá-la para a casa de Shiryu, então os três seguiram para lá.

— Natássia, esses são o tio Shiryu e a tia Shunrei – Hyoga disse quando o casal os recebeu. A menina olhou os dois de cima a baixo, arregalando os grandes olhos cinzentos e analisando-os.

— Oi, tios – disse, meio desconfiada. A gata gorducha do casal veio cumprimentá-la. – Um gatinho!!!!! Olha, papai!

— Você gosta? – Shunrei perguntou. – Ela tem filhotinhos. Quer ver?

— Querooooo!

Shunrei segurou a mão de Natássia e levou-a para ver os filhotes.

— Pronto. Shunrei já ganhou ela – disse Shiryu. – Filhotinhos nunca falham. Golpe certeiro. Agora entrem aí e expliquem essa história…

— Claro. Mas antes, você está bem mesmo? – Shun perguntou. – Shura me disse que sua luta foi muito dura.

— Estou bem, sim. Você sabe, é o de sempre, sangrar pra caramba, ficar cego de tão fraco, voltar a enxergar… Já estou acostumado. Agora explica essa filha que apareceu de repente, Hyoga.

— Bom, eu lutei contra ela – Hyoga confessou baixinho para que a menina não ouvisse.

— Lutou? Ela deve ter o quê? Cinco anos?

— Ela estava possuída por um Sem Rosto. O miserável usou uma criança! Quando eu o derrotei, o corpo da menina foi libertado. Achei que ela estava morta… Mas não. Ela não se lembrava de nada, nem do próprio nome… Era como se tivesse nascido naquela hora. Estava assustada, com medo. Eu simplesmente não pude deixá-la… 

— Me dê um minuto pra digerir toda essa história…

— Eu também precisei desse minuto – Shun disse. – Compreendo perfeitamente. 

— Sei que é complicado… – admitiu Hyoga. – Mas eu simplesmente não podia fazer de outra forma… Preciso deixar ela aqui hoje, mas já entrei em contato com algumas pessoas. Preciso arrumar um barman com urgência pra ficar no meu lugar. Depois vou delegar funções, promover um bom funcionário que tenho a gerente, e aí terei mais tempo para ela, não vou precisar ficar o tempo todo no bar. Ficava porque não tinha outra coisa para fazer, mas agora tenho uma filha.

— Agora você é um pai solteiro  – reforçou Shiryu. – Eu diria que isso tudo é uma loucura, uma grande, imensa loucura, mas estou vendo como você está decidido e acho que não vai se arrepender.

— Não vou. Tenho certeza disso. Vou cuidar de Natássia pelo tempo que a vida dela durar. Bom, agora tenho que ir. Pego ela amanhã cedo. – Ele entregou a Shiryu uma mochila com algumas das coisas que tinha comprado para Natássia. – Só saio do bar lá pelas duas da manhã, não vou te incomodar a essa hora.

— Tudo bem! Fique tranquilo. Vamos cuidar dela. Só acho bom se preparar porque é capaz de ela querer um gatinho dos nossos.

— Com certeza! – completou Shun.

— Não inventa, Shiryu! Já estou pensando como vou dar conta dela, imagina arrumar um gato agora!

— A sua sorte é que eles ainda não desmamaram…

— Nat, vem dar tchau pro pai – ele chamou, aliviado pela informação.

Ela veio com um gatinho branco no colo.

— Olha, pai! Quero esse!

— Eu avisei… – riu Shiryu, e olhou cúmplice para Shunrei.

— Nat, agora não vai dar…

— Mas eu quero!

— Nat, ele ainda é muito bebê – explicou Shunrei. – Precisa da mãezinha dele. Quando ele crescer um pouco, veremos como vamos fazer.

— Mas é meu, não é?

Shunrei olhou para Hyoga, buscando uma resposta.

— É seu – ele disse – mas ele vai morar aqui na casa do tio Shiryu e você virá vê-lo sempre que quiser, tá bom?

Ela pensou um pouco e respondeu:

— Então tá bom!

Aliviado, Hyoga abaixou-se e deu um beijo nela.

— Agora eu tenho que ir. Comporte-se bem!

— Tá, papai – ela disse.

— E eu também já vou – Shun avisou e também abaixou-se para se despedir dela. – Não vou ganhar beijo?

— Claro que vai! – ela disse e deu um beijo no rosto de Shun. – Quando você vem me ver de novo?

— Eu não sei, mas vou fazer tudo pra que seja logo!

— Logo é bom! Tchau, tio!

Continua…


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Notas finais do capítulo

E aí? Shiryu tem razão ou não? Filhotinhos NUNCA falham! Hehehe!
Obrigada a todos que estão acompanhando!



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