When I Dreamed escrita por Shiroyuki


Capítulo 9
Capítulo 9. lost without you


Notas iniciais do capítulo

Oi gente! Peço desculpas pela demora em postar, eu disse que não ia desistir da fic, mas nos últimos tempos têm acontecido muita coisa (não tão boas) na minha vida, e o tempo foi sumindo, além da motivação pra fazer coisas, enfim, não vale a pena eu tentar explicar sobre isso, mas agora tô de volta, e pretendo postar mais vezes em seguida!
Perdoa e não desiste de mim ♥



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Quando Yuuri aceitou o convite de Phichit para sair, caminhar e dar uma espairecida, não imaginou o tamanho do problema que iria enfrentar, mas, novamente, isso não importava. Como sempre acontecia com qualquer atividade não planejada que acabava indo para lados que Yuuri sequer poderia cogitar, tudo começou com uma brilhante ideia de Phichit: já que estamos aqui, vamos explorar a cidade!

Eles não conheciam nada de Nova York, mas Phichit garantiu que o Google Maps não iria falhar com ele, não nessa hora. Nem bem caminharam duas quadras, e Yuuri já não sabia direito onde estava. Pelo menos o café que compraram na rua era muito bom. Não estava frio o suficiente para café, mas era a única coisa aceitável de se tomar àquela hora da manhã que Phichit o tirou da cama, com o pretexto de que se ele ficasse tempo demais no quarto do hotel iria voltar a se lamuriar, se enterrar nos cobertores e nunca mais querer sair dali. Eventos passados diziam que ele estava certo, então, Yuuri não discutiu e aceitou seu destino.

Depois de entrar em pelo menos 10 lojas de grife diferentes – só porque Phichit queria tirar selfies em todas elas, obviamente, eles não tinham dinheiro para comprar nem mesmo um par de meias nesse tipo de lugar, e rodar mais algumas ruas de Manhattan , ele já não fazia a menor ideia de onde estavam ou para onde deveriam ir. Yuuri tinha certeza, porém, que se quisessem refazer o caminho e voltar para o começo, só precisava colocar as fotos que Phichit tirava a cada cinco minutos em ordem, e eles teriam o perfeito caminho de migalhas de pão do século XXI.

Depois de tanto andar naquela floresta de concreto infinito onde todas as ruas pareciam exatamente as mesmas, Yuuri sugeriu que eles dessem uma volta pelo Central Park. Não havia parada mais obrigatória para uma visita à Nova York do que o Central Park, isso era um fato.

Ele perdeu as contas de quantas selfies já haviam tirado, enquanto Phichit e ele caminhavam lentamente pelas trilhas. O lugar era maravilhoso, e àquela hora, banhado à luz do sol da manhã, com poucas pessoas ao redor, ainda mais. Yuuri adoraria morar nessa cidade, se pudesse fazer suas caminhadas todos os dias ali, ao invés de ter que correr nas ruas asfaltadas, excessivamente urbanas e sufocantes, e potencialmente perigosas de Detroit. Se soubesse, teria vindo usando suas roupas de corrida.

— Wow, olha aquele cara. Com o cachorro… – Phichit usou aquele tom de voz – aquele, que ele usava quando alguém que chamava sua atenção em algum local do perímetro. Geralmente era alguma garota de cabelo colorido e vários piercings, ou algum cara com cabelo comprido que tivesse cara de guitarrista ou vocalista de banda de garagem. Ajeitando os óculos melhor no rosto, Yuuri percebeu que o alvo da vez não tinha nada a ver com o costumeiro gosto peculiar de Phichit.

—  Você está falando daquele cara de suéter azul marinho, que parece ser asiático? E que tem um husky? Eu acho que é um husky pelo menos… – ele indagou, apenas para confirmar, e Phichit acenou afirmativamente, com veemência, sem tirar os olhos do garoto, que caminhava calmamente com o seu cachorro firme na coleira.

—  Eu vou lá perguntar se o cachorro dele tem número…

—  Phichit! Nós vamos embora daqui amanhã! Você não tem tempo pra isso.

— Calma, Yuuri, eu só vou pedir um número, não a mão dele em casamento. Conversar com ele por um tempo não vai ofender ninguém, e distância não é problema quando se tem internet, meu amigo, relaxa. – Phichit balançou a mão no ar, como sempre fazia quando Yuuri estivesse levando algum assunto qualquer a sério demais.

—  Então vá, eu vou continuar caminhando. Não queremos que aquele incidente do barzinho do ano passado aconteça de novo.

—  Quando eu perdi de conseguir aquele carinha porque ele achou que eu estava com você? Totalmente! – Yuuri sabia que quando estava empolgado demais Phichit gesticulava ainda mais, então não era espanto que ele já estivesse começando a enxotá-lo com as mãos – Vaza daqui, vai, vai. Eu te encontro daqui a pouco. Dependendo de como eu for aqui, talvez demore. Como eu estou? – ele piscou os olhos duas vezes, virando o rosto para um lado e para o outro para que Yuuri pudesse avaliar por inteiro.

— Está um perfeito príncipe encantado moderno e tailandês, ele não tem chance alguma – Yuuri respondeu sem pestanejar, revirando os olhos, sem notar a piscadinha matreira do outro, enquanto já recomeçava a caminhar na rota planejada. –  Boa sorte. – disse, antes de se afastar, sabendo que Phichit ainda esperaria mais alguns segundos antes de começar a seguir seu plano infalível. Como ele sempre conseguia o que queria, era um mistério, e Yuuri nunca entenderia.

Ele caminhou mais algum tempo, sozinho, apenas ouvindo o som ambiente de pássaros e do vento nas árvores. Era muito fácil esquecer o barulho de carros e de pessoas andando apressadas de um lado para o outro enquanto estava ali. Era como ter sido transportado instantaneamente para outra cidade. Yuuri já se sentia absolutamente mais calmo. Talvez, apresentar-se nessa noite não fosse ser problema, se ele conseguisse manter esse estado mental por mais tempo. Enquanto caminhava ali, sem nada anuviando seus pensamentos, Yuuri quase acreditava que conseguiria.

Um latido, e algo estrondoso e nada delicado empurrou Yuuri, que se viu indo ao chão, inundado por um mar de pelos macios e marrons. O quê? Um cachorro o cheirava, abanando o rabo como se fosse um velho conhecido seu. Yuuri começou a acariciá-lo por reflexo, enquanto olhava ao redor, mas nenhum dono afobado apareceu, pedindo desculpas pelo comportamento do seu cão.

— Hey, hey, de onde você saiu ahn… – Yuuri se ajeitou, puxando a coleira do cachorro, e lendo a informação gravada no pingente. “Makkachin” dizia ali, mas não havia nenhum contato do dono. – Makkachin, certo? Onde está seu dono?

O olhar do cachorro dizia claramente que ele não sabia, mas ele pareceu muito feliz ao ser chamado pelo nome, e Yuuri continuou a afagar a cabeça dele, olhando ao redor, agora de joelhos no chão. Se havia uma coleira com nome, devia haver um dono preocupado em algum lugar ali perto.

— Você escapou de algum lugar, não é? Isso não se faz! … o que eu faço com você agora, hm? Eu tenho uma apresentação essa noite, e vou embora amanhã, não vou conseguir ajudar você a reencontrar sua família desse jeito, sabia? – Yuuri sabia que o cachorro não ia conseguir ajudá-lo a resolver o problema, mas falar em voz alta ajudava. Makkachin deu algumas lambidas na sua mão e no seu rosto como forma de incentivo.

— Adivinha o que eu consegui Yuuri! – Phichit surgiu correndo absolutamente do nada, animado como nunca. Yuuri jurava que podia até estar vendo flores saindo do corpo dele enquanto ele se aproximava como um tufão em movimento – Um número de telefone e um instagram para seguir. Não é maravilhoso? Ele ainda é intercambista, da Coreia, então nós já começamos com um assunto em comum. Além disso ele… hm… onde você arrumou esse? – Ele só pareceu reparar no cachorro que ainda se encontrava agarrado à Yuuri, de joelhos no chão, naquele instante.

— Eu não faço ideia? – Yuuri conseguiu se levantar, mas o cachorro não saiu de perto dele, aproximando-se das suas pernas – Ele pulou em mim, e eu acho que está perdido, mas não parece ter ninguém procurando por ele agora.

— Podemos ficar com ele! – Phichit sugeriu, entusiasmado demais com a ideia para lembrar que o prédio onde eles moravam não aceitava animais de estimação.

— Claro que não, ele tem um dono, olha a coleira. Só precisamos achar um jeito de encontrar esse dono antes de irmos embora. O hotel aceita animais, se não me engano, não é? Não posso deixar ele sozinho aqui...

— Acho que sim, nós podemos levar ele e eu tiro uma foto e faço posts por aí. Podemos dar uma olhada ver se tem alguém procurando um cachorro perdido aqui por perto, também. Alguém vai aparecer, pode ter certeza, esse menino é fofo demais para ninguém procurar por ele afinal… – Phichit afinou a voz imitando um bebê na última frase, enquanto falava com ele e esfregava os dedos no pelo macio. – É um menino, certo?

— Makkachin é o nome, mas achei indelicado perguntar se era menina ou menino…

Enquanto pensavam no que poderiam fazer com o cachorro perdido, que estava repentinamente animado demais com as novas companhias e não parecia sentir-se nem um pouco triste pode estar perdido, eles dois resolveram voltar ao hotel. No caminho, comprariam comida para cachorro e mais qualquer coisa que ele fosse precisar enquanto estivesse ali, e Phichit trataria de usar suas redes para dar um jeito de fazer Makkachin voltar ao seu lar em tempo recorde. Eles tinham até o dia seguinte para conseguir, afinal.

E o tempo passava rápido, além disso, Yuuri ainda precisava se apresentar naquela noite. A aparição repentina do cachorro varreu para longe todas as outras preocupações na cabeça de Yuuri, e Phichit percebeu isso. Só podia ter a esperança de que isso durasse até a noite, de alguma forma.



 

.

 

 

—  Eu já procurei por toda parte! Foi questão de dois segundos e puf ele tinha sumido da minha vista! Makkachin nunca faz isso, nunca!

Victor andava de um lado para o outro na sala do apartamento, falando no telefone com alguém. Já era quase noite, e ele deveria estar se arrumando para ir ao evento mais tarde, mas ele simplesmente não conseguia nem lembrar desse detalhe no momento. Porque Makkachin, o seu pobre, pequeno Makkachin, estava em algum lugar, perdido por aí, com frio, com fome, com medo, pensando que ele havia o abandonado para todo sempre, o que não era verdade. Victor não sabia o que fazer!

Ele havia saído com Makkachin durante a manhã, para sua caminhada rotineira. Hoje, resolveu ir um pouco mais longe, e com sua recém adquirida habilidade de andar em transportes públicos, resolveu ir conversar um pouco com Chris sobre o primeiro dia de apresentações que assistiu, e algumas ideias que andara tendo depois de sair de lá. No caminho, percebeu uma cafeteria que acabara de abrir. Experimentar não iria causar mal algum não é?

Foi isso que ele pensou, enquanto amarrava a guia de Makkachin em um poste logo à frente do estabelecimento, e pediu a ele que se comportasse, pois não iria demorar. Ele só ia pedir o que queria para viagem, e os dois poderiam ir até a editora. Não demoraria, e eles poderiam estender a caminhada e passar no parque, no caminho, não é? Makkachin adorava correr atrás dos esquilos nos parques.

Quando saiu do local com seu café, apenas a guia amarrada ao poste continuava ali. Victor entrou em desespero imediatamente, ligando para Yuri, para Mila, para quem quer que fosse que pudessem ajudá-lo a encontrar Makkachin, mas ele havia simplesmente evaporado, e não estava em nenhum lugar por perto. Enquanto perguntava pela rua, alguém disse que podia ter visto um cão com as mesmas características correndo pelo Central Park – mas o Central Park era absolutamente gigante e Victor não conseguiu percorrer nem um quarto da extensão dele antes de Yuri dizer que era loucura continuar procurando a esmo como eles estavam fazendo, e que Victor deveria ser menos afobado e pensar de forma racional.

Eles voltaram para casa, e Victor agora falava com Mila, que havia ajudado a procurar durante seu horário de almoço, mas tinha fotos marcadas para a tarde e ainda o evento durante a noite, e não pôde ficar muito tempo. Ele não ia poder acompanhá-la naquela noite, afinal.

—  Aqui, terminei de escrever um post. Usei a sua conta. Essa foto está boa? – Yuri mostrou a tela do notebook para Victor, que acabara de desligar o telefone, e parecia fisicamente incapaz de ficar parado no mesmo lugar por mais do que dois segundos.

— Sim, está bom. Ah, Makkachin está tão fofo nessa foto, foi no aniversário dele ano passado, eu fiz uma festinha para ele sabe? – Victor parou, sorrindo por um segundo, mas logo depois sua expressão se desmanchou de volta em pura tristeza. Yuri odiava o fato de que o rosto de Victor continuava sendo digno de uma capa de revista mesmo nesses momentos. Acabava tendo vontade de socá-lo, mesmo sabendo que ele sofria. – Aaahh o que eu vou fazer da minha vida se eu nunca mais encontrar meu Makkachin, Yura? Eu acho que eu não vou ser capaz de viver mais.

— Calma, drama queen, Makka é mais esperto que você, eu aposto que há essa hora ele deve ter conquistado o coração de alguém na rua, com aquela mania que ele tem de pular nas pessoas e fazer elas amarem ele na marra. Ele deve estar em uma casa quentinha e com comida, esperando por você, bebê chorão. Nós só precisamos saber  como procurar. – Yuri parecia não ter sido afetado pelo sumiço de Makkachin, mas quem o conhecia o suficiente sabia que ele não teria saído de casa no mesmo minuto em que Victor ligou, passado o dia na rua procurando e perguntando às pessoas, para depois voltar em casa e sentar para fazer um post procurando pelo cachorro se ele não ligasse nem um pouco para ele.

— Ah, você acha isso mesmo, Yura? Eu também acho que Makkachin é ótimo com pessoas. Eu espero mesmo que ele esteja bem. Será que nós devemos imprimir cartazes? Acionar a polícia? Oh, nós temos que colocar uma foto dele na caixa de leite, para onde eu ligo para conseguir uma foto do Makkachin na caixa de leite? – Victor já estava indo pegar o telefone de novo, mas Yuri o interrompeu antes que ele entrasse de novo naquele ciclo de loucura e desespero em que ele esteve durante o dia inteiro.

— Victor, para! Primeiro, não existe mais isso de foto de pessoas desaparecidas no leite, e mesmo que existisse, não acho que seja solução, ninguém liga para isso. Deixa o lance da divulgação comigo, tá certo? Eu vou fazer posts, e oferecer recompensa, vou fazer folhetos também, você é quem vai pagar tudo mesmo. – ele deu de ombros, percebendo por alto que Victor estava à beira das lágrimas com toda a demonstração de dedicação que Yuri demonstrava, mesmo sem querer. – Vou levar na escola também segunda-feira, tem um bando de gente desocupada que passa o dia inteiro na rua por lá, alguém pode ter visto alguma coisa.

—  Ahhh, Yuuura! – Victor pulou nos braços do irmão, empurrando o notebook para lá, antes que pudesse ser chutado para longe. – Muito obrigado! De verdade, o que eu faria sem você?! Nós vamos encontrar o Makkachin, vamos sim, não vamos? – Um Victor sem Makkachin significava um Victor sem coisas para abraçar quando quisesse, fazendo que que Yuri fosse o alvo mais próximo e mais evidente a qualquer ataque de carência do homem, o que era terrivelmente irritante. Yuri conseguiu se desvencilhar e correr para longe logo em seguida, esbravejando em russo por falta de palavrões melhores em inglês.

— Nós vamos, só não chegue perto de mim. – ele gritou por último correndo ainda mais rápido de volta ao seu quarto e trancando a porta com o mínimo sinal de que Victor estaria levantando do chão para correr atrás dele.

Victor permaneceu no chão, porém, e deitou a cabeça no sofá, observando a foto de Makkachin que Yuri deixara ali, na tela do notebook.

— Você tem que voltar logo, Makka… Não faça isso comigo, sim? Você é minha família aqui, e eu preciso de você...

Yuri, espiando no vão da porta do quarto, jamais contaria a ninguém que naquela noite havia ouvido o irmão chorar, de verdade, pela primeira vez.



.

 

—  Yuuri, você conseguiu!

—  Eu… eu consegui?

Yuuri andava de volta ao camarim, mas mal podia sentir seus pés. Na verdade, era quase como se caminhasse em um sonho. Ele não conseguia lembrar claramente dos últimos minutos, era mais como se ele tivesse visto tudo de fora, como uma daquelas experiências extracorpóreas dos documentários sobre experiências de quase-morte que ele assistia quando não conseguia dormir, de madrugada. Talvez ele estivesse tendo uma dessas exatamente neste instante.

Phichit o abraçou, e logo depois Minako, e mais alguns colegas do grupo de dança, mas Yuuri se sentia anestesiado, longe demais para conseguir processar tudo o que acontecia. Hoje havia sido um dia absolutamente louco, e aquela apresentação fechava tudo de uma forma inacreditável.

Depois de encontrar Makkachin na rua e acomodá-lo bem no quarto do hotel antes de sair – ele aceitou muito bem ficar dormindo na cama de Yuri, pelo jeito – Yuuri teve pouco tempo entre se arrumar, ser maquiado e vestido, e se alongar antes da apresentação. Não houve tempo para pensar. Ele foi um dos primeiros dessa vez, logo após os grupos infantis e juvenis. E quando enfim pisou no palco, foi como se ninguém mais existisse, e fosse apenas ele e sua sala de espelhos no estúdio de dança da faculdade.

Yuuri dançou só para si, mal sentindo os movimentos que saíam naturalmente depois de tanto tempo de prática. Nem a música ele escutou direito. Os passos iam fluindo diante de si, e ele quase sentia como se não controlasse o próprio corpo. Quando a música enfim terminou e ele parou em sua pose final, ofegante, sentindo o suor derreter a maquiagem que haviam colocando em seu rosto, os aplausos o libertaram de seu estupor, e ele agradeceu com uma leve mesura antes de caminhar depressa de volta à segurança dos bastidores.

Todos o parabenizavam, de todos os lados, e ele nem sabia o que é que havia feito certo dessa vez. Só podia agradecer à Makkachin, por que foi ele quem certamente trouxe sorte, e fez Yuuri parar de ficar consciente sobre si mesmo tempo suficiente para não ter outra crise ao se apresentar. No fundo da sua mente, ele também se perguntava se o homem com quem havia conversado brevemente na outra noite estava ali para vê-lo. Ele esperava que sim.

E quando parou para pensar e lembrou disso… a voz daquele homem não soava um tanto familiar…? Não, não, devia ser só uma impressão.

— Vamos comemorar! – Phichit praticamente anunciou para Yuuri, ainda com um braço ao redor do ombro dele, mais satisfeito do que o próprio com aquela conquista. – Nova York é a cidade que nunca dorme, e nós vamos aproveitar!

— A cidade pode até não dormir, mas nós dois vamos. – Yuuri afirmou, acabando com qualquer plano que o outro pudesse estar formulando na sua mente – Ou você esqueceu do nosso hóspede, no hotel.

— Ah… é verdade. E nós vamos embora amanhã. – Phichit pareceu recordar desse pequeno detalhe apenas agora, e murchou imediatamente. – O que nós vamos fazer com ele?

— Eu realmente não faço ideia.

 

O resto do grupo de dança e Minako realmente saíram para comemorar o final das apresentações, com dançarinos de outras companhias, em um grande e animado grupo de recém-conhecidos, mas Yuuri se esquivou desse compromisso, alegando um cansaço que realmente sentia e que fazia cada parte do seu corpo implorar por um banho quente e uma cama. Phichit o acompanhou, não sem antes deixar muito claro o quanto ele estava sendo generoso em abrir mão de uma noite em Nova York para ser um amigo tão bom para ele.

Eles ainda tentaram pesquisar mais sobre o dono perdido de Makkachin, mas já era tarde, e dificilmente encontrariam resultados se continuassem a andar em círculos daquela forma. Yuuri enfim se rendeu à exaustão que sentia e naquela última noite antes de voltar à Detroit, no quarto do hotel em Nova York, ele sonhou novamente com o homem de cabelos cinza. Havia dormido sozinho, mas em algum momento da noite, Makkachin largou a cama improvisada com cobertores que Yuuri montou e pulou para a cama, aninhando-se junto a ele. Yuuri estava aquecido e confortável, abraçado ao cachorro, dormindo em paz com a sensação de dever cumprido depois da apresentação daquela noite, e pronto para voltar para casa no dia seguinte.

Foi com esse sentimento que ele abriu os olhos para um lugar inesperado. Os cenários nos sonhos de Yuuri sempre variavam, indo desde lugares que ele conhecia bem, como a casa da sua família ou o bosque que circundava a pequena pousada onde passou boa parte da infância, até lugares aleatórios e completamente desconhecidos, fosse um lago no meio do nada, ou uma sala vazia em algum lugar. Nada nunca fazia muito sentido.

Dessa vez, foi completamente diferente de todas as outras. Primeiro, Yuuri abriu os olhos, e demorou a se acostumar com o escuro. Havia luzes de cidade se infiltrando pela janela mais à frente, com as cortinas abertas, mas era noite. Yuuri estava em um apartamento, não muito grande, onde ele nunca havia estado antes.  Era o cenário mais real que ele já havia estado. Conseguia sentir com perfeição a textura do carpete nos seus pés, um cheiro característico no ar, o escuro silencioso de uma casa à noite quando todos dormiam. No escuro era difícil notar qualquer detalhe que pudesse dar pistas de onde estava ou quem morava ali, mas Yuuri tinha um palpite.

Havia mais alguém ali, e dando um pequeno e silencioso passo, Yuuri percebeu que suas suspeitas estavam corretas, ao distinguir os cabelos claríssimos mesmo com a tênue e confusa luz que iluminava parcamente o local. Ele estava em um sofá, no que parecia ser a sala do apartamento, com um cobertor fino cobrindo-o. Parecia ter caído no sono ali mesmo, deitado de mal jeito no encosto lateral.

De pé atrás do sofá, Yuuri observou por alguns poucos segundos, e resolveu se aproximar. Aquele era seu sonho, afinal, ele não tinha motivos para hesitar. O homem estava dormindo, sim, abraçado a uma almofada, com a expressão mais desolada que Yuuri já havia visto, mesmo durante o sono. Yuuri se ajoelhou perante o sofá, para observar mais de perto. Os olhos fechados pareciam inchados e provavelmente estavam vermelhos também. Havia uma trilha de lágrimas manchando o rosto claro, e mesmo sem enxergar muito bem, isso fez o coração de Yuuri apertar-se no peito. O que havia acontecido para que ele estivesse daquele jeito?

Ele parecia mais real e mais próximo do que nunca. Yuuri nunca havia o visto tão vulnerável e tão… vivo. Ele sempre parecia mais como algo saído de uma fantasia, intocável, inalcançável, nos sonhos. Quando dançavam juntos, Yuuri sentia que estava voando. Havia sido apenas mais recentemente que Yuuri se arriscou a se aproximar mais e deixar que ele o tocasse, e mesmo assim, ele sempre dava a impressão de ser alguém seguro, auto-suficiente, e que sabia exatamente o que estava fazendo. Naquele momento, não. Naquele momento, Yuuri só sentia que deveria abraçá-lo, consolá-lo, fazer com que ele se sentisse bem de alguma forma. Yuuri sentiu uma necessidade intensa e inexplicável de cuidar daquela pessoa.

Antes que percebesse, sua mão já se erguia no ar, e lentamente, ia afundando nos fios finos e claros, que eram tão macios quanto Yuuri pensava que fossem. Ele acariciou o local, sem pressa, percebendo com certo alívio que a expressão no rosto do homem se abrandava pouco a pouco com seu toque gentil.

Yuuri se acomodou melhor no chão, deitando o corpo parcialmente no sofá, enquanto deixava seus dedos percorrerem os fios, a lateral do rosto anguloso, carinhosamente. Ele não acordava, apenas ressonava e respirava calmamente, e isso incentivava Yuuri a continuar, sem medo. Seus rostos estavam próximos um do outro, e Yuuri sentia nitidamente o calor do corpo embaixo do cobertor, mas isso não o incomodava, como ele achava que deveria. Na verdade, aquela proximidade era quase confortável. Fazia Yuuri acreditar que aquele era o único lugar onde ele deveria estar naquele momento.

Ele não entendeu se acabou pegando no sono, no chão da sala daquele apartamento, mas quando abriu os olhos, estava de novo no escuro quarto de hotel, e sentia a respiração de Makkachin próxima ao seu rosto, como se ele estivesse observando-o durante o sono, preocupado. Yuuri acalmou o cachorro e deixou que ele deitasse novamente, acomodando-se melhor na cama.

De alguma forma, a ponta dos seus dedos permanecia estranhamente aquecida, como se ele tivesse realmente acabado de tocar em alguém.


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Notas finais do capítulo

Eeeeu sei, não foi nesse capítulo que eles se encontrarem, depois de tanta demora pra postar e ainda vir com mais um capítulo em que eles não se encontram de verdade, vocês devem estar querendo me matar >< mas vocês me perdoam se eu disser que posto mais um capítulo daqui uns dois dias? Porque ja tenho ele pronto? E talvez eu poste o seguinte logo depois? hm? Espero que sim ♥♥ beijo amo vocês desculpa qualquer coisa



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