You are not alone... escrita por TheStarOfDavid


Capítulo 41
Stay.


Notas iniciais do capítulo

Demorei né. Desculpa, tive um problema pessoal e acabei só avisando os leitores de LIBWY e depois eu ainda tive umas provas e acabei emendando. Mil desculpas, pisei na bola. Mas... Voltei! Uhhuu! E o capítulo ta bem grande! Chegamos ao penúltimo capítulo e meu coração ta apertadinho por estar finalizando essa fic, amei escrever cada palavra e responder cada comentário. Ainda não é uma despedida, mas já está doendo.
Boa leitura!



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(POV Alycia)

UMA SEMANA ATRÁS.

Um menino, pequeno demais para ter a minha idade, me guiou até a Freyja. Pegamos um elevador e subimos até o 850° andar e ainda havia 300 andares para cima. No momento que vi os botões para os andares, comecei a imaginar como deve ser se perder naquele lugar. Tenho certeza que era totalmente possível se perder por meses.

Depois de uma longa, silenciosa e desconfortável, viajem de elevador, andamos pelo corredor por uns 10 minutos, até pararmos em uma porta dupla gigante, com várias flores e corpos entalhados na madeira (Sim, corpos humanos, mortos).

Senti todos os pelos do meu corpo de arrepiarem quando as portas se abriram. O menino (que comecei a chamar de Vitor em minha cabeça) ficou parado do lado de fora, esperando eu tomar uma iniciativa e pisar dentro da sala. Vitor percebeu que eu não iria me mexer e me empurrou para dentro da sala - nem um pouco delicado.

Apesar da porta ser enorme, a sala era bem desproporcional. Havia um sofá e algumas poltronas espalhadas pela sala; um pano que cobria, o que eu pensava ser, um espelho e vários tapetes distribuídos pela sala.

Uma mulher estava virada de costas para mim, em frente a lareira que ficava mais para o canto. Ela só se virou quando a porta se fechou completamente atrás de mim.

— Finalmente! - exclamou, sorrindo. - É ótimo te conhecer.

— Eu deveria dizer o mesmo?

Um sorriso cínico apareceu em seus lábios enquanto segurava uma taça de vinho em uma das mãos.

Ela era uma mulher muito bonita. Seus cabelos loiros combinavam com seus olhos azuis. Alta, magra, loira... comecei a entender quem havia imposto o padrão de beleza do século 21.

— Sente-se.

Ela se sentou em uma poltrona que estava virada de frente para o sofá. Me sentei, hesitantemente. Mas por algum motivo, o medo tinha passado completamente. Eu estava mais confiante.

— Então... - falei.

— Eu apenas gostaria de te dar as boas vindas ao nosso exército!

— Você está me dando boas vindas a morte?

— Bem.. Sim. E explicar algumas coisas, é claro. - levou a taça aos seus lábios. - Eu poderia deixar isso para Mike, mas não podia perder essa oportunidade.

— Eu já estou morta mesmo. - dei de ombros. - Prossiga.

— Primeiramente, sei que você tem as suas próprias perguntas. - respirei fundo. Ela ficou em silêncio, esperando eu me manifestar.

— Quanto tempo estou aqui?

— Alguns dias. -  arregalei os olhos e abaixei a cabeça, tentando processar aquela informação. - Sabe, o tempo passa diferentemente aqui. - continuou. - Você ficou alguns dias inconsciente, lá se passaram algumas horas. Meses aqui são dias lá.

— Isso é... - eu ainda não acreditava naquilo, então apenas suspirei. - Apenas me diga o que eu tenho que fazer.

— Você sabe muito bem. - se levantou e começou a andar de um lado para o outro. - Você irá treinar todos os dias. Irá treinar os seus poderes, o seu psicológico e irá aprender a lutar. Você precisa estar preparada para o Ragnarok.

— Que será...

— Não sabemos... Ainda.

Respirei fundo, frustrada.

— Era só isso? - me levantei.

— Por enquanto. - comecei a andar em direção à porta. - Alycia. - a olhei. - Posso te fazer uma pergunta? - me virei totalmente pra ela. - Você não se surpreendeu com nada do que eu disse. Por que?

— Eu já estava... Esperando.

Ela deu um fraco sorriso.

— Sinto que ouviu certas histórias sobre mim.

— Oh sim. - me aproximei.

— O que sabe?

Respirei fundo.

— Freyja. Uma Valkyria. A mãe das Valkyrias de Vahalla. Claro, também é uma Deusa. A Deusa do amor, fertilidade, beleza, riqueza, magia, guerra e morte. Muito bonita, é claro, e muito... Muito filha da puta. - seu sorriso se alargou. - Estou no caminho certo?

— Acho que alguém viu a série.

— Sim. Percebo agora que eles realmente conseguiram captar a sua essência. - me virei e comecei a andar.

— Te vejo mais tarde, filha de Zeus.

Abri a porta e a encarei antes de sair.

— Espero que não, minha Deusa.

      

                                                             ***

Me vi andando, automaticamente, até a tenda de enfermagem. Minhas mãe iriam reunir todas as pessoas necessárias para uma reunião na sala de guerra. Eu tinha pedido para chamar Tink.

A vi de longe. Ela estava mais calma. Se afastou e seu paciente, tirando suas luvas de látex e anotou alguma coisa em sua prancheta. Ela parecia cansada. As olheiras debaixo de seus olhos estavam completamente visíveis.

Me senti mal.

Sei que eu não era o total motivo para ela estar assim, mas eu tinha uma grande parcela de culpa.

Adentrei a tenda completamente e fiquei a encarando. Quando ela finalmente desviou seu olhar da folha e me percebeu, não demonstrou nenhuma emoção. Ficou apenas me olhando, até cerrar os olhos por alguns segundos e respirar fundo. Quando os abriu, balançou a cabeça negativamente.

— Ótimo, estou alucinando agora... - eu não pude deixar de sorrir. - Acho que eu deveria dormir um pouco.

Ela jogou a prancheta em uma mesa vazia. Não consegui mas me conter e andei em sua direção. Ela se encostou na mesa, com os braços cruzados, e eu fiquei na sua frente.

— Como estão as coisas? - perguntei, me contendo para não pular em cima dela.

— Você sabe como elas estão.

— Uma bosta? - não respondeu, apenas suspirou. - Irei considerar isso como um sim.

— Eu sinto sua falta. - disse encarando o chão.

Me aproximei e a fiz me encarar.

— Eu também senti a sua.

Segurei sua nuca e aproximei meus lábios dos seus.

Como eu sentia falta daqueles lábios... do seu gosto. Senti o gosto salgado de duas lágrimas. Ela pousou sua mão em minha cintura e aprofundou o beijo. Paramos segundos depois com selinhos.

— Ally? - seu sorriso era enorme.

— Oi fadinha. - respondi com a voz embargada.

Ela me envolveu em um forte abraço. Um abraço cheio de saudade. Ficamos minutos naquela posição, mas parecia que não era o suficiente.

— Eu te amo. - disse logo após me soltar e riu. - Pensei que eu nunca conseguiria te dizer isso.

— Eu sei. Eu sempre soube. - sorri de volta. - Eu também te amo.

Ela se afastou um pouco e me analisou. Seu semblante estava feliz e confuso.

— Como?

— Essa é uma história grande demais para ser contada agora. -  segurei sua mão e a puxei para a saída. - Vem, temos uma reunião para ir.

                                                             *

Paramos em frente a porta. Conseguíamos ouvir os diálogos lá dentro, apesar de estar bem barulhento.

— O que estamos fazendo aqui?— ouvi a voz de Leroy.

— Não deveríamos estar nos preparando para quando eles voltarem a atacar?— completou Ruby.

— Nós finalmente temos um plano?— perguntou Zelena.

— Espero que sim.— respondeu minha mãe morena.

— O que você quer dizer com isso?

Senti que aquela era a minha deixa para entrar. Tink apertou minha mão levemente, me passando segurança. Abri a porta bruscamente por conta do nervosismo, fazendo todos me encararem e pararem de conversar.

Todos estavam estáticos. Nenhum ousava a se mexer, ou até mesmo respirar. Senti o olhar das minhas mães e de meu irmão sobre mim. Não sei se estava enganada, mas parecia que estavam orgulhosos.

— Vaquinha?

Leonia afastou as pessoas em sua frente com o seu "jeitinho meigo de ser". O sorriso não cabia em seu rosto. Meus olhos marejaram no mesmo momento que vir ela se aproximando com Pozzato.

— Hey Bipolar.

Nunca vi ela correr tão rápido.

Ela, literalmente, pulou em cima de mim. Tive sorte de que estava mais forte, se não, nós duas teríamos ido ao chão.

A abracei, a levantando do chão. Quando seus pés tocaram a terra firme depois de alguns segundos, puxei Pozzato para o abraço. Eles se afastaram um pouco.

— Como? - Aquela pergunta estava se tornando frequente para mim.

— Longa história. - Ela me deu um tapa forte no braço. - Ai!

— Nunca mais faça isso.

— Ou nós mesmos iremos te matar. - Completou Pozzato, me fazendo rir.

Mesmo sabendo como seria o final de tudo aquilo, de como o dia iria acabar, eu me permiti rir.

O resto da sala ainda nos encarava. Percebi David e Mary Margaret me encarando maravilhados. Andei em sua direção. Eu precisava dizer aquilo para eles e aquela poderia ser a minha última chance.

— Oi vovó, vovô.

Fiquei mais leve. Seus sorrisos eram enormes e seus olhos estavam marejados, assim como os meus. Não perderam mais tempo e me puxaram para um forte abraço.

— Sentimos sua falta. - sussurraram em meu ouvido

— Eu também.

Nos separamos, limpando as lágrimas. Ruby chegou perto e apertou meu ombro com um sorriso que não cabia em seu rosto. A abracei de lado.

— É bom ter você de volta.

— Estamos felizes por estar bem. - Completou Zelena, chegando perto de mim.

Sorri. Era bom estar de volta.

— Então quer dizer que temos um plano? - Perguntou Mulan, tendo a nossa atenção.

— Sim. - comecei. - Henry é o autor. - Vi todos me olharem confusos. - O autor é quem registra todos os acontecimentos das nossas vidas no livro "Once Upon a Time"

— O livro que eu dei para o Henry anos atrás? - Assenti com a cabeça.

— E em que isso nos ajuda? - Perguntou David.

— Resumindo tudo, ele pode escrever como tudo irá acontecer na guerra. Ele só tem que escrever uma história.

— Ally, eu nem sei se isso pode dar certo e tenho quase certeza que é contra as regras. - falou Henry, chegando mais perto.

— Acredite em mim Henry, irá dar certo. - sorri para ele. - E nós já quebramos as regras antes, não é? - ele sorriu de volta.

— Isso está virando Goosebumps agora? - ouvi Emma murmurar, me fazendo segurar o riso.

— Então Henry escreveria um final para a Black Fairy e seu exército no livro? - perguntou Regina.

— Então podemos mata-los? - perguntou Killian.

— Jones, ninguém vai matar ninguém. Eu não posso e não quero pedir para Henry escrever tal coisa. Iremos apenas prende-los dentro do livro - respondi.

— E eu não posso escrever nele. - todos olharam o meu irmão curiosos. Ele respirou fundo. - Alguns dias atrás eu percebi que ele não estava aonde eu deixei. Eu o perdi.

— Não Henry, isso foi só um golpe do destino para dificultar a nossa vida. - mama se aproximou e o abraçou de lado.

— Então o que faremos?

— O Henry da outra dimensão também era o autor. - comecei a explicar. - Foi ele que me contou sobre tudo isso, inclusive de uma casa que pertencia ao Aprendiz. Lá tem vários livros em branco iguais ao do Henry, mas eu não sei aonde é. Só sei que é uma casa bem grande, depois da floresta.

— E como vamos encontra-la? Deve ser perto do exército inimigo. - perguntou Regina.

— Eu sei de um jeito... - falou Killian. Minha mãe loira franziu a testa, mas depois de alguns segundos, arregalou os olhos. - Emma, ele conhece essa floresta melhor que ninguém.

— Não Killian! Ele não vai sair de lá!

Fiquei entre eles.

— Mãe, dessa vez eu tenho que concordar com o capitão Sparrow aqui.

— Sparrow? - ele levantou uma sobrancelha. O olhei de cima a baixo e dei de ombros.

— Nah, ele é mais legal. - voltei meu olhar para Emma. - Mãe, a última coisa que eu quero é magoar a mama, mas isso é algo que precisamos fazer. Eu também não estou feliz com isso, eu o odeio mais do que a senhora pensa.

— Ally, tem que ter outro jeito! Eu não vou deixar aquele crápula chegar perto dos meus filhos...

— Faça.

Minha mãe a olhou incrédula.

— Gina...

— Emma, eles tem razão. É a nossa melhor chance.- a cortou e se virou para minha avó. - Snow, você pode ir com eles?

— É claro Regina.

Ela se virou para mim e Henry e nos abraçou.

— Vai ficar tudo bem. - Sussurrei em seu ouvido.

— Nós vamos ficar bem. - completou Henry.

                                                                   *

Já faziam 6 dias desde que eu tinha morrido, ou seja, 6 meses. Eu estava começando a me acostumar com esse adjetivo. O treinamento era intenso. Participei de várias "guerras" onde morri algumas vezes. Eu treinava mais com Mike. Ele me ajudava em como controlar meus poderes e como usa-los para machucar alguém. Por algum motivo, eu estava realmente gostando dessa ideia... Eu deveria me sentir mal por isso? Provavelmente.

Eu tinha cicatrizes por todo o meu corpo. Sim, eles poderiam remove-las, mas eu não queria esquecer do porquê eu estava ali, e aquilo me lembrava constantemente. E também era um jeito de me sentir um pouco... Viva.

Eu passava praticamente todo o meu tempo livre socando o saco de pancadas no ginásio do hotel (sim, um ginásio. Eu também me surpreendi). Esmurrar um saco era bem mais relaxante do que eu pensava. Ainda mais naquele momento que eu não conseguia tirar da minha cabeça que, em alguns dias, minha família iria voltar para uma guerra que, provavelmente, não iriam vencer.

Eu estava tão concentrada em fazer um buraco naquele saco de areia que demorou alguns bons segundos para eu ouvir palmas lentas vindo da porta do local.

— Uau! - parei e o olhei com uma sobrancelha levantada. - Que isso hein.

— Cala a boca.

Tirei minhas luvas com a ajuda dos meus dentes, ofegante.

— Ei, não seja agressiva. - sorriu, se aproximando e se encostando em uma pilastra próxima. - Você tem treinado bastante.

— É um jeito de me acalmar. Tirar certas coisas da minha cabeça.

Ele me encarou com um semblante sério.

— Você tinha alguém?

Sua pergunta veio tão de repente que eu travei por alguns segundos. Limpei o suor da minha testa e o encarei, cruzando meus braços e assentindo com a cabeça.

— Eu ia pedir ela em namoro. - comecei a falar. - Nós não éramos nada oficial e eu queria mudar isso. Eu iria pedir logo depois que a guerra acabasse. - suspirei. - Fazer o que? É a vida... Ou a morte.

A piada foi ruim, mas consegui rir.

Ele se desencostou da pilastra e foi até uma parte mais afastada, onde se era usado para treinar combate. Mas não se engane, muitos saiam dali seriamente machucados.

—Vamos, me mostre o que aprendeu! - gritou para mim.

— Sério? - assentiu com a cabeça.

Eu apenas sorri e fui em sua direção. Quando nos preparávamos para lutar, chamas acenderam em suas mãos. Demorou um tempo para eu juntar as peças e quando entendi, o meu sorriso não podia ser maior.

— Você é filho de Hefesto. - ele sorriu, assentindo. - Então prepare-se querido sobrinho.

Em minhas mãos, raios foram criados. Eu já sabia muito bem como usa-los e ali, eu não tinha nenhum medo de machucar as pessoas, afinal, já estávamos mortos.

Ele começou atacando, jogando uma bola de fogo bem em minha cabeça. Desviei, movendo a minha cabeça para a direita. Seu sorriso cínico fez com que eu lembrasse de minha mãe e suas famosas bolas de fogo. Ele voltou a atacar, dessa vez mais rapidamente e com mais movimentos. Ele pensava que sabia todos os meus movimentos, mas eu havia começado a treinar sozinha.

Desviei de seus golpes na maior tranquilidade.

Quando seu braço ficou na frente do meu rosto em uma tentativa falha de me dar um soco, dei um leve choque, o fazendo gemer. Dei um risinho e me afastei um pouco. Deixar ele se cansar era a melhor forma de ganhar, mas eu estava doida para queimar algumas calorias.

Ele partiu para cima de mim e eu decidi fazer um pouco de corpo a corpo.

Admito que levei vários bons socos, especialmente na costela. Percebi que ela estava roxa e meu nariz com um pouco de sangue. O rosto dele não estava tão diferente do meu. Na verdade, estava pior, o que me fez sorrir ao vê-lo daquele jeito, fiquei orgulhosa de mim mesma. Decidi ir para o próximo nível. Meus braços ganharam uma iluminação própria de raios. Foi a primeira vez que percebi o quanto estavam definidos...

Criei um chicote de raios que eram a minha arma feita de raios favorita. Eu também gostava da espada e amava muito usar os bastões, mas não era a mesma coisa.

Ele fez pequenos punhais de fogo aparecerem em suas mãos. Lutamos por mais alguns minutos. Eu o eletrocutava algumas vezes e ele me queimava outras vezes. Mas depois de um tempo, eu só queria o ver no chão.

Ele jogou um dos punhais em minha direção. Eu esquivei com o meu corpo inteiro para a direita e lancei meu chicote em direção as suas pernas. Quando elas estavam bem presas, puxei com toda a força que eu tinha, e não era pouca. Ele caiu de costas no chão, soltando um grunhido de dor. Tentou se levantar, mas eu fui mais rápida e eletrocutei o chão, o fazendo ficar imóvel no chão.

— Wow... Você deve ter um ótimo professor. - falou com dificuldade.

— Aquele vulgo você?

— Esse mesmo. - sorri.

Aproveitei o momento e sentei no chão, suando como uma porca.

Nossas respirações estavam completamente alteradas e os sorrisos não abandonavam nossos rostos. Quem chegasse naquele momento, pensaria coisas impróprias.

— Eles ligam. - falou de repente, me fazendo o encarar. - Os Deuses Gregos não tiveram muitos filhos. Eles se importam com os que tem, ao contrário dos Romanos e Nórdicos. Aqueles ali adoram procriar. - rimos. - Só queria que soubesse.

— Obrigada Mike.

— Sente saudades deles? - perguntou se sentando e chegando mais perto. - Você nem vai conseguir ir no casamento né. - franzi o cenho. - E você não sabia...

— As minhas mães estão noivas. -  falei o óbvio depois de alguns segundos pensando. - Elas não tiveram a oportunidade de me dizer. Isso deixa tudo bem mais deprimente. - o olhei ainda mais confusa. -Espera, como sabia?

Ele apenas sorri e se levanta, me ajudando a fazer o mesmo logo em seguida. Coloquei um casaco por cima da blusa e fiz uma anotação mental de cuidar dos meus machucados mais tarde.

Seguimos pelo corredor por alguns poucos minutos, até entrarmos em uma pequena porta que eu nunca tinha visto antes, e eu já fim explorado aquele andar quase inteiro.

— Onde estamos? - perguntei, já tendo uma noção da resposta.

— Na sala da Freyja. Ela tem uma porta "secreta".

— Sinto que não deveríamos estar aqui. - ele me ignora e vai até o canto da sala, tirando o pano daquele objeto aí eu tinha visto meses atrás. - Um espelho.

— Não é um espelho qualquer.

Ele me botou na frente dele. Pude ver todas as minhas cicatrizes, minhas olheiras, minha cara de derrotada. O meu primeiro impulso seria desviar o olhar, mas Mike foi mais rápido e colocou minha mão sobre a superfície espelhada.

Segundos depois, uma imagem apareceu.

— Henry... - vi meu irmão lendo algo. - Ele parece estar tão triste. - tirei minha mão, fazendo a imagem desaparecer e me virei. - O espelho te mostra o que acontece na terra dos vivos? - Ele assentiu.

— Na verdade, ele te mostra a pessoa em que está pensando. Se ele estiver vivo, te mostrará o que está acontecendo. - deu um sorrisinho. - As vezes eu venho aqui e bisbilhoto a vida das outras pessoas. É bem divertido.

— Freyja nunca descobriu? Nem os outros hóspedes?

— Espero que não. A Valkyria mãe não fica muito tempo aqui, então não é tão difícil.

— Legal.

— Você pode vir aqui as vezes. Só tem que tomar cuidado. - disse colocando o pano sobre o espelho novamente.

— irei pensar nisso. - fui em direção a porta. - Agora vamos. Devíamos estar dormindo, mas eu estou morta de fome.

Aquele era o dia de piadas ruins.

                                                             *

Andamos cuidadosamente até o hospital.

A ala psiquiátrica ficava em uma parte mais isolada do local. Estávamos prestes a entrar pela porta, quando segurei Henry pelo braço.

— Hey. - chamei e ele me olhou. - Aonde está indo? - franziu o cenho. - Você vai ficar de vigia garoto.

— Vigia? Sério?

— Não discuta comigo ou irei chamar a mama. - ele arregalou os olhos e se encostou na parede. -  Foi o que eu pensei. Fique aqui, fora de vista. Se ver algo suspeito, nos avise. - ele assentiu com a cabeça e beijei sua testa. - Nós já voltamos.

Mama tinha me dado as chaves do local, já que o hospital não estava sendo usado. Ele ficava muito perto no território inimigo e deixar pessoas feridas nele seria um erro terrível.

A verdade, é que eu não queria que Henry visse Robin naquele estado. Pressentia que seu estado estaria bem pior do que eu imaginava.

E eu estava certa.

Quando abrimos a cela de Hood, vi algo que não desejaria para o meu pior inimigo. Ele estava em um canto, conversando com si mesmo. Balbuciava coisas que eu não conseguia entender, eu nem tinha certeza se eram palavras. Fiquei o olhando enquanto o homem não percebia a minha presença. Ele Est completamente louco, em uma situação precária.

— Meu Deus... - murmurou Snow ao ver Robin.

Cheguei perto do homem e me ajoelhei na sua frente. Quando me percebeu, tento me bater, mas eu fui mais rápida. Já esperava esse tipo de reação vindo dele. Segurei seus braços e lhe dei um leve choque, apenas para imobilizá-los.

Ele estava cansado, suado e fedendo. Não deveria tomar banho a dias. Claro que, sempre vinha alguém alimenta-lo, mas acho que ele estava recusando o banho nesses últimos dias. Segurei sua cabeça e dei alguns leves choques. Assim ele sairia daquele estado catatônico sem nenhum problema mental.

Ele apagou por alguns segundos, até começar a gemer.

— Robin... Você está bem?

Ele ergueu sua cabeça e encontrou meu olhar. Para a minha surpresa, ele apenas assentiu e eu me afastei, me levantando e ficando ao lado de minha avó.

— Obrigado. - ele disse com a voz fraca. - Ao que devo a ilustre visita?

— Talvez você não saiba, mas estamos em guerra. - respondeu Snow.

— Acho que ouvi falar de algo sobre isso. Não lembro direito.

— Bem, precisamos da sua ajuda. - respirou fundo e começou a explicar. - Precisamos encontrar uma casa, logo depois da floresta. Uma mansão. Acho que ninguém vive lá.

— E por quê eu ajudaria você e a sua família?

— Porque não é só a minha família que você estará ajudando. - Roland ainda está lá fora Robin. Nós sabemos que você fez muita coisa ruim nessa vida. Uma coisa pior que a outra. Mas eu sei que você ainda se importa, sei que você ainda tem um coração.

Sei olhar era vazio. Pareceu pensar por alguns segundos.

— Eu conheço essa casa. Eu posso levá-los lá.

— Que tal você apenas nos dizer aonde fica. - interrompeu Snow.

— Ela fica em um lugar muito afastado. Vocês nunca vão conseguir achar sozinhos.

Eu o encarei por um tempo.

A raiva dentro de mim ainda era enorme. Eu odiava aquele homem com todas as minhas forças, mas eu ainda o via como um ser humano, infelizmente.

Saí do quarto e fui até o armário que ficava m recepção. Tirei as coisas que eu precisava de lá e voltei para o quarto, jogando os trapos que ele chamava de roupa em cima dele, juntamente com o seu arco e flechas.

— Se vista. - ele sorriu fracamente. - Mas se lembre. Eu posso te atingir com um raio tão forte que você irá cair no chão tão rápido que você não vai conseguir dizer "Roland". - ele abaixou a cabeça. - Então não ouse fazer nada contra mim ou a minha família.

                                                                *

Estávamos andando pela floresta. Robin ia na frente, nos guiando pela mata. Eu estava quase ao seu lado. Queria ter certeza que ele não tentaria nenhuma gracinha.

— O que aconteceu?

Me perguntou ao ver uma parte do meu braço que estava cheio de cicatrizes. Puxei minha manga para baixo.

— Eu morri. - eu teria que contar em algum momento. - Eu fui para um lugar. Vahalla.

— O hotel? - Henry perguntou e eu assento. - Legal. - sussurrou, me fazendo rir.

— Lá eu tive que treinar.

— Eles não podiam remover as cicatrizes?

— Podiam, mas eu não quis. Se eu tinha que estar lá, seria nas minhas próprias condições.

— Como você voltou? - parei bruscamente antes de responder. - O que?

— Tem como darmos a volta? Inimigos ao norte.

— Sim, tem como. Só vai demorar um pouco mais.

— Mostre o caminho.

Todos franziram o cenho enquanto andávamos.

— Eu aprendi a sentir a eletricidade dos corpos. Na terra é um pouco difícil e menos confiável, mas é melhor não arriscar.

Andamos por vários minutos, mas que pareciam horas. Já estávamos cansados quando Robin parou e apontou para mais a frente.

— É aqui!

Vimos o topo da mansão. Parecia estar poucos metros a frente, conseguíamos ver o portão de longe. Corremos até ele e quando chegamos, ouvimos gritos e sons de espadas se encontrando.

— O que é isso?

— É o exército da Fiona. - respondi e me virei para eles. - Entrem, achem os livros e comecem a escrever. Eu vou atrasa-los.

Minha vó e meu irmão hesitaram por um momento, mas correram para dentro segundos depois.

Tirei meus famosos bastões das costas e acendi meus raios nele. Quando eu comecei a andar em direção ao barulho, uma mão me segurou.

— Espera. - Robin me olhou profundamente. - Vá com eles, eu os atraso.

— Robin...Você não tem nenhum poder. Se você for lá, sozinho, você vai morrer.

— Eu sei. - eu não acreditava no que estava ouvindo.

— Olha, eu não gosto de você. Você fez uma merda atrás da outra e eu não te perdoo e nunca irei. Mas eu não quero que morra. - me aproximei. - Você... você  estuprou a minha mãe Robin, mas por algum motivo estranho, eu não quero que você morra. Eu ainda te vejo como um ser humano. Eu sinto que você pode mudar.

— Eu posso. E esse é o jeito.

— E o Roland?

— A sua mãe tinha razão. Ele está bem melhor sem mim. - suspirou com os olhos marejados. - Você tem razão Alycia, eu fiz muita merda. Mas eu realmente me arrependo de tudo. Eu fiquei preso dentro da minha própria cabeça e tive bastante tempo para pensar. Eu agi pelo medo e pela raiva. Eu sou um desgraçado filho da puta.

— Pelo menos concordamos nisso... - ele deu um leve sorriso.

— Eu realmente não sei o que dizer para a sua mãe, mas eu me arrependo e sinto muito. E diga ao Roland... Diga a ele que eu tentei. Tentei ser um homem melhor por ele. Sei que ele não tem orgulho de me ter como pai, mas eu com certeza tenho orgulho de tê-lo como filho. Diga que eu o amo e que eu sempre irei ama-lo.

— Você não tem que fazer isso. - botei minha mão em seu ombro, mas ele logo a tirou.

— Eu sei.

Não havia mais nada para ser dito. Eu não sabia se ficava triste ou aliviada. Ele se virou para ir em bora, mas eu segurei seu braço.

Foi um último gesto.

Apertamos as mãos e ele me deu um breve sorriso, como se fosse um obrigado silencioso. Percebi ali que a humanidade naquele homem nunca tinha ido em bora. Ele não era uma pessoa má, era apenas alguém que fez uma decisão terrível sendo guiado pelas próprias emoções. Eu nunca o perdoaria, muito menos as minhas mães, mas acho que, depois de tudo aquilo, finalmente poderíamos seguir em frente. Eu o vi correr em direção à floresta. Ele tirou o arco das costas e desapareceu entre as árvores.

Demorei alguns segundos para voltar a realidade e correr para dentro da mansão.

O local de enorme, mas não foi muito difícil achar o local em que eles estavam. Havia um buraco enorme na parede que dava no porão. Desci as escadas e vi Henry e Snow pegando os livros e os colocando na mesa.

— Cadê o Robin? - perguntou Henry. Eu nada respondi e ele entendeu o que aquilo significava.

— Comece a escrever. - falei calmamente. - Vovó, fique aqui com ele, o proteja. Eu ficarei lá fora. - ela assentiu e eu corri novamente para o lado de fora.

Robin fez um ótimo trabalho em distrai-los.

Demorou um bom tempo para eles aparecerem, o que me fez acreditar que Henry já estava na metade da história.

A primeira pessoa a aparecer foi, surpreendentemente, minha mãe. Ela corria em minha direção, com sua espada na mão.

— Pensei que gostaria de uma ajudinha!

Eu sorri e assenti com a cabeça.

Peguei meus bastões e comecei a lutar.

Me impressionei com minha mãe.

Ela usava sua espada para cortar os homens, raramente os matando. Ela desviava com maestria, assim como os acertava com a espada.

Me impressionei ainda mais quando ela estendeu a mão e uma luz branca fez todos voarem para trás. Não pude deixar de sorrir.

— Mãe!

Gritei quando vi alguém se aproximando dela. Corri em sua direção. Naquele mesmo momento ela olhou para o homem e vi na sua postura o que ela queria fazer. Ela desviou do golpe do homem e o chutou para trás. Ela olhou para mim e percebeu que eu iria ajuda-la. Quando ele ia atacar novamente, ela se abaixou e eu pulei por cima dela, o eletrocutando bem no pescoço. Ele apenas caiu de joelhos e percebemos que ele iria se levantar. Não o deixei fazer nenhum movimento. Criei meu chicote - que eu estava doida para usar. - e prendi sua cintura em um laço o jogando para longe. Sorri para mim mãe.

— Formamos uma bela equipe, não?

— Puxou a mãe! - respondeu sorrindo.

O problema era que o exército era formado por mais do que algumas dúzias de soldados. Nos vimos correndo para o único lugar que podíamos pensar.

— Emma! Ally!

Minha mãe surgiu logo atrás de nós, explodindo tudo e todos que via pela frente. Corremos para dentro da mansão, fechando a passagem para o porão.

— Termina logo isso! - gritei para Henry.

— Ah, meus queridos... - Ela apareceu de repente em nossa frente. - Acharam que eu não iria acha-los?

— Chega Fiona! - exclamei. Ela me olhou com ódio.

— Não ouse chegar perto dos meus filhos.

— Pode deixar Regina. - acendeu uma bola de fogo em sua mão. - não é necessário chegar perto.

Ela ataca, mas minha mãe nos tira do caminho. Uma guerra de mágica começa em nossa frente e ouvimos a porta prestes a ser derrubada.

— Henry... - ele estava escrevendo o mais rápido possível.

— ... E todos os homens do exército da Black Fairy, incluindo ela mesma, foram sugados para um portal. Para dentro do livro, sem nenhuma escapatória. - deixou a caneta de lado. - Terminei!

—Joga!

Ele jogou o livro.

Por um segundo, pensei que não iria conseguir pega-lo, mas minha mãe loira agarrou uma das pontas e eu abri o livro no mesmo momento em que a porta foi arrombada.

Uma luz saiu do livro, se transformando em um furacão. Nos seguramos do jeito que conseguimos, inclusive Fiona, que se segurou na cortina. Vimos um exército sendo sugado. Era difícil manter os braços firmes naquela hora.

— Vocês não vão se livrar de mim assim tão fácil! Eu irei voltar! - gritou.

Percebi que ela não aguentaria por muito tempo. Eu apenas vi uma flecha voando, cortando o tecido e fazendo o livro a sugar, se fechando logo em seguida, deixando apenas os gritos da mulher, ecoando pela sala.

— hasta la vista vadia...

— Sério? - minha mãe me olhou ofegante, tentando segurar o riso.

— Eu tive que fazer isso.

Olhei para trás e vi minha vó com o seu arco ainda em mão. Apenas sorrimos uns para os outros. Deixamos tudo para trás e corremos até o lado de fora onde conseguimos ver mais pessoas se aproximando e comemorando.

 - Você conseguiu. - me aproximei de Henry.

— Nós conseguimos. - o abracei de lado, orgulhosa do meu irmãozinho.

— Acho que já podemos comemorar.

Minha mãe loira começou a andar, com um grande sorriso no rosto, em nossa direção.

Percebi o que aconteceria agora. O sorriso desapareceu do meu rosto e comecei a me afastar.

— Ally? - Henry franziu o cenho.

— Qual é o problema?

Olhei sorrindo para eles. Tudo aquilo foi tão bom...

— Desculpe mama. Eu não posso ficar.


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Notas finais do capítulo

Eu prometi a mim mesma que só iria terminar o próximo capítulo após postar esse, então amanhã ou depois de amanhã, teremos o grand finale. Eu irei deixar a minha recomendação suprema para o próximo capítulo. Hoje recomendarei a fic que estou lendo pela segunda vez de tão boa que ela é. A maioria já deve ter lido, mas mesmo assim, "O Imprevisível" é uma fic que merece ser recomendada várias vezes!
Beijos meus lindjos!

O Imprevisível: https://fanfiction.com.br/historia/645860/O_Imprevisivel



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