A noite estava mais fria do que de costume. Mesmo vestindo seu casaco favorito, que era bem quente, Alycia ainda sentia o vento gelado em sua pele.

O portal tinha sido colocado onde o poço se encontrava, então Alycia começou a andar pela floresta, lentamente. Olhava para todos os lados, na esperança de ver alguém, mas nada aparecia. 

Um calafrio subiu pela sua espinha, a fazendo paralisar naquele momento. Ouviu um barulho um tanto familiar, um barulho que ela não gostaria de ouvir novamente. Se virou lentamente para trás e viu no céu uma forma voando em sua direção. Ótimo... Pensou. Harpias... de novo.

Jogou um raio na direção do monstro e quando ela caiu, um pequeno sorriso surgiu nos lábios. A felicidade não durou muito. Dezenas de Harpias surgiram no céu e Alycia arregalou os olhos. Fez a única coisa que veio em sua cabeça naquele momento.

Correu.

Corria habilidosamente pela floresta. Todos aqueles anos, brincando com Henry, valeu a pena.

Corria e jogava a maior quantidade de raios que conseguia para trás. Ia para o único lugar que se sentia realmente segura, e esperava que todos estivessem lá.

Uma das Harpias chegou perto demais e, quando ela tentou se proteger, tropeçou em uma raiz de árvore e caiu no cão, fazendo com que uma Harpia conseguisse atingi-la.

Tentava se proteger, mas mais monstros iam em sua direção, arranhando várias partes de seu corpo. 

Ela se levantava e corria um pouco, até ser derrubada de novo. Seus raios começaram a ficar mais fracos, suas forças estavam se esvaindo. Lutar com apenas uma mão também não ajudava. O cansaço misturado com a dor de seus machucados estavam a fazendo começar a perder a consciência.

Ela já estava bem próxima da mansão, mas continuar, já não estava sendo uma opção válida. Quando conseguiu se levantar e correr por mais de 10 segundos, uma das Harpias a jogou no chão, arranhando seu rosto.

Soltou um grito de dor, enquanto tentava atingi-las com seus raios, mas o arranhão havia atingido seu olho direito e não conseguia ver com o mesmo. Ela já não conseguia mais lutar quando uma luz vermelha fez com que todas as Harpias fossem jogadas para trás.

Sua visão eram apenas manchas vermelhas. Ouviu uma voz familiar de longe e alguém desembainhar uma espada, lutando contra as feras. Sentiu sendo arrastada pelo capuz do casaco.

Ela ficou consciente o tempo inteiro.

O processo de cura que Regina fazia nela era lento e doloroso. Ela conseguia ouvir vozes na sala e não saber de quem era a estava assustando. Sentia suas duas mãos serem apertadas e conseguia saber de quem elas eram pela macies das mãos.

Ouviu um grito. E não era um grito qualquer.

Regina percebeu o que as vozes estavam fazendo com Alycia e expulsou todos do quarto. Apenas Emma, Tink, Henry e os Nolans continuaram do lado de dentro. Com as duas loiras segurando suas mãos a fazia se sentir mais segura.

Começou a respirar mais facilmente e, com ajuda, conseguiu se sentar. Quando olhou em viu todos ali, seus olhos marejaram. Regina era a que estava mais próxima, ainda a olhando preocupada.

Ela foi a primeira a ser abraçada.

Alycia ainda sentia dor em seu corpo, mas estava valendo a pena. Sentiu seu pescoço molhado com as lágrimas de sua mãe. Depois de alguns segundos, sentiu ser abraçada, delicadamente, por todos os lados. 

—Você ainda irá precisar de alguma sessões de cura para tirar essas cicatrizes.- Disse Regina quando se separaram do abraço.

—Nah, são marcas de guerra.- Sorriram.

Henry a ajudou descer da cama e ela se apoiou nele para ficar em pé. Quando seus olhos bateram em Tink, a loirinha correu em sua direção, pulando em seus braços. O corpo de Alycia reclamava da dor, mas agradecia pelo carinho.

Se apoiando na loirinha e com um sorriso no rosto, respirou fundo.- Estão, quem irá me atualizar?

                                                                          *

Andaram pela mansão. Tink segurando Ally de um lado e Henry do outro, com Emma sempre andando atrás deles. A casa tinha se transformado em um verdadeiro QG. Soldados para todos os lados e tendas do lado de fora, nos fundos da mansão.

—Estamos em guerra?

—Foi isso que ela decretou dois dias atrás.- Disse Emma.- Desde então, Harpias tem aparecido, tentando nos matar, frequentemente.

—E contra quem estamos lutando?- Perguntou Alycia ao pararem na sala de guerra, ou seja, o escritório de Regina.

—Black Fairy.- Respondeu David.

Alycia fechou os olhos e respirou fundo. Sabia que aquilo era uma possibilidade.

—O que?- Perguntou Snow.

—Onde está a minha mochila?- Emma pega a mesma que estava no canto da sala.- Rumple está desaparecido de novo, não?

—Como sabe?

Se aproximaram da mesa que tinha no centro da sala, colocando a mochila em cima da mesma.- Porque  o Rumple do outro universo, também está desaparecido.

—Você conseguiu a profecia?- Perguntou Emma, esperançosa.

—Por favor mãe, eu sou uma Mills.- Respondeu, fazendo todos sorrirem e Emma revirar o olhos.- Aqui.

Pegou a folha de dentro da mochila e entregou para a sua mãe. Ela leu atentamente, sem nenhuma expressão.

—O que isso significa?- Passou a folha para Regina.

—Eu não sei, mas a parte que diz: "O que mais poderá ajudar, não estará disponível; Ele será removido do caminho, por conta do destino."- Falava enquanto a profecia passava de mão em mão.- Acho que está se referindo a ele.

—Por que você acha isso?- Perguntou Henry, terminando de ler e passando a folha para Tink.

—Vocês não sabem?- Ficaram em silêncio.- Rumple é filho da Black Fairy.- Todos se entreolharam.- Já que ele seria de grande ajuda para os dois lados...

—O destino decidiu que seria melhor se nenhum deles o tivesse.- Completou Regina, fazendo Alycia assentir com a cabeça.

—O destino realmente é uma vadia...- Murmurou Emma.

—Mas e essas quatro pessoas?- Perguntou Tink.

—Bem, podemos dizer que "O que será a salvação", seria a Emma.- Começou David.- Os outros, eu realmente não sei. Pode ser qualquer um nessa casa.

—Você deveria descansar.- Falou Regina, olhando para sua filha.- Você teve muita coisa para só um dia.

—Não descordo.- Sorriu.- Mas acho que todos aqui precisam de um descanso. Eu consigo ver as olheiras.

—Não acho que seja algo muito sábio. Temos que bolar um plano.- Falou Emma.

—E privação de sono não é a solução. E não são só vocês que estão nisso. O exército da Elsa e Mulan também estão ajudando.

—Ela tem razão.- Disse Snow, apertando o ombro na filha.

—Talvez seja para o melhor.- A loira respirou fundo.- Daqui a pouco, todos estarão dormindo, então não acho que seja ruim dormir junto.

Emma chegou mais perto da filha, a abraçando, juntamente com Regina.

—Boa noite. Não faça nada que eu não faria.- Sussurrou Emma em seu ouvido, levando um tapa da morena que tinha escutado suas palavras.

Todos deram boa noite e se retiraram da sala.

—Henry.- Chamou Alycia antes dele sair.- Podemos conversar.

Ele deu de ombros e fechou a porta atrás de Tink, que saía da sala naquele momento.

—Qual o problema?

—Nenhum, Kim Possible.- O menino revira os olhos com aquela horrível piada.- Eu tenho um presente para você.

Ela tira outra coisa de sua mochila, dois pedaços de madeira.

—O Henry do outro universo me deu isso.- Mostrou os dois pedaços a ele.- Isso era uma caneta. Aparentemente ele é um tal de autor lá. Ele é quem registra tudo no livro de histórias. Ano passado ele quebrou a caneta que o permitia ser o autor. Mas já que ele resgatou ela do submundo.- Henry franze o cenho.- Não me pergunte, pois eu também não sei.- Suspirou.- Já que ele fez isso, ele me deu a caneta quebrada e aqui está ela.- Deu para ele segurar.- Ele disse que, talvez, você consiga achar um jeito de usa-la.

—Isso é... Bem legal.- Sorriu.

De repente, a caneta começa brilhar em um tom intenso de azul. Os dois a olham atentamente, até as duas partes se atraírem, fazendo a caneta voltar a ficar inteira.

—Isso deveria acontecer?- Perguntou Henry.

—Admito que pensei que iria demorar um pouco.- Respondeu.- O outro Henry disse que a caneta só passa para outro autor quando o último está morto ou quebrou as regras.- Fez uma pausa.- Nós ainda temos internet?

—Impressionantemente sim. É uma das únicas coisas que ainda funcionam.

A menina vai diretamente para o computador de sua mãe que continuava na mesa do escritório. Ela começa a procurar informações e a hakear alguns bancos de dados.

—O que você está fazendo?- Pergunta Henry, indo para o seu lado.

—Hakeando o banco de dados da prefeitura de NY e Boston.

—Pensei que elas eram públicas.

—Sim, mas só se você for lá para pega-las, então hakear é a nossa opção.- Continuou digitando rapidamente.- Meu cérebro pode não ser como antes, mas hakear é algo que eu nunca irei desaprender.- Sorriu.- Consegui.

—O que estava procurando?

—No final do livro do Henry do outro universo tinha o nome Isaac Heller escrito. Suspeito que tenha sido o autor antes dele e o último autor daqui.

—E...

—E ele está morto.- Mostrou o atestado de óbito no computador.- Ele morreu um ano atrás. Ataque cardíaco.

—Nós ainda estávamos em Nova York.

—Mas ainda não explica como a caneta te reconheceu.

—Talvez a caneta possa existir em vários universos.

—Talvez...- Ficaram em silêncio.

A mente de Alycia estava uma bagunça. Tinha quase morrido, estava no meio de uma guerra e não sabia se seu irmão virar o autor era algo bom. A cabeça de Henry não estava muito diferente. Pelo menos ele tinha se livrado da parte de quase morrer.

—Acho melhor irmos dormir.- Falou Alycia.

—Sim. Tem um sofá super confortável para você na sala e um chão muito macio para mim.

—Ei, não foi você que quase morreu.- Riu.- Vamos. Precisamos estar descansados se quisermos vencer essa guerra.