Ela estava deitada no leito de um hospital. Estava confusa. A última coisa que lembrava era de ter entrado pelo portal, quando uma luz branca lhe acertou.

Abriu os olhos lentamente, não exatamente pelo medo, mas porque a luz do quarto estava tão forte que talvez pudesse queimar sua retina. Ao tentar se mexer, inevitavelmente, emitiu um pequeno gemido de dor.      

Sua visão ainda estava embaçada quando um vulto se aproximou da cama e começou a examiná-la. Ela ouviu algumas tentativas de comunicação por parte do homem que ela deduzia ser um médico, mas seus ouvidos não estavam funcionando muito bem. Ela olhou para frente e no momento em que um vulto loiro se aproximou da porta sua visão voltou a focar, fazendo ela permitir um sorriso brotar em seus lábios.

—Como se sente?- Perguntou a loira.

—Dolorida.- Sorriu.- O que aconteceu?

—Bem, você apareceu do nada no meio da rua, e acabou sendo atropelada.- Alycia franziu o cenho.

—Ahn, quem me atropelou?- A mulher hesitou.- Pode deixar, não prestarei queixas.

—A prefeita.- Foi aí que ela percebeu que tinha conseguido.- Ela se sente muito mal por isso.

—Fale para ela não se preocupar. Sei que foi um acidente.- Respirou fundo.- E quem seria você?

—Ah, desculpe. Sou Emma Swan, a xerife da cidade.- Falou com um pequeno sorriso.- E quem seria a senhorita?

—Alguém que realmente necessita da ajuda de todos. É melhor você chamar o Rumple.- Emma ficou estática.- Infelizmente, preciso da ajuda dele.

—Xerife?- Uma morena aparece no quarto.- Ahn, oi.

—Madame Prefeita.- O sorriso de Alycia se alarga.- Olhe quem acordou.

—Se não é a minha atropeladora.- Regina gagueja, sem saber oque falar.- Não se preocupe, tenho certeza que foi um acidente.

—Sim, foi... Sinto muito por isso.- Disse, mis aliviada, apontando para o corpo da menina.

—Não esta doendo tanto assim.- Sorriu para a prefeita, que sorriu de volta.

—Regina, ela quer falar com o Rumple.- A morena arregala os olhos.

—Quem?- Tenta fingir.

—Não se preocupem, eu sei tudo sobre vocês. Eu vim, porque preciso de ajuda.- Elas se entreolham.

—Por que as nossas vidas não podiam ser mais fáceis?- Reclamou Emma.

—Somos personagens de contos de fadas Swan, o que esperava.- Alycia franziu a testa, mas preferiu não dizer nada.- Então, quem seria você?

—Direta como sempre...- Murmurou para si mesma, fazendo as duas mulheres ficarem com uma feição de duvida.- O quanto menos souberem melhor. Vamos só dizer que eu sou de outra dimensão.

—Vamos fingir que acreditamos em você.- Começou Emma.- O que precisa de nós?

—Uma profecia.- Regina assentiu levemente com a cabeça.

—Acho que vamos precisar de reforços.

                                                     *

—Uau.

—O que?- Perguntou Emma.

—É exatamente igual...- Respondeu, ainda fascinada.- Acho que o Granny's sempre será do mesmo jeito.- Regina deu um discreto sorriso de canto e as três entraram na lanchonete.

Alycia ainda estava um pouco dolorida e seu braço enfaixado. Nunca teria pensado que a sua própria mãe iria lhe atropelar. Mas aquela não era exatamente a sua mãe, e por algum motivo, ela pensava que essa Regina  não hesitaria em atropelar alguém se estivesse de mal humor.

A lanchonete estava praticamente vazia e quando a mais nova viu a única mesa completamente ocupada, um sorriso brotou em seu rosto. Nenhum deles estavam diferentes, apesar que ela pensava que Hook estava usando mais delineador do que de costume.

Quando se aproximaram, todos a olharam com receio. Regina sentou ao lado de Henry e Emma ao lado de Hook, que colocou os braços em volta de seu ombro. Isso é novidade...

—Pessoal, essa é Alycia.- Falou Emma.- Alycia, esses são...

—Eu sei quem eles são.- Interrompeu a menina.

—Explicação?- Perguntou Henry. Alycia sorriu para ele. Seu irmãozinho não estava nada diferente, apenas o cabelo. Fez uma nota mental de cortar o cabelo dele quando voltasse para casa.- Nós não sabemos nem o seu nome.

—Eu irei explicar tudo.- Respirou fundo.- Meu nome é Alycia...- Parou por um minuto. Quase falou seu sobrenome.- Eu vim de outra dimensão. Vamos chama-la de... Terra um.- Referência entendida com sucesso. Pensou Henry, com um sorriso nos lábios.- Eu não posso falar muito sobre isso, pode causar sérias consequências. Posso apenas dizer que eu sou da Storybrooke da minha terra e eu preciso de ajuda.

—Estamos ouvindo.- Falou David, prestando atenção no que a menina dizia.

—Vocês já ouviram sobre a Batalha Final?- Todos se entreolharam.- Irei considerar isso como um sim.- Continuou.- Aparentemente, todo universo tem uma profecia diferente, mas a da minha, está perdida. Eu e... A minha família, rastreamos ela até aqui.

—E por que você veio? Se fosse a sua Emma ou Regina, não seria mais fácil de nós acreditarmos?- Perguntou Zelena.

—Elas não poderiam se encontrar, traria outros tipos de problemas. Viagem por universos é bem complicado...

—Espera experimentar viagem no tempo.- Resmungou Emma.

—Você já viajou no tempo?- Perguntou Alycia e Emma assentiu.- Nossos universos são bem diferentes...

—E aonde você irá encontrar essa tal profecia?- Perguntou Hook. Alycia e Regina reviraram os olhos com a burrice do homem. A menina, por algum motivo, sentiu que ele seria mais irritante que a versão de seu universo.

—Se eu soubesse, não estaria pedindo ajuda.- Regina segurou o riso.- O portal que eu usarei, só ficará aberto por dois dias. Preciso encontrar isso rapidamente.

—Nós ajudaremos.- Disse Henry, convicto.

—Como sabemos que você não está mentindo?- Perguntou Regina, fuzilando o filho com o olhar. Alycia respirou fundo.

—Você.- Apontou para Henry.- Você morre de medo do escuro, mesmo tendo quase 13 anos.- O menino abaixou a cabeça na hora.- Você.- Apontou para Hook.- Você usava lama e uma outra coisa, que prefiro não dizer, na Terra do Nunca para fazer o seu delineador.- Ele arregalou os olhos.

—Como você sabe disso?

—Você me contou.- Falou normalmente e apontou para Regina.- Você tinha uma égua de pelúcia chamada Elisa e você não podia dormir sem ela até seus quatorze anos.- Regina não demonstrou nenhum tipo de emoção.

—Eu acredito nela.- Falou Regina depois de um tempo quieta.

Mesmo sorrindo, Alycia ainda se sentia incomodada pelas ações do outro lado da mesa.

—Posso perguntar... O que é isso?- Falou, apontando para Hook e Emma.

—Como assim?- Emma franziu o cenho.- Na sua terra nós são somos noivos?- Perguntou em um tom de brincadeira, mas o olhar de espanto de Alycia a fez parar.

—Vocês dois... Isso é muito informação...- Disse massageando as têmporas.

—Espera. Se não estamos juntos, temos alguém?- Alycia estava vendo a hora de dar uma porrada em Hook.

—Todos tem alguém.- Regina riu sem humor em um tom baixo, mas a mais nova conseguiu ouvir.- Você também Regina.- A mulher a fitou.

—Robin?- Perguntou com esperança.

 Aquele nome fez com que uma raiva, que Alycia não sabia que existia dentro dela, subir. Pensou que nunca ouviria ele de novo.

—Robin? Como Robin Hood?- Ela assentiu com a cabeça.- Não, não é com ele.- Ela abaixou o olhar.

—E eu?- Perguntou Belle, se pronunciando pela primeira vez.- Continuo com Rumple.- Alycia deu um sorriso discreto.

—Sim. É um casal um tanto estranho, mas vocês continuam juntos.- A mulher lhe lançou um sorriso fofo.

—E ela está... Sabe...?- Perguntou hesitante.

—Grávida?- O sorriso de Belle aumentou.- Apenas algumas pessoas sabem na minha terra, mas sim. Ela está grávida. Meus parabéns.- Disse sorrindo, assim como todos na mesa.- Bom, voltando ao assunto.- Continuou.- Acho que a profecia estaria na loja do Gold, é o único lugar que consigo pensar.

—É realmente a melhor ideia.- Disse David.

—Nós iremos te ajudar.- Falou Emma.

 Todos levantaram da mesa, indo em direção a porta.

—Posso perguntar aonde esta a Ruby?- Alycia fez todos pararem.

—Em Oz com a Dorothy.- Respondeu Snow. Alycia apenas franziu o cenho, achou melhor não perguntar.

Pesquisaram por horas, mas não acharam nada. Não ajudava o Rumple desse universo estar desaparecido. O cérebro de Alycia trabalhava como nunca antes, sua frustração e ansiedade estavam a matando. Olhou no relógio e já se passavam das seis horas da tarde e ainda não tinha ligado para as suas mães... Estava ferrada.

—Vocês já podem ir.- Falou ela para as outras pessoas na loja.- Eu continuarei procurando. Provavelmente passarei a noite inteira aqui, mas devo estar tomando muito do tempo de vocês. Obrigada pela ajuda, mas vocês deveriam descansar.

—Ela tem razão.- Falou Belle.- Eu continuarei aqui com ela, vocês podem ir.

—Tem certeza?- Perguntou Regina.

A morena tinha gostado da menina. Não entendia como uma pessoa estranha poderia ser tão familiar.

—Sim, ficaremos bem.- Respondeu Alycia. Era difícil se segurar para não abraçar as mulheres que estavam na sua frente.

—Tem certeza que pode confiar nela Belle?- Perguntou Hook.- Ela pode ter o poder de te matar.

Alycia revirou os olhos com a fala daquele homem irritante que não se parecia nada com o Hook da sua terra.- É verdade, eu tenho o poder de mata-la.- Admitiu olhando para a mulher.- Mas você é uma das melhores pessoas que já conheci, nunca faria mal a você.- Belle a encarou por um momento.

—Já pode se retirar Killian.- o homem olhou para baixo e se retirou, assim como o resto das pessoas da loja.- Ele pode ser irritante quando quer.- Disse segurando o riso.

—Só quando ele quer?- Se encaram. Não aguentaram por muito tempo e caíram na gargalhada.

—O que quis dizer com "tenho o poder de mata-la''?- Perguntou depois de algum tempo em silêncio.

—Bom, acho que, como eu não "existo" aqui, posso falar certas coisas sobre mim.- Respirou fundo e a encarou, se escorando na parede e cruzando os braços.- Eu sou uma semideusa...

—Semideusa?- Disse se aproximando com um sorriso no rosto.

—Filha de Zeus...- Belle ficou tão animada que parecia que iria dar pulinhos de alegria a qualquer momento.

—Isso é demais! E você tem poderes?- Alycia sorriu e deixou algumas faíscas surgirem em suas mãos, deixando a mulher encantada.

—Eu ainda estou aprendendo a usa-los, Tink está me ensinando.

—Tink? Como em Tinker Bell.- Alycia corou no mesmo momento, assentindo com a cabeça.

—Ela está por aqui?- Perguntou hesitante.

—Não. Ela acabou não voltando conosco na última maldição.- Alycia deu um sorriso triste.

—Eu preciso ligar para a minha família.- Disse mostrando o espelho mágico que havia recebido de Regina.- Se não, minha mãe vai ficar louca.- Sorriu.

Foi até o lado de fora da loja e se concentrou, usando o tipo de magia que sua mãe havia lhe ensinado. Poucos minutos depois, a imagem da mansão apareceu refletido no espelho.

—Mães!- Gritou. Segundos depois Emma, Regina e Henry apareceram.

—Finalmente! Estávamos começando a pensar o pior!- Exclamou Regina preocupada, fazendo a menina rir.

—Desculpe, houve um imprevisto...

—O que?

—Você me atropelou...- Regina franziu o cenho.- Longa história.

—Como são as coisas aí?- Perguntou Henry.

—Ao mesmo tempo que é igual, é incrivelmente diferente. Estou procurando pela profecia. Fiquei nisso o dia todo e não achei nada.- Falou com uma feição cansada

—Já estamos com saudades kid!- Exclamou Emma.

—Também estou com saudades mãe. Farei tudo o mais rápido que eu puder. Acharei esse pedaço de papel e voltarei para casa.

—Lembre-se que você tem pouco mais de um dia. Você tem que atravessar o portal antes das duas horas da tarde de depois de amanhã.

—Eu sei mãe, não precisa me lembrar.- Respondeu para Regina, que revirou os olhos.- Eu queria continuar conversando, mas preciso voltar para a loja, Belle está me ajudando.

—E Rumple?- Perguntou Henry confuso.

—Aparentemente ele está desaparecido aqui.

—Isso dificulta as coisas.- Disse Regina. Alycia assentiu levemente com a cabeça.

—Eu preciso ir.- Falou com pesar.- Prometo falar com vocês amanhã.

—Te amamos Ally.- Falou Henry sorrindo.

—Eu também amo vocês, seus doidos.- Sorriu.- Mande um beijo para todos.

—Iremos.- Respondeu Emma, sabendo exatamente sobre quem sua filha estava falando com o "todos".

Quando desligaram, Alycia ficou do lado de fora por mais um tempo. Ainda estava sol, apesar de já ser quase sete horas da noite. Fechou os olhos e respirou fundo. O ar gelado entrando por suas narinas a acalmava de um jeito que nada mais fazia. Ficou ali por mais alguns minutos e entrou, tinha que voltar ao trabalho.

—Você tem um computador?- Perguntou ao entrar.

—Ahn, sim eu tenho.- Belle foi até os fundos da loja. Alycia estava angustiada, precisava tirar aquela dúvida de sua cabeça.- Aqui está.

A menina ficou ali por um tempo, digitando e olhando para a tela. Quando achou o que estava procurando, seus ombros caíram. Não podia acreditar no que estava lendo.

—Qual é o problema?- Perguntou Belle ao ver a feição no rosto da menina.

—Eu precisava saber o que aconteceu comigo aqui...- Sussurrou.- Eu não fui adotada, vivi na rua até os meus 12 anos com o meu amigo Rust...

—Até os 12 anos? Você foi adotada depois?- Alycia suspirou.

—Eu e o meu amigo... Nós morremos em um tiroteio... Guerra de gangues. Acabamos ficando no meio.- Ela caiu na cadeira, em estado de choque.

—Eu sinto muito.

—Eu também...

                                                *

Seu pescoço doía de tanto ler. Seus olhos começaram a pesar, ela já não estava mais aguentando ficar acordada.

—Acho que achei alguma coisa!- Exclamou Belle do outro lado da sala. Alycia se assustou, dando um pulo da cadeira e quase caindo no chão.- Desculpe.

—Tudo bem. O que você achou?- A mulher se aproximou e sentou ao seu lado na mesa.

—Escute isso.- Começou.- "Profecias, de um jeito, estão interligadas uma com as outras, mesmo sendo de universos diferentes. Se esse for o caso, um evento terá que acontecer naquele local para que a profecia seja desbloqueada, e assim, liberada para leitura. Esse evento deverá ser algo grande que acontecerá, de seus próprios jeitos, em cada universo."

—O que isso significa exatamente?- Perguntou Alycia depois que Belle parou de ler.

—Aparentemente, algo deverá desencadear a liberação da profecia. Algo que tem que acontecer nessa terra e na sua.

—Mas a sua já foi desencadeada...

—Sim, Emma teve as visões...- Ponderou por alguns segundos.- Talvez, já que a sua profecia se perdeu nesse universo, apenas uma foi desbloqueada, mas algo não ficou certo...

—E apenas uma foi desencadeada.- Pareceu pensar.- Algo que aconteceu na minha terra, mas não aconteceu aqui do jeito certo. Já que a do meu universo estava aqui, a sua foi liberada e a minha, só será desbloqueada se tudo acontecer do jeito certo.- Concluiu.

—Mas... O que é esse evento?- Ficaram em silêncio por um tempo, até Alycia entender do que se tratava. Fechou os olhos e respirou fundo, frustrada.

—Tem apenas uma coisa realmente grande que está completamente diferente aqui.- Belle a olhou ansiosa.- Na minha terra... Eu tenho uma família grande. Mas os principais participante são: Eu, Henry, Emma e Regina.- Belle franziu o cenho, e quando entendeu o que a mais nova quis dizer, arregalou os olhos.

—Isso significa...

—Que tenho que fazer a sua Emma e Regina se declararem uma para a outra em menos de dois dias.