Toujours Pur escrita por Pandizzy


Capítulo 8
Capítulo Sete - Indesejável Número Cinco




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Regulus encarou o prato de bacon em sua frente. Parecia apetitoso e lhe trazia água na boca, mas sua mãe havia dito para não comer nada que pudesse afetar sua saúde. Ele precisava ser forte quando se tornasse o herdeiro da Casa dos Black, não poderia estragar anos de planejamento com uma saúde precária; doenças o deixavam fraco aos olhos do inimigo, segundo sua mãe, eram causadores de conspiração e traição.

Ele suspirou e bebeu generosamente de seu suco de abóbora, limpando sua boca do mingau de aveia que estava comendo. Lily, ao seu lado, pegou duas tirinhas de bacon e as mordeu com vontade, rindo de alguma coisa que Marcus Avery havia sussurrado em seu ouvido.

— O que é tão engraçado? — perguntou Regulus. Os olhos de sua irmã estavam resguardados e misteriosos quando ela se virou para ele, sorrindo de maneira inocente.

— Nada, Reggie — disse, piscando os cílios longos e ruivos. — Só algo estúpido que Marcus me contou.

Ela não queria lhe contar, notou. Ele era incapaz de se sentir surpreso com isso, era algo normal ser excluído dos assuntos de seus irmãos – apesar de Sirius não estar presente naquela situação –, acontecia desde os anos tristes e solitários de sua infância. Sirius e Lily tinham piadas internas, segredos e estavam sempre juntos, recusando com frequência a companhia do irmão mais novo. Nada havia mudado nos últimos anos, exceto o relacionamento antes positivo dos gêmeos Black e isso era algo que agradava muito Regulus.

— Entendi — murmurou ele, se afastando de seus  pensamentos. Tombou a cabeça para o lado e tentou pensar em alguma maneira de mudar o assunto. — Um passarinho me disse que você vai para Hogsmeade com Sirius no fim de semana, é verdade?

Lily revirou os olhos, verdes e escuros. Ela usava o cabelo preso em uma trança embutida apertada e não estava de maquiagem, as olheiras escuras embaixo dos olhos aparentes e as sardas que ela tanto odiava salpicando seu rosto; de alguma forma, parecia mais humana daquele jeito, diferente da imagem de boneca perfeita que tantos tinham de si.

— Esse passarinho seria Snape? — ela ergueu uma sobrancelha. Regulus franziu o cenho, como sua irmã havia descoberto sobre sua situação com Severus? Pensava ter sido discreto com seus assuntos com ele. — Seu espião não é tão discreto quanto parece, irmãozinho.

Regulus subestimara Lily. Ela era mais esperta do que deixava transparecer e ele precisaria tomar cuidado com isso.

— Só responda a pergunta — disse, irritado com toda aquela situação.

— Sim.

— Por quê? Pensei que o odiasse.

— Não faz sentido você dizer isso. Eu nunca disse que o odiava — retrucou Lily, empurrando fios soltos de seu cabelo para atrás de sua orelha.

— Nos últimos sete anos, você deve ter trocado apenas uma dúzia de palavras com ele. — Regulus reprimiu a vontade de revirar os olhos. — E isso inclui as férias!

— Você não sabe de nada. — ela mostrou a língua de um jeito fraternal e infantil. — Só estava com raiva dele e de seus amigos idiotas, com suas ideologias de igualdade e senso de honra. Aposto que você sentia o mesmo!

Peter Pettigrew era um mestiço, fazia sentido que ele se identificasse com sua ascendência trouxa, mas James Potter era um puro-sangue, a esperança de sua família. Ele não tinha o direito de ir contra o sistema.

— Sirius é um Black, não um Potter ou um Pettigrew. — ela lambeu os lábios, ressecados e avermelhados com os restos do batom que usara na noite anterior. — Eles o roubaram de nós, irmãozinho.

— E o que você planeja fazer? — perguntou ele, colocando sua mão em cima da dela. A pele de Regulus era mais bronzeada que a de Lily, mais saudável e o contraste ardeu em seus olhos.

— Eu vou roubá-lo de volta — disse, piscando os olhos de maneira inocente. — Não podemos deixar nosso herdeiro ser visto compactuando com traidores de sangue.

Regulus desviou o olhar, sentindo chamas queimando em seu peito. Cerrou os punhos e contou até dez em uma tentativa fútil de se acalmar; não poderia arriscar uma revelação para Lily, não antes da hora. Ele precisava tomar cuidado.

Emmeline Vance estava em sua diagonal. O cabelo estava preso em um rabo de cavalo e ela usava uma gravata borboleta verde, além da mesma versão do uniforme que ele usava. Regulus não era amigo o suficiente de Vance para saber se ela se sentia mais confortável com roupas masculinas do que femininas, mas ele sempre havia se perguntado.

Ela estava segurando a edição diária do Profeta Diário e estava tomando um copo de suco de laranja sem muita atenção.

Ele se virou para Lily, sentindo-se muito melhor.

— Você leu o jornal de hoje?

É claro que eu li o jornal de hoje — retrucou Lily, revirando os olhos como se tudo fosse óbvio. — Matérias muito interessantes, não acha? Especialmente a manchete.

O sorriso dela era orgulhoso e Regulus estreitou os olhos, se perguntando o que ela havia aprontado.

— Por que ficou tão interessada em Remus J. Lupin? — questionou, se lembrando do novo procurado pelo ministério. Indesejável Número Cinco, se ele não estivesse enganado.

— Eu gosto de ver o governo fazendo seu trabalho — respondeu. — Algum problema?

Marcus Avery, com o queixo e o buço sujos de restos de maçã, perguntou:

— Quem é Remus J. Lupin?

— Ele é um lobisomem e ajudou trouxas a fugirem do Gueto de Londres — respondeu Lily. — Um impuro que não é grato pelos privilégios que tem, é claro. Não merecedor de nossa atenção.

— Vocês sabiam que lobisomem era um termo usado por famílias puro-sangue no século XIX para bruxos homossexuais? — perguntou Amelia Bones, interessada no assunto. Seu cabelo castanho caía em seus ombros e havia uma marca de mordida mal coberta em seu pescoço. — Naquela época, ser lobisomem não era tão ruim quanto colocar toda a sua linhagem em risco.

Lily revirou os olhos e bufou, ignorando por completo sua amiga. Regulus não se sentiu surpreso; desde que ele tinha contado do caso de Ariel Mulciber com Amelia para a irmã, o relacionamento das duas estava hostil e afiado como uma adaga.

— Uma pena, eles não terem divulgado uma foto — comentou Lily, colocando um pedaço de morango na boca. Os olhos dela estavam cheios de orgulho e conhecimento. — Acredito que ajudariam muito as buscas.

— Eles devem divulgar em breve — disse Avery enquanto o limpava o rosto com a manga do uniforme. — Ou talvez não sabem o rosto do fugitivo.

Regulus não disse nada, preferindo colocar as mãos dentro dos bolsos em uma tentativa de parecer indiferente ao assunto. A ponta de seus dedos tocou em um pedaço de papel e ele congelou, se lembrando imediatamente da carta que havia chegado no início daquela manhã e seu conteúdo.

 

Destrua-os, querido. Eles não podem ficar em seu caminho para a glória eterna.

Mamãe

 

 

Ele retirou suas mãos dos bolsos e respirou fundo, tentando se acalmar. Lily estava discutindo com Avery sobre qual deveria ser a recompensa para quem encontrasse o fugitivo e os dois não conseguiam chegar em um acordo.

— O que você acha, Reggie? — perguntou sua irmã, se virando para ele. — Quanto vale um lobisomem traidor?

— Eu concordo com a Lily — disse, abanando a mão como se não fosse importante. Sentia-se quente e suor acumulava em seu pescoço, queria e precisava sair dali.

Lily sorriu e declarou sua vitória com uma voz aguda e animada. Regulus sentiu um beliscão de arrependimento que logo desapareceu.

Desculpe-me, Lily. Você está me forçando a fazer isso.

***

Evan Rosier não levantou os olhos ao perceber a aproximação de Regulus, preferindo manter as orbes âmbares no chão enquanto cortava um pedaço de madeira com uma adaga afiada.

— Rosier — chamou o caçula dos Black, se colocando na frente do colega que se escondia em uma das alcovas de Hogwarts.

Evan tinha cabelo castanho claro que caía em seus olhos e um sorriso atrevido. Seu maior interesse não eram garotas, ou até mesmo garotos, mas sim em algo muito mais perigoso; algo proibido.

Regulus Arcturus Black — murmurou, provando o nome em sua boca como se fosse um caramelo. — A que devo a honra de sua ilustre presença?

— Ouvi rumores sobre você — respondeu Regulus. — Sobre o que pode fazer.

O sorriso de Evan se alargou e ele lambeu os lábios, os olhos vidrados no estudante em sua frente. Regulus notou que seus dedos estavam tremendo e suor se acumulava em seu rosto, trazendo um brilho doentio para sua pele branca; olheiras escuras cavavam embaixo de seus olhos insanos.

Quando havia sido a última vez que ele havia consumido uma pedra?

— Ouviu certo — disse, mastigando algo invisível na boca. — O que você quer, Reggie? Informação? — tombou a cabeça para o lado, analisando. — Rumores falsos?

— Eu quero que você roube algo para mim.

Evan piscou e seu sorriso se tornou um de deboche.

— Isso vai sair mais caro, Black. — ele se levantou, as pernas longas e magras o colocando pelo menos meio metro acima da cabeça de Regulus. Aquela situação inteira era humilhante e ele agradeceu à Merlin pelo corredor estar vazio. — Roubar é perigoso e eu, obviamente, preciso de uma boa recompensa.

— Não é mais perigoso do que o que você quer — resmungou e as sobrancelhas castanhas de Evan se juntaram.

— Eu dito as regras aqui, guri.

Regulus suspirou, colocando a mão na testa. — Tudo bem. Eu te dou o que for preciso.

— Então me diga. O que você quer?

Ele hesitou.

— Eu quero que você roube o livro de poções da minha irmã para mim — disse, ajeitando a bolsa em sua ombro. Evan ergueu as sobrancelhas e arregalou os olhos, parecia genuinamente assustado, porém tudo se esvaiu quando ele abriu um sorriso de orelha a orelha.

— Sua irmã? — repetiu. — É a com cabelo vermelho? Mais alta que você?

As bochechas de Regulus se esquentaram, ele não gostava de ser lembrado do fato de ser o mais baixo entre seus irmãos.

— Você sabe muito bem quem é a minha irmã. — eles estavam no mesmo ano, era ridículo.

— Lily Black não é só um rostinho bonito, Reggie — comentou, colocando a mão no queixo e franzindo o cenho. Parecia estar pensando e Regulus até acreditaria nisso se não soubesse que seu cérebro estava destruído pelo uso intenso das pedras. — Vai ser difícil roubar algo de debaixo de seu nariz.

— Mas você consegue?

Evan bufou e revirou os olhos.

— É claro que eu consigo — disse. — Mas vai ser caro, muito caro.

— Quanto?

— Seis pedras. — um sorriso satisfeito se espalhou pelo seu rosto, já deveria estar imaginando a sensação. — Três agora e três quando eu te entregar o livro.

Os ombros de Regulus caíram e ele colocou a mão no bolso, sentindo a superfície dura e gelada de uma Pedra de Morgana.

— Eu só tenho duas agora, não pode diminuir o preço para cinco?

— Não. Me dá as duas. — estendeu a mão, os dedos compridos e finos. Regulus colocou as duas pedras arredondadas na palma aberta de Rosier, sentindo-se derrotado. — Eu começo a minha parte quando receber a terceira.

— Olha, Evan, foi difícil o suficiente conseguir essas duas…

— Isso não é meu problema, não é? — questionou ele, arqueando uma sobrancelha. — É você que quer que eu roube a sua irmã… eu poderia ir até lá e contar para ela o que você me pediu. Acho que a Lily tem Runas Antigas agora…

Regulus ergueu seu braço e segurou o bíceps de Evan, o impedindo de se afastar ainda mais. Ele olhava para o chão de maneira submissa, respirando fundo enquanto tentava se recompor.

— Eu vou conseguir a terceira pedra — disse. — Prometo.

— Não demore. Ainda estou considerando contar a verdade para a Lily.

***

Regulus encontrou Severus na Sala Comunal. Ele estava encolhido em uma das cadeiras, apertado contra o canto escuro do lugar enquanto lamentava mais um acontecimento em sua vida patética.

— O que aconteceu, Snape? Minha irmã te rejeitou novamente? — Regulus andou até a única fonte de luz da sala, uma vela comprida e azul na mesa em frente à Severus.

— Não — retrucou o Sonserina, irritado. — Eu vi seu irmão e Potter conversando na aula, discutindo algo sobre a Ordem, mas eles perceberam que eu estava ouvindo e pararam de falar. Era importante, eu sei.

— Que Ordem, Severus? Ordem da Grifinória? — Regulus riu com escárnio. — Um grupo de pessoas que discute sua grandeza e a honra interminável que corre em suas veias parece bem entediante para mim.

— Eu sei que era a Ordem da Fênix! — gritou Snape, tendo um espasmo e se virando para Regulus com violência. — Eu só preciso provar.

— Meu tio é o diretor de Hogwarts e meu pai é chefe do Departamento de Justiça — murmurou. — Os dois o matariam só para impedir que você conte que o herdeiro de nossa família é um traidor. — Severus abaixou a cabeça, decepcionado. — Então é melhor você tomar cuidado.

O rosto pálido e azedo de Snape se cortou em um sorriso, seus olhos escuros se acentuando na luz avermelhada. Regulus suspirou e trocou seu peso de uma perna para a outra.

— Eu preciso de mais pedras — disse. — Rosier pediu mais do que eu esperava.

— Quantas? — Severus não olhou para ele, preferindo se manter vidrado na vela.

— Quatro, mas uma delas é com urgência. Ele não vai começar o serviço até ter três e eu já entreguei as duas que você me fez.

— Vai ser difícil — murmurou. — Aquelas duas foram as únicas que eu consegui na primeira leva. Deveria pedir para o Avery…

Regulus se inclinou, olhando para Snape nos olhos. Tentou transparecer desespero em seu rosto, mas era complicado mostrar algo que ele não sentia de verdade.

— Eu não posso pedir para o Avery — sussurrou. — Ele vai contar para a Lily, achando que eu sou um drogado, e ela vai contar para meu tio e me-nosso plano irá acabar antes mesmo de começar. Por favor, Severus. Pense no que eu te contei. — ele fez uma pausa, permitindo que o colega absorvesse suas palavras. — Se eu me tornar o chefe da Casa dos Black, eu posso permitir o seu casamento com a minha irmã. Vocês dois podem ser felizes sem restrições. Não é isso que você quer?

— Sim, mas e se isso não é o que ela quer?

Regulus sorriu, tocando na bochecha fria de Snape.

— Quando eu terminar com ela, Lily nem vai ter as forças necessárias para dizer não.


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Notas finais do capítulo

Pedras de Morgana é uma droga que eu mesma inventei para essa fic, não existe no universo maravilhoso da J.K. e eu peço que, se forem usar, me avisem antes.