Toujours Pur escrita por Pandizzy


Capítulo 6
Capítulo Cinco - Fênix Dourada




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Que vergonha, Orion! Como ousa?

Lily, com seus olhos arregalados e assustados, encarou seu irmão, lágrimas descendo por seu rosto pálido e infantil.

— Mamãe e papai estão brigando de novo — disse com mais inteligência do que era de se esperar de uma criança de dez anos.

— Sim — Sirius confirmou. Ele era quatorze minutos mais velho e portanto sabia de mais coisas que sua irmã. Sabia, por exemplo, que as brigas silenciosas que os pais tinham eram muito piores do que as brigas em voz alta.

— Por quê? — ela perguntou, seus dedos finos e sujos de bolo de cereja procuraram pela mão do irmão. Sirius agarrou aqueles dedos finos e compridos com força, curvando as costas para consegui-la ver seus olhos grandes e verdes. Eles brilhavam no escuro.

— Papai fez besteira — murmurou. — Com uma mulher do Departamento de Justiça.

Os olhos de Lily se arregalaram e ela apertou a boneca que segurava. — Que mulher?

— Eu não sei.

E na nossa própria casa? — questionou Walburga do outro lado da porta. Sirius se aproximou e tentou ver o que estava acontecendo por uma fresta na porta. — O que as crianças poderiam ter pensado? O que os vizinhos poderiam ter pensado?

A mãe dele estava de costas, o cabelo preto preso em uma trança apertada e usava um vestido vinho que deveria ser caro. Orion estava apoiado na mesa, cobrindo o rosto com uma mão enquanto ouvia quieto o sermão de sua esposa. Uma chama de fúria se acendeu dentro de Sirius e ele sentiu sua irmã se aproximar, apoiando o queixo pontudo contra o seu ombro.

Não vai dizer nada? — continuou Walburga. — Huh?

Eu não tenho nada a dizer.

— Talvez não deveríamos ouvir isso — Lily murmurou. — Vamos para o meu quarto e esquecer disso.

— Fique quieta! — ralhou. — Estou tentando escutar.

Ele ouviu soluços e os ombros de sua mãe começaram a tremer. Ela estava chorando.

Eu te dei tudo! Minha vida, meu amor e meu apoio! — exclamou a senhora Black. — O que ela já te deu que eu não dei em dobro?

Walburga, não seja assim…

— Ela disse que vai te dar filhos? Mestiços imundos que nunca terão direito ao nome Black? — ele arregalou os olhos e cobriu sua boca, tentando abafar sua respiração ofegante. Lily, atrás de si, enrolou seus dedos nas vestes dele; ela estava trêmula e chorava com mais força agora. — Você pensou nos seus filhos quando fez a idiotice de foder aquela mestiça?

As bochechas de Sirius se esquentaram ao mesmo tempo que Lily lhe perguntava o que “foder” significava.

— Não importa agora — ele respondeu, mordendo o lábio inferior. Desejou com todas as suas forças que aquela resposta fosse o suficiente.

Aposto que pensou na nossa menina, considerando o jeito que você olha para ela.

— O que ela quer dizer com isso? — perguntou sua irmã, tremendo.

— Não sei — mentiu, sabia que era a melhor coisa para se fazer agora. — Eu realmente não sei.

 

Sirius piscou e a memória se escorregou por seus dedos como areia, se perdendo entre as outras milhões. Ele olhou para a garota ao seu lado, absorvendo seu hijab familiar e sua expressão desfocada. Se alguém não a conhece bem, pensaria que ela estava simplesmente caindo no sono com a aula do Professor Binns, mas ele a conhecia muito bem para saber exatamente o que estava fazendo.

Ele agarrou a mão de Dorcas com força, balançando-a e viu quando seus olhos castanhos piscaram, olhando ao redor enquanto tentava se lembrar aonde estava.

— Pare com isso — exigiu e ela se virou para ele, erguendo uma sobrancelha. — Não fique invadindo minhas lembranças.

— Eu não consigo evitar — disse, o rosto impassível. — Eu vejo as memórias de todos aqui. Acontece que as suas foram as que mais me interessaram.

— Minha vida não é a sua novela, Dorcas. Você pode parar agora com essa sua mania invasiva.

Ela cruzou os braços e fechou a cara, desviando o olhar para o professor. Havia se ofendido com a sua resposta. Sirius suprimiu a vontade de dar um sorriso satisfeito. Ele poderia não gostar de Dorcas, mas o resto de seus amigos gostavam e ele tinha que aguentá-la.

— O seu pai ainda está traindo a sua mãe? — perguntou em voz baixa, ainda não olhando para ele.

Sirius hesitou.

— Sim. Um traidor nunca para.

— Com a mesma mulher?

— Não — disse.

— O que aconteceu? — perguntou, sua voz repleta de escárnio. — Seu pai perdeu o interesse?

Ele a olhou diretamente nos olhos, queria ver sua reação sem nenhum problema, quando respondeu:

— Ele se cansou dela, como todas as outras. — Sirius suspirou. — Para manter seu silêncio, ela foi mandada para o Buraco.

Para sua surpresa, os olhos de Dorcas se arregalaram minimamente e ela começou a respirar pela boca; não deveria estar esperando aquela resposta. Sirius se sentiu satisfeito ao vê-la, era tão difícil causar qualquer emoção que não fosse a raiva nela que era um motivo para se comemorar.

— Está mentindo — murmurou.

— Não estou, não — disse. — Veja minhas memórias se não acredita em mim. Um garoto de dez anos que está entediado escuta mais conversas do que se imagina.

Ela abriu a boca para responder, mas foi impedida por um clarão que atingiu os olhos cinzentos de Sirius de maneira dolorosa. Ele virou para a janela ao seu lado, tentando encontrar a fonte da luz enquanto Dorcas resmungava em voz baixa.

Ele viu uma figura, completamente vestida de preto, perto de uma árvore não muito longe da sala. O homem estava segurando um espelho e o usava para refletir os raios solares na direção das janelas.

— Está brincando — sussurrou ao reconhecer a pessoa que tentava chamar sua atenção. O homem estendeu a mão e dobrou um dedo, dizendo silenciosamente para ele ir até lá. Mordendo os lábios e limpando o suor em suas calças, Sirius se virou para o professor Binns que descrevia, com cautela, o estado caótico do Ministério de Magia quando foram expostos pelo Primeiro Ministro trouxa, Harold Macmillan, em 1958. — Professor Binns?

O fantasma piscou seus olhos, surpreso, ao ser interrompido e se virou para Sirius com falso interesse.

— Sim, Barry?

— Eu não estou me sentindo bem. — tocou em sua barriga e fez uma careta, esperando que sua palidez natural ajudasse em sua atuação. — Acho que vou vomitar. Posso ir no banheiro?

A expressão de Dorcas ficou ofendida enquanto Professor Binns permaneceu impassível.

— Claro, claro. — abanou a mão como se não fosse importante. — Vá rápido.

Ele andou para fora da sala com cuidado, tentando não atrair atenção para si, antes de correr para fora do castelo.

Depois de anos mapeando aquele lugar e memorizando cada corredor e canto escuro, Sirius era bem capaz de se aproximar da árvore sem ser visto pelo grupo de quintanistas sorridentes e Pirraça, que tinha em seus olhos aquele brilho que dizia que ele procurava uma nova vítima.

O coração dele se acelerou ao chegar no mesmo lugar em que o homem estava, porém sua boca se secou ao notar que ele não estava mais ali. Ele olhou ao redor, tentando ver qualquer traço ou vestígio da presença do homem.

Será que eu imaginei tudo?

— Está perdido? — perguntou uma voz atrás de si, grossa e familiar. Sirius se virou lentamente e um sorriso rasgou o seu rosto ao ver o rosto conhecido de Alphard Black, seu tio.

O cabelo comprido e preto de Alphard estava preso atrás de sua cabeça e sua barba estava bem aparada, além de usar vestes elegantes e caras que eram adequadas a sua posição na hierarquia social.

Entretanto, nada disso importava quando os dois acabaram a distância entre si com um abraço apertado e que dizia tanta coisa. Senti a sua falta, onde você estava?

— Você cresceu — comentou Alphard, se afastando com um sorriso. Sirius o encarou embasbacado, a surpresa de o ver era maior que sua curiosidade e o senso comum de que o tio não deveria estar ali. — Walburga não me disse o quão alto você estava nas cartas dela.

Alphard morava na França com sua mãe, Irma, e cuidava das relações entre os dois países. A última vez que Sirius o havia visto em uma situação feliz foi durante o pessach de 1968, algumas horas antes de seus pais expulsarem todos os convidados da casa. Ele mandava presentes em todos os aniversários dos gêmeos e sempre sabia exatamente o que comprar.

— O que está fazendo aqui, tio? — perguntou. — Pensei que estivesse em Paris.

— E estava, mas as relações entre França e Grã-Bretanha estão tensas. Chanceler Delacroix é uma sangue-ruim e não está feliz com o jeito que os tratamos — disse. — Achei que seria melhor se Irma e eu voltássemos para casa.

— Não suponho que ela esteja feliz com isso.

Alphard riu. — Não, claro que não. Ela odeia a Inglaterra, me xingou bastante depois que anunciei minha decisão.

Ele sorriu. Irma Crabbe era, apesar de seus setenta anos de idade, uma bruxa bastante peculiar. Ela havia mudado para a França depois do aniversário de Regulus, anunciando em voz alta que a Grã-Bretanha era imunda e sem cultura. Sirius tinha um gosto estranho por sua avó e suas opiniões fortes e costumava lembrar com afeição as vezes em que fumavam juntos na sala de estar no Largo Grimmauld.

— De qualquer jeito, vim avisar Cygnus que havíamos chegado bem em Londres — continuou Alphard. — E pensei em visitar você e sua irmã, ver como vocês dois estavam.

— Mas não Regulus?

— Regulus é parecido demais com Walburga para o meu gosto — murmurou, balançando a mão como se não fosse importante. — Eu fui procurar sua irmã primeiro, mas ela não estava na sala de Estudos Trouxas. Deve ter matado aula. — Sirius ergueu uma sobrancelha, surpreso. Não era do feitio de Lily fazer aquilo. — Onde ela gosta de se esconder?

— Não sei. — deu de ombros e Alphard franziu o cenho.

Não sabe? — repetiu. — Como assim não sabe?

— Só não sei.

— Quando eram crianças, vocês dois estavam sempre juntos com segredos e piadas internas. Tinham até mesmo uma língua secreta! — exclamou. — O que aconteceu?

— Nós nos afastamos. — apertou os lábios e mordeu sua língua, sentindo uma pontada de dor na ponta do músculo. — Não somos mais crianças.

Alphard suspirou, decepcionado. Sirius não gostou de ver o clima da conversa mudar de maneira tão rápida, era decepcionante.

— É uma pena — sussurrou, ajeitando a gravata vermelha e dourada do sobrinho. — Terríveis são as guerras entre irmãos.

Sirius ficou quieto, ele não sabia exatamente o que dizer para melhorar a situação. O ar estava parado e a tensão era palpável entre eles.

Ele queria dizer que não estava em guerra com sua irmã, que os dois estavam muito bem, obrigado, mas isso seria uma mentira.

— Eu não posso ficar aqui por muito tempo, você tem aula e Cygnus me mataria se o fizesse  — disse, pegando um relógio dourado em seu bolso. Havia uma letra B gravada nele. — Avise à Lily que quero falar com ela, peça para que me mande uma carta que eu envio os presentes que comprei.

Alphard estendeu o braço e apertou a mão de Sirius, colocando uma coisa gelada e redonda na palma aberta do garoto. Ele franziu o cenho e abriu a boca para perguntar, mas foi impedido por seu tio, que colocou o dedo indicador sobre os lábios em um pedido claro para fazer silêncio.

— Eles estão nos observando — avisou em um sussurro, se afastando. — Tome cuidado, Sirius. Você está sendo imprudente.

O tio foi embora então, tomando o caminho de volta para o castelo com um farfalhar das vestes. Sirius o observou com um misto de emoções

— Quem é Irma? — perguntou uma voz familiar atrás de si. Sirius estreitou os olhos e se virou, vendo James Potter sair de debaixo de sua capa de invisibilidade.

— Há quanto tempo você está aí?

— Desde o começo. — respondeu, dando de ombros. — Vi você saindo da aula e fiquei preocupado. — ele deu um sorriso triste para Sirius.— Quem é Irma? — repetiu. — Você nunca me falou dela.

— Minha avó — disse, simplesmente. — Lily se parece com ela, fisicamente.

James ergueu as sobrancelhas, negras contra seu rosto moreno e sardento.

— Entendo. — ele desviou os olhos castanhos para a mão fechada de seu melhor amigo. — O que foi que seu tio te deu?

Sirius olhou para baixo e abriu sua mão, vendo uma forma arredondada e dourada descansando em sua palma. Ele se sentiu murchar ao notar que era uma simples moeda, um galeão de ouro que deveria ter saído do cofre pessoal de Alphard Black.

Mas, ao piscar, ele notou que não era uma simples moeda. Havia uma fênix no lugar do dragão, as asas abertas e seu olho negro encarando fixamente para cima. Carregar uma dessas era como assinar sua sentença de morte. Não fazia sentido. Por que um homem puro-sangue adulto iria tê-la em sua possessão e, principalmente, entregá-la ao seu sobrinho?

Sirius se lembrou, então, das palavras de seu tio e ele soube o porquê.

Eles estão nos observando. Tome cuidado, Sirius. Você está sendo imprudente.

Alphard Black era membro da Ordem da Fênix.

***

O que chamou a atenção de Sirius não foi o baque surdo de livros sendo jogados em sua frente ou o arrastar da cadeira do outro lado da mesa, mas sim a voz familiar e cansada de sua irmã gêmea.

Ele tentou não demonstrar choque ao erguer o rosto. Deveria ser a primeira vez que ela o procurava sem querer algo em troca.

— Você está fazendo lição? — questionou, levantando uma sobrancelha. O cabelo dela estava preso em um coque desarrumado e suas bochechas estavam vermelhas, deveria ter corrido até a biblioteca. — Desde quando faz isso?

— Desde hoje — respondeu. — O que está fazendo aqui? Não devia estar com Imogen Wilkes ou Amelia Bones?

Lily fez uma careta.

— Minhas amigas são idiotas e, ultimamente, você tem sido bem agradável então prefiro ficar aqui do que as ouvir falar mais uma vez sobre como o cabelo de Rudolph Greengrass está particularmente lustroso hoje.

Sirius tentou não sorrir, apenas se concentrou no arranhar da pena sobre o pergaminho enquanto escrevia a redação de História da Magia. Estava concentrado, focado e preferia não ser interrompido. Notou, pelo canto do olho, sua irmã abrir o seu livro de poções.

— Parece que você precisa de amigas novas — comentou. — Se está tão insatisfeita com as atuais.

— Talvez eu precise. — ela riscou duas linhas na receita de uma poção e escreveu algo ao lado com uma escrita apertada e pequena. Sirius ergueu uma sobrancelha, mas achou melhor não perguntar.

Eles ficaram em silêncio por mais alguns minutos, trabalhando em suas lições como se fizessem isso juntos todos os dias. As pessoas ao redor os olhavam pelo canto do olho, talvez se perguntando porque os gêmeos Black estivessem juntos enquanto sussurravam com seus amigos; era irritante e o fazia querer se virar e gritar com eles, mas Sirius preferiu ficar quieto e continuar focado em sua redação.

Ele olhou para cima ao terminar, assinando seu nome e desenhando a constelação Canis Major ao lado de seu sobrenome. Lily estava apoiando o rosto nas costas de sua mão e lia um texto em seu livro sobre as Poções Proibidas, fazendo anotações quando sentia vontade.

Olhar para ela doía. Ele queria que ela olhasse para cima e sorrisse para ele. Sentia falta de seus sorrisos, de sua risada e de suas respostas inteligentes. Ele nunca se permitia se lembrar claramente dos anos de sua infância, mas agora as memórias invadiam sua mente como um tsunami. Cada uma delas fazia seu coração se apertar em seu peito, a saudade por aqueles anos ingênuos trazia um gosto amargo a sua boca.

Por Merlin, ele sentia falta dela. Sentia falta da amizade dos dois, dos segredos e das piadas internas. Ele mal se lembrava da língua infantil que tinham inventado, mas sentia falta daquilo também.

Em um momento de coragem extrema, ele abriu a boca para dizer exatamente o que estava pensando, mas foi interrompido pela aproximação de Severus Snape.

— Lily? — ele disse, hesitante, e a Sonserina ergueu a cabeça lentamente.

— Sim? — ela respondeu, um ar entediado cobrindo o seu rosto pálido.

— O que você quer, Ranhoso? — perguntou Sirius, irritado pela interrupção.

Severus o ignorou completamente enquanto gaguejava, arrumando dobras invisíveis em suas vestes de segunda mão. Parecia nervoso, os dedos trêmulos e as unhas roídas até o talo.

— Eu ouvi que você e o Mulciber terminaram e… bem… eu estava pensando… bastante, para falar a verdade… — ela ergueu a sobrancelha, não parecia muito feliz com a presença de Snape e o desvio forçado de seus estudos. — A primeira viagem para Hogsmeade está chegando e eu queria saber se você gostaria de ir comigo… como um encontro.

Os olhos cinzentos de Sirius se arregalaram e olhou para sua irmã, querendo que ela negasse o pedido do estudante. Ele odiava Snape com todas as suas forças e sabia muito bem que o sentimento era mútuo; era assim desde quando Sirius e Lily foram visitar um parente em Cokeworth aos nove anos e tiveram o desgosto de conhecê-lo.

Havia parado de atormentá-lo no mesmo ano em que entrara para a Ordem da Fênix, mas o desejo cresceu em seu peito ao simplesmente pensar nos dois juntos como um casal. O desejo de irritá-lo, machucá-lo.

— Desculpe, — Lily disse, fazendo uma careta. — mas não. Eu estou ocupada nessa viagem.

— Com quem? — perguntou Ranhoso.

— Com Sirius.

Sirius, que estava no meio de uma respiração aliviada, arregalou seus olhos novamente. Snape o encarou com nojo antes de voltar seu rosto para Lily, ainda esperançoso.

— Mas pensei que você o odiasse… — comentou, sem se importar em que ouviria.

A irmã de Sirius fez uma careta. — Eu nunca disse isso.

— Regulus me contou que sim

— Então Regulus está errado! — exclamou, brava. — Você não deve acreditar em tudo o que ouve, Snape!

Os ombros de Ranhoso caíram e ele apertou seus lábios, decepcionado com a rejeição.

— E no próximo fim de semana? — sugeriu.

Lily piscou, os cílios longos e ruivos tocando em sua pálpebra inferior.

— Não, obrigada — disse, simplesmente, e voltou para seu livro como se nada tivesse acontecido

A onda de conforto que atingiu Sirius foi o suficiente para esvaziar seus pulmões de ar e para um sorriso satisfeito crescer em seu rosto. Severus não notou sua felicidade pelo desolamento que o atingia.

— Você tem algum compromisso?

— Não — respondeu. — Só não estou interessada.

Era claro que essa não era a resposta que Snape estava esperando. Seus ombros caíram e ele mastigou o lábio inferior, tentando decidir o que dizer para contornar a situação. Sirius observou tudo, entretido demais para falar qualquer coisa.

— Mas… mas…

Lily ergueu as sobrancelhas, o desafiando a falar qualquer coisa.

Finalmente, Ranhoso desistiu e se virou, retomando o caminho para fora da biblioteca. O sorriso de Sirius perdurou até ele se lembrar da primeira desculpa que sua irmã havia dado para o garoto ir embora.

Ele cutucou o tornozelo dela com o pé, como fazia quando queria chamar a atenção de alguém e a encarou com uma carranca assim que ela levantou o rosto.

— O que foi? — perguntou com ar de inocente.

— Você me usou como desculpa!

— Não usei, não — murmurou, piscando os olhos grandes e verdes.

— Usou sim! — disse. — Eu não vou com você para Hogsmeade no fim de semana que vem!

Para sua surpresa, uma expressão quebrada surgiu no rosto de Lily, muito parecida com a usada por Severus ao ter sido rejeitado por ela. Sirius se recostou na cadeira, surpreso por ver tal reação.

— Não vai? — sussurrou ela, a voz triste e baixa. — Eu não tinha perguntado, sei disso. Estava tomando coragem quando o Severus apareceu, mas pensei que me ouvir falando sobre o assunto pudesse servir como pedido.

Ele cruzou os braços, sentindo sua mente escapar para uma posição defensiva.

— Por que você quer ir para Hogsmeade comigo?

— Não está claro? — questionou. — Eu sinto sua falta, Sirius. O tempo todo.

Ele não disse nada, achava que qualquer coisa que pudesse dizer fosse estragar ainda mais as coisas.

— Eu também sinto a sua falta — confessou depois de vários minutos, sentindo como se um peso tivesse sido tirado de seus ombros.

Os olhos de Lily brilhavam, esperançosos, e ela quase sorriu.

— Seria tão ruim, então? Ir para Hogsmeade comigo e dar mais uma chance para nós dois?

Sirius parou para pensar, mas já sabia qual seria sua resposta.

— Não, não seria. — ele olhou para o lado e suspirando. — Tudo bem. Eu vou com para Hogsmeade.

Lily sorriu então, o mesmo que costumava dar quando ganhava o que queria.


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Notas finais do capítulo

Alphard Black é, segundo a árvore genealógica de J.K. Rowling, o irmão mais novo de Walburga Black e o filho homem mais velho de Irma Crabbe e Pollux Black.

Harold Macmillan era o primeiro-ministro inglês de 10 de janeiro de 1957 até 19 de outubro de 1963. Ele era do partidor conservador inglês o que, ao meu ver, o tornaria um perfeito candidato para expôr a magia para o mundo trouxa em 1958, um ano antes de Sirius e Lily nascerem.

Se vocês quiserem uma linha do tempo com as informações dadas até agora, por favor me avisem para eu colocar no começo do próximo capítulo.