Toujours Pur escrita por Pandizzy


Capítulo 5
Capítulo Quatro - R.J. Lupin


Notas iniciais do capítulo

Oi, gente! Desculpa a demora, eu estava com um mini bloqueio criativo para essa fanfic e eu fui viajar com o meu pai e não sei o que me deu que eu escrevi o capítulo inteiro na viagem, mas eu não tinha um computador para postar então não consegui e quando eu voltei na segunda, eu decidi reescrever o final completamente e, quando eu acabei ontem, eu fui tirar o siso e passei o resto da noite na cama ouvindo a minha mãe me dizer quais remédios eu tinha que tomar então espero que me perdoem!!!!!

Capítulo dedicado a Charlie que recomendou a fanfic!!!



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Lily estendeu o braço, inclinando sua mão sobre o jato fraco de água enquanto cantarolava uma música da Goblin Pixies em sua mente, uma banda nova de bruxas puro-sangue “rebeldes” que atraíam pessoas como Sirius e, surpreendentemente, Lily, apesar de ela nunca admitir isso em voz alta.

Piscou os olhos duas vezes, sentindo-os ainda grudentos com o sono e bocejou, falhando em mascarar a falta de sono com um suspiro. Não havia sido capaz de dormir na noite anterior, virando e revirando na cama até Imogen reclamar em voz alta sobre sua agitação, deixando-a envergonhada demais para fazer qualquer movimento que fosse debaixo dos edredons. Entendia a irritação da amiga, ela mesma havia dito que estava tudo bem nas inúmeras cartas mandadas durante o verão, porém, apesar de todas as promessas que havia feito, de tudo que havia falado e argumentado, Lily não estava nada bem. Como poderia quando era incapaz de não imaginar Ariel e Amelia, enroscados em um beijo enquanto riam silenciosamente de sua ingenuidade?

Devia ter notado antes, sempre se orgulhava de ser alguém muito inteligente e perceptiva, imaginaria que seria a primeira a deduzir o que lhe ocorria em suas costas e não que fosse obrigada a descobrir por...

Levantou o rosto quando a porta se abriu, piscando as lágrimas para longe e jogando o papel em suas mãos no lixo. Ela olhou pelo espelho enquanto Dorcas Meadowes entrava no banheiro, segurando sua bolsa mensageiro no cotovelo e olhando ao redor com o queixo erguido, um tecido azul marinho cobria seu pescoço e cabelo por completo.

Lily engoliu seco ao vê-la. Ela era alta, mas extremamente magra, com as maçãs do rosto acentuadas e dedos finos e parecia alguém que se esquecia com frequência de comer. Havia olheiras profundas embaixo dos olhos, acentuados com uma maquiagem escura e uma palidez doente que cobria sua pele outrora morena. Ela parecia um cadáver ambulante.

Dorcas parou na frente de uma pia, colocando sua bolsa no mármore ao seu lado e abriu a torneira, ensaboando seus dedos antes de começar a lavar as mãos, não fazendo nenhum movimento que mostrasse que notava a presença de Lily. Ela ajeitou o lenço ao redor do rosto, as mãos delicadas empurrando fios de cabelo rebeldes para debaixo do pano. Lily ergueu a sobrancelha ao vê-la e tombou a cabeça para o lado, confusa.

— Você é árabe? — perguntou, sem conseguir se controlar. Dorcas virou o rosto subitamente, as íris castanhas brilhando na luz, enquanto sua expressão severa mudava para uma de surpresa.

— Não — disse, voltando o olhar para o espelho, arrumando o borrado de seu batom vinho e limpando o canto do olho. — Eu sou persa.

Ela se virou novamente e franziu o cenho, analisando Lily com um olhar afiado e desfocado, parecia que sua mente estava viajando para outro lugar. Demorou alguns segundos para ela voltar para si, um ar arrogante tomando conta de seu rosto.

As bochechas de Lily se esquentaram e ela se sentiu exposta, como se houvesse esquecido suas vestes e estivesse nua naquele banheiro, a mercê de Dorcas.

— Então por que você usa esse lenço na sua cabeça? — questionou, se recompondo. A expressão severa voltou ao rosto de Dorcas e Lily foi obrigada a admitir que ficava bem nela, as feições se acomodando ao estado de raiva em que sempre ficavam.

— Não é um lenço, é um hijab. — havia veneno em sua voz e seus olhos estavam escuros e ofendidos. — É da minha religião e cultura.

Os ombros de Lily relaxaram.

— Ah, mas você não precisa usar isso aqui — murmurou. — Estamos em Hogwarts, sua família não vai saber se você tirar.

Dorcas estreitou os olhos e pressionou os lábios, a analisando de cima a baixo com um semblante sério e gelado.

— Já te disseram que você mete seu nariz com frequência em assuntos que não é chamada? — as orelhas de Lily se esquentaram em raiva e ela mordeu a língua em uma forma básica de se controlar. — Eu faço o que bem entendo e, se assim desejar, posso parar de usar o hijab sem sofrer retaliações de meu pai e irmãos. — ela respirou fundo, recuperando o fôlego. — Eu uso porque quero, não porque fui obrigada.

Sem dizer mais nada, Dorcas Meadowes pegou sua bolsa e foi embora, fechando a torneira entre passos furiosos e falhando em notar o papel retangular que havia escorregado para fora de seus livros, caindo com cuidado em uma parte seca do chão.

Lily se agachou e agarrou o papel entre os dedos, notando então que era, na verdade, uma foto e, sem se importar em olhar, correu para a porta, empurrando-a com o ombro esquerdo.

— Dorcas! — gritou, esperando ver a bruxa não muito longe de sua visão, porém a decepção a encheu quando notou que ela deveria ter corrido para se livrar dela. Torceu o nariz e suspirou.

— Por que você estava correndo atrás de Dorcas Meadowes? — Lily se virou ao ouvir a voz masculina atrás de si e viu Marcus Avery se desencostando da parede, fechando o livro que segurava e a encarando com descrença. Lily fechou os olhos e se xingou mentalmente, havia esquecido completamente que pedira para Marcus esperá-la fora do banheiro enquanto andavam para a aula.

As sobrancelhas de Avery eram castanhas, franzindo em desconfiança.

— Ela derrubou isso — respondeu, estendendo o braço. Marcus espiou a foto antes de sua expressão se suavizar e ele dar um sorriso compreensível. — Estava sendo amigável.

— Entendo. — ele estava segurando a mala dela, assim como a própria, mas não fez nenhum sinal para devolvê-la. — O que tem aí?

Ela virou a foto, a testa franzida e os lábios apertados.

Era um grupo de adolescentes, pelo menos quinze, sorrindo e acenando para a câmera, se abraçando como velhos amigos. Lily reconheceu seu irmão, Sirius, entre James Potter e Peter Pettigrew, abraçando-os pelos ombros e gargalhando como ela nunca havia visto; notou Frank Longbottom, um Corvinal alto que havia se formado no ano anterior, de mãos dadas com Alice Fawcett, uma Lufa-Lufa baixa e acima do peso com cabelo loiro e comprido; no meio da foto estava Dorcas Meadowes com uma expressão calma, as linhas de expressão em seu rosto apagadas e a cabeça inclinada na direção de um garoto com cicatrizes no rosto e olhos âmbares. Era uma foto preciosa, percebeu, cuidada com amor e carinho. Não era uma surpresa que Dorcas a mantivesse tão perto.

Torceu o pulso, vendo a parte de trás do papel e a letra cuidadosa em tinta preta:

 

Dorquie,

Sentirei sua falta todos os dias até a primeira visita para Hogsmeade. Depois de um verão inteiro juntos, ficar o que seria o meu sexto ano sem você é uma grande tragédia.

Espero que goste dessa surpresa, tudo foi ideia de James, principalmente a foto, agradeça-o por mim.

Com amor,

R.J. Lupin

 

Lily olhou para o garoto ao lado de Dorcas, o que deveria ser R.J. Lupin. Ele era bonito, mesmo com as cicatrizes, e sorria tão abertamente que era como se elas não existissem. Nunca o tinha visto na vida, não deveria ser um estudante de Hogwarts, mas parecia tão familiar com aquelas pessoas, estudantes e adolescentes suspeitos, que ela sentiu seu sangue borbulhar só em vê-lo.

— Você é bom com feitiços de duplicação, certo? — levantou o rosto para Avery, que sorriu presunçoso.

— O melhor do nosso ano — respondeu. — Por quê?

Começaram a sair do corredor, os alunos desesperados para chegar em suas aulas a tempo enchendo o silêncio com seus passos apressados e respirações ofegantes.

— Só quero ter uma cópia disso. — Avery ergueu uma sobrancelha. — Olhe como Sirius está sorrindo, eu mal o vejo feliz assim. Quero guardar.

— Ah. — sua voz indicava entendimento, mas ele ainda parecia desconcertado. — Tudo bem, eu faço depois da aula.

Eles se aproximaram das escadas que os levariam até as masmorras e desceram de dois em dois.

— Muito obrigada, Marcus — disse Lily, entrando na sala de aula com um sorriso no rosto. Ele devolveu a sua mochila e ela colocou a foto entre seu livro de transfiguração e de runas antigas, tomando cuidado para não dobrar nada.

Olhou ao redor, vendo Slughorn ainda sentado em sua mesa, respondendo uma pergunta de Marlene McKinnon e sem notar que ela havia chegado atrasada. A maioria das mesas estava ocupadas, e Avery andou até uma das vazias, ao lado de Mulciber, e se jogou na cadeira com uma postura desleixada. No fundo da sala, Severus Snape olhava com esperança para ela, sozinho em sua mesa dupla.

Lily preferiu andar até a frente, onde James Potter estava inclinado sobre seu livro e Emmeline Vance, usando a versão masculina do uniforme, desenhava em um pedaço de pergaminho.

Emme levantou os olhos ao vê-la, dois coques castanhos lado a lado no topo de sua cabeça e uma gravata da Sonserina no pescoço.

— Saia — ordenou Lily, estreitando os olhos e espalmando a mão na mesa. Emmeline franziu a testa e olhou para os lados. — Há um ótimo lugar para você, lá no fundo.

— Mas… — começou, mordendo o lábio inferior. — Eu preciso…

Lily arregalou os olhos e arfou, sentindo-se pessoalmente ofendida.

— Não fode comigo, Vance.

Emmeline piscou algumas vezes, surpresa, e se levantou, segurando em seus braços todas as suas coisas. Ela andou até a mesa de Snape que parecia muito desapontado consigo mesmo. Lily se sentou na cadeira e colocou seu caldeirão em sua frente.

James ergueu os olhos e suspirou.

— Aquela era a minha namorada, Black — murmurou.

— Besteira — ela respondeu, puxando seus livros para cima. — Todos sabem que Emmeline está a fim de Gwenog Jones há meses.

Touché. — ele empurrou os óculos para cima, grandes demais para seu rosto angular.

Havia uma época em sua vida, entre o primeiro e o quinto ano, em que Lily Black ressentia James Potter com todas as suas fibras. Ele era, em seu ponto de vista, o responsável em transformar Sirius de um herdeiro confiável e leal para um Grifinório barulhento e irritadiço com a família. Era impossível vê-lo sem pensar que, se não tivessem ficado na mesma cabine naquela tarde do primeiro ano, Sirius poderia estar ao seu lado, continuando a ser o herdeiro que os pais sempre sonharam.

Anos se passaram antes que ela abrisse mão da amargura e tomasse a decisão de que a culpa era de Sirius por passar uma fase tão conturbada e problemática.

Slughorn se levantou, apoiando as mãos nas mesas e olhando para os alunos em sua frente com um sorriso.

— Bem-vindos a mais um ano em Hogwarts — começou. — Temos muita coisa para vermos e revermos este ano então não quero nenhumas brincadeiras desnecessárias. — seus olhos cansados viajaram para Mulciber, ainda dormindo. — Abram seus livros na Poção Audiens, página cento e sete.

Lily abriu seu livro com dedos determinados, ouvindo James fazer o mesmo ao seu lado e apoiou o rosto em sua mão, lendo as instruções algumas vezes antes de considerar começar. Slughorn estava andando pelas mesas, observando o trabalho das pessoas e dando comentários em voz baixa.

— Pensei que você fosse se sentar com Mulciber — James disse, inclinado sobre seu caldeirão enquanto o enchia com os cento e cinquenta mililitros de água. Ele tinha cabelo curto e espetado, como se houvesse recebido um choque elétrico. Lily suspeitava que ele não sabia que um homem puro-sangue de respeito deveria ter cabelo comprido. — Ou Snape.

— Eu terminei com Mulciber — ela retrucou, acrescentando o mel. — E não sou amiga de Snape.

Havia uma garra negra desenhada na nuca de James, a ponta de uma tatuagem escondida em suas vestes. Lily se encontrou inclinando a cabeça em uma tentativa de vê-la melhor.

— Ele sabe disso? — questionou. Ela franziu a testa, confusa. — Severus, ele sabe que vocês não são amigos?

— O que isso quer dizer? — devolveu.

James riu alto, roncando no fundo da garganta.

— Ele é obcecado com você há, sei lá, quatro anos. — Lily virou o rosto, olhando para Severus no fundo de sala. Ele encarava os dois com olhos vidrados e enciumados, sem notar a poção que borbulhava perigosamente ao seu lado. — Aposto que vai te chamar para sair já que você terminou com Mulciber.

Lily não conhecia muito bem Severus. Ele era amigo de Regulus e seu irmão sempre reclamava de como ele não parecia ser capaz de se defender, sempre exigindo a expulsão de pessoas como James e Sirius que costumavam pegar em seu pé. Ela não pensava muito nele, apenas sugestões quietas para si mesma que talvez ele devesse usar poções anti-oleosidade.

— Bom, não é muito sensato, não é? — disse, fazendo uma careta. — Ele é mestiço.

E nada atraente.

— A mãe dele é puro-sangue. — a voz dele era arrogante e presunçosa. — Talvez ele se considere um de nós.

James adicionou as joaninhas, o líquido em seu caldeirão atingindo um tom quase transparente de dourado e ele limpou as mãos nas vestes, molhando-as com água e mel.

— Mesmo assim — murmurou. — Se Severus não reconhece o erro da mãe, não é problema meu.

— Se ao menos mais pessoas fossem como você. — ele sorriu, duas covinhas nos cantos de seus lábios aparecendo enquanto seus olhos brilhavam com uma maldade artificial. — Tanta coisa poderia ter sido evitada.

Ela havia ouvido histórias, sussurradas por sua mãe toda vez que Sirius ousava questionar o mundo ao redor. Ninguém gostava de falar sobre isso, mas quase todos sabiam que Fleamont e Euphemia Potter haviam sido mortos por aurores quando se recusaram a aceitar o novo governo.

Lily suspeitava que o Lorde das Trevas temia que James se tornasse igual aos pais e era por isso que lhe havia passado essa missão.

— Concordo.

Ela piscou e não disse mais nada.

***

Lily andou pelo corredor com passos decididos, sentindo-se confiante nos saltos médios e nas vestes escuras que usava nos períodos livres de aula. O cabelo longo e ruivo estava preso em um coque apertado no topo da cabeça e em seus lábios estava o novo batom vermelho de Madame Beauty.

Ela entrou no banheiro feminino, o mesmo que havia tido a confrontação com Dorcas, e fechou a porta com o calcanhar. Ele estava vazio, os chãos surpreendentemente secos e as portas das cabines semi-abertas. Lily suspirou, fechando os olhos por poucos segundos, antes de voltar ao trabalho, trancando a porta com um feitiço não-verbal. Não poderia ser interrompida agora, não quando se sentia calma, inebriada e focada na tarefa em sua frente. Era como se houvesse tomado um galão de poção relaxadora, perdendo a tensão sempre presente entre seus ombros e a rigidez em sua postura.

Lily abriu a própria bolsa e puxou a foto de R.J. Lupin com os dedos, a examinando com cuidado, tentando ver se havia qualquer coisa que indicava que o que segurava nas mãos era uma cópia. Ela sorriu, satisfeita com o trabalho de Marcus e se agachou, ouvindo os joelhos estalarem com a posição desconhecida.

Quando acabou, deixando a cópia no mesmo lugar que havia encontrado a original, Lily saiu do banheiro, cantarolando para si mesma. Ela seguiu o caminho para o corujal com os passos tão determinados quando os de antes, passando pelas pessoas distraídas com as novas lições e redações e Dorcas Meadowes andando na direção do banheiro com uma expressão desesperada e mãos trêmulas.

Lily chegou no Corujal sem maiores problemas, sentindo suas narinas se encheram com o cheiro de fezes de corujas e seus pés partindo os ossos de rato jogados sem cuidado no chão. Ela levantou os olhos e viu  inúmeras corujas piando, seus olhos calmos a encarando, talvez se perguntando qual delas teria que sair para entregar sua mensagem, atrapalhando seu descanso. Lily não precisou procurar muito pelas aves até que Penélope, a coruja cinzenta que havia ganhado de seu mestre, voou até si, as asas batendo contra o ar enquanto planava até seu braço estendido, fincando as unhas afiadas na manga de algodão.

A coruja piou afetuosamente e estendeu sua perna, preparada para receber sua mensagem. Lily puxou a original da foto de R.J. Lupin de seu bolso, pronta para ser enviada.

— Você sabe para onde ir.

A coruja piou mais uma vez antes de abrir as asas e voar para fora da torre, seguindo o caminho aéreo que a levaria até o Lorde das Trevas.


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