Toujours Pur escrita por Pandizzy


Capítulo 4
Capítulo Três - O Filho Reserva


Notas iniciais do capítulo

Só quero lembrar, antes de vocês lerem esse capítulo, que nenhum dos narradores é confiável então vocês não podem aceitar todas as coisas que eles assumem como verdade



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A estação de trem estava cheia, esfumaçada e fria.

Seria de se esperar que, com tantas pessoas presas no mesmo lugar, a plataforma nove três quartos estaria fervendo com a quantidade elevada de calor humano, porém o queixo de Lily estava tremendo ruidosamente, Sirius estremecia em seu casaco grande e Regulus se xingava mentalmente por não ter escolhido roupas mais quentes.

Ele conseguia ouvir os colegas se despedindo dos pais e familiares calorosamente, mas sua mãe batia o pé contra o chão de maneira incessante e seu pai não estava em lugar nenhum. O único som entre eles era o gato de Lily miando entre seus braços, os olhos amarelos e felinos encarando Regulus com um semblante severo.

— Onde ele está? — perguntou Walburga e Regulus soube imediatamente de quem ela estava falando.

— Trabalhando, talvez? — sugeriu Lily, erguendo uma sobrancelha. Ela estava tremendo tanto que sua voz saiu entrecortada.

Sirius bufou, resmungando algo que Regulus ignorou. Ele nem tinha mais certeza do porquê o irmão continuava com eles quando, claramente, não gostava de fazer parte daquela família.

Observou, com o canto do olho, Lily erguer sua mão e tocar no braço de Sirius, o acalmando, e entendeu tudo.

Regulus desviou o olhar, irritado, e reparou na fumaça da locomotiva se dissipando, permitindo que ele visse dois homens juntos, conversando amigavelmente.

Ele reconheceu um deles como Charlus Potter, um estimado membro da Suprema Corte dos Bruxos. Seu cabelo loiro estava penteado para trás e ele tinha óculos de armação retangular apoiados no nariz, além de usar vestes elegantes e claras. Sorria calmamente enquanto conversava com um adolescente mais alto e com a pele mais escura, seus óculos tortos estavam caindo pelo comprimento de seu rosto e suas costas arqueavam em uma postura relaxada. O adolescente estava usando uma blusa vermelha e, ao se virar, Regulus pôde ver Potter escrito em suas costas com letras douradas e brilhantes.

Ele ergueu uma sobrancelha. Até agora, estava certo que o filho de Charlus Potter havia sido morto junto com sua esposa, Dorea, em um ataque de trouxas sete anos antes.

— Acho melhor irmos — murmurou, se virando para a mãe e beijando sua bochecha. — Tchau, mamãe.

— Vejo vocês no Chanucá — respondeu, aceitando o abraço de Lily e ignorando o aceno de cabeça de Sirius. Regulus começou a andar até o trem, ouvindo a respiração de sua irmã atrás de si. — Sirius, espere.

Regulus parou em seus calcanhares e se virou, surpreso. Notou que Lily fez o mesmo, uma careta de choque marcava sua expressão antes calma.

— Continuem andando — disse Walburga, olhando ao redor como se temesse ser ouvida. — Eu preciso conversar apenas com o seu irmão.

A mão de Lily se apertou em seu cotovelo, o puxando, mas Regulus continuou parado, não conseguiu retirar o choque e a confusão de seu rosto. Ele se afastou, relutante, mas não entrou no trem com Lily, não era capaz de desviar o olhar de seu irmão e de sua mãe, tão próximos e tão relaxados.

— Reggie? — a irmã o chamou. — Venha.

Walburga puxou algo de sua bolsa; uma caixa, retangular e de madeira escura. A respiração de Regulus parou em seu peito ao ver a mãe estender a caixa para Sirius, dizendo algo que, claramente, não era um xingamento ou uma bronca.

O irmão manteve uma expressão impassível enquanto murmurava uma despedida, se virando com a caixa ainda em mãos e andando até eles. Lily deu um passo para frente enquanto Regulus engasgava com as próprias palavras.

— O que é isso? — perguntou Lily, sua voz cheia de curiosidade mal disfarçada.

— Heranças de família — Sirius respondeu.

— Por que ela te deu isso agora?

— Ela disse que é tradição. — deu de ombros. — Algo sobre serem dadas ao herdeiro em seu último ano de aprendizado.

Regulus sentiu seu queixo cair, seu coração acelerar e sua respiração se desequilibrar. Não conseguia parar de ver Sirius, como se nunca o havia encontrado em toda a sua vida.

O irmão era alto, esguio e se portava como se fosse a pessoa mais importante do mundo. Ele possuía cabelo lustroso, tão negro quanto as asas de um corvo, que caía em seus ombros casualmente e os olhos cinzentos tão comuns nas famílias antigas que Regulus e Lily injustamente careciam. Apesar de que levaria um soco se falasse isso em voz alta, era impossível não perceber o quão parecido com Orion, Sirius era.

— Por que está me encarando desse jeito? — perguntou, quebrando os pensamentos em que Regulus estava imerso. Sirius ergueu uma sobrancelha, algo de família, e olhou para Lily, como se ela segurasse todas as respostas entre seus dedos compridos.

— Nada — respondeu Regulus. — Só estava distraído um pouco, nem percebi que estava te encarando.

O rosto de Sirius relaxou, apesar de seus olhos continuarem desconfiados, e os três entraram no trem. Regulus olhou ao redor por compartimentos vazios ou com seus amigos, tentando reconhecer qualquer um de seus atributos físicos nos alunos que conversavam entre si, rindo e dividindo histórias das férias.

Ouviu Lily exclamar ao seu lado:

— Eu preciso ir para o vagão dos monitores. — ela jogou o cabelo comprido e escuro para trás do ombro, andando pelo corredor a frente e desaparecendo entre os estudantes que atrapalhavam o caminho.

Conseguia ouvir os passos de seu irmão atrás de si, cumprimentando colegas de ano e fãs ousados, além de ignorar deliberadamente os olhares esperançosos das meninas empilhadas entre as cabines, pedindo em silêncio que ele sentasse com elas, desprezando a presença de Regulus completamente.

Sirius desapareceu, entrando em um cabine com seus amigos, e forçando o irmão mais novo a continuar seu caminho sozinho. Ele olhou para a direita, pensando ter visto as tranças rastafari de Imogen Wilkes, mas seus ombros caíram ao perceber que estava enganado.

Ele parou de andar, ofegante, e se apoiou na parede do trem, pulando para frente quando ele começou a andar.

Sirius era o primogênito, o herdeiro e o que isso tornava Regulus? O reserva, o dispensável, o segundo filho.

Um dia, quando seu pai morresse, Sirius iria herdar a fortuna inteira dos Black, poderia viver o resto de seus dias sem trabalhar enquanto manteria uma influência invejável no Ministério ou, sem qualquer experiência, teria a possibilidade de ter qualquer emprego que desejasse, ganho apenas pelo sobrenome e os galeões em seu cofre enquanto Regulus passaria o resto de sua vida batalhando apenas para não ser esquecido.

Não era justo.

E Lily? Lily era uma mulher, mas ela era inteligente, talentosa e a protegida de Slughorn. Não importava se ela se casasse cedo e começasse a ter filhos quando, agora, ela era a favorita de todos da família para quem teria as maiores chances de se tornar Ministro da Magia.

Sirius tinha tudo que poderia querer, Lily iria ter tudo e Regulus… Regulus não teria nada.

Não!, pensou em silêncio, Eu posso ser tão bom quanto eles, melhor do que eles!

— Reggie! — chamou uma voz masculina e ele se virou, vendo o rosto irritado de Ariel Mulciber. Ele estava inclinado na porta, os braços musculosos cruzados e com uma carranca estampada no rosto. — Ficou surdo, é?

Regulus não disse nada.

— Não fique parado aí me encarando com essa cara de idiota — ralhou Mulciber. — Entra logo.

Ele andou para dentro da cabine, sem se importar em saber se seria seguido ou não. Apesar de o ter feito, Regulus não escondeu seu desgosto ao se sentar ao lado de Imogen e Avery; nunca foi o maior fã de Ariel e nunca seria.

— Onde está a sua irmã? — Amelia Bones perguntou. Ela já estava trajada com o uniforme, a gravata verde e prata cuidadosamente amarrada ao redor de seu pescoço.

— No vagão dos monitores — respondeu com o melhor tom casual que conseguiu encontrar. — Ela é a monitora-chefe desse ano.

— Oh — intrometeu Imogen, animada. A pele, apesar de já ser negra, estava mais bronzeada depois do que deveria ter sido um ótimo verão na praia. — Eu sabia que ela seria escolhida. Lily é muito esperta.

— Além de ser a sobrinha do diretor — disse Avery, o braço dele estava jogado sobre os ombros de Imogen. — Farejo um favoritismo óbvio.

— Fica quieto, Marcus — murmurou Mulciber, ele apoiava um dos braços em sua perna dobrada. — Você não sabe de nada. Lily ganhou essa posição por mérito próprio, coisa que você é incapaz.

— Qual o seu problema? — perguntou Avery, irritado. — Está irritado desde o verão.

— Lily terminou com ele — respondeu Regulus lançando um sorriso presunçoso aos amigos. — Eu li a carta antes dela mandar, foi bem brutal.

— Mesmo? — Severus Snape ergueu o rosto, esperançosos. Regulus nem o havia notado ali, tão quieto e congelado em seu próprio mundo.

— É, mas vamos voltar em breve — confirmou Mulciber. Ele não parecia ter percebido a expectativa palpável de Snape. — Nossas mães estão planejando nos mandar juntos para uma viagem nas férias de inverno, para consertar as coisas. Será uma surpresa então ela não poderá dizer não.

A família Mulciber era puro-sangue e muito rica, apesar de ser nova e sem nenhuma influência notável no mundo bruxo. Não surpreendia Regulus que a mãe de Ariel estava tentando arrumar para seu filho uma noiva Black.

— Como se a Lily fosse se deixar ser levada para um lugar desconhecido — murmurou Imogen. — Ela é esperta demais para isso.

— Você usou a palavra esperta para descrever a Lily duas vezes nos últimos cinco minutos — reclamou Regulus, se sentindo irritado demais com a quantidade de elogios que a irmã recebia. — Não ensinam um vocabulário extenso na tribo africana de onde você veio?

Os olhos ônix de Imogen queimaram.

— Eu nasci aqui, seu idiota — ralhou, o piercing em seu septo tremendo com sua voz.  — e você sabe disso! — respirou fundo. — Sua irmã é esperta, a melhor do nosso ano, e se eu quiser usar a mesma palavra para descrever ela cem vezes em um espaço de dois minutos, eu posso!

Ela se jogou contra o próprio assento, cruzando os braços e resmungando em tom baixo. Regulus suspeitava que ela o teria azarado se não tivesse entrado em aulas de controle para raiva.

Um silêncio desconfortável invadiu a cabine e poucos fizeram a tentativa fútil de diminuí-lo. Avery encarava Regulus com ódio enquanto Mulciber sussurrava no ouvido de Amélia, a fazendo rir e Severus murmurava consigo mesmo.

Regulus se acomodou no assento, fechando a si mesmo enquanto todos, exceto Avery, fingiam que ele não estava ali.

A porta se abriu e Lily entrou, ela já estava usando o uniforme e havia prendido o cabelo em uma longa trança que chegava em sua cintura. Seu gato estava andando entre suas pernas e pulou para cima do colo de Imogen, que acariciou o espaço entre suas orelhas. Lily olhou ao redor, curiosa, antes de lançar um olhar de nojo para Mulciber e se sentar ao lado de Regulus. Ela estava sentada em frente à Snape, que a encarava como se fosse uma deusa grega renascida na Terra.

— O que foi? — perguntou, temerosa diante dos olhares. — Tem algo nos meus dentes?

Ela cobriu a boca com uma mão. Regulus segurou uma risada, não conseguia acreditar que aquela era a mesma pessoa que estava sendo tão elogiada na cabine.

Posso ser melhor do que Lily.

— Não — respondeu Imogen, se inclinando. — Quem era o seu parceiro?

Lily franziu as sobrancelhas antes de relaxar a expressão e entender tudo. Ela estava sorrindo, incapaz de assumir uma expressão séria, e colocou uma mecha solta do cabelo atrás da orelha.

— Oh. James Potter — murmurou como se não fosse nada. Os olhos de Mulciber se estreitaram. — Achei ele bem encantador e aplicado.

Regulus pensou no garoto que viu na estação e as histórias sobre James Potter que rolavam por Hogwarts e, silenciosamente, discordou de sua irmã.

James e Sirius eram conhecidos pelas pegadinhas que aplicavam em alunos mais novos e, com certa frequência, nos sonserinas, trazendo certa irritação aos pais toda vez que recebiam uma carta do tio sobre suas inúmeras detenções. Um dia, ao questionar o irmão em suas ações, Regulus recebeu como resposta “Eu gosto de irritar os coroas.”

Ele não é o herdeiro que eles tanto desejam, mas eu posso ser, tenho certeza disso.

— James Potter, é? — Mulciber questionou enquanto brincava com a varinha entre os dedos. — Bom saber.

— Por que é bom saber, Ariel? — os olhos verdes de Lily estavam escuros e desconfiados. Ela cruzou os braços. — O que pensa que vai fazer?

Mulciber sorriu.

— Se importa com Potter agora? — Ariel arqueou uma sobrancelha. — Devo me preocupar?

— Não é do seu interesse — respondeu, se levantando e andando até Imogen, ela pegou seu gato miando entre os braços. — Vou procurar uma outra cabine mais agradável para ficar.

Regulus observou a figura alta e magra de sua irmã saindo, sendo seguida por Imogen e Amelia que murmuravam entre si e não olhavam para trás. Lily se deixava ser controlada pelas emoções com mais frequência do que gostaria de admitir, sendo igualzinha à Sirius nesse aspecto.

Só preciso provar o meu valor.


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Notas finais do capítulo

Primeiro capítulo do reggie! O que acharam??