Toujours Pur escrita por Pandizzy


Capítulo 3
Capítulo Dois - Tornei-me a Morte. Destruidora de Mundos


Notas iniciais do capítulo

Resumo desse capítulo na minha opinião humilde: pesado

Capítulo dedicado à Prongsnitch que, para a minha surpresa, recomendou a fanfic.



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A mulher, loira e trêmula, abaixou sua cabeça enquanto os bruxos presentes se levantavam, reconhecendo a entrada de Orion Black, que iria presidir o julgamento da trouxa.

Lily, em seu lugar na audiência, sorriu ansiosamente ao se sentar e mastigou o lábio inferior. Seus dedos tremiam e seu coração palpitava dentro de seu peito. Sirius, ao seu lado, relaxou em seu assento e colocou um cigarro dentro da boca, acendendo em poucos segundos com um feitiço não-verbal.

Uma mulher, ao lado dele, bufou e murmurou algo que fez sua varinha absorver toda a fumaça e o cheiro de cigarro.

— Silêncio! — Orion demandou com sua voz forte, causando uma onda de quietude varrer pela sala. Lily se encolheu em seu lugar antes de notar que ninguém mais o fez. — Isso é um julgamento, não um jantar de confraternização.

Ele virou seus olhos cinzentos e frios para a mulher que tremia enquanto segurava uma bolsa pequena e rosa.

— Petunia Dursley, — começou o pai de Lily e ela pôde ver que ele gostava de causar medo em Petunia. — você é aqui acusada de roubo de magia, uma acusação severa para qualquer não-bruxo. Como se declara?

Ela levantou os olhos, azuis e aguados, e sussurrou algo que foi impossível de se entender.

— Repita mais alto para que todos possam ouvir, senhora Dursley.

A escrivã, Lily tinha certeza que ela se chamava Umbridge, soltou uma risadinha baixa que todos notaram, mas não comentaram.

— Como se declara? — Orion repetiu, seus olhos estavam irritados.

— Inocente, vo-vossa excelência. — ela havia erguido os olhos por apenas um segundo antes de baixá-los novamente.

Sua declaração criou um burburinho entre as testemunhas do julgamento e o som da conversa se aumentou.

Não era um costume terem pessoas observando o julgamento de uma trouxa, mas esse crime, esse em especial, fez com que todos com com o horário livre, e os sem, quisessem atender.

— Bastardo — ela ouve Sirius resmungar, fumaça saindo de seus lábios. Ele está irritado, conseguia sentir sua raiva emanando de seu corpo. Seu punho estava fechado em seu colo e Lily estendeu sua mão, segurando o pulso tenso de seu irmão enquanto observava seu pai gritar por silêncio.

Algumas vezes, ela queria entrar na cabeça de Sirius, só para ver o mundo do jeito que ele via e poder entender porque ele estava com raiva agora.

— Eu terei ordem neste julgamento! — Orion bateu sua mão grande na mesa em sua frente, o barulho reverberando pela sala cheia. — Petunia Dursley se declara inocente, tudo anotado, Dolores?

A escrivã levantou o rosto e fingiu surpresa de ter sido notada. — Ah sim, senhor Black. Completamente.

— Certo então, continuaremos. Senhora Dursley, você se declara inocente de ter roubado a magia de alguém, está dizendo que é uma bruxa?

Lily apertou a mão de Sirius, não aguentava a expectativa da situação. Era demais para ela. Seu coração batia ainda mais forte em seu peito, sua respiração estava ofegante, queria esconder seu rosto ou fugir dali, mas se forçou a olhar, não desviou nem um minuto. O pai saberia se o fizesse.

— Não, não sou uma bruxa — a mulher murmurou, seus olhos se encheram ainda mais de lágrimas e elas vazaram por suas bochechas, arruinando sua maquiagem cuidadosamente feita. Patético.

— E o que você é, senhora Dursley?

— Uma trouxa — respondeu, levantando seu olhar e parecendo mais confiante e feliz do que um segundo antes. — Eu sou uma trouxa como o meu marido, como o meu filho, meu Dudley…

Enfiou a mão na bolsa, causando vários aurores presentes a sacarem suas varinhas, suas mãos tremendo e apontando para o rosto de Petunia enquanto ela puxava um lenço azul claro e assoava o nariz.

— Eu nunca fiz magia, vossa excelência. Nunca desejei isso. — balançou a cabeça em negação.

— Está mentindo — Orion disse, sua voz estava pesada e grossa. Parecia que uma sombra havia caído nele e seus olhos eram fendas pretas em seu rosto. Lily conhecia aquela expressão, ela havia visto várias vezes em casa. — Há testemunhas que podem contestar sua fala, em seus pertences havia uma varinha de quinze centímetros, videira, com fibra de coração de dragão e levemente flexível. Agora, nos diga a verdade, senhora Dursley: de onde você roubou a sua magia e a sua varinha? De que bruxo ou bruxa você roubou?

Petunia levantou seu queixo, seu rosto não estava mais triste ou desesperado, estava raivoso, insolente e perigoso. Lily franziu seu cenho enquanto arregalava os olhos.

— A vareta nem funciona direito, é inútil, ele mentiu para mim! — limpou as lágrimas e sua maquiagem escorrida virou um borrão em suas bochechas. — Eu nunca quis ser como vocês, uma aberração, um aborto da natureza — a multidão ofegou e Sirius se mexeu desconfortavelmente em seu lugar. — mas mamãe insistiu, me levou até ele e pediu que me ensinasse.

Petunia estapeou as duas mãos na boca, como se isso fosse apagar todas as palavras que havia dito. Lily olhou ao seu redor, havia sido como se alguém houvesse lançado um silencio na sala, ninguém ousava falar ou respirar. Os bruxos simplesmente encaravam a trouxa com choque e antecipação.

— Para quem a sua mãe te levou, senhora Dursley?

Ela lentamente destampou sua boca, seu lábio inferior tremendo e soluçou. — Para ele, para Albus Dumbledore.

O seu destino estava selado antes mesmo que ele dissesse.

— Albus Dumbledore é o líder da organização criminosa Ordem da Fênix, qualquer um que se associe a ele ou sua criação comete alta traição, bruxo ou não. — ele se levantou, arrumando as vestes e apontou a varinha para Petunia. — Aurores! Levem-na para Azkaban.

Não, pensou Lily, sem conseguir respirar, essa não é a punição certa para alta traição. Injustiça. Injustiça.

Ela se levantou antes que conseguisse pensar, os aurores ainda se preparavam para levar Petunia para fora do julgamento. Todos ainda estavam em silêncio e Sirius a encarou com olhos grandes e cinzentos.

— Morte! — ela gritou, raivosa. — Morte à meretriz!

A mulher ao lado de Sirius, a que bufou com seu fumo, se levantou também e sua voz alta reverberou ainda mais na sala:

— Morte à meretriz!

Outras vozes se juntaram, mais irritadas e mais altas. Os aurores pararam com seu trabalho, se virando para Orion Black e tentando ver em seus olhos o que deveriam fazer, mas o pai de Lily estava fingindo não ouvir o que acontecia. Flashes brilharam enquanto fotógrafos brigavam para tentar pegar um pedaço da multidão cada vez mais alta.

— Morte à meretriz! Morte à meretriz!

Os aurores puxaram Petunia para fora, a bolsa dela caiu no chão e Lily continuou gritando, a garganta dela doía e sua voz nem mais era ouvida na multidão, mas persistiu:

— Morte à meretriz! Morte à meretriz!

Ela olhou para o lado, esperando ver Sirius junto a si, gritando assim como ela, mas ele continuava sentado, olhando ao redor desconfortavelmente, os joelhos juntos e as sobrancelhas arqueadas.

— Sirius? —  Lily o chamou, estendendo sua mão. Os gritos ao seu redor começaram a fazer sua cabeça doer, sua testa latejando e suas têmporas se apertando. — Irmão?

Quando Sirius se virou, ela pôde ver que seus olhos cinzentos estavam nebulosos, confusos e cheios de lágrimas.

***

— Não me ignore, Sirius.

Estavam no escritório do pai, o esperando para poderem ir embora, e ele não havia falado nada desde o que aconteceu na audiência, apesar das inúmeras tentativas de Lily de iniciar uma conversa. Ele estava sentado em uma das cadeiras em frente à mesa, observando as fotos de família que o pai mantinha em seu escritório em silêncio, e ela estava em pé, ansiosa demais para se acalmar o suficiente para ser capaz de sentar.

— Eu vi o que você fez na audiência — murmurou. — Chorou pela sangue-ruim.

Sirius não falou nada, apenas suspirou e cruzou as pernas. Nem ao menos olhou para ela.

— Não vai dizer nada? — perguntou Lily, estupefata. — Nem ao menos negar?

— Não posso negar o que você viu, posso? — ele se virou, as sobrancelhas franzidas e mandíbula aberta em deboche. — Ou você quer que eu negue, quer que eu diga que não é verdade e que você não está entendendo?

Ele se levantou, se aproximando dela até que estivessem alguns centímetros os separando. Lily conseguia sentir sua respiração em seu rosto, o cheiro do shampoo que usava no cabelo e o calor que emanava de seu corpo. Eles tinham quase a mesma altura, mas mesmo assim foi necessário erguer seu queixo para poder encarar Sirius nos olhos.

— Você é bem esperta, Lily. Eu sei que você entende muito bem.

Ele se virou, pronto para andar até a cadeira e se sentar novamente, porém parou em seus calcanhares quando ela voltou a falar:

— Se o papai perguntar, eu direi que foram lágrimas de orgulho se você me responder uma pergunta.

Ele não olhou para ela.

— E qual pergunta seria?

Lily não acreditava que iria dizer aquelas palavras.

— Por quê? — perguntou. — Por que sentiu pena da sangue-ruim? Ela não é merecedora de suas lágrimas.

— E você é capaz de decidir isso?

Ele estava irritado; Sirius ficava irritado com frequência, mas nunca desse jeito, nunca com ela. Lily se sentiu murchar enquanto ele virava e a encarava, se perguntando como havia chegado naquele ponto. Existia uma época, dias felizes de uma infância distante, em que Sirius não choraria por pena, Lily não o confrontaria e eles eram amigos. Aquilo havia sido antes de Hogwarts, antes da seleção quando ainda dividiam um quarto, uma língua secreta e as broncas da mãe por terem ido dormir tarde, ocupados demais conversando para se importarem em cair no sono.

— Não é uma decisão a se fazer, Sirius — disse, tão certa de suas palavras. — É um fato a se declarar. Trouxas e sua prole sangue-ruim não merecem nossa misericórdia.

Ele não disse nada e por isso ela continuou falando:

— Eles são cruéis, sempre foram. — sentiu sua garganta relaxar. Não sabia quanto ia falar, apenas deixou as palavras se enrolarem para fora de sua boca. — Você sabe muito bem o que aconteceu quando o Primeiro Ministro trouxa anunciou nossa existência para o mundo, como eles se assustaram e decidiram que a melhor maneira de lidar com o problema era cortando-o pela raiz. Invadiram o St Mungo’s no dia em que nascemos, quase não escapamos, e mataram cem, talvez cento e cinquenta bruxos e bruxas que estavam tentando se recuperar.

A expressão de Sirius não mudou enquanto ela discursava.

— E mesmo antes disso, eles se matavam. A última guerra, que eles tão gentilmente chamam de mundial, acabou com duas bombas no Japão. Bombas cuja culpa foi tão facilmente colocada em nós assim que descobriram a verdade. Milhares de mortos em tão pouco tempo e eu estou só falando das casualidades deles. — suspirou. — Sabe o que os trouxas costumavam dizer? Sobre esse tipo de bomba? “Tornei-me a Morte. Destruidora de mundos.” — Lily respirou fundo. — Não me parece um povo merecedor de pena.

Ele deu um passo para frente, seu rosto mais sério do que ela viu em sua vida inteira, e murmurou:

— Você se esquece o motivo dessa guerra mundial, Lily, e quem perdeu.

Isso não é uma resposta para a pergunta dela e Lily está prestes a reclamar quando a porta abre e Orion Black entra com passos pesados contra o carpete. Ele não está feliz, nunca está, entretanto agora é possível ver sua dessatisfação costurada em seu rosto.

Lily não se virou para Sirius, ela pôde simplesmente se perguntar o porquê do pai estar irritado.

— Ficou maluca? — ele questionou, olhando para ela, e Lily engasgou na própria saliva.

— O-o quê? — gaguejou.

— Acha que eu não vi seu showzinho? Todos gritando, questionando a minha decisão. — jogou a maleta e as vestes no chão, raivoso. — A sala estava escura, mas eu reconheço a voz da minha própria filha.

— E-eu…

— Quem você acha que é? — continuou. — É apenas uma criança, ainda está na escola e acredita que pode contestar a decisão de uma autoridade?

A mão de Orion agarrou o pulso de Lily, apertando e o torcendo dolorosamente. A respiração dela se prendeu em sua garganta e ela não conseguia ver, não conseguia pensar.

Você está me machucando.

— O Profeta Diário vai se deleitar na notícia. Orion Black enfrenta filha em julgamento. Olhe o que fez. — ele solta a mão dela e se vira, parece tentar se acalmar por alguns segundos. — Arruinou tudo!

Orion se virou rapidamente, a mão erguida e ela não conseguiu pensar antes de sentir o tapa se estalar contra a bochecha esquerda, a pele ardendo. Lily tocou em seu rosto com dedos trêmulos e choramingou ao tocar na parte atingida.

Ele nunca havia batido nela antes.

— Ficou maluco? — ela ouve Sirius perguntar, a voz mais grossa e um oitavo mais alta. Lily havia se esquecido que ele ainda estava ali.

— Não me questione, Sirius. Eu ainda sou o seu pai. — Lily ergueu o rosto e viu seu pai se abaixando, para pegar as coisas que havia jogado no chão antes de sair fumegando pela porta. Ela fechou os olhos e sentiu um molhado descer por seu rosto.

Mãos gentis tocaram sua bochecha.

— Você está bem? — Sirius sussurrou.

— Estou — respondeu, abrindo os olhos e vendo o irmão em sua frente. Ele estava tão calmo e tão diferente de minutos antes.

Lily supôs que era a única capaz de causar tal variação em seu humor.

— Então por que está chorando?

— Você ouviu o papai, — ela disse simplesmente, limpando as lágrimas do rosto o mais delicadamente que conseguiu. — eu arruinei tudo.

— Não, Lily… você não arruinou coisa alguma.

— Não minta para mim, Sirius. Eu sei o que fiz, mas não o farei de novo. Você vai ver. — se sentia mais calma do que em muito tempo. — Vou deixar papai orgulhoso.

Ela não olhou para seu irmão quando saiu do escritório, seguindo o caminho de Orion Black até em casa.

***

Lily, enrolada em uma toalha, entrou em seu quarto, tomando cuidado para não molhar nada de valor com as gotículas que desciam por seu cabelo úmido. Olhou ao redor e vestiu a roupa íntima e o pijama que separou antes de entrar no banho.

Se sentia pesada, cansada e prestes a se debulhar em lágrimas. Havia tido um péssimo dia, nada que lhe acontecesse nesses últimos momentos antes de ir dormir poderiam neutralizar toda a negatividade que sofreu. Queria adormecer logo, queria ficar inconsciente por algumas horas.

A bochecha esquerda ainda estava inchada, o contorno de uma mão marcando sua pele, mas não ardia mais.

Quando chegou em casa, nem Walburga nem Regulus comentaram sobre seu rosto. Lily não saberia dizer o que seria pior.

Cambaleou até a janela, com o intuito de fechar as cortinas para diminuir a luz externa no seu quarto, mas congelou em seu lugar ao olhar para a rua.

Havia alguém apoiado na cerca dos Fortescue, um homem alto e com membros compridos que fumava preguiçosamente. Lily não conseguia ver seu rosto direito, apenas os óculos de armação quadrada, a pele bronzeada e o cabelo preto que se camuflava na noite. Ele estava olhando para ela.

Não exatamente para ela, mas para a janela de seu quarto, seus olhos fixos no vidro sem piscar enquanto fumava e mexia em uma varinha com os dedos. Ela o encara de volta, a testa franzida.

Lily está prestes a abrir a janela e gritar com ele quando o bico de uma coruja bateu contra o vidro. O susto é grande e ela está emocionalmente exausta demais para segurar o grito que subiu por sua garganta. Demorou alguns segundos para ela tomar coragem e abrir a janela, a coruja cinzenta voando para dentro de seu quarto.

Schuller, o gato preto dormindo em sua cama, encarou o pássaro com um interesse desconhecido antes de voltar a dormir. Lily o ignorou e pegou a carta que ela trazia.

Lily Black,

Confio que está carta chegará em suas mãos sem interrupções.

A coruja que lhe entrega é sua. Servirá para você relatar os feitos e desfeitos de James Potter para o Ministério.

Não estava assinado, porém não precisava. Lily sabia muito bem que a coruja era um presente do Lorde das Trevas.


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Notas finais do capítulo

O Schuller é um gato que realmente existe, meu gato, então ninguém zoa o nome dele.

Já aviso logo que todos os personagens estão sendo descritos como eu os imaginei ao ler os livros, não vai ter a descrição dos atores que os interpretaram nos filmes (estou olhando para você, James Potter) ou a descrição que a maioria das pessoas aceita como canon. Muitos personagens que não foram confirmados como brancos durante a história terão etnias variadas.

Vocês podem imaginar como quiserem, só não venham reclamar comigo.