Toujours Pur escrita por Pandizzy


Capítulo 17
Capítulo Dezesseis - Poção Maldita




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/732990/chapter/17

Na manhã de quatro de novembro de 1977, Lily Black acordou em um mundo de escuridão.

A cama onde ela estava não era a sua própria em Hogwarts. O colchão era menos macio e apenas um fino lençol de algodão a cobria, um feitiço de aquecimento impedindo que ela sentisse frio. Lily conseguia sentir calor caindo em seu corpo, como se houvesse uma janela aberta ao seu lado e o Sol estivesse brilhando dentro do quarto. Ela tocou em seu peito e sentiu o material barato de uma camisola de hospital. A Ala Hospitalar de Hogwarts não possuía esse tipo de vestimenta, portanto deveria estar em algum centro médico. St Mungo's, talvez?

Ela tentou se lembrar da noite anterior. Estava com James na Ala Hospitalar quando alguém entrou e os encontrou se beijando. Quando recobrou a consciência, Lily estava em uma sala vazia das masmorras e James sangrava ao seu lado por conta de uma ferida em seu peito. Uma voz estava sussurrando em seu ouvido e uma mão estranhava tocava seu corpo. Sua mente apagou por um segundo, tentando escapar de toda aquela situação e então uma dor aguda e quente cobriu o seu rosto, escurecendo seu mundo para sempre.

Com as mãos trêmulas, Lily correu os dedos por seu pescoço, subindo lentamente o toque para o rosto, tomando cuidado com a bochecha machucada. Ela sentiu o gelado gosmento de uma poção de cura e a grossura da pele embaixo. As pontas de seus dedos subiram um pouco mais, encostando no canto de uma bandagem e Lily prendeu a respiração. Com cuidado, ela puxou as faixas para longe e piscou os olhos, tentando limpar a sua visão automaticamente.

Era difícil descrever o que via sem se quebrar em lágrimas. Lily leu alguns relatos de pessoas cegas em seus dezoito anos de vida. Elas costumavam dizer que, apesar de opiniões comuns, seu campo de visão não era apenas preto, era simplesmente um nada sem fim. Ela nunca conseguiu entender o quão verdadeira aquelas palavras eram até estar cega também.

Quem a atacou lhe roubou não apenas a visão, mas tudo. Sua vida, seu futuro. Como Lily poderia ser uma aurora, uma Mestre de Poções sem ver o que estava fazendo?

Ela os faria pagar. De alguma forma, ela iria se vingar por tudo o que lhe foi causado. Um olho por olho não seria o suficiente para saciar sua raiva.

A porta de seu quarto se abriu e fechou. Lily sentou-se na cama e virou o rosto levemente, tentando ouvir melhor. Passos caminharam em sua direção, pesados e fortes.

— Quem é? — Lily perguntou, a voz trêmula.

Os passos pararam e o coração dela se acelerou dentro de seu peito, ameaçando escapar por entre suas costelas e pular em seu colo.

— Sou eu, querida — disse a voz de Orion Black. — Sua mãe está aqui também, e o medibruxo.

Os ombros de Lily relaxaram levemente, mas não completamente. Ela ouviu uma cadeira sendo puxada e imaginou seu pai sentando em uma poltrona ao seu lado, a mão da mãe posta em seu ombro. Lily juntou suas mãos em seu colo e suspirou, tentando relaxar. Conseguia sentir o peso dos olhares de seus pais e do médico em sua pele, observando-a, esperando por algo que ela não sabia o que era. Talvez alguém mais precisava chegar? Seria Sirius? Ele poderia ainda estar em Hogwarts, porém Lily não conseguia imaginar seu irmão gêmeo não a visitando no hospital depois de um ataque como aquele.

— Onde está Sirius? — perguntou, a voz reverberando no quarto silencioso.

— No quarto de James Potter — disse sua mãe, suave. — Ele está visitando o amigo e não a irmã. Imprestável.

— Walburga, acalme-se — murmurou o pai. — Deixe Sirius. Ele ficou aqui a noite inteira, esperando Lily acordar. — Lily não se permitiu demonstrar surpresa ao ouvir o pai defendendo o irmão, mas sentiu um calafrio passando por suas veias.

Ela imaginou o irmão no quarto de James, os dois conversando e rindo entre si. James deitado em uma cama igual a sua, faixas cobrindo o seu ferimento e impedindo mais uma hemorragia externa, o cabelo negro caindo em sua testa e seus olhos castanhos brilhando… Lily suspirou, coçando a cicatriz em seu pulso.

— Está tudo bem, mamãe — disse ela. — Sirius se preocupa com o amigo. Eu não tenho ciúmes, juro.

Walburga bufou, mas não disse mais nada. O medibruxo sentou-se ao seu lado e começou a falar:

— Lily, meu nome é Alastair Darrow e eu fui quem lhe recebeu ontem à noite depois que seu irmão a encontrou, você se lembra disso? — Lily balançou a cabeça, negando. Doutor Darrow suspirou e ela imaginou que sua resposta não o havia agradado. — Passamos algumas horas tentando descobrir qual poção foi usada em seu ataque e conseguimos diminuir a lista para duas opções: Caecus e… Adolebitque. — ele falou a última palavra com cuidado, porém o efeito cobriu toda a sala. A mãe ofegou e o pai bateu o punho na cadeira em que estava sentado. O coração de Lily acelerou e ela perdeu o controle de sua respiração, incapaz de absorver oxigênio o suficiente para conseguir se acalmar. — Você conhece alguma dessas duas?

Lily mordeu seu lábio e respirou fundo.

— Sim — disse. — Eu comecei a trabalhar em uma nova poção para apresentar para o Departamento de Poções para conseguir a minha licença de Mestre. O professor Slughorn estava me ajudando, podem perguntar para ele. — ela conseguiu imaginar seus pais arregalando os olhos, principalmente o pai, pois nunca chegou a contar isso para eles. Lily não queria ouvir a mãe chamando-a de burra e dizendo que nunca iria conseguir, ou o pai pagando membros do Departamento para ela conseguir sem esforço. Ela queria ganhar a licença por mérito próprio, não por nepotismo. — Meu objetivo era criar uma poção que revertesse os efeitos de Adolebitque.

— E você conseguiu? — a voz do medibruxo estava ansiosa. — Se sim, podemos curá-la.

— Não — murmurou Lily e sentiu a própria decepção cobrir sua postura, pesando seu corpo para baixo. — E nunca irei conseguir. Todas as minhas anotações estavam no meu livro de poções e ele foi roubado há algumas semanas.

A mãe suspirou.

— Por que você nunca nos contou isso, Lily Walburga Black? — perguntou, irritada. — Tudo isso poderia ter sido resolvido há muito tempo.

Lily não conseguiu responder, infelizmente, pois a porta se abriu e mais um grupo de passos entrou no quarto. Duas ou três pessoas, talvez Sirius, Imogen e Marcus? Será que seus amigos a visitariam no hospital? Eles poderiam visitá-la?

— Lily, — a voz de Alastair começou, gentil e macia em seu ouvido, como algodão se arrastando por sua pele. — Esses são os aurores Nott e Shacklebolt. Eles são os responsáveis pelo seu caso. Você se importa se eles fizerem algumas perguntas?

— É claro que ela não se importa — disse Walburga. — Minha filha quer esses monstros presos tanto quanto nós e fará tudo para isso acontecer.

— Mamãe… — Lily começou, mas logo parou, sabendo que não iria adiantar nada.

Um dos aurores começou a falar em tom baixo com seus pais, enquanto outro puxava uma cadeira e sentava perto de Lily. Ela conseguiu ouvir o som de uma pena sendo retirada do bolso de um casaco e um bloco de notas sendo conjurado, sinalizando que tudo que ela dissesse seria reportado.

— Lily, meu nome é Kingsley Shacklebolt — disse uma voz grossa ao seu lado. — Esse é meu parceiro, Cantankerus Nott. Iremos lhe fazer algumas perguntas sobre os acontecimentos de ontem à noite, tudo bem?

— Sim. — ela disse.

Shacklebolt respirou fundo e sussurrou um feitiço para que a pena escrevesse tudo dito entre eles.

— Você pode nos dizer até onde se lembra? — ele perguntou, sério.

Lily respirou fundo e começou a relatar, desde a figura entrando na Ala Hospitalar, cuidadosamente deixando de fora o fato de estar dando uns amassos com James quando foram interrompidos, a pessoa esfaqueando o Grifinória, até acordar em uma sala nas masmorras, cercada por velas, e ter um líquido quente jogado em seus olhos, queimando sua pele, derretendo sua carne.

— Ele, quem quer que fosse, ficava sussurrando no meu ouvido enquanto o outro… — ela fez uma careta, tentando diminuir sua postura, sentindo as mãos dele em sua pele, correndo por seu corpo sem sua permissão. — Ficava apalpando meus seios.

— Entendo — disse Kingsley, a voz triste e simpática para com ela. — O que estavam sussurrando para você?

Lily suspirou, tentando se acalmar. Aquilo estava em seu passado e não poderia machucá-la mais. Os aurores iriam protegê-la, eles não poderiam tocá-la mais.

— Ele ficava dizendo: eu venci, eu finalmente sou melhor do que você, eu venci, eu venci.

Auror Shacklebolt fez um barulho de concordância e sua pena arranhou o pergaminho rapidamente, anotando todas as palavras de Lily.

— Claramente — começou Walburga, a voz estridente. — Esse ataque foi destinado à população puro-sangue. Algum aluno mestiço deve ter descontado suas raivas em membros de famílias muito poderosa como a nossa e o Clã Potter. — ela se mexeu. — Eu lhe disse, Orion. Deveríamos tê-los ensinado em casa. Nossa filha está cega porque nós a mandamos para aquela maldita escola inclusiva.

— Na realidade, James Potter, a segunda vítima, conseguiu nos dizer os nomes dos dois atacantes — disse Cantankerus Nott, a voz rouca e áspera, como a de alguém velho. Lily prendeu sua respiração. — Regulus Black e Severus Snape.

A atmosfera do quarto mudou. Lily sentiu como se alguém tivesse esfaqueado seu estômago, sua mãe ofegou em surpresa e o pai xingou em voz alta. Regulus? Como seu irmãozinho poderia ter feito isso? Ele estava estranho nos último meses, mas ela pensou que ele estava apenas nervoso com o time de quadribol, ele era o capitão afinal. Há quanto tempo ele estava planejando isso? Suas anotações…

Regulus sabia sobre seus estudos. Ele a encontrou um dia na biblioteca, a cabeça enfiada entre os livros, e a encheu de perguntas até Lily responder o que estava planejando. Aquele deve ter sido o dia. Ele escolheu a poção Adolebitque naquele momento, pois poderia fingir ser um acidente no meio do trabalho. Se James não estivesse presente naquele momento, se Sirius não a tivesse encontrado…

Porém o Departamento de Poções proíbe a venda do ingrediente principal de Adolebitque, sem ele não é possível criar a poção.

— Meu Regulus nunca faria isso — murmurou a mãe, rápida para defender o filho preferido. — Ele é um bom menino e ama a irmã. O garoto Potter deve ter se confundido. — Walburga não fez nenhum movimento para contestar o envolvimento de um mestiço como Severus Snape.

Regulus precisaria ter conseguido o ingrediente, Lily mesma nunca teve a coragem de pegar sem permissão, era um dos motivos para a produção de seu antídoto ter parado, mas como…?

— Evan Rosier — Lily sussurrou, a realização a atingindo como um tapa. — Regulus atacou Evan Rosier para conseguir seu sangue. 

— Como você sabe sobre o ataque de Evan Rosier? — Shacklebolt perguntou, confuso.

Lily não o respondeu, ela só arrastou seus dedos pela cicatriz em seu pulso, tremendo com o conhecimento a cercando.

— Evan foi a primeira vítima — murmurou, chocada. — Ele era o último ingrediente da poção, e o mais importante. Sangue do Filho da Viúva. O pai de Evan morreu quando ele era criança. — Lily se mexeu na cama, tentando encontrar a fonte da voz de Shacklebolt. — Pergunte à Dorcas Meadowes. Ela sabe quem atacou Rosier. Foi Severus Snape.

— Lily está confusa — disse Walburga. — Ela não sabe o que diz.

— Eu sei sim! — Lily gritou, irritada com a presença da mãe em seu quarto e extremamente sobrecarregada por tudo que acontecia ao seu redor. — Pare de protegê-lo! Regulus não é mais uma criança e deve sofrer com as consequências de suas ações!

Shacklebolt e seu parceiro suspiraram.

— Eu irei para Hogwarts agora mesmo e falarei com Regulus — disse Kingsley. — Eu lhe prometo, Lily, nós dois estamos trabalhando duro para pegar quem lhe fez isso. Eles irão pagar por terem atacado você e ao seu namorado…

— O quê? — seu pai vociferou e Lily conseguiu sentir a irritação em sua voz, a traição que ele sentia. Ela cerrou seu punho, enfiando as unhas na palma da mão e criando marcas de meia-lua na carne. Por favor, não, por favor, não, por favor, não. — Como assim namorado? Lily não tem namorado há meses.

— Eu pensei que ela e James Potter estivessem em um relacionamento sério — murmurou Kingsley, confuso.

Lágrimas queimaram nos olhos sensíveis de Lily e ela deixou sua cabeça cair, rezando para estar escondida por trás das mechas grossas de seu cabelo. Apesar disso, passos irritados de seu pai correram em sua direção e ele agarrou seu braço, puxando-a violentamente.

Lily viu seu pai em casa, andando ao redor da sala, sem perceber sua presença ali. Era como se estivesse o vendo por trás de uma foto, removida de toda aquela cena. Ele estava gritando, mas sua voz parecia estar flutuando por água, incapaz de ser entendida. Tão rápido quanto a visão começou, ela terminou.

— Diga-me que não é verdade! — Orion rosnou na frente de seu rosto, os braços tremendo de raiva e Lily soluçou, permitindo que as lágrimas escorressem por suas bochechas. — Diga-me! Diga-me, Lily, você está namorando aquele imprestável?

— Perdoe-me, papai — Lily sussurrou, soando como se ainda fosse aquela menininha de seis anos desesperada para ganhar a aprovação do patriarca com olhos cinzas. — Não consegui te contar…

Ele agarrou seu outro braço e a balançou com força em sua frente. Lily tentou segurar os antebraços dele

— Perdoe-me — ela sussurrou.

— Orion, se acalme — disse a mãe, cansada de tudo aquilo. — Agora não é a hora.

— Quer ficar igual à Sirius? — questionou o pai. — Hein? Quer se tornar uma vergonha para nossa família?

— Senhor, — disse Alastair. — Sua filha precisa descansar…

— Saiam todos daqui! — gritou o pai e, rapidamente, todos saíram da sala, incluindo sua mãe. Lily não se permitiu sentir tristeza ou decepção com a saída dos aurores. Orion Black era o chefe deles, afinal.

O pai a soltou, empurrando-a de volta para a cama com força, e Lily se encolheu, soluçando. Era por isso que não queria contar ao pai sobre James. A raiva, o ciúmes já foram difíceis com Ariel, mas seriam praticamente insuportáveis quando seria alguém de quem ela realmente gostava.

Ele se sentou na poltrona, suspirando, e Lily abraçou seus joelhos, querendo ficar cada vez menor até desaparecer completamente daquela situação.

— Doutor Darrow irá te dar alta no fim da semana — começou o pai. Ele parecia cansado, mas Lily conseguia sentir o ódio escondido entre suas palavras. — Você não irá voltar para Hogwarts. Irá conosco para casa.

Lily assentiu. As férias de inverno estavam se aproximando, portanto era esperado que iria ficar no Largo Grimmauld para descansar depois do ataque. Apesar de tudo, não conseguia ver James fazendo o mesmo.

— Eu contratarei tutores e você poderá fazer seus exames na mesma época que seus colegas — continuou o pai e o estômago de Lily caiu. Ele não poderia estar dizendo aquilo. — Sua mãe está certa. Deveríamos ter te ensinado em casa desde o início. Depois desse ataque e a revelação de seu relacionamento com o filho de traidores de sangue… — ele fez um som de nojo. — Cygnus irá fazer suas malas para você, então não precisa se preocupar com as suas coisas.

— Você não pode! — Lily retrucou, subitamente encontrando a força para enfrentar o pai. — É o meu último ano!

— Tanto posso como estou fazendo! — ele retorquiu. — Apesar dos seus desejos e o de Sirius, eu não estou morto. Ainda sou o chefe dessa família e minha palavra é lei. Você irá voltar para casa e pronto.

Lily pensou em Marcus Avery e todos os planos que estava fazendo juntos para o último semestre em Hogwarts; pensou em Imogen Wilkes, como finalmente tinham feito as pazes e pensou em James, seu sorriso arrogante e os cabelos negros sempre bagunçados.

— Não — Lily disse. — Eu não vou voltar para casa. Não para sempre, pelo menos.

— Vai sim, Lily — ele respondeu. — Não discuta.

Lily se ergueu na cama, usando seus joelhos e panturrilhas de apoio, sentindo-se como uma super heroína naquele momento.

— Eu sei o porquê de tudo isso — disse. — Você não quer que as pessoas saibam sobre minha cegueira, pois eu sou uma vergonha agora, não é mesmo? — ela estava tremendo, mas não de medo. Estava com raiva. De seu pai, de Regulus, de todas as pessoas naquele hospital. — A única filha do grande Orion Black tem uma deficiência… Ou talvez você simplesmente não quer que eu volte para os braços de James, papai. Pelo mesmo motivo do porquê você ter tentado me fazer terminar com Ariel Mulciber, sempre sussurrando coisas no meu ouvido sobre ele. Foi por isso que mamãe queria reatar nosso relacionamento. Não por ele ser puro-sangue ou por seu dinheiro, mas porque ela tinha medo de que eu iria te roubar dela. — Lily suspirou e, finalmente, encontrou as forças para jogar isso na cara dele, para confrontá-lo com essa nojeira em sua personalidade. — Você, meu pai, deseja a mim.

O som de algo cortando o ar soou nos ouvidos de Lily, mas, antes que ela pudesse reagir, a palma da mão de seu pai se encostou na sua bochecha e uma sensação de queimação explodiu em seu rosto, espalhando-se pela pele e carne.

Lily viu a outra visão novamente. Seu pai na sala da mansão Black no Largo Grimmauld, mas, dessa vez, seu irmão estava lá e os dois pareciam estar discutindo em tons alto. Tio Alphard também fazia presença e ele estava agachado ao lado de um corpo jogado ao chão, uma perna pálida e longa saindo debaixo de um tecido negro pertence à uma saia comprida. Ele ajudou a pessoa a se erguer e Lily se viu, o cabelo mais comprido e bagunçado e um hematoma crescendo em seu rosto. Havia um filete de sangue descendo por sua bochecha. Ela abriu os olhos, leitosos e cegos, e se virou, parecendo perceber a presença da outra naquele lugar.

A visão terminou e Lily estava de volta em seu quarto de hotel, tão cega quanto antes. Sua bochecha ardia e ela ergueu a mão, encostando no hematoma em seu rosto.

— Você me forçou a fazer isso, querida — ele sussurrou. — Peça perdão por suas ações.

— Não.

A antiga Lily teria feito sem hesitar. Ela teria se jogado aos pés do pai e implorado por seu perdão, prometendo nunca mais desobedecê-lo, mas essa Lily era nova. Ela crescia há algumas semanas enquanto a original tentava se mudar para parecer mais digna de seu amado, desde o dia em que Ariel Mulciber lhe deu um tapa e quebrou seu braço na Sala Comunal da Sonserina.

— Desde que eu era uma criança, você me aterrorizou. Você torturou à mim e ao meu irmão por conta de um capricho imaturo — Lily disse, ajeitando sua postura. — Eu vivia com medo de você, de seu poder, de seu julgamento, mas isso acabou agora. Assim que receber alta, eu irei voltar para Hogwarts e você não poderá fazer nada sobre isso. — ele começou a falar algo, pronto para impedi-la, e ela foi rápida para continuar falando. — Eu tenho dezoito anos. Sou uma adulta aos olhos da lei desde os meus dezessete. Ser expulsa de casa não me assusta mais, pois agora eu sei o que uma família de verdade é. Hogwarts é uma escola grátis e eu sou inteligente o suficiente para me virar depois da formatura.

— Tome muito cuidado com suas palavras, Lily — disse o pai. — Odiaria te apagar da tapeçaria.

— Você não iria — ela respondeu. — E todo o dinheiro irá para Sirius mesmo, então não tenho nada a temer nesse aspecto. A não ser que seu herdeiro agora é Regulus… Duvido que ele tenha acesso aos bancos da família em Askaban, pois é para lá que ele vai. O uso de Adolebitque é um tíquete sem volta para a querida prisão bruxa.

A porta se abriu e passos rápidos entraram, alguém ofegante.

— Quando me disseram que você havia acordado, eu vim o mais rápido possível… — sussurrou a voz de Sirius. — O que está acontecendo aqui?

— Não se preocupe, Sirius — Lily respondeu, seca. — Nosso pai já estava de saída.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!