Estou indo pegar você,
sim, eu estou indo te pegar.
Eu tenho uma surpresa para você
Cuidado, cuidado,
não vá para a cama, não feche os olhos!

— Animal Alpha (Bundy)

Já era noite. Kurama atingiu Yin com uma de suas quatro caudas, fazendo o menino capotar três vezes ao longo do telhado do aeroporto. O pequeno espírito estava com ferimentos e rachaduras ao longo de todo o seu corpo, e completamente esgotado pela luta
com a raposa.

— Vamos tentar de novo, garoto. — o espirito da raposa de nove caudas se aproximou lentamente, erguendo sua terceira cauda, que usava para segurar Yang — Onde. Está. O garoto loiro estúpido. E a menina com olhos peculiares? — Kurama falou o mais pausadamente que pôde, e a cada pausa sua cauda apertava mais a garotinha, causando-lhes rachaduras.

~x~

Hinata olhava o céu pela janela do avião; em poucas horas chegariam à Florença, a moça que sentava ao seu lado dormia profundamente, assim como metade do avião. Naruto planava pelo avião, explorando todos os cantos possíveis, até cansar e voltar para junto da garota.

— Naruto... posso perguntar uma coisa? — a Hyuuga não tirava os olhos da janela.

— Claro. — o loiro respondeu, pairando acima da cadeira ao lado de Hinata — O que foi?

— Qual sua história com Kurama? — ela perguntou, olhando-o pelo canto do olho. Ele ficou sério por um momento e em seguida suspirou.

— Bem... é um tanto complicada... e longa. — Naruto confessou — Mas você tem o direito de saber, então vou tentar explicar.

— Certo.

— O fundador do Clã Uzumaki, a familia da minha mãe, era um dos Nove Celestiais; um grupo antigo que a muito tempo enfrentaram e selaram as nove bestas de cauda, espíritos extremamente poderosos. Kurama ficou sobre a proteção do nosso Clã e foi passada de geração à geração, para o primeiro filho. — ele fez uma pausa para ter certeza de que a garota lhe acompanhava, continuando ao perceber que sim — Quando minha mãe engravidou, os anciãos queriam colocar a raposa no meu irmão gêmeo, por que ele era maior do que eu e logicamente seria mais seguro.

— E o que aconteceu? — Hinata deixou sua curiosidade assumir e soltou a pergunta.

— Alguns dias antes de nascermos, teve uma epidemia na cidade e minha mãe ficou doente; não demorou muito para ficarmos doentes também. O médico achou melhor fazer uma cesária de emergência, mas não deu tempo, já que ela entrou em trabalho de parto antes da cirurgia. Meu irmão mais velho nasceu com pneumonia e foi internado imediatamente; o selo na minha mãe havia enfraquecido, por conta da doença e do parto, então os anciãos colocaram Kurama em mim, mesmo estando febril. Eles não quiseram arriscar.

—Nossa... é realmente... complicado tudo isso.

— É... depois disso eu fui viver no templo, queriam ter certeza de que era seguro me deixar com o espirito da raposa. Depois de uns dois ou três anos, meus pais saíram do templo e me levaram pra viver na cidade com eles.

— Você não os via antes disso? — a Hyuga o fitou.

— Eles me visitavam... meu irmão ia quase sempre. Mas na maior parte do tempo era só eu, os monges e Kurama. Por incrível que pareça aquela raposa mal humorada já foi minha amiga... — o rapaz deu um sorriso triste — ... mas depois que eu me mudei e não fiquei mais sozinho, ele cismou que eu abandonei ele... algo haver com uma coisa que eu prometi, mas não lembro o que era...

~x~

Yin foi lançado na sala de espera pela janela, capotando cinco vezes e parando levemente de lado. Sua perna havia sido destruída e suas costas estava repletas de rachaduras. Kurama se aproximou a passos largos e colocou sua mão na barriga do menino, abrindo novas fissuras que exalavam a essência do jovem guardião.

— Apenas me diga para onde eles foram. — pediu mais uma vez.

O menino olhou para sua irmãzinha caída no chão; ela estava lá a um tempo e tentava aguentar, mas as feridas eram profundas e o seu corpo já estava sumindo. A raposa fez mais pressão, causando uma dor aguda no menino, que soltou um grito por entre os dentes. Rapidamente os olhos de Yin correram para o painel do salão de embarque; onde um segundo voo para Florença era chamado.

Seu vacilo foi breve, mas o suficiente para Kurama notar; um sorriso medonho surgiu no rosto da criatura. A raposa tirou sua mão de cima do garoto, aproveitando para abrir mais o ferimento dele. "Obrigado", ele sibilou e em seguida, se foi.

— M-me desculpe... Yang... — pediu Yin, sentindo as lágrimas escorrerem pelo seu rosto enquanto observava a menina desaparecer — N-não consegui... proteger... você ou eles...

Ela apenas sorriu, como quem dissesse que estava tudo bem, que ele havia feito o melhor e que ela sentia orgulho dele. Mesmo que a pequena Yang não tivesse forças para dizer isso, era tudo o que ela sentia. Os dois irmão desapareceram, suas essências se fragmentara e viraram um fino pó brilhante que subiu aos céus.

~x~

— Você acha que podemos mudá-lo? Digo... ele era bom pra você antigamente, talvez possamos trazer esse lado dele de volta. — Hinata pareceu um pouco mais confiante que o normal, o que fez Naruto sorrir.

— Eu tenho minhas dúvidas, mas é uma possibilidade. — ele sorriu largamente. "Ela está mais otimista, isso é bom" — É melhor você dormir um pouco, ainda temos uma longa viagem pela frente.

— Tem razão. — a jovem ajeitou a cadeira, inclinando a mesma um pouco para trás e se acomodando — Oyasumi. — disse com um sorriso leve.

— Oyasumi. — dito isso, Naruto se retirou para buscar algo com o que passar o tempo.

~x~

— O rastro está próximo... — murmurou Kurama, sentindo o cheiro dos jovens no ar, apesar de estar fraco, dava para seguir. Concentrando seu chakra nas mãos, a raposa criou pequenas esferas brilhantes, azuis e pretas — encontrem a garota e infestem sua mente.

As esferas flutuaram e logo desapareceram na noite escura; Kurama sorriu e voltou a seguir o fraco rastro dos adolescentes.