"Eu me manterei quieta, 

você nem saberá que estive aqui...

você não suspeitará de nada, 

nem me verá no espelho [...]

você não saberá o que lhe atingiu"

 

— Digital Daggers (Devil Within)

— Isso deve dar. – a Hyuuga comentou, colocando uma pilha de cinco livros em cima de uma das várias mesas da biblioteca.

— Pra quê tudo isso? – Naruto questionou, flutuando ao lado da morena.

— O vestibular já é nesse fim de semana, e as provas da escola vão ser na semana que vem. Tá tudo meio perto. – ela explicou enquanto pegava o caderno dentro da bolsa – Então eu vou dar mais uma revisada nas matérias, pra ficar mais preparada.

— Hm... – o loiro fez uma pausa, observando Hinata procurar uma matéria no caderno – Ei, você esteve pesquisando sobre o anel nos últimos dias... certo?

— É, desde a festa do pijama com as meninas, mas não achei nada sobre ou relacionado na internet. Os livros em pdf que eu baixei também foram inúteis. – suspirou, voltando a vasculhar o caderno, parando na matéria de química.

O rapaz não comentou nada, apenas suspirou e se afastou, passeando pela biblioteca. Não havia muita gente no local e todos que lá estavam se concentravam um livros de todos os tipos, desde histórias fictícias até matérias escolares. Passeou por todas as sessões e atravessou estante por estante; ouviu uma conversa entre uma garota nerd e um dos jogadores do time da escola, eles marcavam de se encontrar em algum lugar e não parecia que ambos queriam ser vistos juntos... ou algo assim. "Aquele velho clichê...", pensou deixando o casal de lado e seguindo para o andar de cima da biblioteca.

Acabou indo parar na seção especial com livros mitológicos. Um em especial lhe chamou atenção; o livro não tinha nome, apenas um pentagrama dourado em alto relevo na lateral marrom e desenhos ondulados abaixo do mesmo; não tinha nome da editora ou número do volume. Então o rapaz, não podendo pegá-lo para examinar melhor, voltou para perto de Hinata o mais rápido que pôde.

— Ei, ei, preciso que venha comigo agora. – o Uzumaki a chamou, puxando levemente a manga da blusa da garota.

— O que foi, Naruto? – Hinata não tirou os olhos dos cálculos que fazia.

— Tem um livro estranho lá em cima, sobre magia talvez, eu não sei. – o loiro falava rápido e,reparando que a morena não movia os olhos do caderno, deu a volta e deitou sobre a mesa, usando o objeto de estudo da jovem como travesseiro.

— E-ei..! – exclamou Hinata, corando levemente já que ainda não estava acostumada com maiores proximidades.

— Talvez tenha algo sobre isso lá. – Naruto apontou para o anel na mão da garota, que suspirou convencida a ir.

— Certo, certo. Vale a pena ver. – a Hyuuga sorriu levemente e levantou, seguindo o garoto até a sessão em que ele havia visto o tal livro.

Tirando-o da prateleira, perceberam que realmente não tinha título, apenas um desenho idêntico ao da lateral com um feixe dourado com desenhos marrons, com outra pedrinha violeta, o que fez Naruto lembrar vagamente da bolinha de luz que o fez sair do hospital dias atrás. Não era preciso nenhuma chave especial para abri-lo, logo, ela tratou de começar a folhear.

Tratava-se de um exemplar sobre objetos encantados de todos os tipos, varinhas, colares, braceletes, cajados e etc. Infelizmente não conseguiram explorar muito as páginas, pois o sinal indicando o fim do intervalo logo tocou.

— Podemos dar uma olhada melhor quando voltarmos pra casa. – a morena sugeriu e, com um movimento sutil com a cabeça, o rapaz concordou. Hinata falou com a bibliotecária antes de sair, assinou uma ata e levou o livro. Pouco antes de sair do recinto, o loiro sentiu uma presença familiar, lançando um olhar desconfiado para trás, mas a tal presença desapareceu sem que ele visse nada incomum.

A ansiedade de achar algo que pudesse explicar a situação em que estavam tomou ambos, o que resultou numa sensação de que o dia estava passando extremamente devagar. Naruto chegou a assistir as aulas com a Hyuuga, observando-a estudar e ouvindo as explicações a morena dava para si mesma.

Assim que os alunos foram liberados, o Uzumaki e a garota foram o mais rápido possível para casa. Ino ainda tentou falar com a morena na saída, mas a mesma esquivou-se da conversa e foi embora.

— Ok... isso foi estranho... – a loira comentou.

— O que houve com a Hina? – Gaara, que acabara de chegar e presenciar a cena, perguntou.

— Não sei, mas ela anda meio estranha esses dias. – a Yamanaka deu de ombros – Seja o que for... ela vai falar, uma hora ou outra.

— Ela sempre fala, né? – o ruivo perguntou retoricamente.

Entrou no apartamento e se jogou no sofá, tirando o livro da bolsa e começando a folhear o mesmo, pulando qualquer página que não tivesse o desenho de um anel. O tempo foi passando e, pouco depois da metade do livro, quando começavam a achar que não teria nada lá de fato, os olhos azuis do rapaz encontraram algo.

— Ei ei, espera! – pediu apressadamente, antes que a jovem passasse a página – Olha esse, não é o mesmo??

— Hm? – Hinata colocou a mão em que o objeto estava, comparando o real com o desenho – São... idênticos... exeto pela mancha vermelha no centro, que não tem no desenho.

— Tá, tá, vai lendo ai. – o rapaz mudou de lugar rapidamente, sentando-se na mesa de centro da sala.

— Apressado. – murmurou revirando os olhos perolados.

— Eu ouvi... – o loiro respondeu, igualmente num murmuro.

— "O Izanami Ring foi criado por uma maga em tempos antigos..." – a garota começou a leitura – "O objeto foi criado para dar fim à crueldade de um soberano..." blá blá blá "... o anel contém o poder de separar a alma da pessoa (má) em questão, e aprisioná-la fora de seu corpo, ligada à alguém, com um coração bondoso e capaz de fazer com que a vitima do Izanami se arrependa, sendo libertado após fazê-lo." Bem clichê, mas seguimos.

— Isso não faz muito sentido. – o Uzumaki protestou – Eu sei que sou chato, dou trabalho pros meus pais e não me dou lá muito bem com meu irmão mas... eu não chego a ser cruel.

— Cê tem irmão? – Hinata o olhou surpresa.

— Hina... foco.

— Ok, ok já entendi. Não quer falar dele. – ela voltou os olhos para os desenhos.

— Não, não quero. – Naruto deu de ombros, acomodando-se no móvel. "Nem dele, nem do inquilino" – Enfim, o que mais tem ai?

— Hm. – ela procurou onde havia parado no texto – "Infelizmente, a maga morreu sem concluir de fato o trabalho. Não muito tempo depois, um de seus aprendizes achou uma falha discreta no feitiço: qualquer pessoa poderia estar sujeita a cair no feitiço por uma corrente vital."

— Que? – a garota o olhou igualmente confusa antes de continuar a ler.

— "Isso é, uma gota de sangue era capaz de ativar o Izanami e aprisionar a pessoa no feitiço." Sutil...

— Agora sim faz sentido. Essa mancha na pedrinha deve ser meu sangue, do dia do acidente de carro. – Naruto flutuava enquanto falava – Como desfaz?

— Hm... blá blá blá, não quero saber sobre isso, blá blá blá... aqui, "Como forma de quebrar a ligação pelo sangue, o aprendiz criou um espelho reversor, que se mostrou capaz não só de acabar com esse tipo de magia, como qualquer outra. Ficou conhecido como Espelho Reverso e foi convertido em um lago que só se ativa no solstício de verão ou inverno e os fragmentos da sua antiga forma guardam a entrada. O anel deve ser lavado no lago, quando a luz da lua estiver sobre as águas para que a ligação seja desfeita." Tem ainda umas coisas no verso mas...

— Então é só a gente ir atrás desse tal lago! O soltício de inverno já é no fim da semana que vem, Hina. – o rapaz a interrompeu, estava animado e não fazia questão alguma de se conter. Hinata fechou o livro e o colocou de lado.

— Hm... – a garota fez uma pausa longa – ... podemos esperar, pelo menos, minhas provas passarem? Vai ficar em cima e tudo...

— Não, tudo bem... dá tempo de achar os fragmentos e tals. – Naruto desceu, ficando em pé de frente para a garota – O pior que pode acontecer é a gente ter que esperar até o verão.

Os dois deram um riso baixo, apesar da leve graça do comentário aquilo era algo que queriam evitar ao máximo, afinal, o Izanami mantinha o loiro em coma e a garota numa situação difícil de disfarçar.

— Então, acho que é isso... – Hinata sorriu para o Uzumaki – Eu vou me organizar pra dormir, amanhã tem aula e...

— Ah sim, é claro. Hm... oyazumi. – Naruto abriu um largo sorriso, apoiando as mãos atrás da cabeça. Alguns segundos depois, sentiu a morena abraçá-lo; uma sensação que tinha quase esquecido qual era, de tanto tempo que não recebia um toque sequer, percorreu seu corpo com um arrepio. Lentamente retribuiu ao gesto.

— Oyazumi. – Hinata sussurrou e soltou-se do abraço, seguindo para o quarto em seguida.

Entrando no recinto, parou para fuçar a internet uma ultima vez, agora já sabendo exatamente o que pesquisar. Buscou sobre o Espelho Reverso, encontrando vária lendas em diversos sites; o modo como a história era contada divergia em todos os lugares, apenas uma coisa se mantinha igual: a localização das antigas Torres, onde os fragmentos haviam sido confinados e protegidos ao longo dos séculos.

Imprimiu as informações de uma página, onde o texto estava mais organizado e, depois de separar algumas coisas para o dia seguinte, foi dormir.

Naruto pairava no corredor, deitado no ar com as mãos apoiadas atrás da cabeça, como de costume. Não tirava o abraço recebido da cabeça; apesar de estar na casa da morena a um tempo, não é como se algo assim acontecesse todos os dias, no geral não era comum.

Foi tirado de seus pensamentos com o som do vento uivante entrando pelas portas da varanda, juntamente com as folhas do livro sendo reviradas. Novamente, sentiu aquela presença, estava perto. Moveu-se rapidamente para a sala, o vento parou; o exemplar que pegaram da biblioteca estava sem uma folha.

Seus olhos azuis seguiram até a varanda. Com um pouco de esforço, conseguiu ver uma silhueta familiar, exibindo suas três caudas no telhado de um pequeno prédio do outo lado. Reconheceria aqueles olhos vermelhos em qualquer lugar. A criatura manifestou um sorriso maldoso e desapareceu na noite.

— Então você me achou...