Outra Dimensão escrita por ACLFerreira


Capítulo 9
Os Elos




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Por vários dias, os dois trabalharam arduamente, sem descanso, na biblioteca. Daisuke aproveitava o pouco tempo livre para atualizar seus companheiros. Como ele fora embora, outro fora designado para seu lugar na equipe, mas seu antigo Sensei e seus companheiros estavam mais do que interessados em saber de seus avanços. E queriam que os ensinasse o Jutsu de Invocação.

Não adiantava nada dizer a eles que provavelmente seria uma jornada inglória e infrutífera.

Se Sakura não estava com ele, o que quase sempre acontecia, era seu pai que sempre o vigiava. Seu tio quase sempre estava ausente, mas não podia apostar que o havia deixado em paz. Os únicos que ainda via eram Shisui, Mikoto, sua outra prima, e Izumi, sua tia.

Naquele fim de tarde, os dois caminhavam pela Vila, conversando animadamente sobre o treinamento, quando o garoto subitamente se deteve no meio do mercado. Sakura acompanhou seu olhar e franziu os olhos em antipatia.

Levou vários segundos para a mulher se dar conta da presença deles. Mas sua expressão severa e fria não se alterou ao ver o garoto.

— Vejo que já terminou a aula de hoje…

— Boa tarde, mamãe! – cumprimentou Daisuke, respeitosamente.

Sakura olhou detidamente para a mulher, mas não conseguia crer que ela fosse a mãe de Daisuke. Não a via desde que haviam voltado e não conseguia atinar como uma mãe não se acotovelasse para ver o filho depois de seis meses sem ter noticias.

— Nos vemos amanhã na mesma hora, Daisuke – disse, sorrindo.

— Sim, senhora!

A Senin se afastou no meio da multidão, mas podia sentir o olhar fulminante a suas costas. Não tinha interesse em entrar em uma discussão aberta com aquela mulher, as duas sabiam que ninguém ganharia, mas a antipatia mutua era impossível de se ignorar.

Naruto e Hinata haviam oferecido hospedagem enquanto estava na cidade, mas não quisera incomodá-los. Então, alugara um quartinho, mas era difícil se manter a parte quando a maior parte da cidade a conhecia ou já ouvira falar dela. Era alvo de olhares curiosos em todos os lugares onde ia.

A Lua já ia alta quando ela encontrou um lugar quieto para pensar em tudo o que acontecera nos últimos meses. Deitou-se no terraço, pensando em como teria sido a sua vida se tivesse seguido o passo de seus pais e se tornado uma civil. Era um pensamento que sempre a perseguia quando a tristeza a tomava com força.

Uma sombra cruzou sua área de visão, chamando a atenção.

 

Eles já estavam na Aldeia há seis semanas quando a Reunião dos Kage teve inicio. Todos já tinham sido notificados sobre os acontecimentos do Exame Chunin, mas não haviam se reunido desde então. Acreditavam que antecipar as coisas seria uma vantagem para os inimigos, fossem eles quem fossem, e um sinal de fraqueza. Claro que não os impediu de tomar as suas próprias providencias.

Os cinco estavam reunidos, discutindo os últimos acontecimentos, quando a porta do Salão se abriu e uma sombra apareceu no vão.

A figura caminhou lentamente até o meio do salão até suas feições ficarem claramente perceptíveis.

— O que quer? Você não tem autorização para estar aqui – disse um deles, recebendo um olhar não muito amistoso de dois membros do Conselho.

— Tem alguém que quer falar com vocês.

— E quem seria?

Ela olhou para trás para o outro que se aproximava.

— Não faça isso, não é o momento adequado.

— Não sabemos quando tudo vai acontecer, Sasuke, quanto mais cedo melhor.

Ele balançou a cabeça, contrariado. Ela levou a mão esquerda a boca, fazendo todos se afastarem, como que prevendo o que pretendia fazer. Os olhos brilharam estranhos antes dela fazer a invocação.

Os outros protegeram as cabeças, esperando com certeza um desmoronamento que não veio. Quando finalmente abriram os olhos, viram um enorme tigre em tamanho natural bem ao lado dela. A mulher acariciou a cabeça do felino enquanto os encarava.

— Como eu imaginei…

— Sasuke, você sabia sobre isso? – perguntou Naruto, furioso.

— Era a única coisa que fazia sentido. Ela sempre esteve conosco, não importava o quão difícil eram os desafios. Apesar de ser naturalmente uma médica, ela também tem uma alma guerreira arraigada que ela escolheu não desenvolver em todo potencial. Era lógico pensar que ela era um dos elos psíquicos.

— Eu não sou e nem nunca fui a única. Há outros como eu, mas não é o momento adequado de revela-los.

— Existem espiões no meio de nós?

— Não! – respondeu o felino, telepaticamente. – Eles sequer sabem que são, só descobririam se fosse um desejo de seu elo telepático. Sakura descobriu que era quando curou Tora depois que um dos guerreiros da Areia o feriu gravemente.

— O que faz aqui?

O felino encarou o líder da Folha.

— Através dos olhos de sua companheira, eu tenho acompanhado sua vida e sua determinação, jovem, e, como ela, a admiro. Tudo o que eu vi nos últimos vinte e cinco anos me fez entender o quanto vocês evoluíram desde da Era das Guerras e o quanto a verdadeira paz se tornou um ideal a ser perseguido. Graças a isso, sugeri que reativássemos os elos psíquicos depois que vi a determinação desses jovens em não aceitar se sujeitar ao destino imposto a eles. Ainda discutíamos sobre o que faríamos quando tudo se precipitou.

— Reativassem?

— Depois de tudo o que vimos e sentimos na Era das Guerras, era mais fácil ignorarmos as impressões que inadvertidamente eles nos enviavam e, com o tempo, aprendemos a desligá-las para que conseguíssemos viver em paz. Acontece que Sakura era alguém insistente e teimosa demais para ser ignorada e foi graças a isso que chegamos aqui. Nunca imaginei que ela fosse a precursora da profecia que nossos Anciões fizeram a tantos séculos. Uma que nos obrigaria a nos revelar novamente ao mundo.

Os cinco líderes ouviam a tudo em silencio, esperando.

— Há muito, muito tempo, quando quase fomos extintos pelas guerras, nossos anciões enviaram os poucos sobreviventes dentre nós para um lugar remoto até que nossa existência fosse relegada a lendas contadas pelos Anciões. Mas, nessa mesma época, eles previram que um dia seriamos forçados a sair de nosso esconderijo quando um menino especial, levado pelas mãos da companheira de nosso líder, atravessaria nossas defesas; uma criança de coração puro, rodeado por sombras, longe de tudo o que deveria ser seu. Eu vi a marca nele assim que o vi cercado pelos soldados, mas incapaz de puxar sua arma porque sentia que estavam mais assustados do que ele.

Mas de repente ele se tornou sombrio.

— No entanto, eles também previram que algo terrível está por vir. Por isso, é tempo de abrirmos a portas de nosso santuário e um a um nossos companheiros se revelarão – disse, olhando para todos ao redor. – Eles estão espalhados por cada lugar, escondidos em cada vila e cada país. Todos sem conhecimento do que são capazes.

Ele começou a desvanecer ao mesmo tempo em que ela parecia enfraquecer. Sakura ainda tentou manter a conexão por mais tempo, mas, por fim, a imagem se desfez e ela desabou nos braços de Sasuke, respirando pesadamente.

— Imagino que manter a conexão despende muito chakra – disse o homem, recostando o corpo inconsciente a uma das pilastras. – Seja lá o que não estejam nos dizendo é grave o suficiente para que se revelem depois de tanto tempo.

— Tanto tempo? Conseguiram descobrir algo sobre esses seres? – perguntou um dos lideres, recuperando o folego lentamente.

— Como ele disse, somente lendas – comentou Sasuke, levantando-se lentamente.

— Ela, é ela – disse a mulher, com voz rouca, chamando a atenção deles. – A telepatia pode enganar, mas é uma fêmea.

— Macho, fêmea… Que diferença faz?

— Para ela, muita. Ela é a primeira fêmea a liderar seu povo e por isso sofreu muita oposição quando assumiu no lugar do companheiro quando este morreu.

As pernas, ainda bambas, quase não a sustentavam, então ela teve de se apoiar na pilastra para se manter de pé.

— Nem a mim, mesmo depois de tantos anos de convivência, ela quis dizer a verdade. Disse que não estava preparada para ouvir.

— Como pode querer nos convencer a confiar nela, então, se até mesmo você admite que não há confiança?

— O problema não é confiança… Foi tudo o que ela me disse. A grande questão deles terem aparecido agora foi para preparar seus companheiros para os desafios que virão. O que ela quer é o aval do Conselho para que eles possam desfazer a barreira que separa seu território do restante do mundo.

— E como acham que um bando de Bestas de cinco metros de altura podem simplesmente passar despercebidas? – perguntou outro dos Kages, sorrindo de modo sarcástico. – Eles com certeza não se submeteriam a um Jutsu de Selamento.

— Não seria preciso – disse ela, surpreendendo-o. – Quando chegar a hora, tudo será revelado.

 

A noite enluarada estava estranhamente silenciosa e calma. As pessoas passavam pela Aldeia, despreocupadas, tomando conta de suas vidas, nada fora do comum.

Somente os mais sensíveis viram a luz estranha cortando o céu estrelado. Ela foi seguida por diversas outras que logo não puderam mais passar despercebidas. Logo todos olhavam espantados para o céu, se perguntando o que diabos estava acontecendo.

Naruto e Sasuke estavam no escritório do Hokage quando ouviram a agitação.

— Chegou a hora – disse uma voz a porta, fazendo-os se voltarem.

Sakura estava parada a porta, séria.

— O que está acontecendo? – perguntou Naruto, ao mesmo tempo em que um dos fachos de luz entrava pela janela e acertava em cheio sua companheira.

A luz a envolveu completamente por uma fração de segundo antes de lentamente começar a desaparecer. Os olhos esverdeados tinham um brilho estranho que desapareceu após uma fração de segundo.

— Sakura? – perguntou Naruto, em duvida.

A mulher piscou e instantaneamente ele reconheceu o olhar de sua velha amiga.

— Fica muito mais fácil se esconder desse jeito, não é? – ironizou Sakura, sorrindo.

— Exibida – resmungou Sasuke, cruzando os braços.

— Quantos vieram?

Ela ficou triste.

— Nem todos possuem elos psíquicos, infelizmente, então permaneceram nas cercanias de seus domínios. Outros humanos, por infelicidade, perderam seus contraportes.

— Perderam? Como assim? – perguntou Naruto, surpreso.

— Qualquer dano causado ao elo repercute neles… Basicamente, quando seu elo humano morre, eles também morrem. No entanto, em algumas ocasiões, o humano é salvo, mas é tarde demais para seu contraporte.

— Foi o que aconteceu com o companheiro dela?

— E quase com ela – confirmou a mulher, suspirando. – Foi uma época terrível para os de sua espécie. Quase perder seus dois líderes os fez pensar se realmente faziam bem em se manter a parte dos problemas humanos.

Ela ergueu uma das mãos e apontou a mão espalmada para Sasuke que imediatamente começou a brilhar. Mas logo se desfez.

— Na Quarta Guerra… foi quando aconteceu, não é?

A mulher baixou o olhar pesaroso.

— O passado não vale a pena ser remexido. Nossas escolhas nos fazem ser o que somos hoje. Mas quero que saiba… Ele morreu feliz por deixar o mundo que tanto amava nas suas mãos.

Ele não soube o que dizer por vários momentos.

— Os Kages vão se reunir novamente em breve. Então, devemos começar logo. Os elos de Konoha se reunirão na praça ao amanhecer. Estejam lá…


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