Outra Dimensão escrita por ACLFerreira


Capítulo 6
Explicações


Notas iniciais do capítulo

É hora da verdade...



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A névoa do amanhecer ainda tomava a Aldeia quando os primeiros aldeões começaram a deixar as suas cabanas. Lentamente, um a um começaram a dar inicio a um novo dia, sem parecer perceber a situação estranha que acontecia ao seu redor. Os próprios soldados pareciam sonolentos por causa do tempo.

Foi assim que foram pegos de surpresa pelo ataque. Protegidos pelo nevoeiro, os homens nem viram de onde vinham, sendo vencidos rápido e habilmente. Veio de várias direções, todas convergindo em direção ao mesmo lugar, protegidos pela neblina de modo que um contra-ataque era extremamente difícil. Mas chegar até onde eles queriam era ainda mais difícil.

Como previram, tentaram evacuar os prisioneiros, mas se viram cercados por diversos ninjas que esperavam. Surpreendentemente, quando se viram com todas as chances contra, eles se renderam sem nem mesmo tentarem lutar.

Quando enfim cessaram o ataque, quando enfim conseguiram o que queriam e os médicos cuidavam dos prisioneiros, pararam para analisar o que de real estava acontecendo.

— Foi tudo muito fácil – comentou Shikamaru, olhando a situação sobre controle.

— O que quer dizer? – perguntou Ino, em duvida.

Ele se aproximou de um dos prisioneiros e arrancou sua bandana, chamando sua atenção.

— Você sabia que, pelas leis ninjas, sendo você da minha Aldeia, tenho a perfeita liberdade de executá-lo por crimes contra nosso povo? – disse, fazendo o homem arfar em choque.

Ele jogou a bandana em direção a um de seus companheiros.

— Nem ninja você é. Se fosse um dos nossos, me conheceria e não se apavoraria com tanta facilidade. São apenas peões de sacrifício.

— Uma distração – comentou Sai, sério. – Mas contabilizamos todos os prisioneiros e estão todos seguros. O que queriam esconder então?

— Eles não queriam os prisioneiros – falou Sakura, chamando a atenção de todos.

— Então qual era a intenção de tudo isso?

— Os que conseguiram falar até agora disseram a mesma coisa. Eles foram submetidos a uma série de testes e avaliações, aferiram cada uma de suas habilidades, apenas isso. Acho que nunca foi da intenção deles manterem todos… nem aqui nem em nenhum outro lugar.

— Então o que queriam com tudo isso?

— Lembram das experiências do Orochimaru?

A maioria já tinha ouvido histórias escabrosas sobre as experiências daquele que, um dia, tinha sido um dos ninjas mais respeitados de Konoha. Em sua busca insana pela vida eterna e por cada vez mais poder, ele havia se arrastado deliberadamente rumo a escuridão, fazendo experiências horrendas e proibidas até mesmo com recém-nascidos. Uns poucos, como Yamato, haviam sobrevivido aquela experiência, mas nunca haviam descoberto qual era sua verdadeira família nem seu nome real. Yamato, hoje um respeitado Jounin, nunca conhecera seus pais.

— O problema de se fazer lavagem cerebral é que se corre o risco da pessoa puder ser recuperada e acabar revelando tudo o que sabe. Mas você não corre esse risco se puder condicionar a pessoa desde do inicio.

— Está querendo dizer o quê? Eles estavam selecionando essas pessoas para ver quais valeria a pena clonar?

— Mesmo entre os Uchiha, existem aqueles que nasceram mais bem notados do que os outros. Quais são as linhagens desses jovens?

— Eles devem ter achado que tinham descoberto uma mina de ouro quando descobriram sobre a Sarada – disse Sai, como sempre com sua falta de emoção característica. – Nem o primo nem o irmão dela tinham desenvolvido o Sharingan ainda, então com sua linhagem quanto seu DNA valeria no mercado? Isso mesmo considerando sua linhagem mista…

— Certamente alguém inescrupuloso pagaria fortunas – disse Shikamaru, suspirando alto. – Um tubo de ensaio é bem mais fácil de carregar do que uma pessoa.

— Então, poderemos estar as portas de uma nova guerra? – perguntou Sasuke, chamando a atenção dos outros. – É aquela velha história: Todos querem dominar o mundo!

— Não estou dizendo que é isso, mas é a única possibilidade que faz sentido. Por que deixar para trás todas as pessoas, sendo que tiveram tanto trabalho para captura-las, se já não tivessem conseguido o que queriam?

Shikamaru fez uma careta e voltou-se para um de seus homens:

— Certamente o chefe da Aldeia vai ter muito o que explicar. Fique de olho nele enquanto o Conselho decide quais medidas tomar. Os estragos não foram muito grandes, então basta que mantenham um olho nele para que não fuja. Vamos levar essas pessoas de volta.

Todos assentiram e foram cumprir as ordens.

 

Levou dois dias, mas no final todos conseguiram chegar a salvo em Konoha. Embora Sakura insistisse em querer levar a filha de volta para sua casa, eles precisavam de uma médica experiente para levar os prisioneiros de volta e seus instintos não a permitiram fugir.

Daisuke não saiu do seu lado, observando cada um de seus movimentos. E também a enchia de perguntas que ela pacientemente respondia. Secretamente, ela estava feliz pelo interesse do menino, feliz por ter encontrado um sucessor a altura.

Na mesma hora se lembrou do dia em que perguntara a sua Sensei porque fora que aceitara seu pedido.

— Porque eu senti que você tinha tanto ou até mais talento do que eu no instante em que a vi – dissera, surpreendendo-a profundamente. – Você também sentirá no instante em que o vir.  O herdeiro perfeito para todo esse conhecimento.

Mas um menino que ainda se debatia entre seu lado guerreiro e seu lado médico?

Ela nunca fora uma guerreira nata, sabia o suficiente para não cair no primeiro safanão e tinha uma mente privilegiada o suficiente para dar muito trabalho, ou até mesmo vencer, a maioria dos ninjas que existiam. Somente perante alguém como Sasuke ou Naruto não teria a menor chance, até ela sabia, mas aquele garoto. Simplesmente não tinha como ele ser as duas coisas.

Depois de todos acomodados no hospital, todos foram chamados ao escritório de Naruto para reportar sobre o que ocorrera na Vila dos Artesãos.

— Eles estão trocando acusações – disse o Hokage, com a cabeça apoiada nas mãos. – O Senhor do País do Rio e o Chefe da Aldeia dos Artesãos. Todos concordam que o Chefe da Vila nunca faria toda essa operação sozinho, não tem homens ou recursos para toda essa logística, mas não temos provas.

— E o Senhor Feudal sabe que admitir que tinha conhecimento ou era o Comandante não fará bem nem a ele nem ao seu povo – disse Sakura, séria. – Uma perfeita duvida razoável.

Naruto assentiu, analisando-a.

— Mas algo que fiquei pensando depois da ultima reunião. Acho que nenhum dos dois tem inteligência ou recursos tecnológicos para um plano tão elaborado.

— Você acha que eles foram usados?

— Um país pequeno, com dificuldades financeiras, é alvo fácil para quem precisa de um lugar seguro para fazer coisas que não conseguiria em outros locais mais bem equipados, mas que não fechariam os olhos para as suas experiências.

— Contrata-se alguns Renegados ou Mercenários para fazer a guarda e é só montar o laboratório – salientou Temari, assentindo. – Desgraçados…

— Se isso é mesmo verdade, vai ser quase impossível saber quem é sem a confissão deles – disse Itachi, como chefe do Clã Uchiha, mas todos ali sabiam que ele só ali estava para vigiar o irmão.

— Disso nós vamos cuidar, Itachi, mas sem uma ação armada – alertou Naruto, demonstrando que não aceitaria sua intervenção. – Consegui que o Conselho aprovasse algumas resoluções contra o País do Rio, mas acho que ele vai cair em si antes que consigamos coloca-las em vigor. Ele tem muito mais a perder do que nós.

Todos assentiram e saíram deixando-o sozinho com Sakura, Sasuke e Itachi.

— E como vai ficar o Exame, Hokage? – perguntou Itachi, certamente não querendo sair dali sem o irmão. – A jovem Haruno não tem condições de prosseguir na disputa e você nos garantiu que o Exame desse ano não seria suspenso.

Sasuke o olhou com raiva ao não ouvi-lo tratar a filha pelo nome do Clã, mas nada disse.

— Ela venceu sua luta limpamente, então o Exame está suspenso até que ela esteja em condições ou desista da disputa – afirmou, erguendo a sombrancelha em desafio.

Mesmo para um líder de Clã poderoso como ele, até mesmo alguém arrogante como Itachi sabia que desafiar o Hokage era perigoso. Não pelos inúmeros ninjas que dariam a vida para protegê-lo, mas também por ele próprio ser um ninja muito acima da média e que era um oponente temível em batalha. Mesmo ele estando sem lutar em alto nível a muito tempo…

— É só isso?

— Vamos, Sasuke…

— Vá na frente! Tenho algo a tratar com Naruto.

— Somente com ele? – desafiou, fazendo a única mulher no recinto rosnar com a ofensa.

— O que quer dizer com isso?

— Interprete como bem entender. Não tenho que me explicar para alguém de tão baixo nível…

Com custo, ela controlou o próprio gênio, mas ainda o alfinetou:

— Posso ser alguém imprestável na opinião de seu honrado Clã, mas pelo menos eu não enviaria meu próprio filho para fazer o serviço sujo em meu lugar.

Ele avançou em direção a ela como um raio, mas o próprio irmão o interceptou.

— Cuidado, Itachi! Ela é muito mais forte do que você pensa, então é melhor pensar bem antes de desafiá-la.

— Ela não tem chance contra mim…

— É melhor não apostar nisso…

Ele se libertou do irmão, considerando não valer a pena um confronto direto.

— É só não esquecer que tem uma família para cuidar agora. Você não é mais um homem livre para ficar farreando por aí.

Dizendo isso, ele deixou o recinto deixando um silencio pesado atrás de si.

 

Uma semana depois, o exame recomeçou, com a segurança reforçada pelos ninjas sêniores de várias aldeias, não querendo deixar que seus jovens discípulos fossem prejudicados por algo fora de sua alçada.

Mas a luta mais esperada, entre o filho do Hokage, Boruto, e a filha de Sakura e Sasuke, Sarada, acabou ficando por ultimo. O garoto acabou ganhando, após uma batalha duríssima, mas somente porque ela nitidamente não estava mais em condições de prosseguir. O juiz decidiu dar a vitória a ele depois de ver que a jovem nem mais se aguentava em pé. Quando ela foi declarada a perdedora, caiu desacordada no chão duro de terra.

— Esse é o problema de sangue-misto. Daisuke não perderia tão facilmente – o tio não perdeu a oportunidade de alfinetar, mas o pai nem se preocupou em responder. A garota se mostrara uma oponente formidável durante toda a disputa, mostrando dominar uma variedade incrível de jutsus em uma idade tão tenra. Faria qualquer pai com um par de olhos muito orgulhoso.

Ela ainda estava desacordada quando ele foi encontrá-las no PS do estádio, mas era de pura exaustão, lhe garantiu o medico. Ela não tinha nenhum dano preocupante ou permanente.

Sakura saiu assim que ouviu sua voz.

— Avisa para o Daisuke que partiremos amanhã ao amanhecer. Se ele ainda estiver interessado, é melhor arrumar suas coisas.

— Saiu o resultado dos Exames. Pode dizer a ela quando acordar que foi uma das aprovadas?

Ela nem conseguiu esconder o sorriso antes de voltar a entrar na sala onde a filha se encontrava. A garota estava com os olhos muito abertos sobre a cama olhando para o teto.

— Era o meu pai lá fora?

A mãe assentiu.

— Escutou, você conseguiu.

Ela sorriu, mas logo ficou seria. Sakura ainda ficou em silêncio por um momento antes de questioná-la:

— Por que nunca me perguntou sobre seu pai?

— Sei lá. Todo mundo na Aldeia dava a entender que ele tinha morrido ou algo parecido e eu achava que falar sobre isso só lhe traria tristeza. Quando eu vi a foto, achei que ele fosse algum parente do meu pai, dada a semelhança física, mas nunca pensei que…

Sakura sentou-se em uma cadeira ao seu lado.

— O que quer perguntar de verdade?

Ela se voltou finalmente para a mãe.

— O que foi que deu errado? Eu nunca a vi reagir a alguém tão fortemente quanto reage a ele. Por que você desistiu mesmo grávida?

A mãe suspirou.

— O ser humano é um ser muito emocional, tanto pelo lado positivo quanto pelo lado negativo. Mas, no caso dos Uchiha, isso é muito mais profundo. Não existe meio termo no caso deles, ou eles amam demais ou não amam. Essa situação se reflete em sua principal habilidade, o Sharingan, ativado após o portador ser submetido a uma profunda emoção. O grande problema é que esse mesmo poder se alimenta da mesma energia direcionada a suas emoções, então conforme ele se desenvolve menos energia é destinada as suas emoções.

— Quer dizer que, quanto mais forte ficamos, nos tornamos cada vez mais frios? Foi o que aconteceu com o meu pai? Foi por isso que ele te abandonou?

— Por muito tempo, eu quis acreditar que isso não aconteceria com ele. Sempre pareceu tão forte, tão seguro, uma rocha sólida, mesmo tão jovem – disse, parecendo distante e infeliz. – Quando eu soube que estava grávida, sabia que devia dizer a ele, mas o Clã nunca me aceitaria. Como já acontecera antes, provavelmente o excluiriam do Clã e não haveria nada que seu tio pudesse fazer para impedir.

— Então, o único jeito dele não perder o irmão era impedindo que você e ele se casassem?

Sakura pegou a adaga trabalhada deixada sobre a mesa de cabeceira.

— Quando eu tinha uns cinco, seis anos, me distrai brincando com a Ino e esqueci completamente da hora de voltar para casa. Enquanto voltava, já prevendo a bronca que levaria, dei um encontrão em um menino que vinha em sentido contrário. Eu já o tinha visto pela Vila, mas nunca tinha falado com ele. Achei que ele fosse gritar comigo, ou me bater, mas ele simplesmente me ajudou a levantar e foi embora. Ele nem percebeu que tinha deixado sua adaga cair.

Surpreendida pela mudança brusca de rumo, a menina olhou para a adaga nas mãos da mãe.

— Achei que você tinha dito que ele tinha lhe dado…

— Eu atravessei a Vila para devolver a adaga naquela mesma noite e foi a primeira vez que ele me dirigiu a palavra. Anos mais tarde, quando ele deixou a Vila, ele me devolveu a adaga… quase como se dissesse que iria voltar por mim. Por muito tempo, eu me prendi a essa certeza… mesmo quando tudo indicava que isso só me traria sofrimento e desilusão.

A menina manteve o silêncio, não querendo interromper.

— Naquela noite, tivemos uma terrível discussão. Ele me disse que tinha concordado com os termos do irmão, que iria escolher uma esposa dentro do Clã, que era o melhor para todo mundo. Ele nem tentou se defender quando eu o soquei, mas então eu estava tão zangada que nem conseguia pensar direito – disse, mordendo o lábio inferior. – Dias depois, quando recebi a noticia de que ele já tinha marcado a data da cerimonia, me senti mais traída ainda, mas sabia que tinha de dizer a ele.

— Mas você nunca contou…

— Seu tio me impediu. Eu cheguei a contar para ele que estava grávida, mas isso não o fez ficar do meu lado, muito pelo contrário. Teria morrido naquele dia somente porque eu não era importante o suficiente para ser parte do Clã Uchiha… se não fosse por um membro do Clã que tivesse aparecido naquele momento – disse, suspirando enquanto olhava para fora. – Izumi era a esposa de Itachi, uma jovem mulher que era sabiamente muito mais fraca do que ele, mas que era uma das poucas pessoas a quem ele nunca machucaria. Ela sabia quem eu era, todos sabiam, então me mandou fugir, deixar a Aldeia, pois lá não era mais seguro nem para mim nem para o meu bebê. E foi o que eu fiz. Peguei minhas coisas, a adaga e deixei uma carta esperando que meus amigos acreditassem nas minhas mentiras. Não fui uma atriz muito convincente.

Sarada desviou o olhar, sabendo que aquele era o fim da história.

— Ao Itachi só interessava o que era melhor para o Clã, não acho que ele realmente pensava no estrago que a minha morte poderia causar. Mas o seu pai poderia tê-lo enfrentado e feito as coisas como havíamos combinado se realmente me amasse. Muitas vezes quis acreditar que sua falta de amor era por causa do Sharingan, mas não é verdade. Hoje eu sei.

A menina fechou as mãos em fúria, mas a mãe as pegou e disse:

— Não deixe que o que aconteceu entre nós afete sua opinião com relação a ele. Isso não tem nada a ver com você. Agora que seu irmão vai viver conosco, talvez tenha a oportunidade de saber a verdade e emitir uma opinião mais particular.

E como posso fazer isso se vamos morar tão longe?, pensou, enquanto acompanhava a mãe para fora do quarto.


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