Tsunade não estava nada feliz com os últimos acontecimentos. Kakashi contara tudo sobre o que acontecera diante do hospital e ela não sabia o que pensar.

Lembrava-se vagamente do jovem Uchiha, antigo companheiro do Hatake, supostamente morto em missão vários anos antes, e adoraria ter alguma ideia de como ele sobrevivera ou o que fizera. E odiaria pensar nas consequências do que ocorrera fora de seu conhecimento nos últimos vinte anos.

Será que tudo isso já estava escrito ou foi um ponto fora da curva causado pelas viagens no tempo? Dificil demais dizer!

— O que aconteceu com Obito já estava escrito, infelizmente! – disse uma voz, fazendo-a se voltar e se deparar com Sakura. Ambas estavam no topo do Edificio Hokage vendo o céu escuro pontilhado por estrelas.

— Ele nos trair? Por que não nos avisaram sobre isso?

— Cada um possui sua cruz para carregar, Tsunade! Algumas mais pesadas do que outras e cada coisa que acontece em nossas vidas tecem o fio que determinará os caminhos que trilharemos a partir dali. O que houve com o jovem Uchiha era necessário…

— Necessário? Para quem? Kakashi?

O Elo colocou-se ao seu lado, olhando as estrelas.

— Hatake dava tão pouco valor a vida e as outras pessoas que estava apenas a um passo de ser quase um nukenin ou até mesmo um psicopata. A perda do amigo que ele nem sabia que tinha e em uma idade tão precoce ensinou-lhe o verdadeiro valor da vida e da lealdade. O fez fazer as pazes com seus sentimentos e a perdoar o pai. Finalmente ele compreendeu o quão valioso pode ser ter um amigo ao seu lado.

A Hokage suspirou.

— E quanto ao Obito? O que tudo isso serviu a ele?

— Cada um faz as suas escolhas e elas determinam seu destino. Mas nada do que aconteceu aqui há duas noites deveria ter acontecido… No embate dos dois amigos apenas um saiu vivo originalmente.

— E o que isso quer dizer?

— Uchiha foi colocado frente aos seus demônios mais sombrios e acabou descobrindo que era apenas um espelho. Ninguém gosta de se ver no espelho, não é? Agora ele terá muito mais tempo para descobrir se quer se redimir por seus atos ou se não há mais salvação para a sua alma.

— E pode ser a chave para acabar com isso?

— Ele terá de decidir isso.

A Hokage voltou a olhar as estrelas sem saber bem o que pensar.

— Os ex-conselheiros vieram me contar a breve conversa que vocês tiveram… Se importa de me dizer o que quis dizer?

Lilith a olhou, certamente não muito certa se valia a pena contar.

— Um dia todos nós teremos de pagar por nossos pecados. Se não for nessa vida, será no pós-vida ou até mesmo na próxima. Na guerra, algumas coisas vão acontecer que não posso mencionar porque na verdade serão necessárias.

— E se eu souber vou tentar impedir…

— Nem tudo no futuro tem que ser impedido, Tsunade-sama! Muita coisa foi alterada, às vezes acho que coisas demais e outras gostaria sinceramente que tivessem sido desnecessárias, mas o destino é complicado. Mas brincar com ele é ainda mais complicado e perigoso.

Ela se voltou para ir embora, deixando Tsunade a sós com os seus pensamentos.

Sakura estava em cima do Monte Hokage, olhando sem realmente ver a paisagem. Ter de ser a mente sensata em um mundo prestes a entrar em colapso era muito cansativo, mas era bom que eles ainda não soubessem de tudo que estava prestes a acontecer. Aí sim o pânico e a paranoia poderiam tomar proporções gigantescas.

Ela suspirou ao sentir alguém se aproximar. Era uma das coisas que eram necessárias para o futuro.

— Por que me chamou aqui?

— Você é a única que eu sei que pode fazer essa missão sem que ninguém saiba por causa de suas habilidades com selos, Karin – disse, voltando-se para a ruiva que a fitava em dúvida. Retirou o pergaminho do meio de suas vestes e estendeu a ela. – Entregue a Orochimaru sem que ninguém mais saiba ou se aposse dele e diga que é para usá-lo apenas em último caso.

 A jovem kinoichi pegou o pergaminho.

— Posso saber o que é isso?

— Uma cópia do pergaminho dos Hokages – disse ela, surpreendendo a outra. – Entende porque não pode cair em mãos erradas?

A ruiva assentiu. Sabia o quanto a companheira estava se arriscando ao retirar aquele pergaminho da Aldeia e não pode deixar de sentir um arrepio. O que é que ela não estava querendo revelar para aquilo ser necessário? Mas sabia também que ela jamais revelaria.

Se foi em um piscar de olhos, deixando a outra com ar pensativo. De forma estranha sabia que podia confiar nela apesar de mal conhecê-la.

Os lideres das Aldeias estavam em polvorosa após serem informados pelos seus espiões do ataque a Konoha e as tensões estavam cada vez mais perceptíveis. Tsunade sabia que certo ou tarde teria de revelar a verdade sobre Sakura e Sasuke, então solicitou uma reunião com os Kages.

No entanto, solicitou a presença dos dois ninjas, além de Naruto e Hinata.

— Haverá uma reunião entre os Kages aqui na Aldeia da Folha – foi logo revelando, surpreendendo os quatro amigos. – Eles não dizem, mas sinto que estão ficando impacientes, desconfiam que estamos escondendo alguma coisa deles.

— E o que quer que façamos? – perguntou Sasuke, os braços cruzados deixando claro que sentia que não tinha boa coisa.

— Reativem os Elos – pediu, mas seu tom de voz deixou claro de que não era um pedido.

Os dois se entreolharam, em duvida.

— Desculpe, Hokage, mas é muito arriscado – argumentou Sakura, balançando a cabeça. – Informação demais, isso além do fato de que nem todos são ninjas.

— Facilitará a comunicação entre as Aldeias sem que Shimura possa perceber o que está acontecendo.

— Está pedindo que eles tomem partido de nós? – perguntou Hinata, em duvida. – Se bem entendi, eles são apenas espectadores, não assumem qualquer posicionamento contra ou a favor de qualquer um.

— E se eu entendi a intenção deles até agora é impedir o futuro catastrófico que seus oráculos previram, não é?

Sakura suspirou, fechando os olhos.

— Temos de dar um voto de confiança a eles e fornecer o acesso aos Elos presentes entre eles pode significar isso – disse a Hokage, fitando sua discípula sem deixar de perceber a tensão em seu corpo. – Por enquanto, eles sequer desconfiam…

— O problema não são os Kages… são aqueles dentre nós que poderiam ajudar, mas não o querem. Acham, e infelizmente concordo com eles, que mexemos demais nos fatos. O Tenseigan até mesmo seus filhos – disse, surpreendendo a Hokage que a fitou sem compreender. – Ops, falei demais.

— Esse é o problema de passar tempo demais aqui – disse Sasuke, balançando a cabeça. – Acabamos influenciados demais.

— Mas não é isso que buscavam? – perguntou Naruto, chamando a atenção deles que o fitaram surpreendidos. – Diga-me, por que você passou a olhar através da Sakura?

Lilith ficou muito tempo em silencio antes de revelar:

— Curiosidade… eu achava que era curiosidade. Tudo o que eu tinha ouvido dos humanos até então era baseado nos fatos datados de séculos atrás. Ninguém sabia me dizer se algo havia mudado, se vocês haviam evoluído ou se até mesmo havia sobrado alguém. Fazia tantos anos que não nos conectávamos a essa realidade que ninguém mais sabia como fazê-lo. Levei alguns bons anos para descobrir o caminho e fiquei mais do que frustrada por descobrir que nem receptáculo eu tinha. Tinha quase desistido quando enfim a conexão se completou. E finalmente percebi o que procurava – disse, sorrindo de forma quase imperceptível diante das lembranças. – Nosso mundo era vazio, vazio de sentimentos. Passamos tanto tempo sem nos importarmos com algo mais do que nós mesmos que esquecemos o que era sentir. Levei muito tempo para convencê-los disso, mas agora…

— Eles se importam demais – disse Naruto, balançando a cabeça. – Se eles se importam tanto com o que pode ou não acontecer conosco, o que os impede de nos ajudar e nos guiar para o caminho ideal?

— Talvez eles acreditem que não são os melhores exemplos – opinou Hinata, surpreendendo a Hokage porque Lilith não contrapôs.

— É esse o problema? Eles têm medo de errar?

— Como eu disse, não sabíamos mais o que era sentir. Tudo isso é relativamente novo para nós e nossos conselheiros não sabem o quanto essa interação pode trazer de bom e ruim para os dois lados.

— Errar e acertar faz parte de nosso aprendizado, Lilith – disse Tsunade, fitando os olhos chapeados da entidade. – Como você mesma disse, veio para cá para aprender conosco o que faltava no seu povo. Aprender a lidar com os sentimentos é tão importante quanto saber reconhecê-los e isso é uma coisa que cada um tem que aprender. Não há uma receita de qual é a forma ideal, cada um tem que saber qual é a forma que mais lhe convém.

Lilith se retirou rapidamente, mas foi Sasuke que respondeu:

— Ela ficou de falar com eles.

A Hokage simplesmente assentiu. Afinal, já era um começo.

Alguns dias mais tarde, os Kages se reuniram na Aldeia. Tsunade mandou triplicar a segurança na Vila, sabendo que uma reunião daquelas era um chamariz para um ataque em larga escala.

Mas a surpresa maior foi quem os acompanhava.

Logo cedo, quando os primeiros começaram a chegar, Kurama gritou, fazendo Naruto cair da cama e olhar para os lados parecendo se perguntar se estava havendo um ataque a Vila.

— Acorda, gaki!

— Kurama, por que está me acordando tão cedo?

— Tem alguma coisa errada.

— Como assim? É a reunião dos Kages hoje, é normal que a Aldeia esteja agitada.

— Sim, mas… eu nunca senti a energia de todos os meus irmãos juntos.

Enfim o garoto compreendeu a apreensão e a ansiedade da companheira e passou a se arrumar rapidamente e indo em direção ao prédio Hokage onde seria a reunião.

Tsunade já estava a postos no topo do prédio, olhando a entrada da Aldeia sem saber ainda se Lilith e Drake haviam conseguido convencer seus conselheiros a colaborar.

Ela estava concentrada no que iria fazer quando um pico de energia se fez presente fazendo todos os seus Anbus surgirem e se colocarem posição de ataque.