Outra Dimensão escrita por ACLFerreira


Capítulo 47
Verdade dolorosa




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Sakura correu para junto da garota caída de lado e começou a cuidar de seus ferimentos enquanto que as pessoas ao redor apenas observavam impassíveis o desenrolar dos acontecimentos. Concentrada no que fazia, nem percebeu que seus companheiros pareciam prestes a avançar contra a multidão que a tudo assistia.

Como assim? Uma criança quase morre tentando salvar o chefe do Clã e eles continuam agindo como se ela sequer existisse?

Depois de fechar o ferimento mais sério, pegou a pequena nos braços e se voltou para o grupo.

— Onde ela pode descansar?

— Em qualquer canto – respondeu Takashi, sem nem olhar para as duas.

— Só para constar, ela acabou de salvar sua vida – disse a Haruno, os lábios crispados. – No mínimo, deveria oferecer uma cama para ela descansar.

— Ela não é nada minha! – disse, afastando-se, mas Hinata o interceptou.

— Não é o que eu ouvi – disse a jovem, fazendo-o estancar receoso. – A menos que queira que diga a todo mundo como foi que ela chegou a essa situação e por que a despreza tanto, é melhor arrumar um lugar para ela.

A última declaração foi feita em tom muito baixo, mas Takashi ouviu e se voltou aos seus criados.

— Levem-nos até meus aposentos.

Sakura fez questão de acompanhá-los, duvidando muito que eles fossem cuidar adequadamente da criança. Após serem acomodadas em um quarto luxuoso, ela prosseguiu com o tratamento e já era bem tarde quando foi atrás dos companheiros.

O grupo se reunia no salão principal da casa parecendo muito insatisfeitos com tudo o que acontecia. Eles se voltaram quando ela abriu a porta.

— Ela vai ficar bem. O Giro Celestial impediu que houvesse ferimentos mais sérios.

— Tão jovem e tão habilidosa. Me lembra o Neiji – comentou Hinata, sorridente. – A única diferença é que meu primo com sua idade já conseguia fazê-lo com perfeição.

— Com um pouco mais de treinamento, com certeza ela vai conseguir – comentou Naruto, colocando as mãos atrás da cabeça. – Considerando que ninguém nunca se preocupou em treiná-la, até que ela tá indo bem.

Sakura sorriu, passando a mão pela nuca.

— O que me preocupa é deixá-la aqui quando formos embora. Do jeito que as coisas estão não vai chegar nem a adolescência.

— A vida dela é aqui, Sakura, não há nada que possamos fazer – disse Hinata, a expressão neutra.

— Talvez Botsuma e sua família possam cuidar dela. Afinal, os Hyuugas farão parte de Konoha de qualquer forma.

A companheira balançou a cabeça com tristeza.

— Mahina nunca pisou em Konohagakure. Morreu defendendo o Clã meses antes de se unirem aos Senju.

— Como pode ter tanta certeza disso? – perguntou a médica, séria.

— Neiji me contou sua história. A garotinha que foi desprezada como a vergonha do Clã quando a única verdadeira vergonha que existia era o pai dela, mas Takashi Hyuuga jamais permitiria que seu filho e herdeiro fosse taxado assim por mais verdadeira que fosse a acusação. Por isso, ele a despreza porque vê nela tudo o que ele não tem coragem de ver em seu filho. A culpa de tudo o que aconteceu recaiu nas costas da mãe dela que foi expulsa de casa por sua família e acabou morrendo dando a luz a ela. Nenhuma das duas famílias quis se responsabilizar pela criança e só Deus sabe como ela sobreviveu até os dias de hoje.

— Não vai ajuda-los ficar aqui difamando minha família – disse alguém, fazendo-os voltarem-se.

— Eu disse alguma mentira por acaso?

O homem suspirou, atravessando o recinto em direção aos quatro companheiros. De súbito, estalou os dedos e o grupo se viu cercado por vários guerreiros Hyuugas todos com o Byakugan ativado.

Nenhum deles se moveu, apenas continuaram observando, analisando as coisas ao redor mesmo quando eles atacaram todos de uma vez. Mas, no segundo seguinte, estavam todos no chão, inconscientes.

Hinata se aproximou de Takashi e o removeu do genjutsu antes de todos. O homem acordou confuso, olhando para todos os lados e vendo seus guerreiros caídos, mas parecia não entender como fora parar ali.

— Quem são vocês?

A jovem parada ao seu lado piscou várias vezes.

— Você não nos reconhece? – perguntou, fazendo-o balançar a cabeça de um lado para o outro em negativa. – Qual é a última coisa de que se lembra?

O homem pareceu ainda mais confuso e demorou vários segundos para responder:

— Eu tinha acabado de chegar da prisão onde meu filho, Tajima, estava detido e eu estava tentando decidir como ia proceder para puni-lo. Lembro de pensar que a única alternativa fora a pena de morte seria o banimento, mas os membros do Conselho não iam aceitar…

— Isso foi há dez anos – disse a jovem, fazendo-o arregalar os olhos em confusão total.

— Não, isso foi ontem!

— Sua neta que está lá dentro se recuperando depois de quase morrer tentando salvá-lo de um atentado já tem dez anos. É a filha de Tajima e Akemi, a mulher de quem seu filho foi acusado de estuprar.

Seus três companheiros abriram a boca em espanto. Takashi, no entanto, se levantou mesmo com dificuldade e atravessou a mansão até o local do chakra estranho que sentira em sua casa.

Ao se deparar com a menina deitada na cama, uma versão bem jovem da pobre mulher que sofrera horrores nas mãos de seu filho, se deteve. O corpo pequeno e magro e os cabelos desgrenhados foi uma visão demais para sua sanidade e ele teve de se apoiar no batente da porta buscando apoio.

— O que foi que eu fiz?

— Alguém estava controlando a sua mente – disse o homem de cabelos negros cor de carvão, surpreendendo-o. – Quando Hinata o retirou do genjutsu em que o coloquei para evitar o confronto, retirou também o controle mental sem perceber.

— Quem faria isso? Com que proposito?

— Quem se beneficiaria em controlar o senhor? Ou melhor, quem foi que se beneficiou?

— Tajima não tem habilidades com genjutsus… Eu mesmo o treinei, ele sempre foi uma perdição nessa área.

— Parece que alguém o está ajudando – disse o loiro, chamando sua atenção. – O salvam da morte e ele entrega o comando do Clã nas mãos deles sem se importar com quem vai sacrificar no caminho.

— Sei que vou me arrepender de perguntar, mas o que foi que aconteceu com Akemi? Por que não está aqui cuidando da filha?

Os dois rapazes se entreolharam.

— Ela morreu no parto da Mahina – respondeu uma outra voz, fazendo-o realmente se arrepender de perguntar. – Depois que o Tajima foi absolvido, fizeram todos acreditarem que ela armou toda a situação buscando se beneficiar já que sabia que era uma relação proibida. Os pais a expulsaram de casa e ninguém a ajudou no parto. Quando acharam as duas, era tarde demais para ela.

— E ninguém cuidou da Mahina – supôs o homem, passando as mãos pelo rosto. Sabia dos costumes do Clã, filhos de mulheres perdidas não eram obrigação de ninguém, comumente morriam de fome ou vitimas das intempéries. Era um milagre a pobre criança ter chegado tão longe. – Hinata, não é? Quem é você e quem são seus amigos?

— Vou explicar tudo. Sasuke, Naruto… Podem ajudar a Sakura com os guerreiros no salão?

Os dois homens se foram sem discutir, deixando-os.

— Viemos do futuro… quase cem anos adiante e eu sou sua neta.

— Você é filha de Tajima?

— Oh, meu Deus, não! Meu avô é o seu filho mais novo, Yudi – disse, mas viu que o homem não entendeu e lembrou: – Ele ainda não nasceu.

Os dois continuaram conversando por alguns momentos e depois decidiram retornar ao salão onde os guardas estavam já devidamente amarrados. Só então Takashi reparou no jovem moreno e no loiro que seguiam sua suposta descendente. O fato de ter colocado tantos guerreiros de uma única vez em um genjutsu além de sua aparência física o fez crer que provavelmente era um Uchiha, mas foi o loiro que mais lhe chamou a atenção. Ele tinha um nível de chakra incrivelmente alto e havia pouquíssimas pessoas que já vira com esse nível tão alto. E todas elas eram Uzumakis, guerreiros formidáveis em batalha, mas todos tinham cabelos ruivos em diferentes tonalidades. Mas aquele jovem tinha cabelos loiros.

Os três jovens voltaram-se em sua direção ao ouvir seus passos. Uma Hyuuga, um Uchiha e provavelmente um Uzumaki… Que Aldeia era aquela que seu povo faria parte e poderia reunir em um único time três dos Clãs mais poderosos do Mundo?

— Como estão todos, Sakura-chan?

— Vão acordar em algumas horas – respondeu a segunda mulher no salão, fazendo-o finalmente reparar nela. Só então viu suas mãos brilharem estranhamente poucos antes da luz sumir e ela se levantar.

Era muito raro pessoas com aquela tonalidade de cabelo, embora não tão raro fossem olhos verdes. Na verdade, nunca vira alguém com cabelos cor-de-rosa e olha que já vira muitos guerreiros de diferentes Clãs em sua vida.

— Obrigado por sua assistência, iro-nyn! – disse, novamente ignorando a jovem, sem reparar que a jovem estreitava os olhos perigosamente em sua direção. O loiro e o moreno olharam imediatamente em sua direção pressentindo problemas.

Ela começou a esfregar as mãos enquanto a porta de madeira maciça bateu subitamente, fazendo seus três companheiros darem passos atrás.

— O senhor ia dizendo…

Takashi olhou em sua direção novamente, os olhos estreitados. Talvez estivesse enganado com relação aquela menina.

— Foi você? – perguntou, mas ela simplesmente ergueu uma sobrancelha. – Uma Senju, certo?

— Sakura Haruno-Senju, se te interessa saber – disse a jovem, cruzando os braços, analisando os guerreiros ao redor. – Não podemos matar ninguém para não alterar o curso dos acontecimentos, por isso apenas os contivemos, mas isso não se aplica ao psicopata do seu filho. Afinal, felizmente ele não produziu mais nenhum herdeiro direto.

— Psicopata?

— Seu filho é o estereotipo do que chamamos de psicopata. Há uma linha tênue entre um guerreiro leal que mata para proteger sua família ou sua Aldeia e aquele que mata ou tortura pelo simples prazer do ato. É o que chamamos de psicopata, uma espécie de distúrbio mental que impede o individuo de sentir empatia ou piedade por qualquer pessoa – esclareceu, encarando-o com tristeza. – O guerreiro mostra piedade e empatia matando rapidamente seu inimigo, mas o psicopata se diverte atrasando cada vez mais o momento da morte. Desgraçadamente, não há cura nem mesmo no nosso tempo.

— Quer dizer que ele ama apenas a si mesmo?

— Muita das vezes nem a ele mesmo. Se odeiam até mais do que as outras pessoas a ele. Por isso, muitos morrem em confrontos suicidas tentando inconscientemente livrar o mundo do lixo que são.

Takashi a encarou por longos momentos pensando no quanto aquela menina lhe lembrava Botsuma, o atual líder do Clã Senju.

— Mas temos de mantê-lo vivo pelo menos por enquanto – disse o moreno, cruzando os braços. – Pelos menos até que ele nos leve até quem o está ajudando.

Apesar da tristeza pelo destino do filho, Takashi assentiu. Seu povo era mais importante do que um homem que era incapaz de se importar com quem quer que fosse.


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