Outra Dimensão escrita por ACLFerreira


Capítulo 41
Pária dos párias


Notas iniciais do capítulo

Boa noite!!!
Sei que prometi que não iria enrolar, mas tenho de colocar algumas ideias no papel antes de seguir para a Guerra. Se Boruto já não tivesse problemas o suficiente com o avô xenófobo...



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A praça da Aldeia estava lotada. O festival é uma das poucas épocas do ano em que todos os membros dos Clãs se reuniam para comemorar a fundação de Konoha. As pessoas vestiam suas melhores roupas e saiam pela Aldeia para comemorar.

Como todos os anos, a Hokage deu inicio as atividades e todos riam e se divertiam, conversando em pequenos grupos. Alguns casais aproveitavam as festividades para assumir publicamente, alguns não eram nem um pouco surpresa, mas outros eram uma total surpresa.

Os amigos riam enquanto Fuu arrastava o tímido Haku pelas barracas enquanto sussurravam risonhos o fato do Hatake, pela primeira vez, ter decidido trazer alguém. Um mulherengo inveterado, o experiente jounin era famoso por não se apegar. Por isso, os amigos e seus alunos olhavam com curiosidade para a belíssima mulher que o acompanhava naquela noite.

Guy não se cansava de provocar o amigo recebendo um olhar mortal ao deixar a pobre mulher cada vez mais vermelha. Mas o jounin mais hiperativo da Aldeia não se tocava… nem mesmo quando Kakashi deu um soco no topo de sua cabeça esperando que assim ele se tocasse de sua falta de tato.

Os jovens riram ao ver a cena.

— Até mesmo Kakashi-sensei decidiu se amarrar… Estou me sentindo encalhada – lamentou Ino, a cabeça baixa, deprimida.

— Não seja tão melodramática, Ino – disse Sakura, rindo, seguida pelas demais que esperavam pelos seus pares.

— Isso mesmo, eu também não tenho par e não fico me lamentando por aí – tentou consolá-la TenTen, mas a outra a olhou sarcasticamente.

— Sério? Pensa que eu não sei sobre você e o Neiji?

A morena ficou mais vermelha que um pimentão enquanto as demais a fitavam espantadas.

— Você e o Hyuuga marrentão? – perguntou Sakura, rindo logo depois, recebendo um olhar ressentido de Hinata por falar assim de seu primo.

— Neiji é meu amigo, só isso! Nunca seremos mais do que isso – disse, olhando para o próprio copo de modo que a ultima frase quase saiu em um sussurro.

As outras três ficaram sem jeito percebendo que haviam tocado em um ponto sensível. Era de se esperar que, como líder da família secundária, Neiji desse um bom exemplo aos demais e escolhesse uma esposa adequada dentre as famílias Hyuuga. Mesmo que isso não fosse sua vontade… Isso não contava na concepção deles e foram criados para aceitar e se conformar de que não lhes era permitido nem mesmo escolher seus próprios companheiros.

Hinata também olhava para o próprio copo, silenciosa. Havia uma semana, seu pai lhe informara que já dera andamento aos papeis para o acordo matrimonial dela, intermediado pelo Conselho. Na concepção dele, era um excelente acordo, um rapaz de boa família e herdeiro de uma vasta fortuna, mas ela não se sentia feliz. Principalmente considerando o fato dos rumores de que ele tinha uma amante no Vale.

Ela suspirou.

— O que foi, Hinata? Parece tão distraída – perguntou TenTen, feliz por encontrar uma forma de desviar o assunto de sua vida amorosa desastrosa.

— Estou noiva.

As demais ficaram em silencio por segundos.

— Nem sabíamos que estava namorando – disse Ino, percebendo imediatamente a gafe. Ela devia saber que os Hyuugas não namoravam, comumente só conheciam seus futuros maridos as vésperas do noivado.

— O acordo foi finalizado a uma semana – disse a jovem, suspirando.

— Você o conhece pelo menos? – perguntou Sakura, sorrindo, mas ele logo sumiu ao ver o ar deprimido da amiga. – Não vai me dizer que é feio da dar dó?

— O problema é que ele quer esse casamento tanto quanto eu – disse, virando o copo de saquê em um único gole. – Seus pais sabem que ele já tem uma esposa em mente e não deseja ninguém mais, mas não querem nem saber da possibilidade.

— E por que não? Ela não é uma Hyuuga?

A menina riu.

— A maioria das pessoas pensa que meu Clã tem apenas duas subdivisões, mas desgraçadamente são três.

— Desgraçadamente? Como assim? Há uma família terciária?

— Família terciária? Oficialmente, essas pessoas são parte da família secundária, mas na prática não são considerados nem parte do Clã. Eles vivem em uma área isolada dentro do Distrito Hyuuga, onde apenas nós temos acesso, e são os párias dos párias dentre nós. Até mesmo aqueles de nós que não tem grande habilidade em nosso taijutsu ou tem baixo nível de chakra estão acima deles. Ao nascerem, seus byakugan são retirados e são tratados como saco de pancada a vida inteira.

Suas três companheiras a fitavam em choque. Como um Clã que se orgulhava tanto de sua linhagem tratava seus próprios membros desse jeito?

— A Hokage permite isso?

— Ela não pode resolver algo do qual nem tem conhecimento – disse ela, balançando a cabeça. – Tudo começou a muito tempo atrás. Como sabem, membros da família secundária são proibidos de se casarem com membros da primária, isso relacionamentos oficiais, mas como sabem relacionamentos clandestinos são inevitáveis. Com o tempo, os filhos dessas uniões se tornaram um grande problema para o Conselho, rejeitados por ambas as famílias, e não havia jeito de parar já que já nessa época os casamentos eram arranjados. Então, para resolvê-lo, ao invés de tomar um posicionamento, o Conselho decidiu isolá-los, longe dos olhos dos membros mais conservadores, e, como símbolo de seu status, decidiu que nem ao Byakugan eles tinham direito. Assim, quando uma mulher dá a luz a um “bastardo”, ela tem seus olhos removidos, assim como o recém-nascido, e é removida a essa área.

— E o homem? Continua vivendo a vida como se nada tivesse acontecido?

Hinata voltou a suspirar.

— Faz alguns anos que descobri que meu pai mantem uma família lá… a criança mais velha é doze meses mais velha do que eu. O filho homem que meu pai sempre quis teve de ter seus olhos removidos para manter as tradições do Clã. E Hiashi Hyuuga nunca fez nada para protegê-los. Meu tio, Hizashi, quis casar-se com ela quando ficou sabendo de sua gravidez, já quando meu pai estava casado com minha mãe, mas o grande Hiashi proibiu a união. Preferiu rebaixá-la a pária ao invés de dar-lhe um status mais respeitável. E ela ainda o aceita apenas por amá-lo.

Sakura baixou a cabeça, surpresa demais para continuar a questioná-la. As outras duas mantinham as expressões atônitas.

De repente, Hinata pousou a mão sobre o ombro da outra morena, surpreendendo-a.

— Acha mesmo que vendo uma realidade dessa meu primo se arriscaria em um relacionamento que jamais seria permitido pelos membros “respeitáveis” do meu Clã? Ele passou a vida defendendo essas pobres pessoas… que fazem parte dos Hyuugas aqui fora, mas lá simplesmente não existem.

De repente, o olhar dela desviou-se em direção a um outro grupo que conversava a pouca distância mais especificamente para um dos rapazes. Sua postura austera e fria era bem característica dos Hyuuga, mas seus olhos eram castanhos-escuros. Seus cabelos também eram outra diferença, ao contrário dos cabelos cumpridos, comuns entre os homens do Clã, ele tinha os fios lisos pouco acima das orelhas e alguns fios rebeldes caiam-lhe na testa.

— É o seu irmão? – perguntou Ino, notando a semelhança surpreendente com Neiji e, consequentemente, com Hiashi Hyuuga.

— Se chama Ren Hyuuga, foi companheiro de Academia de Neiji.

— Mas ele não leva nenhum símbolo do Clã – comentou Sakura, vendo-o com um kimono simples, mas bem passado e limpo.

— Depois de crescer como pária, apesar de ser filho primogênito do líder, te surpreenderia se ele não odiasse sua família? Ele é quase tão bom quanto nosso primo… seria mais se tivesse o Byakugan que lhe foi negado. Seu sonho é levar a mãe e os irmãos para longe do Distrito, mas ela se recusa a abandonar nosso pai.

Ao perceber que era observado, o rapaz voltou-se onde as quatro o observavam. Por segundos, seus olhos tiveram um brilho estranho, mas logo sumiu e ele desviou o olhar. Fora do Distrito, como não tinha o Selo, ele não podia ser obrigado a prestar respeito a irmã mais nova, mas, se alguém o visse, sua família sofreria as consequências. Ele então curvou a cabeça lutando contra a careta de raiva que lutava para curvar-lhe os lábios. Ninguém sabia que eram da mesma família, então era a atitude esperada dele.

Hinata suspirou enquanto desviava o olhar, uma lágrima silenciosa rolando pelo seu rosto. Aquilo era humilhante para o seu irmão, compreendia bem demais, mas jamais poderia protestar contra algo tão injusto… pelo menos, não enquanto não fosse a líder.

O rapaz se afastou em silêncio, acompanhado pelos seus amigos que nada comentaram.

— O mundo é tão injusto – suspirou Sakura, vendo o belo rapaz se afastar. – O que passa na cabeça das pessoas para pensar que seus desejos e aspirações estão acima do bem-estar até mesmo de seus próprios filhos?

— Fomos criados para não sentir, Sakura, não demonstrar nossas emoções – disse Hinata, sorrindo ao lembrar-se de seus próprios anseios. – Sermos os melhores, a qualquer custo, e nos conformar com nossos destinos. A tristeza é que meu irmão deveria ser o líder, mas nunca será porque meu avô não quis que seu filho se unisse a uma de classe inferior. E, mesmo quando descobriu que um garoto havia nascido, se recusou a admitir seu erro esperando que minha mãe também desse um neto a ele. Se amargura até hoje pelos deuses terem escolhido outro destino a sua linhagem e pelo seu filho se recusar a desposar outra mulher.

— Talvez seu pai a ame – comentou Ino, erguendo uma sobrancelha.

Hinata sorriu, irônica. Se fosse o caso, seu pai teria criado o próprio inferno pessoal ao dar continuidade a essa prática mesmo depois de ser capaz de mudá-la, e não pode deixar de sentir certo conforto.


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