Sakura aproveitava a chuva quase constante na Aldeia para lavar as mãos sujas de sangue. As tochas que os meninos haviam providenciado forneciam uma parca iluminação, mas sua expressão era da mais pura tranquilidade. Parecia uma médica que havia acabado de realizar um procedimento bem-sucedido.

— Seu coração mole ainda vai colocá-la em sérios problemas.

Ela nem se voltou ao ouvir a voz de Sasuke atrás de si.

— Pense, Sasuke! Eles seriam valiosos aliados em um futuro próximo, não é? Se você salva uma vida, pessoas como eles nunca se esquecem.

— Como pode ter tanta certeza?

Ela sacudiu as mãos para secá-las.

— Você acha mesmo que ela sobreviveu por causa dos papéis?

— Você abortou o ataque?

— Eu não… Lilith.

O rapaz suspirou, contrariado.

— Ela já a conhecia, não é?

— Por que não pergunta você mesmo?

— Eu odeio ouvir sermões e parece que eles só sabem fazer isso.

Sakura riu, cruzando os braços.

— Respondendo sua pergunta, pouco antes de lançar o ataque, percebi uma agitação incomum no chakra dela e Lilith simplesmente recolheu sua energia diminuindo a potência. Quando a questionei, ela disse que Konan me seria eternamente grata por ter poupado sua vida.

— E por que isso?

— Konan é órfã, perdeu toda a família na Guerra ainda bem jovem. Ocorre que a agitação que senti nela é comum apenas em mulheres grávidas.

— Grávida?

— Entre dois e três meses pelo que eu pude avaliar. E a julgar pela preocupação que percebi enquanto a operava, o Yahiko deve ser o pai.

— Oh… E eu que achei que era aquele ruivo.

— As aparências podem enganar – disse Sakura, finalmente o encarando. – Onde estão os outros?

— Da última vez que os vi, estavam discutindo sobre como proceder pela manhã.

— Porque precisamos sair daqui o quanto antes. Não estou gostando de nada disso.

— Nem eu! Estamos em muito menor número e eles conhecem muito melhor o terreno do que nós.

Os dois permaneceram por muito tempo encarando a escuridão.

Konan podia não estar cem por cento, mas estava junto deles pela manhã. Se recusava a ser um fardo e, embora ainda sentisse certo desconforto, queria ajudar apesar da contrariedade dos companheiros.

— Este é o plano – disse Jiraya, agachado com os outros ao redor. – A energia que alimenta o domo está exatamente no centro da Aldeia. Se quisermos sair, teremos de destruir o domo e o único jeito é interromper o fluxo de energia.

— Mas deve estar fortemente guardado – disse Shisui, olhando um a um. – Isso sem contar que devem ter grupos de assalto em cada esquina daqui até lá.

— Então nosso plano é nos dividirmos. Atacamos de várias direções…

— E não correremos o risco de acabar derrubados de uma única vez – completou Kakashi, encarando os três novos integrantes da equipe. – Formaremos quatro equipes, duas com três e duas com dois integrantes. Alguma sugestão?

— Eu tenho – disse Yahiko, pegando um pequeno pedaço de madeira e começou a desenhar na areia. – Quando éramos crianças, tínhamos que sobreviver de todas as maneiras possíveis, então conhecemos a Aldeia como a palma de nossas mãos. Seu plano não é ruim, dividir para conquistar, mas para tal precisam conhecer os caminhos daqui.

Os outros assentiram, prestando atenção nas explicações do homem. A equipe 1 era composta por Jiraya, Naruto e Hinata; a equipe 2, por Shisui, Yahiko e Nagato; equipe 3, Kakashi e Sasuke; e equipe 4, Sakura e Konan.

Eles partiram em um piscar de olhos.

Seguindo o caminho pré-determinado, Kakashi e Sasuke andavam silenciosamente pela Aldeia tentando fazer o menor barulho possível. Sabiam que qualquer mínima distração causaria um embate absolutamente desnecessário.

Enquanto andavam, disfarçadamente o Sensei observava seu antigo aluno que parecia totalmente concentrado no que acontecia ao seu redor. Ele estava estranhamente calado desde que haviam deixado os outros. Claro, ele nunca fora de falar, na maior parte do tempo respondia em monossílabos, mas estava mais quieto do que o normal.

Mas não é o melhor momento, pensou o Sensei, vendo um reflexo de luz e desviou bem a tempo para não ser acertado. Cada um desviou para um lado e quase ao mesmo tempo Sasuke sacou sua katana.

Os dois se entreolharam e, em sincronia, lançaram duas bolas de fogo, destruindo tudo ao redor. O caminho outrora estreito se abriu aumentando a área de visão dos dois, mas não havia nada.

De súbito, como que do nada, vários tornados em chamas surgiram, forçando-os a desviarem novamente e se reagruparem.

— Não vamos chegar a lugar algum desse jeito – resmungou Kakashi, destampando o olho esquerdo, mas Sasuke o impediu de abri-lo.

— Guarde seu chakra, ainda teremos outras batalhas a travar hoje – disse, fazendo-o suspirar e baixar a bandana novamente. – Para lançar esse ataque, eles não podem estar muito longe, certo?

— Tem razão! Talvez haja uma alternativa melhor.

O grisalho ergueu uma das mãos e de súbito o ambiente foi tomado por uma densa névoa onde ninguém enxergava nada.

Após poucos momentos, alguns pontos surgiram, olhando para todos os lados, certamente procurando pelos dois. Antes que pudessem perceber o que acontecia, os dois surgiram da névoa:

— Corte da Kunai da Lâmina Relâmpago…

— Katana Chidori…

Os adversários morreram antes mesmo de chegar ao chão.

— Excelente – disse uma voz irônica, fazendo-os se voltarem em posição de ataque. – Deram-me uma boa noção de suas habilidades. Devo dizer que a fama os precede.

— Eram apenas chamariz – disse Kakashi, franzindo os olhos. – Isso é baixo até mesmo para você, Deidara…

O jovem loiro riu de forma insana. Ele lançou algo no ar que ao caírem explodiram muito próximas dos dois adversários.

— Então, os boatos são verdadeiros – resmungou Kakashi, analisando com ar desinteressado as pequenas crateras criadas pelas explosões. – Só não deixe que eles o atinjam, Sasuke.

— É, já percebi!

O rapaz ativou seu sharingan com três marcações, mas, rapidamente, o homem loiro fez surgir dois pássaros de argila lançando-os sobre os inimigos. Sasuke usou sua katana revestida em chakra para destruir o pássaro, avançando sobre o oponente, golpeando-o, mas logo percebeu que era um clone que rapidamente cresceu fazendo-o se afastar enquanto o clone se expandia e explodia.

Kakashi e Sasuke conseguiram escapar da explosão, mas começaram a se desintegrar rapidamente.

Deidara sorriu, dando-lhes as costas, mas, de repente, teve de desviar quando uma kunai quase o acertou. Olhou, espantado, para o homem mascarado.

— Genjutsu? Depois diz que eu uso truques sujos – disse, invocando um pássaro e se colocando longe do alcance dos dois oponentes. Ele voltou a atacar, mas não se tocou que Sasuke não se afastava.

— Lança afiada de Chidori…

O golpe em forma de lança atravessou o corpo de Deidara, mas, de súbito, ele se transformou em um clone, surpreendendo o oponente.

— Achou mesmo que seria tão fácil assim me pegar? – perguntou, ironicamente, enquanto Kakashi retornava para junto do antigo discípulo. – Dois contra um? Acho que vou colocar isso mais justo…

Ele expeliu argila pelas mãos que lentamente tomaram a forma de humanoides que passaram a atacar os dois oponentes. Quanto mais eles cortavam, mais surgiam, uma batalha que parecia não ter fim.

— É inútil – comentou Deidara, rindo. – Seu truque não vai funcionar uma segunda vez.

De súbito, Sasuke atravessou um dos clones com os punhos, enquanto Deidara gritava:

— Isso! – disse, enlevado, mas foi segundos até perceber que os punhos do oponente estavam revestidos de chakra relâmpago, o que impedia de explodir.

— Amaterasu…

As chamas negras avançaram, destrutivas, em direção ao oponente levadas pela linha de argila que ele usava para controlar os clones. Ele nem teve tempo de saber o que o atingiu. Quando ele caiu, os clones de argila se desfizeram.

Kakashi apenas assistia enquanto Sasuke embainhava a katana. Muitos anos atrás, quando tinha apenas treze anos, ele ganhara um sharingan de seu melhor amigo, Óbito, morto enquanto tentava resgatá-lo. Meses mais tarde, o sharingan de apenas uma marcação se convertera em Mangekiou e Kakashi se tornou o único a desenvolver a forma evoluída do sharingan sem ser um Uchiha. Por isso, sabia que o Amaterasu só poderia ser ativado se o usuário tivesse essa forma de sharingan.

Desde quando Sasuke tinha o Mangekiou?

— Temos de continuar – disse apenas, chamando a atenção do rapaz.

Ele apenas assentiu, sem nada dizer.

Os dois continuaram correndo pelas ruas abandonadas, sem trocar palavras, mas as duvidas ainda rondavam a mente do jounin.

Depois dos eventos do Exame Chunin e a reunião dos Kages quase três anos atrás, ele usou sua posição como antigo membro da Anbu para encontrar maiores informações sobre os eventos de quase quarenta anos atrás. Algo que explicasse o que estava acontecendo com os três jovens e o porquê de depositarem tanta certeza de que eles seriam grandes guerreiros.

Encontrara, claro, mas levantara mais perguntas do que respostas. Se era mesmo verdade que eles sabiam sobre a morte de Minato e a subsequente transformação do jovem Naruto em jinchuuricki, por que não haviam feito nada para impedir o que estava por acontecer? Por que permitiram que Shimura continuasse a manipular todos se sabiam que no final ele os trairia?

E ele era cético demais para acreditar que eles queriam apenas impedir que o futuro fosse alterado.