A sala do Hokage estava mergulhada em um silencio pesado depois do relato sobre os estranhos acontecimentos.

Depois que Daisuke literalmente desapareceu em uma explosão de energia, o Anbu enviado para segui-los se revelou e solicitou que retornassem a Torre para informar ao Hokage sobre o que estava acontecendo. Ao chegarem Sasuke pediu que os Anbu os deixassem e, mesmo desconfiado, Sarutobi atendeu seu pedido.

Foi somente então que ele contou o que sabia, principalmente o fato das constantes viagens terem alterado permanentemente o futuro.

— Quer dizer que na realidade original do garoto, nós traímos Konoha e acabamos exterminados? – perguntou Kenji, chocado.

— Na nossa realidade isso quase aconteceu – revelou Sasuke, surpreendendo os dois. – Mas meu pai era partidário de uma solução pacifica e acabou prevalecendo. Ou pelo menos foi isso o que nos contaram.

— Se ele está certo e nossa presença aqui alterou os fatos, quer dizer que a verdade pode ter alterado a percepção dos Uchihas – completou Sarada, olhando para os dois lideres.

— Não totalmente, claro! – resmungou Mitsuki, revirando os olhos.

Os outros três o fuzilaram com o olhar, fazendo-o cruzar os braços e desviar o olhar.

— O que ele quis dizer?

— No momento, precisamos controlar as alterações. A primeira foi feita acidentalmente, tudo bem, mas é impossível prever o que mais pode ser alterado se não resolvermos isso – disse Sasuke, finalizando a conversa.

— Mas por que agora?

— Talvez seja por causa do meu avô – disse Boruto, finalmente se colocando na conversa.

— Seu avô? – perguntou o Hokage, surpreso. – E o que o seu avô tem a ver com tudo isso?

— Daqui a alguns anos, o senhor vai se afastar do cargo e o meu avô vai assumir o cargo como o Yondaime Hokage – revelou o menino loiro, fazendo o Sandaime erguer a sobrancelha. – Só que ele morre apenas um ano depois e o senhor é reconduzido ao cargo com a missão de manter a Aldeia estável enquanto o novo Jinchuuriki ainda é pequeno.

— O Jinchuuriki do Nove Caldas? – perguntou Kenji, surpreso.

— Mito não vai viver muito mais e ela vai ter de escolher um sucessor… uma sucessora no caso – revelou Sasuke, exasperado. – Mas o Jinchuuriki de nossa época e que é cuidado por você vai ser o terceiro.

— Então, eliminando a mim deixará alguém tão importante para a Aldeia totalmente desprotegido… O Conselho não vai permitir que isso aconteça.

— Tsunade-sama costumava dizer que o Conselho considerou entrega-lo a Danzou para ser criado como uma arma e que esse foi um dos motivos pelos quais ela deixou a Aldeia. Só que o Senhor foi radicalmente contra – disse Boruto, fazendo uma careta. – Meu pai pode ser muitas coisas, mas ainda prefiro desse jeito do que submetido a versão de educação que Shimura defende.

— E que educação se o tio Sai é um exemplo – disse Sarada, de repente parando e olhando para todos que a encaravam surpresos.

— E as mudanças continuam – suspirou Mitsuki, balançando a cabeça.

Sarutobi apoiou o queixo nos braços cruzados, pensativo.

— A solução mais simples seria destruir esse pergaminho – sugeriu Kenji, voltando-se para o Hokage.

— E nos arriscar a provocar mais danos irreparáveis na história? – respondeu com outra pergunta, fazendo-o pensar e descartar a ideia. – É isso o que eles querem, que escolhemos o caminho mais fácil e simples.

— O que quer dizer com isso? – perguntou Sasuke.

— Pelo que acabaram de contar, o mundo do qual esse garoto originalmente veio era um verdadeiro caos… a ponto de três jovens arriscarem tudo para colocar um ponto final em tudo isso. Destruindo o pergaminho, seria como se nada disso tivesse acontecido e eles reativariam essa realidade automaticamente.

— Será que era esse o plano deles desde do início? – perguntou Mitsuki, sério.

— Eles foram a Quarta Guerra procurando por eles, mas não acharam e sim uma outra realidade. Então, vieram para cá e certamente sentiram a explosão de energia quando Daisuke Uchiha desapareceu – raciocinou o Hokage, suspirando. – Então, não vão demorar a atacar se realmente o que querem é desfazer essa bagunça.

O grupo assentiu.

— Vou ordenar que meus Anbus assumam a posição de guarda e me informem qualquer alteração e que todos os civis sejam levados para os abrigos.

De repente, o Hokage estalou os dedos e um Anbu surgiu.

— Leve os três jovens e peça a Tsunade, Jiraya e Orochimaru organizarem um grupo de rastreamento. Revirem a floresta e se certifiquem de que está a salvo.

— Podemos ir com eles, Hokage-sama? – pediu Mitsuki.

Sarutobi assentiu, mas acrescentou antes que Sasuke pudesse segui-los:

— Você fica…

Os três jovens o encararam imediatamente, mas ele simplesmente assentiu e eles se foram. Finalmente, Kenji se pronuncia:

— Se eu entendi bem, você é meu descendente direto, correto?

O homem assentiu.

— Mas foi meu irmão que sucedeu nosso pai como chefe do Clã.

— Porque ele é o mais velho – supôs o velho líder, fazendo-o novamente concordar em silêncio. – Diga-me, por que foi expulso do Clã?

Sasuke suspirou e os encarou:

— Quando eu era jovem, me envolvi com uma mulher inadequada.

— A mãe de Sarada e Daisuke – adivinhou Sarutobi, encarando-os.

— Apesar da aparência, minha filha não é uma Uchiha de sangue puro e isso fica mais claro se tivessem visto seu irmão. Meu irmão fez de tudo para nos impedir, até mesmo se arriscando a nos jogar em uma guerra civil para fazer valer sua vontade, pois a mãe dos gêmeos é uma kinoichi muito respeitada e amada em todo Mundo Shinobi. Após quase morrer pelas mãos dele, ela desapareceu e, por anos, ele achou que suas ações jamais seriam descobertas, mas, quando elas foram reveladas, eu fui expulso do Clã por “contrariar uma ordem direta do líder”. Mesmo com a intervenção do Hokage, eles não voltaram atrás em sua decisão.

— Deixe-me adivinhar: ela não tem Clã?

Sasuke franziu os olhos, mas foi a única amostra de sua irritação.

— Uma coisa que descobrimos há muito tempo: não precisa ter uma linhagem impecável para fazer a diferença nesse mundo. Você viu o menino loiro… Ele é neto de uma Uzumaki e filho de uma Hyuuga e simplesmente é considerado o maior Shinobi de sua geração. E no meio disso tudo tem um Shinobi que, embora não pertença a um Clã de renome, foi o Yondaime Hokage.

Os dois mais velhos piscaram, surpresos. De repente, o homem desapareceu, deixando-os pensativos.

A equipe se dividiu em três grupos e partiram para inspecionar a área ao redor da Aldeia, mas nada encontraram.

Quando já regressavam a fim de informar ao Hokage, uma agitação na Aldeia logo os fez perceber que era apenas impressão. Uma jovem mulher de olhos perolados veio correndo assim que viu Tsunade e pegou suas mãos.

— Tsunade-sama, precisamos de seu auxilio urgente no hospital…

— O que aconteceu?

— Uma desgraça… Atacaram a caravana de Hyuuga-sama quase nos portões da Aldeia. A senhora…

Tsunade saiu acompanhando a mulher e logo estavam no Hospital da Aldeia, sem perceber que os demais não a acompanhavam.

— Será que está ligado? – perguntou Jiraya, distraído.

— Com certeza – disse Sasuke, sombrio, fazendo-o se voltar.

— O que quer dizer?

De repente, o homem de cabelos brancos foi atraído por um gemido do jovem loiro que segurava o braço direito. O membro se tornava transparente, oscilando.

— Entendemos errado a pretensão deles – disse Mitsuki, sério. – Quando nos enfrentaram na Quarta Guerra, perceberam que nunca seriam capazes de nos enfrentar em pé de igualdade…

— Então decidiram voltar no tempo e nos apagar da existência eliminando nossos antepassados – disse Sasuke, fazendo com que os dois Sanins engasgassem de surpresa.

— Você é um Hyuuga? – perguntou Orochimaru, surpreso. – E não um Hyuuga qualquer, é membro da Casa principal…

— Sua aparência não é convencional…

O menino riu.

— Minha mãe enfrentou muita oposição quando se casou com meu pai, principalmente do meu avô. Ela quase foi rebaixada a Casa secundária, apesar de ser a herdeira legitima do Clã. Quando eu nasci, o problema só piorou porque nasci sem o Byakugan. Minha irmã, no entanto, despertou quando tinha quatro anos e eu aos catorze anos.

— Então quem será o próximo? – disse Jiraya, rapidamente se recuperando da surpresa. – Kenji-sama mandou reforçar a segurança no Distrito Uchiha…

— Bem, temos poucas opções que seriam mais viáveis – disse Sasuke, cruzando os braços, olhando para Boruto cujo braço parecia ter se recuperado. – O outro avô de Boruto e…

O homem se calou de súbito, empalidecendo. De repente, saiu correndo, seguido pela filha e pelos outros.

Quando finalmente chegaram ao lugar, a casa estava em escombros e uma fumaça espessa se espalhava pelo ar. O grupo começou a revirar os escombros e logo encontrou o que procurava.

Uma jovem mulher estava no que antes parecia ter sido uma sala, debruçada sobre o que parecia ser um berço, parecendo protege-lo com seu próprio corpo. Um choro abafado podia ser ouvido.

O grupo retirou-a de sobre o berço, seu corpo nitidamente já sem vida, provavelmente esmagado pelo teto que havia desabado. Sarada chorava baixinho enquanto ninava o bebê que um dia seria seu avô.