Outra Dimensão escrita por ACLFerreira


Capítulo 1
Prólogo


Notas iniciais do capítulo

A Quarta Guerra Ninja acabou. Muitos mortos, milhares de feridos, e todos tentando retomar suas vidas.
Mas nem todos são capazes de seguir conforme gostariam.



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O sentinela no portão observava a imensidão de areia, entediado. Nada de novo nunca acontecia por ali. Seu companheiro não parecia estar em melhor estado. Havia muito a calmaria se instalara, desde a ascensão do novo senhor, mas nunca era bom baixar a guarda.

De repente, quando os dois quase estavam se entregando ao cansaço, algo se destacou ao fundo. A principio era apenas um ponto no horizonte, tão imperceptível que se fosse alguém destreinado não perceberia. Como não havia informação de nenhum visitante, então imediatamente os dois sentinelas afastaram automaticamente o cansaço e se puseram em guarda.

A figura se aproximava lentamente, a cabeça baixa, os cabelos curtos caindo ao redor de seu rosto. Trazia uma bolsa nas costas, mas, além disso, não parecia trazer nada. Seus passos confiantes mostravam alguém acostumado a grandes conflitos e a não demonstrar seu medo, mesmo em lugar desconhecido. Mesmo assim, algo em sua silhueta lhes parecia estranhamente familiar.

Quando ela parou diante deles e ergueu a cabeça, eles se surpreenderam.

O homem atrás da mesa estava analisando os documentos ao seu redor quando ouviu os passos se aproximando pelo corredor. Ele nem se preocupou em erguer o olhar quando a porta de sua sala se abriu e dois de seus guardas entraram. Mas, quando a aura da jovem o atingiu como um soco, ele ergueu os olhos, surpreso.

Os olhos esverdeados o encararam diretamente, familiares e ao mesmo tempo estranhos.

— Deixe-nos! – ordenou e os guardas se foram sem discutir.

— Há quanto tempo? O que faz aqui sem avisar?

A mulher suspirou e declarou:

— Vim pedir refugio…

Agora ele ficou surpreso.

— Até onde eu sei não há motivo algum para isso. Você tem amigos que dariam a vida para te manter segura sem precisar mudar totalmente de ares.

— Eu sei!

— Então o que faz aqui sozinha pedindo refúgio?

Ela olhou pela janela, como se pudesse divisar as cercanias tão familiares de sua aldeia-natal. Mas, daquela distância, ela só podia imaginar.

— Eles não podem me ajudar, não mais.

A tristeza profunda em sua voz e em seu olhar lhe dizia muito mais do que as suas palavras. Era como se lhe dissesse o quanto fora difícil abandonar os seus. O líder franziu os olhos, com desconfiança, mas ela era a última pessoa de quem esperaria um ataque. Os dois se conheciam a muitos anos para ambos saberem que ela não tinha uma mínima chance.

— No que foi que você se meteu dessa vez?

A poeira sobre a arena ainda estava suspensa no ar, formando uma espécie de neblina espessa que quase encobria o que acontecia ao redor.

A jovem mulher no extremo da arena apenas observava, impassível, o que acontecia, enquanto que a menina, ajoelhada e ofegante, ainda com sua adaga nas mãos, limpava as gotas de suor na sua testa. Em outro canto, um homem a observava de forma irônica, um sorriso cínico em seu rosto. Apesar da pouca idade, a menina tinha um imenso talento e ele usava a tática da provocação para instiga-la a ir mais além e superar seus limites.

— De novo…

A menina engoliu saliva e tentou novamente, dessa vez tendo sucesso ao soltar fogo pela boca. Uma bola de fogo enorme se formou, mas logo desapareceu quando ela perdeu o folego e caiu de quatro, arfante.

A mulher no canto da arena bateu palmas, mas sabia ser cedo. A garota ainda tinha um longo caminho pela frente, mas o controle do fogo era um grande passo. Aos sete anos, tinha ainda bastante tempo antes de se formar na Academia e a esse passo era até previsível pensar que talvez ela até se formasse antes.

Outra mulher parou ao seu lado, observando a garota. Ela tinha um enorme leque fechado preso as suas costas e os cabelos espetados formavam um alo ao redor de seu rosto.

— Como ela vai indo?

A mãe sorriu com orgulho.

— Ela conseguiu invocar uma bola de fogo… foi apenas por alguns segundos, mas foi a primeira vez.

— E ela só tem sete anos? – perguntou a outra mulher, verdadeiramente impressionada. – É bem filha de quem é…

Imediatamente, o sorriso no rosto da mãe desapareceu.

— Desculpe por dizer, mas ela é a cara do pai. Não pode negar…

— Não nego… e você prometeu que nunca diria nada a ninguém. Não se esqueça.

A outra suspirou.

— Seu amigo vai ser empossado como Chefe esse fim de semana. Sei que adoraria que estivesse presente. Eles vão cuidar bem dela enquanto estiver fora…

A mãe nem a olhou.

— Vou pensar no caso – disse ela, distante, mas, antes que sua amiga pudesse se afastar, completou: – Diga a ele que lhe dou os “Parabéns!”.

A outra se foi, quase deixando escapar um sorriso. Ela podia fingir o quanto fosse, mas a verdade era que ainda era a mesma jovem que conhecera quinze anos antes.

O treinamento continuou até o anoitecer e só então o treinador a dispensou.

— Mamãe, cheguei! – gritou, mas recebeu como resposta apenas o silêncio.

Ela fez uma careta, lembrando-se que a mãe fora chamada no hospital. Ao que parecia não havia chegado ainda. Ela arrumou algo para comer e lá ficou solitária, olhando a noite enluarada lá fora. Estranhamente, uma paz a tomava enquanto olhava a paisagem tão familiar.

Depois de arrumar as coisas, subiu. Ao passar pelo quarto da mãe, uma curiosidade tão familiar a tomou ao perceber que estava sozinha em casa. Pé ante pé, quase como se temesse que a mãe fosse surgir de repente, se aproximou da cama e se ajoelhou. Uma caixa de madeira se encontrava escondida lá embaixo e se esgueirou pelo espaço ínfimo para alcançar. Quando conseguiu, puxou-a para a luz.

Era uma linda caixa toda esculpida, sem fechadura ou cadeado, apenas com uma tampa. A garota sentou-se na cama e abriu, quase com reverencia, mas parou ao se deparar com o conteúdo.

Logo em cima, havia uma foto emoldurada com três crianças a frente e um homem adulto ao fundo, com as mãos sobre a cabeça dos dois meninos, enquanto que a menina, claramente a versão mais jovem da sua mãe, estava sorrindo alegremente no meio. Os dois garotos pareciam estar de mau-humor, ambos com caretas, mas o homem sorria por trás da mascara que usava na metade inferior do rosto. A bandana cobria o olho esquerdo, mas era igual a dos dois garotos da foto, mas a da menina ao centro estava encoberta.

Sabia o que era aquilo. As bandanas, com o símbolo da vila ao centro, eram usadas apenas depois de se formar na Academia, mas aquelas não eram iguais as de sua vila. Na verdade, nunca tinha visto aquele símbolo.

Ainda curiosa, voltou a olhar dentro da caixa e quase caiu para trás. Cuidadosamente enrolada, havia uma bandana, com um símbolo diferente daqueles da foto, mas sabia o que ela significava. Era a bandana dos ninjas de Elite, aqueles que haviam alcançado o último grau de especialização.

— Minha mãe é uma Jounin? Mas por que ela nunca usa sua bandana?

Pegou-a e foi quando uma voz bradou, fazendo-a derrubar a caixa:

— O que está fazendo?


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Notas finais do capítulo

Qual é o mistério em torno dessa mulher? Por que ela abandonou sua Aldeia e nunca contou a verdade a sua filha?



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