Sempiterno escrita por Sarah


Capítulo 4
4º Ano




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/732155/chapter/4

Fazia apenas algumas semanas desde que Remus tinha concordado em mostrar para eles como passar pelo Salgueiro Lutador e chegar à passagem que levava para a Casa dos Gritos, e aquele parecia um bom lugar para um primeiro porre.

Conseguir uma garrafa de firewhiskey tinha demandado um esquema bastante elaborado, que envolvera sua hailidade em flertar, a capa da invisibilidade de James, o potencial de Peter para causar uma distração cada vez que tentava um feitiço um pouco mais complexo, e o instinto de Moony para planejar e traçar rotas de fuga. No final, Sirius tinha sido capaz de surupiar um pouco de vinho das fadas também e se sentia bastante orgulho disso, principalmente porque o vinho tinha caído melhor no gosto de Remus.

Embalado pela bebida, ele finalmente parecia confortável com o fato de os três estarem ali, embora não tivesse deixado que eles passassem do porão. O lobisomem vai enlouquecer se o cheiro de vocês estiver na casa — Remus dissera, e eles tinham se sentido terrivelmente divididos entre o medo de tornar as transformações ainda piores e a necessidade de que o lobo se familiarizasse com o cheiro deles, uma vez que até Peter já estava conseguindo produzir uma cauda bastante saudável.

No momento, porém, Sirius duvidava que qualquer coisa sobrevivesse sobre o odor de álcool.

Seus ossos sentiam-se muito leves, e quando Peter lhe passou a garrafa de firewhiskey ele bebeu direto do gargalo. James estava encaripitado na cama, ao lado de Peter, e tinha os cabelos mais desgrenhados do que nunca e os óculos tortos. Remus estava ao seu lado, ora enchendo o copo com vinho, ora com firewhiskey. Caso se esticasse apenas um pouco Sirius poderia tocá-lo. De todas as coisas, não sabia por que isso era algo importante para se registrar, mas o calor de Remus parecia infiltrar-se através da névoa de bebida que tomava seus sentidos.

Remus tomou outro gole — de vinho dessa vez — e seus lábios tornaram-se ainda mais rubros. Sirius acompanhou como o pomo de adão de Remus se moveu e como ele voltou a colocar o copo no chão, mas então percebeu que James estava encarando-o em vez de prestar atenção no que quer que Peter estivesse dizendo, e isso o fez corar e desviar a mirada.

— Lucy Anderson me chamou para ir no baile do Slurgohn — ele anunciou estupidamente, apenas para dizer alguma coisa, pois todos eles já sabiam sobre daquilo.

James riu, revirando os olhos.

— Sério, Sirius? É só a quinta vez que você fala sobre isso.

Ele deu de ombros, tomando outro trago, e tinha certeza de que estava sendo muito convincente em não parecer idiota.

 — Ela é bonita.

Remus fez um ruído com a garganta, algo entre um gracejo e um rosnado. Era um som profundo, que ele vinha fazendo desde que sua voz começara a mudar para uma coisa rouca e suave, no lugar do tom infantil. Sirius sentiu aquele ganido reverbando em seus ossos e odiou como o som o fazia confuso, enchendo suas entranhas com uma mistura de anseio e desespero.

— Eu não sei se você já tentou ao menos isso, Moony — disse e fez um movimento de vai-e-vem com o punho muito sugestivo. — Mas com uma garota é muito melhor.

Houve um prazer vingativo quando as faces de Remus tingiram-se de vermelho.

— Como se você já tivesse feito muito com garotas, Sirius.

— Não fiz tudo, mas já dei uns bons amassos. Até o Peter já beijou algumas meninas. — Peter lançou um olhar de soslaio para Sirius ao ouvir seu nome, mas não parecia muito certo se o outro estava ou não sendo ofensivo. — Você não pode ficar para trás.

— Isso não é uma competição!

— Marianne Dashwood, tenho certeza que ela aceitaria um encontro.

Você já saiu com ela! — Remus contestou.

— Exatamente. Ela beija bem.

Sirius sorriu de canto. Aquele tipo de discussão vinha sendo bastante comum nas últimas semanas, e quando Sirius lançou um olhar para James ele tinha uma expressão que dizia claramente que não haveria ajuda quando Remus finalmente decidisse azará-lo por causa daquelas provocações.

— O que eu preciso fazer para você parar de me aborrecer com esse assunto, Sirius? — Remus perguntou, exasperação escapando pelas bordas da sua voz.

Sirius deu de ombros numa postura descontraída, tornando a beber. James esperou que ele terminasse de encher o copo para se esticar e acertá-lo com um ligeiro pontapé. Os dois sabiam que ele estava prestes a ir longe demais, mas Sirius nunca fora do tipo que evitava desastres.

Aquilo tinha começado a se tornar importante para todos eles — garotas, beijos — e era bom, de uma forma que Sirius não conseguia conciliar com a quentura que sentia apenas por estar perto de Remus. Achava que seria mais fácil abafar aquelas sensações se Remus estivesse com alguém, mas em vez disso ele se recusava a sair com qualquer garota, enchendo Sirius com uma agonia exasperante, porque mais cedo ou mais tarde ele iria arranjar uma namorada, então que fosse mais cedo, antes que Sirius realmente pudesse compreender aquele anseio e se sufocasse com ele.

— Beijar alguém!

Remus grunhiu, irritado. Os dedos dele, longos e finos, apertaram o copo de vinho com mais força, e seus lábios se comprimiram em aborrecimento. O gesto fez com que cicatriz que cortava sua mandibula, sumindo sobre o queixo, também se torcesse. Sirius imaginou como seria lambê-la e uma fisgada percorreu seu baixo ventre. Em seguida ele considerou que, céus, devia estar enlouquecendo, e todo aquele firewhiskey pareceu uma péssima ideia. Mesmo assim voltou a beber, pois isso era infinitamente mais fácil do que encarar Remus ou James e ter que aceitar o quão contraditório estava sendo. As palavras fluiram como se não tivessem peso: os peitos da Marianne eram realmente incríveis; Anne, da Corvinal, me deixou tocar suas pernas, por baixo da saia; você precisa beijar alguém, Moony!

— Sirius — Remus o cortou, e havia algo de comando em seu tom que fez Sirius se calar imediatamente, voltando-se para ele.

No instante seguinte o mundo parou de girar. Remus puxou sua camisa, atraindo-o para si, e pressionou a boca sobre a sua. Fosse o susto ou a bebida — ou talvez porque ele quisesse aquilo — Sirius não se afastou, e Remus o beijou de uma forma que era mais do que apenas lábios com lábios, mas não muito mais. Sirius teve a sensação de que o contato durou muito tempo.

Quando os dois se afastaram toda a cor havia sumido do rosto de Remus. Peter tinha os olhos arregalados, e Sirius não se arriscou a conferir a expressão de James. Deliberadamente lento, Sirius tocou a boca com a ponta dos dedos, sentindo algo em seu peito queimar com algo mais do que firewhiskey.

— Era esse o problema? Beijar alguém? — Remus disse numa voz embargada, e enfim Sirius percebeu que ele não estava tão sóbrio quanto tinha suposto. Seus olhos cor de âmbar pareciam mais líquidos do que nunca.

Havia ironia na voz dele, mas também algo de desalento, e Sirius se deu conta de que as mãos do lobisomem estavam tremendo. Levou um segundo para Sirius perceber que Remus estava terrivelmente assustado diante do receio de ter feito algo para finalmente perder aquela amizade, que ele nunca esperara ter em primeiro lugar. Queria dizer a Remus que aquilo não ia acontecer não importava o que fosse, nunca, e sua pele ardeu com a vontade de tocá-lo, mas Sirius não se atreveu a se mover. Temeu que qualquer coisa que fizesse naquele instante fosse obrigá-lo a encarar coisas sobre si mesmo que ele ainda não se sentia pronto para tentar entender.

Foi James quem os salvou, com tanta desenvoltura como se soubesse que os dois precisavam ser salvos.

A risada dele encheu o porão, tão confortável e inebriante quanto a bebida. Não foi uma surpresa quando Peter o imitou, rindo também.

— Pronto, Sirius, você não vai mais poder implicar com o Remus por causa disso — James disse, soando como um lembrete de que estavam todos bêbados e de que aquilo parecia muito com uma piada para que precisassem se importar.

Sirius sorriu. Quando James dizia que estava tudo bem era muito difícil não acreditar nele.

— Merda, Moony! —xingou. — Você acabou com a minha diversão.

Finalmente Remus se permitiu rir também, murmurando algo que parecia você é um idiota, Sirius.

O que ainda havia de constrangimento se foi definitivamente quando Peter se curvou e vomitou sobre os próprios sapatos, fazendo James saltar e, então, se apressar para ajudá-lo, e no dia seguinte todos fizeram um bom trabalho em fingir que o beijo ficara esquecido em meio ao desconforto da ressaca.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Sempiterno" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.