Existia um vilarejo, atrás desse vilarejo ficava uma floresta, bem no meio dessa floresta existia uma casa onde morava uma família que era constituída de uma mãe, um pai, um filho, uma filha é um gato, essa era uma família de farmacêuticos, eles fabricavam remédios que eram dados a aqueles que fossem à casa pedir por eles, era muito raro isso acontecer, pois pelas redondezas andavam boatos e histórias sobre a família fazer atos de bruxaria e darem sacrifícios a Satã.

  Os rumores e boatos sobre essa família eram tão repercussivos que em algum momento chegaram aos ouvidos do rei, logo... enxadas e tochas rodearam a casa junto com berros e injúrias, os cavaleiros do rei invadiram a casa e arrancaram de lá todos da família com exceção do gato, incendiaram a casa e os arrastaram até o vilarejo, pela primeira vez ele sentiu medo.

  O gato mesmo com a casa em chamas e caindo conseguiu sobreviver, seu corpo contendo queimaduras em vários lugares ainda conseguia se mover e ele andou até o vilarejo para se deparar com cena de sua família sendo queimada e ouvir os berros de sofrimento de sua família e ver os cavaleiros e cidadãos comemorando enquanto ouvia seus gritos de glória. O gato vendo aquilo, pela primeira vez sentira ódio. De repente as chamas que devoravam a família do gato de alguma forma começaram a se alastrar por todo o chão, devorando, consumindo e transformando em cinzas tudo que estava ao seu redor, a mesma coisa estava acontecendo na floresta, o fogo se alastrava por tudo, casas, arvores, animais, até mesmo nas pessoas, os gritos de glória dos moradores, cavaleiros e padres viraram gritos de dor e desespero, com seus entes queridos silenciados pelo fogo o gato se virou e deixou aquele lugar.

  O gato vagava pelas florestas sem rumo, procurando por abrigo, procurando por comida... pela primeira vez ele se sentiu só e pela primeira vez ele sentiu a fome. Ele andara e andara, tendo que muitas vezes que fugir de predadores, seus ferimentos ficavam cada vez piores com o passar do tempo e a magreza ficava cada vez mais nítida também.

  Depois de tantos tormentos, ele chegou em uma vila, era uma vila consideravelmente pequena, senhoras, senhores e jovens passavam por cá e lá, correndo, trabalhando, correndo, brincando, carregando sextas de comida, ele nesse instante estava se sentindo como um inseto sendo atraído pela luminescência das chamas. Ele foi até a vila, passando entre as pessoas e seus olhares de nojo e desprezo, pessoa por pessoa ele pediu comida, ofensas, pedras e desprezo foi o que conseguirá, casa por casa ele passou, mas outra vez pedras, ofensas e desprezo ele recebeu. O gato voltou para a mata, ficou sentado lá por um bom tempo, por muito tempo...

  O sol já tinha ido e deixado seu lugar para a lua ficar no céu...o gato já não estava mais sentado lá na floresta, afinal, restara algum gato? A noite passou e dia veio novamente, a única coisa que se escutava na vila era o som natural da floresta e o som da madeira ardendo em chamas, não se via mas pessoas passando pela vila, mas sim restos de cadáveres, não se via mais a cor natural da terra no chão, mas sim a cor natural do sangue, não se via mais gato...mas sim uma imensa criatura bípede de pelos pretos, olhos tão dourados quanto o ouro e presas enormes consumindo uma pessoa, pela primeira vez...ele experimentou o sabor da carne humana.