|Capítulo 2.|

— Bem vinda de volta, Cassie. 

Bella deu um sorriso mínimo parecendo muito gentil, as bochechas e os narizes vermelhos denunciavam que ela estava tão constrangida quanto eu. Charlie nos encarava enquanto nós duas nos encarávamos.

Éramos irmãs, mas éramos duas desconhecidas. Por fim, vendo que Bella provavelmente não tomaria nenhuma atitude mais intima, dei um passo em sua direção, pegando-a de surpresa em um abraço.

— Obrigada Bella. Você está muito bonita. — Eu sorri o mais verdadeiramente que eu pude.

Se possível, Bella corou ainda mais.

— Oh, bem, obrigada. — Murmurou baixinho. — Você também está bonita, muito diferente.

Eu sorri de verdade dessa vez. — Sem os óculos, os aparelhos e sem aquela gordurinha toda. — Indiquei com os dedos como se estivesse numerando. — O tempo foi bom para mim.

Bella também riu e Charlie tocou meu ombro com gentileza.

— Querida, preciso ir para a delegacia. — Ele tocou a ponta do rabo de cavalo de Bella e eu assenti silenciosamente. — Bella, pode mostrar tudo para a Cassie?

— Claro, pai. — Murmurou baixo outra vez e nós duas observamos em silêncio Charlie partir.  — Bom, vamos lá para cima. Eu separei um lado do guarda-roupa para você, espero que sirva... E algumas coisas ainda estão fora do lugar — deu de ombros se desculpando — eu não tive tempo de arrumar. 

— Você não está aqui há muito tempo? — Questionei enquanto subíamos em direção ao segundo andar. 

— Só uma semana, na verdade. Ali é o banheiro. — Bella indicou uma porta no fim do pequeno corredor. — Aquele é o quarto de Charlie e este o nosso. — Ela abriu a porta e eu pude visualizar. Era um quarto simples, na verdade. Duas camas de ferro estavam postas lado a lado, um criado mudo entre elas com um abajur. Havia cortinas creme nas janelas e alguns livros em nichos nas paredes. A cama que supus ser a minha — já que Bella havia se sentado sobre a outra —, estava com um jogo de cama lilás com flores, muito bonito. Havia um guarda-roupa marrom grande o bastante para ocupar parte da parede e uma mesa menor ao canto, com um computador que parecia meio antigo. Meus olhos focalizaram os fios da internet e suspirei aliviada. 

Pelo menos teria isso em Forks.

— É bonito. — Comentei sentando-me sobre a outra cama.

— É. E é aconchegante. — Bella concordou.

Suspirei, encarando da minha cama a paisagem da janela. — Como é morar aqui?

Bella deu de ombros. — Ainda estou me adaptando, mas é bom. É bom morar com Charlie.

Eu sorri sem saber ao certo o que dizer, já que claramente, eu não poderia saber como era morar com ele. — Deve ser. 

Ela sorriu encorajadora. — Você vai se sair bem. — Ela suspirou. — É difícil no começo, mas acho que você vai gostar.

— Pelo menos eu não vou ser a grande novidade sozinha. — Sorri divertida.

Bella riu um pouco, assentindo e então se levantou dizendo que ia fazer o jantar e me dar um pouco de privacidade. Eu agradeci gentilmente e puxei minhas duas malas sobre a cama, retirando de lá algumas peças de roupas.

O espaço que Bella separou para mim seria suficiente, já que eu não tinha muitas roupas de frio lá na Califórnia, a maioria das roupas que trouxe eram novas e chiques demais para a pequena Forks. Segurei um porta retrato onde estavam eu, mamãe e Ellie — minha melhor amiga — e o coloquei em cima do criado mudo. A foto foi tirada em um dia quente, foi nosso primeiro jogo no time de futebol do WSMS¹, que significava basicamente, o melhor time de futebol da região. Eu e Ellie estávamos vestindo o uniforme azul e branco do time e estávamos sujas de terra, mas o sorriso em nosso rosto era gigantesco. 

Foi o último dia que fomos felizes de verdade. Suspirei mais uma vez, ajeitando o porta-retrato em cima do criado-mudo e voltei a tirar alguns objetos pessoais e colocar na gavetinha que Bella indicou como minha.

Mais tarde depois de tudo arrumado e de tomar um longo banho desci e encontrei Bella preparando o jantar, sua lasanha cheirava incrivelmente bem e meu estômago roncou só de imaginar o sabor.

— Você está engraçada. — Bella riu avaliando com o olhar minha calça de moletom larga e as meias coloridas, para completar eu ainda usava um gorro ridículo na cabeça. Ridículo, mas quente. — O aquecedor está ligado, sabia?

— Eu continuo com frio. — Murmurei sentando-me sobre a cadeira e me encolhendo como uma bola. — Quer ajuda?

Ela balançou a cabeça. — Não precisa. Já estou acabando. A Califórnia era bem quente, não é? 

— Bastante. Eu morava do lado da praia. — Sorri dando de ombros.

— E trocou a praia por isso? — Questionou assombrada. — Como era lá?

Eu pensei, apoiando meus braços sobre a mesa. — Bem, é ensolarado e quente. E cheio de surfistas gatos — Bella corou imediatamente e eu ri — havia vários deles, sério. Minha tia Louise tem um restaurante na costa, eu sempre ia lá com a minha amiga para paquerar os garotos. É incrível, cheio de alegria e luaus. É muito bom.

— Você parece já estar com saudades.

Dei de ombros, evitando o assunto. — Aqui também é bom.

Bella assentiu silenciosa e a admirei por respeitar minha resposta. Por fim ela se sentou comigo depois de colocar a lasanha no forno. — Charlie já fez sua matrícula. Acho que você começa amanhã.

— Já? — Fiquei realmente surpresa por ser tão rápido. Na Califórnia, era quase uma semana para tudo se organizar depois da volta as aulas.

Bella sorriu como quem se desculpa. — Também foi assim comigo. Mas você vai gostar da Forks High.

— Como é lá?

— Bem... É boa. — Bella parecia desanimada, mas por fim, conversamos mais um pouco e ela me contou todos os detalhes sobre a nova escola. Contou que provavelmente eu me assustaria pois, pasmem, não havia grades no colégio! Contou sobre os alunos que conheceu e alguns que fez amizade, sobre o que achava sobre eles e tudo o mais.

No fim, quando Charlie chegou, nós três jantamos juntos e Charlie parecia contente por ter nós duas por perto. Foi se deitar depois de dar um beijo em mim e outro em Bella — que o recebeu bastante envergonhada e surpresa — e então eu ajudei Bella com a louça e conversamos mais um pouco.

Ela me contou sobre a mãe e sobre a Flórida e eu preenchi os espaços vagos da conversa com meu falatório sem fim.

Bella era como Charlie, então obviamente eu parecia duas vezes mais falante. Mas foi com um alívio quase atordoante que eu notei que não teria tanto problema com a minha meia-irmã. Ao contrário de quando éramos crianças, eu agora entendia um pouco mais de Bella.

No final daquela noite quando Bella se deitou para dormir, eu peguei meu celular discando os números de Ellie e encarando a tela sem coragem de completar a chamada, encerrei antes do primeiro toque.

Por fim, digitei uma mensagem simples e fria. "Me desculpe, Ellie. Eu tentei."

Na manhã seguinte não houve nenhuma resposta de Ellie e ainda que chateada, eu pude entender seu lado. Por fim, me levantei da cama vendo que Bella já havia arrumado a sua. Quando já estava pronta, encontrei minha irmã com uma xícara de café quente nas mãos, a fumaça deixava seu nariz vermelho e eu sorri, vendo-a quase perdida dentro do enorme casaco alaranjado.

Enorme e brega. Talvez com mais intimidade eu pudesse fazer Bella usar roupas quentes e bonitas.

— Bom dia, Bella.

Ela sorriu. – Bom dia, Cass. Pronta pra ir?

— Nasci pronta. – Dei um soquinho no ar, pegando uma banana em cima da mesa e lamentando um pouquinho Jason ainda não ter mandado meu Chevy para cá. Levaria algumas semanas até ele chegar, por causa da burocracia da empresa de transporte, então eu estava inevitavelmente, dependendo de Charlie e Bella.

A viatura de policia ou a monstruosa caminhonete velha. Mas eu não queria ser ingrata pensando no barulho que ela fazia, além do mais, a caminhonete era suficientemente quentinha.

O caminho até a Forks High foi muito rápido, a escola era perto e exatamente como Bella havia dito: Pequena e sem grades. Os prédios de tijolinhos vermelhos não pareciam de fato uma escola e poderia muito bem não ser uma, se não fossem as placas e a quantidade de estudantes no estacionamento.

Enquanto esperava Bella pegar algo dentro da caminhonete, eu o vi. Por algum motivo estranho meus olhos não conseguiam desviar-se dele, mesmo que ele não tivesse olhando em minha direção, mas olhar para ele era como olhar para um quadro conhecido que você ainda não entende, mesmo que conheça cada detalhe. Forcei minha mente, questionando-me de onde o conhecia.

Eu não conseguia encontrar nada.

Mas tudo nele me era familiar. O sorriso contido, os cachos loiros, ele era pálido, mas eu tinha a estranha sensação de que não deveria ser assim.

— Cassie? – A voz de Bella me despertou e eu dei um pulo, sentindo-me envergonhada por encarar tanto um estranho. – Tudo bem? – Eu a encarei, as sobrancelhas estavam franzidas e ela parecia genuinamente preocupada. Um cantinho da minha mente registrou que Bella parecia uma pessoa muito doce, apesar de toda a vergonha e o silêncio. 

— Quem é aquele cara, Bella? – Questionei baixinho.

— O ruivo? – Havia um tom estridente em sua voz e eu neguei com a cabeça. – O loiro? – Assenti, quase muda. Meus olhos acompanhavam os seus movimentos a todos instante. Ele estava de mãos dadas com a garota baixa e bonita. – Acho que é Jasper Hale.

No momento em que Bella disse seu nome, uma coisa estranha aconteceu. O loiro virou-se primeiro para ela e então para mim, vi quando seus olhos se abriram mais, assim como os lábios se separaram em surpresa. Meu coração disparou e por um segundo eu me esqueci de que estava na escola, ele me encarou por um minuto ou dois, eu não soube dizer, poderia ter sido um segundo ou dez minutos. Então se virou para a baixinha, deixando uma sensação estranha de abandono para trás.

Levei minha mão ao meu coração, desconfortável com a forma como ele batia e reagia. Os sentimentos que me bombardeavam eram novidade para mim, principalmente tão rápido. O que estava acontecendo com minha cabeça afinal?

Balancei a minha cabeça, procurando alguma clareza nos meus pensamentos. Então ele virou as costas e partiu em direção ao carro. A garota baixinha, de cabelos repicados me encarou, os olhos – mesmo de longe – pude ver que pareciam pesarosos. Minha testa se franziu em confusão, ela sorriu para mim e parecia triste, então seguiu junto dos outros em direção à entrada do colégio.

— Cass...  – Bella suspirou do meu lado, a mão agarrou a minha de forma firme quase esmagando meus dedos nos seus, meus sentidos voltaram e eu cambaleei confusa notando que aquele olhar e toda aquela sensação ocorreram em menos de cinco minutos. Ainda havia estudantes do lado de fora normalmente esperando o horário de entrada.  – O que foi isso?

Soltei o ar que não notei estar segurando. – Eu não sei, Bella.

E eu realmente não sabia.