Destinados ▸ Jasper Hale escrita por Woodsday


Capítulo 18
Capítulo XVIII.


Notas iniciais do capítulo

Estamos chegando no fimmm. Ai que dorzinha no meu core.
MANO, VOCÊS SÃO DEMAIS! Amei os comentários de vocês. askoasksa
Quem tá pronta pra mais um capzinho?



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O sol batia em meu rosto, eu estava de olhos fechados e podia sentir a areia embaixo das minhas mãos. O cheiro da maresia invadia minhas narinas e eu ouvia as crianças rindo ao fundo. É por isso que amo a Califórnia. Quando eu era criança, mamãe costumava me trazer a praia, mesmo sua agenda lotada e seus horários apertados, ela tirava um fim do semana do mês e nós íamos a alguma praia longe de casa, só para parecer uma viagem. Nós duas nos deitávamos na areia quente e ficávamos lá, com óculos de sol parecendo modelos.

Eu amava a sensação.

Jasper estava ao meu lado, brilhando e sorrindo apaixonado. Ninguém ali parecia reparar que ele estava brilhando! Eu sorri pronta para fazer uma piada quando a sombra atrás de mim se intensificou.

Eu me virei para trás, querendo afastar essa sombra, mas meus olhos se tornaram pelo horror. Eu não estava mais na praia.

Atrás de mim estava James, os cabelos despenteados e a boca ensanguentada. Os olhos raivosos me encaravam com desejo e cobiça. Atrás dele só havia corpos, pilhas e mais pilhas de corpos e em cima dessa pilha um bebezinho.

Um lindo bebezinho, completamente sem vida, morto. Meus olhos faiscavam de horror enquanto ele se aproximava de mim como o predador que era e mesmo que eu tentasse correr, eu não conseguia sair do lugar.

Meus olhos encararam a morte no olhar de James quando ele avançou sobre mim.

— Cassie! — Eu me debati no aperto gelado — Cassie! Cassie! — A voz de Jasper entrou em meus ouvidos e finalmente eu pude perceber que era ele quem me apertava. Era o seu abraço. — Tudo bem, calma, é só um pesadelo.

— O bebê, Jasper... — Eu me agarrei e ele, soluçando. Sem entender o desespero que me tomava, mas sentindo-me transtornada, aflita, um sentimento de perda profundo no meu coração. — Ele matou o bebê.

— Quem, Cassie? Que bebê?

Eu chorei ainda mais e ele me apertou contra si, me aninhando como se eu fosse o bebê. Quando eu me acalmei finalmente, notei Alice e Bella no quarto. Bella parecia confusa, preocupada talvez com meu surto, mas Alice parecia pesarosa. Ela me olhava de forma que parecia sentir-me, como se tivesse o dom de Jasper. Eu olhei ao redor, pela primeira vez.

Era um quarto bastante arrumado e frio, eu estava em uma cama e podia Bella sentada sobre a outra, nossas coisas em uma penteadeira chique ao lado oposto. Me lembrei vagamente de dormir no carro, no meio do caminho. De Jasper me sacudir um pouco para nós caminharmos até a entrada do hotel sem chamar a atenção demais.

— Tudo bem. — Eu disse para Jasper com a voz rouca. — Foi só um pesadelo. Tudo bem. — Assenti novamente quando ele ainda me encarava receoso.

— Você está tão triste. — Ele disse aquilo com o cenho franzido. Sem entender o motivo do sentimento.

Dei de ombros. — Tudo bem. Vou tomar um banho, querido. — Toquei seu rosto com as mãos, fazendo-o um carinho suave. Ele assentiu, levantando-se e saindo do quarto silenciosamente.

O sono já havia desaparecido; meus olhos doloridos continuaram abertos apesar de a noite já ter finalmente acabado e de o sol já ter aparecido em algum pico na Califórnia. A luz cinza fraca, aparecendo no céu sem nuvens, machucou meus olhos. Mas eu não conseguia fechá-los; quando eu fechava, as imagens que apareciam vividas demais, como slides atrás das minhas pálpebras eram insuportáveis. A expressão devastada de Charlie, os olhos de James, o bebê morto. Lutei com a vontade deitar-me novamente e fui até a janela. A cidade estava movimentada, a Califórnia era sempre assim. 

— Cassie, você está bem? — Bella soou receosa, encarando-me da cama.

Eu tentei sorrir, mas acho que não pareceu convincente. — Como estão as coisas?

— Ainda estamos esperando notícias. — Ela deu de ombros e eu assenti, indiquei o banheiro e fui até lá. 

A água quente caia sobre mim como um balde de alívio. Meu coração batia descompassado e eu não conseguia tirar da minha mente a imagem do bebê morto. Era tão aterrorizante! Encostei a cabeça contra o box, deixando a água escorrer pela minha pele. 

A porta foi aberta e os olhos de Jasper encontraram os meus, tão tensos e preocupados. Eu o puxei para mim e ele veio sem protestos. Os braços me envolveram, puxando-me contra seu corpo frio e os lábios beijando-me sofregamente, quase em desespero. As suas mãos tocando minhas coxas, impulsionaram-me para cima, e eu me agarrei ainda mais, livrando-os das suas roupas.

— A Alice...

— Foi para baixo com Bella. — Ele sussurrou com os lábios em meu pescoço. — Temos vinte minutos.

— Ótimo. — Murmurei antes de atacar seus lábios. O desejo latente me concentrando somente nele, seu perfume e seu corpo.

Alice e Bella voltaram exatos vinte minutos depois, eu estava secando o cabelo e fiquei constrangida quando Bella me olhou incrédula.

— Sério, Cassie? Bem agora?! — Ela arqueou a sobrancelha, me olhando chocada.

Revirei os olhos.

— Cuide de si mesma, Bells. — Tentei ser gentil, apesar das palavras rudes. — Você falou com Edward?

Ela deu de ombros, chateada. — Acho que ele ligou rapidamente, mas só falou com Alice.

— Tudo bem, vai dar tudo certo. — Peguei sua mão, sentando-me ao lado dela na cama. 

Ela suspirou. — Espero que sim, Cassie.

Eu também esperava.

— Posso entrar? — Alice perguntou surgindo na porta após duas batidinhas.

Nós respondemos juntas. — Claro.

Ela entrou e olhou pra mim cuidadosamente. — Parece que você poderia dormir um pouco mais — ela disse.

Eu só balancei a cabeça.

Ela se moveu até as cortinas e fechou elas seguramente antes de se virar pra mim.

— Vamos precisar ficar aqui dentro — ela disse para nós, tomando um lugar ao nosso lado.

— Tudo bem — Bella respondeu com a voz rouca. Eu não tinha muito afinidade com Alice, então peguei o aparelho de celular, observando com dor no meu coração que havia quinze chamadas de Charlie e vinte da minha mãe, tinha uns trinta de Eleonor e mais de cem mensagens, além da caixa postal cheia. Apaguei todas sem responder e suspirei, jogando-me sobre a cama.

— Eu pedi comida pra vocês duas. — Ela chamou minha atenção. — Venham. — Levantou-se indo junto de Bella para a sala.

Eu podia ouvir leves ruídos de vozes vindos da televisão. Jasper estava sentado no canto da mesa, seus olhos assistiam as notícias sem nenhuma ponta de interesse. Me aproximei do seu corpo, encaixando-me em seu colo. Suas mãos pousaram em minhas coxas e eu enfiei minha cabeça entre o vão do seu pescoço, recebendo com agrado seu carinho suave.

— Com fome? — Me perguntou baixinho.

Eu neguei com a cabeça, apesar do meu estômago estar roncando, eu me encontrava um tanto enjoada e não tinha interesse de fazer uma cena ali com eles. Bella se sentou ao chão, comendo em silêncio e Alice ficou lá, olhando para a TV inexpressivamente. Eu comecei a perceber que eles estavam rígidos demais. Eles nunca tiravam os olhos da tela, apesar de os comerciais já terem começado agora. Além do sentimento de receio de Jasper que era gritante. 

— Qual é problema, Alice? — Bella questionou, percebendo a mesma coisa que eu. 

— Não há nada errado. — Seus olhos eram grandes e honestos... e eu não acreditava neles.

— O que nós fazemos agora?

— Nós esperamos Carlisle ligar.

— E ele já devia ter ligado? — Perguntei a ela e Jazz. Seus olhos flutuaram para o telefone em cima da sua bolsa preta de couro e de volta pra mim.

— O que isso significa? — Bells estava praticamente desesperada. — Que ele não ligou ainda?

— Isso só significa que eles ainda não têm nada para nos dizer.

Mas a voz dela estava uniforme demais, e o ar ficou mais difícil de respirar.

— Bella — ele disse numa voz suspeitosamente confortante. — Você não tem nada com o que se preocupar. Você está completamente segura aqui. — Jasper disse a ela, provavelmente percebendo que ela realmente nervosa.

— Eu sei disso.

— Então porque você está assustada? — ele perguntou confuso. 

— Você ouviu o que Laurent disse — Minha irmã sussurrou e eu tive que me inclinar em sua direção para ouvi-la melhor. — Ele disse que James era letal. E se alguma coisa der errado, e eles se separarem? E se alguma coisa acontecer com algum deles, Carlisle, Emmett... Edward... — eu engoli seco ao imaginar as hipóteses da qual ela falava.. — E se a fêmea machucar Esme... — Estremeci pensando na matriarca doce e em Rosalie que também estava lá lutando por nós. — Como eu poderia viver comigo mesma sabendo que é minha culpa? Nenhum de vocês devia estar se arriscando por mim.

— Bella, Bella, pare — Jasper interrompeu-a, sem me soltar no entanto. Eu sabia que ele ainda lutava com o cheiro dela, era bom saber que eu era de alguma ajuda e neutralizava a sensação para ele. — Você está se preocupando com as coisas erradas, Bella. Confie em mim, nenhum de nós corre risco. Você já tem coisas de mais com as quais se estressar; não adicione isso tudo á preocupações desnecessárias. Me ouça! Nossa família é forte.

Bella pareceu concordar e as palavras de Jazz trouxeram algum alívio para mim também.

Foi um dia muito longo. Eu não comi nada o dia todo, a sensação de enjoo não me abandonada e o cansaço também não, apesar de não conseguir fechar os olhos sem ver aquele bebê sendo morto. 

Nós ficamos no quarto. Alice ligou para a recepção e pediu que cancelassem o nosso serviço de camareiras por enquanto. As janelas continuaram fechadas e a TV ligada, apesar de ninguém estar assistindo. O telefone prateado em cima da bolsa de Alice parecia ficar maior enquanto as horas passavam. Enquanto eu me preocupava, Bella andava pra lá e pra cá, Jazz e Alice só ficavam cada vez mais imóveis, duas estátuas cujos olhos nos seguiam imperceptivelmente enquanto nos movíamos. Jasper tentou me distrair com leitura, e mais tarde naquele dia, nós brincamos um pouco influenciando um ao outro. Às vezes do nada eu tinha uma crise de riso e do nada eu fazia Jasper ficar tão triste que ele se tornava especialmente dramático — e isso não combinava nem um pouco com ele. Às vezes do nada, eu o fazia rir descontroladamente, mas o dom era dele, então não era grande coisa, eu era só a parasita que pegava carona em seu dom. Mas foi engraçado, principalmente porque Alice e Bella se sentiam influenciadas também. Foi constrangedor quando joguei para ele todo o meu desejo e as duas garotas me encararam abismadas. Eu não sabia de onde aquilo vinha, mas eu sei que estava enlouquecendo. E tudo bem, não era a hora, o lugar ou o momento apropriado, mas eu o queria. Jasper me lançou olhares mortais mais uma vez, porque sempre que eu me distraía, isso vinha a minha mente. Então eu parei, me ocupei em memorizar o quarto; as listras padronizadas do sofá, bronze, pêssego, creme, dourado escuro, e então bronze de novo. As vezes eu olhava para as pinturas abstratas, ocasionalmente achando desenhos nas formas, como eu encontrava os desenhos nas nuvens quando eu era criança. Eu encontrei uma mão azul, uma mulher penteando o cabelo, um gato se estirando. Mas quando o círculo vermelho se transformou num olho me encarando, eu desviei o olhar. Enquanto a tarde passava, eu voltei para a cama, simplesmente pra ter algo pra fazer. Eu esperava que estando sozinha no quarto, eu poderia me entregar aos terríveis medos que pairavam na minha consciência, impossibilitados de se libertarem por causa da supervisão cuidadosa de Jasper.

Mas Alice me seguiu casualmente, como se por coincidência ela tivesse se cansado da sala ao mesmo tempo que eu. Eu me estirei na cama, e ela sentou, com as pernas cruzadas, perto de mim. No início eu ignorei ela, repentinamente cansada o suficiente para dormir. Mas depois de alguns minutos, o pânico que estava se escondendo na presença de Jasper começou a aparecer.

Nessa hora eu desisti da ideia de dormir rapidamente.

— Rosalie mandou lembranças. — Ela disse de repente.

— Loira psicopata. — Murmurei e Alice sorriu, assentindo.

— Ela gosta de você. 

Dei de ombros. — Ela tenta negar, mas eu sei que gosta.

Alice riu baixinho.

— Fico feliz por você e Jasper, sabe? Eu nunca o vi tão... Completo.

— Isso não é estranho pra você?

Ela me olhou por um momento, bastante séria. — No começo sim, quando eu vi você, eu achei que estava ficando louca. Eu odiei você, não me orgulho disso. — Me olhou culpada. — Então eu pensei que poderia te matar, antes dele encontrá-la e ai eu tive outra visão, ele se acabaria... Jasper ia se entregar a sua natureza vampira, ele jamais seria o mesmo, só um corpo sanguinário rodando sem consciência.

— Alice...

— Tudo bem, eu entendi que precisava trazê-lo até você. Acredito em destino, Cassie. Depois disso eu entendi que não podia perdê-lo para essa natureza cruel, mas que poderia perdê-lo para você.

— Isso... Machuca você?

Ela sorriu lindamente. — Não mais, querida. — Tocou minha mão. — Tomei essa decisão há cinquenta anos e não me arrependo. Você o faz muito feliz.

— Cinquenta anos? Você me viu...?

Ela sorriu ainda mais.

— Antes de você nascer. Fui até sua casa, quando era um bebê. Eu esperei ansiosamente por seu nascimento. Você era tão linda, a criança mais bonita que já conheci.

Eu abri a boca, chocada. — Isso é... surreal, Alice.

— Eu sei.

— Mas obrigada, por me contar.

— Sabe Cassie, acho que isso vai soar estranho, mas sinto que seremos boas amigas. 

Eu sorri abertamente para ela e assenti. Sim, isso soa muito estranho, mas também soa reconfortante.

Bella entrou o quarto, parecendo um pouco perdida. Eu me afastei e ela se sentou ao meu lado, pegando minhas mãos. Os olhos grandes encararam Alice e vi Alice ficar tensa.

— Por favor, Alice.

— Edward não vai gostar. — A vampira respondeu parecendo emburrada.

Eu não entendi nada, mas optei por ficar em silêncio.

— Isso não é da conta dele. Isso é entre eu e você. Alice, como amiga, eu estou te implorando. 

— Eu vou te contar o lado mecânico da coisa — ela disse finalmente. — mas nem eu mesma me lembro do que aconteceu, e eu nunca fiz isso ou vi sendo feito, então fique consciente de que só posso te contar o que eu sei na teoria.

Eu esperei.

— Como predadores, nós temos um excesso de armas em nosso arsenal físico, muito, muito mais do que aquilo que realmente necessitamos. A força, a velocidade, os sentidos aguçados, sem mencionar aqueles como Edward, Jasper e eu, que temos sentidos extras também. E então, como uma flor carnívora, nós somos atraentes para a nossa presa. — Ela sorriu um sorriso largo, nefasto. — Nós temos outra arma um tanto quanto supérflua. Nós também somos venenosos — ela disse, seus dentes brilhando. — O veneno não mata, é meramente incapacitante. Ele se espalha lentamente, se espalhando na corrente sanguínea, pra que, uma vez mordida, a presa sente dor física demais para escapar. Um tanto quanto supérfluo, como eu disse. Se nós estivermos tão perto, a presa não vai escapar. É claro que sempre existem exceções. Carlisle, por exemplo.

— Então... o veneno é deixado lá pra se espalhar... 

— Levam alguns dias para a transformação estar completa, dependendo de quanto veneno há na corrente sanguínea, de quão devagar o veneno entra no coração. Enquanto o coração continua batendo, o veneno se espalha, curando, mudando o corpo enquanto passa por ele. Eventualmente o coração para, e a conversão chega ao fim. Mas durante todo o tempo, durante cada minuto, a vítima estará desejando estar morta.

Eu tremi.

— Não é muito prazeroso, você vê.

— Porque você acha que não lembra? — Questionei pensativa.

— Eu não sei. Pra todos os outros, a dor da transformação é a memória mais forte da vida humana. Eu não me lembro de como é ser humana.

Sua voz estava severa.

Nós ficamos em silêncio, cada uma envolvida em seus próprios pensamentos.

Os segundos se passaram, e eu quase esqueci da presença dela. Então, sem aviso, Alice saltou da cama, pousando levemente nos seus pés. Minha cabeça deu um pulo e eu encarei ela, alarmada.

— Algo mudou. — A voz dela estava alarmada, e ela não estava mais falando comigo.

Ela alcançou a porta ao mesmo tempo que Jasper. Ele obviamente estava ouvindo a nossa conversa e ouviu a exclamação súbita. Ele colocou as mãos nos ombros dela e a guiou de volta para a cama, sentando ela na beirada.

— O que você vê? — ele perguntou atentamente, olhando dentro dos olhos dela. Os olhos estavam focados em alguma coisa que estava muito longe. Eu sentei perto dela, me inclinando para entender sua voz rápida e baixa.

— Eu vejo um vestiário. É longo, e tem espelhos me todo lugar. O chão é de madeira. Ele está nesse vestiário, tem um banco lá, e ele está esperando. Há dourado... uma faixa dourada por entre os espelhos.

— Onde é Alice?

Fico tensa imediatamente.

— Eu não sei. Está faltando alguma coisa outra decisão que ainda não foi tomada.

— Quanto tempo?

— Em breve. Ele estará na sala dos espelhos hoje, ou talvez amanhã. Isso depende. Ele está esperando por alguma coisa. E ele está no escuro agora.

A voz de Jasper estava calma, metódica, enquanto ele interrogava ela cheio de prática.

— O que ele está fazendo?

— Ele está assistindo Tv... não, ele está passando uma fita de vídeo, no escuro, em outro lugar.

— Você consegue ver onde é?

— Não, é escuro demais.

— E o espaço dos espelhos, o que mais há lá?

— O que isso significa? — eu perguntei.

Nenhum deles respondeu por um momento, e então Jasper olhou pra mim.

— Significa que os planos do perseguidor mudaram. Ele tomou uma decisão que vai guiá-lo ao quarto dos espelhos, e ao quarto escuro.

— Mas nós não sabemos onde esses quartos são? — Perguntou Bella confusa. 

Eu estremeci, porque eu sabia. Treinei lá por anos.

— Não.

— Mas nós sabemos que ele não estará nas montanhas á Norte de Washington, sendo caçado. Ele vai enganá-los. — A voz de Alice estava vazia.

— Devemos ligar? — eu perguntei. Eles trocaram um olhar sério, indecisos.

E então o telefone tocou. Alice já estava do outro lado da sala antes que eu pudesse levantar minha cabeça pra olhar. Ela apertou um botão e colocou o telefone no ouvido dela, mas ela não foi a primeira a falar.

— Carlisle — ela respirou. Ela não pareceu surpresa ou aliviada, como eu estava.

— Sim — ela disse, olhando pra mim. Ela escutou por um momento.

— Eu acabei de vê-lo — ela descreveu de novo a visão que tinha acabado de ter. — O que quer que tenha colocado ele naquele avião... está levando ele para aquelas salas. — Ela parou. – Sim — Alice disse para o telefone, e então se virou para minha irmã. — Bella?

Era Edward. Ele e Bella conversaram rapidamente e eu não pude ouvir, mas Jasper e Alice sim. Eles já pareciam, no entanto, saber qual era o assunto. Comecei a ficar ansiosa com a curiosidade

Ela desenhou uma sala: longa, retangular, com marcações quadradas, mais fina lá no final. As placas de madeira estavam expostas na longitudinal em todo o chão da sala. Nas paredes, as linhas denotavam o espaço de um espelho para o outro e em seguida completavam com fileiras de armários. E então, atravessando os espelhos, acima da altura cintura, uma longa faixa. A faixa do Santa Mônita Futebol Clube. Era o meu clube.

— É um vestiário de futebol. — eu disse, surpreendo-os. 

Eles olharam pra mim, surpresos.

— Você conhece? — A voz de Jasper parecia calma, mas havia algo por baixo dela que eu não podia identificar. Alice abaixou a cabeça para o seu trabalho, agora sua mão voava sobre o papel, o formato da saída de emergência no fundo da sala, o som e a TV numa mesa baixa que ficava no canto da frente da sala.

— É o meu clube de futebol. Eu era a capitã do time. — Toquei o papel, mostrando a eles a extremidade sul. — Aqui tem uma salinha, onde tem os troféus e é onde tem uma pequena televisão.

Alice e Jasper estavam olhando pra mim.

— Você tem certeza de que é a mesma sala? — Jasper perguntou, ainda calmo. Eu podia sentir a tempestade por baixo de sua calmaria. Ele estava enlouquecendo mas não queria assustar Bells ainda mais.

— É absolutamente parecido, porém é só um vestiário, pode haver outros iguais. — Eu dei de ombros.

— Você teria algum motivo pra ir lá agora? — Alice perguntou, me tirando do devaneio.

— Não, quero dizer, eu saí do time quando me mudei para Forks. A última vez que fui lá foi quando eu vim visitar minha mãe. Fui visitar as meninas. — Admito encarando-a confusa.

— Entendo.

— Onde fica, Cassie? — Jasper perguntou numa voz casual.

— Era na esquina da casa da minha mãe. Eu costumava ir andando pra lá depois da escola... — eu disse, minha voz fugindo. Eu não perdi o olhar que eles trocaram.

— Aqui na Califórnia, então? — a voz dele ainda estava casual.

— É. Fica na travessa da quinze com a dezoito. 

Nós todos sentamos em silêncio, olhando para o desenho.

— Alice, o telefone é seguro? — Bella chamou a atenção de repente.

— Sim — ela me assegurou. — O número vai ser localizado em Washigton.

— Então eu posso usá-lo para ligar para a minha mãe?

— Eu pensei que ela estivesse na Flórida.

— Ela está, mas ela vai voltar pra casa em breve, e ela não pode voltar pra casa enquanto... 

— Como é que você vai encontrá-la?

— Eles não têm números permanentes exceto em casa, ela tem que checar as mensagens regularmente.

— Jasper? — Alice perguntou.

Ele pensou. — Eu acho que não pode fazer mal nenhum, mas tome o cuidado de não dizer onde está, é claro.

Bella pegou o telefone, discando os números e em seguida afastou-se um pouco. Eu me sentei sobre o sofá, observando o desenho com um arrepio. Isso era absolutamente estranho. Eu me concentrei no jornal, assistindo histórias sobre a Flórida ou sobre o treinamento de Primavera — greves, ou furacões ou algum ataque terrorista — qualquer coisa que pudesse fazer eles voltarem mais cedo pra casa. Imortalidade deve garantir paciência infinita. Nem Jasper nem Alice pareciam sentir a necessidade de alguma coisa pra fazer. Por algum tempo, Alice desenhou os traços da sala escura que ela havia visto, tudo o que ela podia ver pela leve luz da TV. Mas quando ela terminou, ela simplesmente ficou olhando para o vazio das paredes, com seus olhos eternos. Jazz, também, parecia não ter nenhuma necessidade de se mover, ou de dar uma olhadinha pelas cortinas, ou sair correndo pela porta, como eu queria. Eu devo ter pego no sono no sofá, esperando o telefone tocar de novo. 

O toque frio de Jasper me acordou brevemente enquanto ele me carregava para a cama, mas eu já estava inconsciente antes de encostar no travesseiro. Senti seu beijo em minha testa e seu amor me envolver como um cobertor.

E adormeci mais uma vez.


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