A M O N G U S escrita por Ero Hime


Capítulo 6
K I S S U S


Notas iniciais do capítulo

Eu nem tenho palavras para descrever esse bloqueio criativo dos infernos. Eu mal conseguia escrever cem palavras. Foi horrível. E o de sempre: faculdade, emprego, provas, vida. Sinto muitíssimo. Mas eu não abandonei a fanfic, e nem pretendo, por mais que demore para postar. Ela é meu xodó! Tenham paciência, que eu vou continuar postando sempre que conseguir, até acabar.
Obrigada por todo o apoio. Em especial, para a Prongsnitch (e para a melhor amiga dela também!), que me mandou uma MP super legal, e foi muito fofa. Obrigada, meu amor, você me inspirou e muito para terminar esse capítulo!



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 — Ela estava chorando.

Você beija tão mal assim? 

Ou sobre aparências, vivências, uma vitória amarga e um contato doce –

 

Naruto estava animado – quer dizer, ele estava sempre em um estado de mais pura euforia, não importava a situação. Mas, especificamente naquele momento, Naruto encontrava-se em um novo estado de excitação desmedida, que impulsiona a gritar e correr e sorrir com toda a bochecha. Àquela altura do campeonato, ele já deveria ter acostumado, mas era sempre tudo tão novo e brilhante. Sinceramente – era tudo mágico.

Quando prestou os NOM’s, Naruto tinha quase certeza que entraria para a história como o primeiro bruxo a repetir em Hogwarts. Confessava: as últimas semanas foram dolorosamente longas para o garoto. Embora seu perfil não se categorizasse em afundar-se em livros e anotações, passava a maior parte do tempo imerso em seus pergaminhos, tentando, por algum milagre, absolver todo o conteúdo das matérias efetivas. Agradeceu à Merlim por não ter escolhido tantas optativas, e – modéstia a parte – ele era muito bom em Runas Antigas. No entanto, sabia que “regular” não seria o suficiente, e o desespero lhe tirou o sono algumas (muitas) vezes. Logicamente, ele não pensou em feitiços de resposta automática para penas ou espelhos mágicos de cola. Claro que não.

Mas, no final do ano, quando recebeu suas notas, ele literalmente quase beijou cada professor que encontrava – até mesmo o diretor da Sonserina –. Além de ter passado com louvor, conseguiu notas suficientes para ser aceito nas turmas de Poções e Feitiços. Abandonou Estudo dos Trouxas para poder se dedicar inteiramente às aulas de Defesa Contra as Artes das Trevas, e, ao conversar com Tsunade enquanto tomavam uma boa xícara de chá – Naruto tomou chá, Tsunade tomou algo que Naruto suspeitou ser whisky de fogo –, a diretora parecia verdadeiramente orgulhosa. Nada dissera, mas a bruxa via em Naruto um futuro auror.

Voltou para casa nas férias e matou a saudade que estava da velha fazenda trouxa, dos animais trouxas e da vida pacata e comum em uma cidadezinha do interior do estado. Acordar cedo e fazer trabalho manual era reconfortante. Sua mãe o mimou até quando pode, e, sinceramente, Naruto quase preferiu não retornar para mais um ano escolar. Quase. Porque Hogwarts era seu lar, e ele mal podia esperar para voltar para casa.

Infelizmente, naquelas férias ele não viu o irmão, de novo. Mas disfarçou bem a decepção, e, depois de alguns dias, substituiu os pensamentos ruins por boas lembranças. Além de retornar à vida antiga, mesmo que por algumas semanas, também trocou correspondências com os amigos, e, nos últimos dias, se encontraram todos no Beco Diagonal para a compra dos materiais. Naruto ganhou dinheiro dos pais para uma capa nova – dinheiro trouxa, que ele converteu em várias galeões dourados e brilhantes –, além dos livros e um kit polidor de vassouras, cujo qual o garoto guardou com muito cuidado.

Agora, já na estação de King Cross, entre as plataformas 9 e 10, o garoto saltitava, inquieto, enquanto esperava sua mãe voltar do carro. Seu pai ria disfarçado do garoto, tentando mantê-lo parado. Já havia visto vários de seus colegas, que sumiam entre as lacunas. Queria entrar logo pelo portal e encontrar os amigos. Finalmente tinha 16 anos, e era um dos mais velhos da turma. Podia gabar-se de entrar no Três Vassouras sozinho e pedir cerveja amanteigada. E, em poucos meses, poderia começar as aulas preparatórias de aparatação! Aquele ano seria, definitivamente, o melhor – Naruto recusava-se a pensar nos NIEM’s, ou em qualquer responsabilidade, apenas.

Arrumou a bolsa sobre os ombros, enquanto afrouxava a gravata vermelha e amarela ao redor da gola da camisa social devidamente passada. Embora usasse sapatos lustrados, a calça de brim e o casaco jogado despojadamente sobre seus ombros deixava-o menos almofadinha. Tornou a despentear o cabelo, deixando os fios rebeldes ainda mais altos, mesmo que insistissem em cair-lhe pelos olhos. Enquanto virava para comentar algo com seu pai, seus olhos se perderam na direção contrária, onde algumas pessoas caminhavam com pompa e os ombros eretos, empurrando carrinhos brilhantes com grandes malões. As palavras engasgaram na garganta de Naruto, que encarou, paspalhado. Um par de olhos ferozes encarou os seus, e ambos sustentaram o olhar até que desviaram. Naruto podia jurar que viu um acenar discreto de cabeça, mas provavelmente era sua mente lhe enganando de novo. Embora quisesse muito sonhar, os homens que a acompanhavam de perto jamais permitiriam tal ato de traição.

— Quem era, filho? – Minato comentou, notando a cena que se sucedeu nos últimos segundos. Naruto voltou-se para ele, sentindo o rosto esquentar, e levou uma das mãos atrás da cabeça, desconversando.

— Quem, pai? – deu um riso sem graça.

— A garota que você ficou encarando. – Minato lutou para não rir quando viu o rosto do filho assumir um curioso tom de vergonha.

— Só uma garota da escola. – murmurou – Ela é de outra Casa, e acho que ela me odeia. – murmurou. O Namikaze ainda lutava para entender o sistema de divisão da escola, mas supôs que a garota deveria ser de uma outra sala rival, a julgar pela cor diferenciada das vestes.

— Ela é muito bonita. – comentou – Não parece que odeia você.

— Ah, ela odeia sim. – Naruto garantiu – Ela e toda a família dela. Eu meio que venho tentando sair com ela há uns dois anos. – admitiu, envergonhado – Mas eu pedi tantas vezes que ela não suporta me ver. – Minato soltou uma gostosa gargalhada.

— Esse é meu filho! – o Uzumaki não entendeu o tom orgulhoso – Você acha que casar com a sua mãe foi fácil? Eu quase apanhei várias vezes antes de conseguir levar ela para sair! – Naruto abriu a boca, chocado – Escute o que eu estou dizendo, filho: se uma garota é durona, então ela é uma garota que vale a pena.

Naruto não respondeu, mas as palavras do pai ficaram ecoando em sua mente, e, subitamente, ele se sentiu motivado, mais motivado do que jamais estivera. Algo dentro de si dizia que ele conseguiria – a sonserina fria, arrogante e metida se renderia ao seu charme. Revigorado, abraçou o pai, e, quando sua mãe voltou, trocaram um olhar e um sorriso confidente, enquanto a ruiva os encarava, confusa.

 

Do outro lado da plataforma, Hinata permanecia encostada em um pilar, com as costas eretas e os pés cruzados. A cabeça estava baixa, encarando o chão. Perguntava-se o que poderia existir de tão interessante para que ela continuasse com os olhos voltados para baixo, mas ela já sabia a resposta – já sabia há muito.

Fitava seus sapatos lustrados e a meia calça fina demais, protegendo sua pele, embora o clima de outubro não fosse, de fato, frio. A capa jogava sobre seus ombros pesavam mais que o normal, embora fosse feita da mais nobre linha. O brasão verde e prateado em seu peito queimava mais que qualquer feitiço paralisante. O cabelo, preso atrás das orelhas, insistia em cair-lhe pelos olhos, e ela ajeitava-os rapidamente, procurando fazer o mínimo de movimento possível. Respirava com dificuldade, com os ombros subindo e descendo imperceptivelmente.

Ao seu lado, no entanto, os dois homens conversando com a voz baixa e os olhos de falcão, monitorando tudo e todos. Estavam com a cabeça erguida e a postura ereta, imposta e rígida. O mais velho apoiava-se em sua bengala brilhante, com a esmeralda encrustada sobre o olho da serpente no topo. O mais novo exibia seu manto com orgulho, deixando a vista o brasão chamativo. O longo cabelo, penteado para trás com gel, apenas deixava-o mais engomado, e, sob seus pés, a mala de couro legítimo de dragão, também a mostra. Hinata odiava-se por não conseguir levantar os olhos, odiava-se por não ter coragem de manter os ombros para trás.

— Isso é patético. Nunca vi tantos nascidos-trouxas juntos. – o mais velho comentou com asco, quase cuspindo veneno – Hogwarts se tornou uma piada depois que Sarutobi assumiu. Eu devia ter mandado Hinata para Durmstrang. Aquela, sim, é uma escola de respeito.

— O diretor aceita cada vez comportamentos inadequados. É ridícula a maneira que ele protege aqueles paspalhos. – completou o mais novo, quase com louvor.

— Ainda bem que Orochimaru ainda tem sabedoria, e te nomeou como monitor, filho. – as rugas rígidas sob seus olhos curvaram-se minimamente – Aquele lugar precisa de um pouco de disciplina. Infelizmente – virou-se um pouco para a direita – ele também te nomeou monitora. Espero que aprenda alguma coisa com seu primo.

Hinata suspirou pesadamente – mas somente em sua cabeça. Por fora, assentiu, sem nada dizer, e permaneceu na mesma posição. Se Neji a fitou, o fez com uma discrição impecável. Eles nunca iam contra Hiashi Hyuuga, mas a diferença era que Neji aprendera como usar a postura do líder a seu favor. Hinata apenas acumulava ódio e ressentimento, tornando cada minuto que passavam juntos um verdadeiro inferno.

Neji era inteligente. Notas perfeitas, uma vaga na disputada classe de Poções e em História da Magia. Hiashi não aprovava o gosto peculiar que o garoto tinha por estudar os pergaminhos extensos que contavam milimetricamente cada história dos povos mágicos, mas, contanto que Neji continuasse apresentando resultados, podia estudar o que quiser. Hinata, por outro lado, foi perfeita. Recebeu Ótimo em todos os NOM’s, e estava apta para continuar nos NIEM’s. Conseguiu entrar em Defesa Contra as Artes das Trevas e Feitiços. Era monitora, aluna recomendada. Mas apenas o sucesso de Neji era exaltado.

Na escola, Neji até que era aceitavelmente amigável. Conversava polido com seus amigos, se preocupava com seus horários e suas refeições, lhe ajudava com os deveres mais difíceis e guardava segredos. No entanto, na presença de Hiashi, Neji precisava desesperadamente da sua constante aprovação, e, para a infelicidade de Hinata, eles eram mais parecidos do que ela realmente gostaria.

Respirou fundo, convencendo, pela milésima vez, de que em poucos minutos estaria longe de Hiashi e sua bolha tóxica. Estaria indo para casa – ela mal via a hora de chegar em Hogwarts. Conversar com Sasuke e Gaara, ver Itachi, até mesmo conversar com Tenten – a garota estranha, porém divertida, da Corvinal, com quem fizera amizade no ano passado, depois de uma detenção na enfermaria –. E, então, não veria Hiashi por um longo ano. E, depois, seria uma bruxa maior de idade, pronta para seguir seu próprio destino. Não que se visse realmente livre das amarras de seu nome, mas, ao menos, seria livre para tentar.

Dispersa, lembrou-se da cena há pouco, quando encarou o Uzumaki por tempo demais – mais do que ela gostaria. Estava caminhando com Hiashi e Neji quando toparam com o loiro e um homem alto, que deveria ser seu pai (ele certamente tinha o charme). Mas, acompanhada dos outros dois Hyuuga, Hinata não pode fazer muito mais que encarar, embora estivesse coçando para atormentá-lo. Ela estava sentindo aquela necessidade estranha de falar com o grifinório, nem que fosse para azará-lo.

— Está me ouvindo, Hinata? – a garota acordou do transe, concordando com a cabeça, distraidamente, enquanto o mais velho sibilava – Estou lhe avisando. Fique longe daquele sangue-ruim da Grifinória. Não gosto da maneira que vocês parecem sempre estar se encontrando. – resmungou, e Neji não se pronunciou dessa vez. Hinata sentia vontade de gritar.

VOCÊ ACHA QUE EU ESTOU FAZENDO DE PROPÓSITO, SEU VELHO RIDÍCULO?

— Ficarei, pai. Não tenho interesse nenhum em ficar perto dele. – respondeu mecanicamente, sem descruzar os pés ou fitá-lo nos olhos.

— Acho bom mesmo. Vamos, pegue suas coisas, o trem está para partir. – os ombros de Hinata pareceram infinitamente mais leves depois dessa frase, Apanhou sua bolsa de mão, enquanto sua mala era guardada no outro compartimento, e seguiu Neji rumo ao vagão dos monitores, para a reunião.

Ela não estava realmente animada com aquilo – haveriam rondas, e teria que conversar com os monitores das outras Casas. Ela já era odiava demais sem se destacar, agora ainda teria o poder de aplicar detenções. Não que soasse ruim. Já imaginava todo seu stress sendo descontado em inúmeras punições para o Uzumaki e sua trupe de grifinórios. Ela quase conseguia sorrir diante da possibilidade.

No fundo, também estava nervosa. Estar no sexto ano significava estar mais próxima de sair da escola. Assim que se formasse, tudo estaria acabado – ela teria de escolher uma profissão, um futuro, um destino. Ela era uma Hyuuga, e, com a sua experiência, sabia que aquelas palavras apontavam para apenas um caminho a seguir. Incomodada, coçou o braço sobre a manga do casaco. Neji continuava a caminhar na frente, e as pessoas lhes davam espaço para passar sem que precisassem pedir. Hinata suspirou internamente.

— Você vai se sair bem. – quase pediu para que ele repetisse, mas resolveu não arriscar. Andou um pouco mais rápido, até que estivesse a apenas alguns centímetros longe de suas costas, e engoliu a surpresa.

— Obrigada. – murmurou, incerta.

— Vai ser uma ótima monitora. Também escutei dos alunos do último ano que Tsunade está muito feliz em tê-la em sua turma de Poções este ano. – Hinata jurou ter visto um relampejo de sorriso.

— É besteira dela. – balançou a cabeça – Espero que o ano corra bem. Tem tantas coisas para fazer, com os NIEMs e as aulas, os trabalhos, monitoração… – deixou a frase morrer com o som do apito do trem que soou alto.

— Como eu disse: – Neji parou e virou-se. Suas orbes peroladas tinham um curioso brilho zombeteiro, mas um tanto quanto verdadeiro – Você vai se sair bem.

O garoto entrou na cabine sem esperar, deixando a garota confusa e atônita para trás. Depois de alguns segundos, recuperou-se e entrou, baixando a cabeça, convencendo-se que todos naquela família eram definitivamente malucos.

Nunca havia estado na cabine dos monitores, e precisava admitir que era de dar inveja. Estofados de couro falso de dragão decoravam o ambiente, junto de inúmeros potes flutuantes com os mais variados tipos de doces, desde abóboras, feijõezinhos, sapos de chocolate e algumas varinhas de alcaçuz com cores estranhas. Hinata acomodou-se no canto, sem cumprimentar ninguém, enquanto o trem colocava-se em movimento e as pessoas do lado de fora acenavam, afoitas, mães recomendando filhos, pais e irmãos se despedindo. Distraída, a garota identificou a monitora grifinória, com o leão estampado em seu brasão e um sorriso enjoativo. Era loira e linda, com o cabelo liso perfeito e os olhos azuis perfeitos. Hinata quis transfigurá-la em um guaxinim naquele momento.

A reunião não foi demorada. O monitor-chefe, da Corvinal, recomendou os novos monitores, passou-lhes os distintivos e as listas de rondas, além de algumas advertências necessárias. Hinata assentiu o tempo todo, entediada. Ela sabia de tudo aquilo. Só queria ir para sua cabine e dormir até chegarem em Hogwarts. Quando foi dispensada, acenou para Neji e seguiu para o fundo do vagão da Sonserina. Quando entrou, surpreendeu-se ao encontrar três pessoas.

 

Naruto estava adorando o sexto ano. De verdade. Por Merlin. Era, de longe, o melhor ano. Apesar das aulas terem começado há pouco mais de dois meses, já conseguira sentir toda a tensão e a cobrança de ser – quase – um sênior. Mas, por estar nas classes específicas, seu horário era infinitamente melhor. Ele podia ir às aulas que quisesse e tinha tempo para praticar e fazer suas lições. Embora as turmas fossem mescladas com todas as Casas, por serem apenas os alunos aceitos nos NOMs, não haviam tantas rixas.

Bem, não tantas.

Infelizmente estudava com poucos amigos e muitos inimigos. Sakura, Ino e Shikamaru estavam consigo em Poções e Feitiços, mas apenas Shikamaru estava com ele em Defesa Contra as Artes das Trevas, e, pior, nenhum amigo em Transfiguração. Não era o único da Grifinória naquela turma, mas era amigável com muitos, e confiava em poucos. Sentia falta de alguém para desabafar enquanto Asuma passava trechos entediantes do livro antes de realmente treinarem.

Enquanto Naruto se via privado de um bom círculo social que não envolvesse conversar com Nick Quase Sem Cabeça no jantar, era obrigado a ver sonserinos a todo momento. Os desgraçados eram inteligentes, e estavam em todas as suas turmas. Até mesmo em Trato de Criaturas Mágicas, que era dada pelo diretor asqueroso deles. O Uzumaki ainda não conseguia distinguir se ficava feliz ou triste ao ver a Hyuuga todos os dias, mas ele tinha que admitir que a garota mexia com ele mais que uma azaração.

De alguma maneira sinistra, Hinata parecia ainda mais bonita. O cabelo mais comprido e traços mais adultos, ela definitivamente crescera alguns números no verão. Passou a usar o uniforme mais despojado e raros eram os dias em que a camiseta de botões e a gravata verde e esmeralda não realçassem seu decote. Entretanto, o que Hinata desenvolvera de beleza, também desenvolvera de arrogância. Ela estava simplesmente impossível! Como monitora, não havia um só dia em que Naruto não fosse repreendido por ela, mesmo quando não estava fazendo nada – ele jurava que jogar Snaps Explosivos em armaduras para assustar o Pirraça não era uma brincadeira perigosa.

O loiro grunhiu, subitamente irritado. Só mesmo aquela sonserina maldita para mudar seu humor em questão de segundos.

Continuou caminhando pelo corredor sinuoso, e seu rosto relaxou quando o sol alcançou seus olhos. O castelo estava silencioso naquela manhã de sábado, e as torres ainda abrigavam a maioria dos alunos, que dormiam. Naruto e poucos haviam levantado antes do raiar, e, apesar de cedo, o garoto sentia-se renovado. Depois de voltar para Hogwarts, aquilo era o que ele mais ansiava.

Seria o último treino antes do primeiro jogo oficial pela Copa das Casas, contra ninguém menos que a Sonserina. Naruto mal continha-se em pé. Era apanhador oficial há dois anos, mas Sasori já havia lhe dito que seria capitão quando o garoto saísse para um intercâmbio no Egito, para estudar Runas. O loiro seria um dos capitães mais novos a assumir no meio do ano letivo, e ganhar o primeiro jogo significaria muito.

Ele estava confiante. Tinha bons tempos e sua vassoura era rápida. Com um bom arranque e os olhos no pomo, ele conseguiria apanhar antes do outro time fazer 20 pontos. Eles apostavam em força bruta, e só o apanhador sonserino era problema – o Hyuuga era bom e ligeiro com a vassoura, além de fazer manobras perigosas no ar. Aparentemente era um primo bem próximo de Hinata. E, novamente, ela era o pilar de todas as preocupações de Naruto.

O garoto chegou ao vestiário quase cheio. Todos estavam acordados e prontos, incluindo os reservas e o capitão, que já resmungava alguma coisa para sua capa de jogo. Ninguém lhe dava atenção, conversando em pequenos grupos. Naruto se aproximou de um garoto do quarto ano, um dos batedores. Não se lembrava seu nome, mas ele era bom.

— Oi, Naruto! – cumprimentou o garoto, com os óculos um pouco tortos em seu rosto.

— Oi, e aí. – cumprimentou o restante com um aceno de cabeça – O que foi? Parece que tomaram suco de abóbora estragada no café da manhã.

— Estávamos conversando sobre nosso público hoje. – Kiba chegou na roda também, trocando um cumprimento com Naruto. Ele e o Uzumaki eram os únicos sextanistas do time – Parece que o Itachi Uchiha ainda está em Hogwarts. – Naruto revirou os olhos com a fofoca, embora estivesse curioso.

— Impossível. Ele se forçou há, tipo, dois anos atrás. – o garoto estava descrente. Mesmo sendo da Grifinória, conhecia Itachi Uchiha, uma lenda entre os corredores. O Sonserino mais famoso que já andara por aqueles corredores. Pessoalmente, nunca tivera a chance de falar com ele, mas lembrava-se dos primeiros anos, quando o via com seu irmão mais novo e a Hyuuga. Hyuuga.

— Sim, exatamente! – Kiba parecia animado – Nós estamos apostando porque ele ainda está aqui. Eu acho que ele está procurando o tesouro de Ravena, mas os meninos acham que é por conta de uma garota. – rolou os olhos – E o Konohamaru aqui acha que é porque ele está procurando um ovo de dragão antigo na Floresta Proibida. – Ah! Então ele se chama Konohamaru!— Quer entrar? Dois galeões.

— Estou com você, Kiba. O cara é um gênio, ele, com certeza, poderia achar o diadema e se tornar, não sei, uma lenda viva. – deu de ombros – Ele jamais ficaria nessa escola por uma garota.

— Garota, dragões, tiaras, centauros galopantes, não importa. – Sasori finalmente os interrompeu, com a capa e os óculos no lugar – Vamos treinar. O tempo está firme, e o jogo começa as três. Vamos dar uma boa voada e repassar nossas estratégias. – os garotos riram da ansiedade do capitão, mas seguiram para o campo sem pestanejar.

Chegaram ao campo, com as arquibancadas vazias e os baús com as goles já no centro. Naruto apoiou sua vassoura contra os ombros, observando Sasori desatar todas as amarras que seguravam as bolas no lugar. Por último, tirou o pomo, que acordou e começou a bater suas asinhas.

— Muito bem, time. Vocês estão em ótima forma. Nosso goleiro pegou oitenta e cinco por cento das goles no último treino. Se repetir isso no jogo, não deixaremos eles marcarem uma. Uzumaki – Naruto se virou para ele – Contamos com você para pegar essa belezinha antes da primeira hora. Se ficarmos muitos cansados, cometeremos erros. Cuidado com o Hyuuga, não lhe dê brecha. Não confio naquela cobra. – resmungou e Naruto assentiu, confiante. Todos se posicionaram e, soado o apito, começaram a treinar.

 

Hinata não gostava de jogos. Hinata não gostava de Quadribol, nem de jogos de Quadribol. Hinata não gostava dos jogadores, dos torcedores ou dos fãs de Quadribol. Mas, sendo uma bruxa, e, estudando em Hogwarts, Hinata não gostar de Quadribol implicava em basicamente nada. Ela estava lá, vestida e pronta, sendo arrastada por seus amigos para o campo, onde a primeira partida do ano começaria em poucos minutos. Hinata não gostava dos jogos, mas, ainda assim, usava uma ridícula luva verde e prateada nas mãos, com um dedo gigante mágico que ficava apitando a todo momento.

— Eu odeio vocês. – resmungou, irritada.

— A gente sabe. – Gaara simplesmente riu, sem se importar. Sasuke caminhava em seu outro lado, usando um broche que ficava rodando e piscando.

— Eu não preciso ir nessa merda. Eu não gosto. É um bando de pessoas ridículas voando em círculos atrás de uma bolinha dourada. Eu sequer entendo as regras. – bufou, afastando a luva para coçar a mão, que começava a pinicar. O clima estava ameno, mas ela começou a suar no pescoço.

— Hinata, você precisa criar espírito esportivo! – Gaara parecia indignado. Ele era um grande fã de Quadribol, e já viajara quatro vezes para ver os Puddlemore jogarem na Liga – Sem falar que Neji vai jogar hoje. – o ruivo ergueu uma elegante sobrancelha para Hinata, que engasgou e lhe fuzilou com o olhar.

— Eu literalmente não dou a mínima para isso. Quero que ele se exploda. – respondeu, entediada, depois de ter se recomposto.

— Vamos, Hina, vai ser legal. – Sasuke resolveu se manifestar em favor de Gaara – São apenas alguns minutos, e depois nós podemos ir na festa da vitória. Ouvi dizer que Kimimaro vai conseguir algumas garrafas de whisky de fogo.

A garota rendeu-se, se deixando ser levada pelos amigos até o campo. As arquibancadas já estavam cheias, com bandeiras, gritaria e luzes pipocando para o alto da ponta das varinhas. Na arquibancada central, os professores conversavam civilizadamente, embora Orochimaru estivesse usando o uniforme da Sonserina. Na cabine, o narrador do jogo, um fracassado da Lufa-Lufa, arrumava seus binóculos e o amplificador de voz.

Hinata ajeitou-se na arquibancada ao lado dos amigos, entre um grupo de sonserinos animados. Profanavam um hino cheio de palavrões e azarações, mas era abafado pelos gritos indistintos e pelos grifinórios, que cantavam seu próprio hino. Hinata achou barulhento demais, e permaneceu sentada, ajeitando a franja que voava com o vento. De relance, jurou ter visto fios loiros, mas desapareceram com a mesma velocidade.

As últimas semanas foram agradavelmente tranquila. O Uzumaki havia lhe encontrado nos corredores e descobrira que ela gostava de sentar na frente das aulas, mas o medo das detenções o mantinham na linha – na maioria das vezes. Poucos pedidos para sair e mais palavrões, e então a Hyuuga pensou que finalmente estava se livrando daquela perseguição estranha que durava três anos. Internamente, evitava pensar nisso, ou ficaria tomada por uma tristeza estranha e ridícula demais.

OS JOGADORES SE ORGANIZAM PARA ENTRAR EM CAMPO. O PRIMEIRO JOGO DA TEMPORADA ESTÁ PARA COMEÇAR! — gritos após a frase do narrador lufano – GRIFINÓRIA LEVOU A TAÇA ANO PASSADO, MAS FOI POR POUCOS PONTOS. SONSERINA ESTÁ PRONTA PARA A REVANCHE!

Hinata sorriu para si mesma lembrando do quão hilário foi no último jogo. Lembrou-se também de um par de olhos azuis lhe encarando fixamente antes de levantar a Taça.

Naruto, atrás da cortina, alongava as pernas e lançava feitiços preventivos no rosto, para evitar insetos em seus olhos. Sasori conversava com os batedores, que também já estavam com as vassouras. O Uzumaki estava nervoso, mas excitado, para entrar em campo. Mal podia esperar para derrotar aqueles sonserinos novamente.

— É isso pessoal. Estamos prontos. Somos melhores que eles, somos mais rápidos e mais talentosos que eles. Mantenham os olhos no jogo! – Sasori juntou o time, confiante. Levaram as mãos ao meio e subiram em um grito uníssono. Naruto sentiu-se revigorado enquanto caminhava para fora.

Seus olhos mergulharam em um mar de estudantes, cores berrantes e chamativas. Viu leões e cobras e estalinhos no ar. Viu Tsunade tentando controlar os feitiços berrantes, e riu sozinho. Seus olhos se acostumaram com a bagunça visual e logo estava pronto. Viu a outra equipe se aproximar, e mal se segurou quando o Hyuuga lhe encarou com um sorriso sarcástico. Embora as orbes tivessem o mesmo tom arrogante, algo em Neji parecia simplesmente... maligno. Naruto queria esmagá-lo.

OS JOGADORES SE POSICIONAM NO CENTRO. TREINADORA ANKO CHEGA COM SEU APITO PARA COLOCAR ORDEM. – risos se espalharam – E LÁ VAMOS NÓS. OS CAPITÃES APERTAM AS MÃOS. AI, ESSA DOEU. – Naruto observou Sasori apertar a mão do capitão sonserino até que ambas estivessem avermelhadas, e então Anko os separou – TODOS MONTADOS EM SUAS VASSOURAS. E FOI DADA A LARGADA!

Naruto pode ver o pomo sendo solto, e então seu brilho cruzou com o sol. Foi difícil, mas ele conseguiu visualizar suas asas batendo, frenéticas, indo em direção a oeste. Montou em sua vassoura e deu uma boa largada, sentindo o vento cortando seu rosto. A sensação sempre seria maravilhosa – libertadora, avassaladora, radical. Estar a metros de altura, voar. Era inacreditável, intensificado mais ainda por sua parte trouxa – a que foi criada para não voar –.

OS JOGADORES ESTÃO EM BOA FORMA. INUZUKA PASSA PARA KOBA, QUE RECEBE BEM. VOANDO RÁPIDO, DESVIOU DE YAKUSHI EM UM MOVIMENTO CERTEIRO, DEVOLVEU PARA INUZUKA, QUE PASSA PARA SENJU E PONTO! – gritos na arquibancada. Era difícil acompanhar as palavras emboladas de Tobi – NÃO TINHA CHANCE DO AKIMICHI PEGAR ESSA! RECOMEÇA A PARTIDA, DEZ A ZERO PARA GRIFINÓRIA.

Naruto sorriu para os companheiros de time. Marcar no começo sempre dava um ânimo. Focou-se no pomo, rodeando pelo alto, onde seria mais fácil localizar seu brilho. Viu algo que chamou a atenção, perto do pé de Sasori, e inclinou-se para ganhar velocidade. Satisfeito, acompanhou o movimento da bolinha, quando sentiu algo se chocar em seu ombro. Segurou firme no cabo de sua vassoura, enquanto resmungava para o moreno ao seu lado, tão rápido quanto ele.

A BRIGA É ACIRRADA ENTRE HYUUGA E O UZUMAKI. AMBOS ATRÁS DO POMO DE OURO. UZUMAKI MANTÉM UM RECORDE DE CAPTURAS, MAS HYUUGA TEVE UM BOM DESEMPENHO NAS ÚLTIMAS PARTIDAS. PARECE QUE OS APANHADORES AVISTARAM O POMO! SHIMURA PARA UMINO, PASSA PARA SAI, VOLTA PARA SHIMARU QUE DESVIA NO ÚLTIMO INSTANTE! PONTO PARA SONSERINA. – uma onda de resmungos.

Naruto sai do aperto de Neji com uma volta para a direita, mas se distancia do pomo. Deu meio volta por baixo e reclinou para subir com velocidade, procurando com o olhar. O brilho refletiu acima da sua cabeça, para leste, e não perdeu tempo. Sentia o zumbido em seu ouvido, e não podia deixar que o Hyuuga chegasse antes. Apesar de seus esforços, sentiu o garoto na ponto de sua vassoura, perto. Esticou os braços, quase podendo sentir as asas em seus dedos. Quando foi fechar, um impacto em suas costelas, e eles rodopiou, por pouco não caindo. Gemeu de dor, enquanto uma arquibancada furiosa silenciava e, segundos depois, se desmanchava em vaias.

QUE GOLPE, SENHORAS E SENHORES! NO ÚLTIMO INSTANTE HYUUGA PEGA O BALAÇO E ACERTA DIRETAMENTE NO UZUMAKI! ACIDENTE OU PREMEDITADO? SEJA O QUE FOR, TREINADORA ANKO DEU FALTA PARA SONSERINA! INUZUKA COBRA DA DIREITA E ACERTA O ARO! QUE JOGADA! VINTE A DEZ PARA GRIFINÓRIA. UZUMAKI CONTINUA PARADO, MAS NÃO CAIU DA VASSOURA. SERÁ QUE O APANHADOR VAI PRECISAR SE SUBSTITUÍDO?

— Naruto! – Sasori consegue, milagrosamente, gritar acima de todo o barulho – Você está legal? – o garoto assente com a cabeça, ainda apertando a costela com uma das mãos. Respirou fundo, ignorando o latejar.

Sasori dá meia volta, ordenando para seus jogadores, e Naruto apenas vê vermelho. Amaldiçoando até a quinta geração do Hyuuga, parte para cima, ainda um pouco zonzo. Com a vista embaçada, vê as goles passando de um lado para outro, mas, acima, o brilho incomparável o lança com rapidez. De soslaio, observa Neji voar em sua direção, mas dessa vez ele é mais esperto. Com uma das mãos, virou de cabeça para baixo ao mesmo tempo que se jogou para frente. Com o impulso extra, suas mãos atingiram a bolinha a apertaram com força. Girando, pousou com um baque e rolou alguns metros. Todos pararam, mas a comemoração foi geral quando Naruto ergueu o pomo, já parado, entre seus dedos.

ELE CONSEGUIU! UZUMAKI PEGA O POMO DE OURO! MAIS CENTO E CINQUENTA PONTOS PARA GRIFINÓRIA! OS LEÕES GANHAM A PRIMEIRA PARTIDA DA TEMPORADA, E GARANTEM A SEMIFINAL COM UMA MARGEM DE CINQUENTA PONTOS! UM JOGO EMOCIONANTE, SENHORAS E SENHORES.

Naruto mal conseguia respirar quando os colegas de time o cercaram, abraçando-o e o erguendo pelos ombros. O garoto riu e se desequilibrou, recebendo cumprimentos de todos os colegas e dos amigos de Casa. Uma maré de vermelho e amarelo inundou o campo, e o hino grifinório era entoado a toda força. Do lado sonserino, os alunos se dispersavam, xingando. O time, que havia descido da vassoura, caminhou até os grifinórios com pompa.

O time leonino, já atento, virou-se. Naruto estava na frente, com as mãos em punhos, e, quando avistou o Hyuuga, teve que ser segurado por Kiba.

— Filho da puta miserável! – rosnou, e o moreno sorriu, irônico. Algumas pessoas se aglomeraram no local, e os professores perceberam a movimentação.

— Ora, Uzumaki, você já é um mau perdedor. Não seja um mau ganhador também. – o Hyuuga provocou.

— Me acertou de propósito! – Naruto gritou de volta, tentando se desvencilhar do aperto dos amigos.

— Você está com mania de perseguição. Não é tão importante assim, para que eu me dê ao trabalho. – rolou os olhos.

Hinata fitou o time da Sonserina indo em direção à Grifinória, com o primo liderando, e sentiu um arrepio na coluna. Gaara estava praguejando, mas, ao perceber o movimento, ficou sério. A garota desceu as escadas depressa, empurrando quem estivesse no caminho. Correu até o time, parando ao lado de Neji. Seus olhos fitaram os do Uzumaki, e um choque percorreu a ambos. O loiro parou, atônito, e os amigos o soltaram. A garota desviou o olhar primeiro, quebrando a conexão entre eles, e segurou o braço de Neji, o afastando. Não podia deixar que metesse o sobrenome da família em uma briga qualquer por Quadribol.

— Vamos. – murmurou, o puxando.

— Você precisa de uma garota para mandar em você, Hyuuga? Patético! – Naruto provocou, já mais calmo, com a voz ácida. Hinata o fuzilou, e Neji estacou, o peito endurecendo. Hinata já estava prevendo pelo pior. Poucas coisas faziam Neji sair do sério, e uma delas era duvidar da sua autossuficiência masculina.

— Ninguém manda em mim, me ouviu? NINGUÉM! – aproximou-se perigosamente, até que uma pequena roda havia se formado. Hinata suspirou, praguejando para Merlin.

— Não aceitam seguidores das Artes das Trevas que sejam mandados como menininhas, Hyuuga. Tem que ter colhões.

Ninguém respirou. Na escola, havia um trato invisível, impalpável, mudo, sobre não falar das fofocas que rondavam o nome da família Hyuuga. No entanto, Naruto falou, em alto e bom tom. Hinata estacou. Não furiosa ou chocada – mas surpresa. Surpresa pela coragem do Uzumaki.

No entanto, as coisas aconteceram rápido demais. Naruto piscou, e Neji lhe deu um soco.

 

Alguns minutos depois, a multidão fora dispersa, e o sol brilhava no alto, como mais uma tarde normal. O Salão Principal se encheu de alunos com fome, tagarelas. A conversa sobre o acontecimento daquele dia não terminaria tão cedo. Entre as Casas, os boatos corriam soltos. Apenas poucas pessoas próximas o suficiente conseguiram ouvir todo o diálogo, mas a simples possibilidade de um Hyuuga ter batido fisicamente em alguém era, por si só, extraordinária.

Hinata caminhava em silêncio, sozinha. Chutava a poeira com os sapatos brilhantes, e encarava os próprios pés. Andava na direção contrária, pelos corredores mais desertos, até o segundo andar. Fez com que Gaara e Sasuke ficassem com o time, e saiu despercebida. Inicialmente, não tinha rumo, mas logo sua mente lhe traiu, e ela se viu caminhando por um caminho bastante conhecido. Quando chegou no grande portão, entrou pela fresta, e viu uma única pessoa sentada na maca da enfermaria.

Naruto estava com um pano sobre o lábio cortado. O soco fora forte, mas por sorte pegara apenas em sua mandíbula. Não houve maiores danos, mas estava doendo, e havia mordido sua bochecha com o impacto. No fundo, estava satisfeito por ter provocado o Hyuuga até que ele perdera a paciência, o batendo como um nascido-trouxa. Distraído, Naruto não percebeu a movimentação na enfermaria, até que ela estava perto demais. Ficou embriagado pelo perfume cítrico, forte. Forte como ela.

— O que faz aqui? – perguntou, não querendo soar ríspido. Apenas surpreso. Hinata o encarou, também se fazendo a mesma pergunta. Por fim, parou próxima ao garoto, mantendo sua habitual máscara de indiferença, mesmo que seu coração estivesse saltando.

— Vim ver o estrago. – comentou. O garoto tirou o pano com poção cicatrizando, e era possível ver um pequeno ferimento, que já começara a se curar.

— Ele nem sabe bater direito. – resmungou, limpando a mão cheia de poeira. Ainda usava o uniforme de jogo, e estava fedendo – Mas fico contente em ter recebido sua preocupação. – fez seu melhor olhar charmoso, ganhando um bufar como resposta.

— Você não perde a oportunidade de ser um completo babaca, não é. – a garota não soava irritada, falava quase casualmente.

— Eu sei que você me ama. Só não admitiu ainda. – Naruto continuou. Hinata revirou os olhos para ele.

— Só nos seus maiores sonhos, Uzumaki.

— Eu também sonho com você, minha querida. – Hinata resmungou, balançando a cabeça, e Naruto riu gostosamente. A garota disfarçou o próprio sorriso – Vai ter um passeio para Hogsmead daqui uns dias. Posso te comprar uma cerveja amanteigada.

— Não. – falou mecanicamente – Desista, Uzumaki. Eu nunca vou sair com você.

— Você vai. – teimou, como uma criança – Você vai ver. Vai cair de amores por mim.

— Por que você tem que ser tão irritante? – Hinata soltou, cruzando os braços.

Naruto não respondeu, encarando o rosto da garota. Ela estava perto. Perto o suficiente para que ele notasse uma pequena pinta acima de seu olho, uma marca de nascença. Viu as íris peroladas transbordarem de sentimentos. Eram fortes, e talvez não todos bons, mas eram sentimentos. Sentia sua respiração ritmada e via seus ombros eretos se moverem para cima e para baixo. Analisou cada pequeno detalhe de seu rosto até que estivessem todos memorizados. Era uma sonserina arrogante e metida, mas era tão linda.

Em um impulso, levantou o braço com a mão livre e pegou o pulso da garota. Puxou com força desmedida, fazendo com que Hinata se desequilibrasse para frente. Foi o suficiente para que Naruto inclinasse a cabeça, alcançando-a. Tão rápido quanto o soco, os dois se chocaram em um contato trôpego e desleixado. Foi rápido, e foi intenso.

Os lábios de Naruto acertaram os de Hinata. Um pouco para cima, e estavam secos. Naruto havia fechado os olhos, mas Hinata havia mantido os dela aberto, e encarava a cena com nada mais que puro choque. Seu corpo não se movia, mesmo que sua mente gritasse. Seus braços estavam estagnados, e seu estômago havia caído, deixando-a enjoada. Sua cabeça rodava, tentando processar tudo ao mesmo tempo, mas as únicas sensações que seu cérebro emitiam era o gosto salgado e estranho da boca do Uzumaki, e como as ondas elétricas percorriam cada célula em seu corpo.

Durou pouco mais que cinco segundos. Naruto se afastou, com o cérebro derretendo. Ele não sabia como, nem porquê. Seu ombro doía, de mal jeito, mas ele conseguiu força para puxá-la. Sua boca estava cortada e sua bochecha inchada, mas ele parecia anestesiado. Abriu os olhos, encarando a face desprovida de emoções de Hinata, e suas pernas tremeram. Estava pronto para os xingamentos, as azarações, e até mesmo os tapas – mas ela não parecia furiosa. Não parecia irritada, ou assustada. Seu rosto era uma perfeita porcelana. Uma boneca.

— Eu vou pedir para que, por favor, não repita isso. Seria incômodo ter que lavar minha boca com uma poção para desinfetar todas as vezes.

Deu as costas e saiu. Naruto piscou, atordoado. Não perceberia naquele momento, mas aquelas palavras estranhas, mais tarde, ficariam em sua mente até que lhe atingissem de uma maneira não tão agradável. Sentiu uma pontada de mágoa quando a viu bater a porta. Fechou os olhos com força e bateu em sua própria perna, perguntando-se porque era tão estúpido.

Do outro lado, Naruto nunca saberia, mas Hinata caminhava com as pernas bambas, apoiando-se na parede. Parou, alguns metros depois, e respirou fundo. Levou a mão até os lábios e estremeceu. Sua mente queria torturá-lo até deixá-lo inconsciente, mas seu corpo lhe traía – estava sendo atraído, como magnetismo, na direção oposta, com cada nervo implorando por mais contato.


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