A M O N G U S escrita por Ero Hime


Capítulo 4
I N V I T E U S


Notas iniciais do capítulo

Calma! Eu não morri (ainda).
Perdoem uma pobre escritora que, entre trabalhos da faculdade, emprego e dormir, não encontra tempo para escrever por prazer. Espero que gostem do capítulo, lembrando que ainda se trata do terceiro ano.
Obrigada a todo o apoio e por não desistirem de mim! [Bruna, principalmente você, amada].



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Eu prefiro beijar a Lula Gigante a sair com você.

Ou sobre convites para sair e o infortúnio de ser repelido –

 

De uma maneira geral, as coisas realmente melhoraram para Naruto depois de conseguir entrar no tima da Grifinória – os resultados foram divulgados naquela tarde, e estaria sendo um tanto prepotente se dissesse que já esperava que seu nome estivesse naquela lista (ele já esperava). Houve vários gritos de comemoração e abraços amigáveis, enquanto o carregavam até a sala Comunal, porque Naruto representava o que era o apanhador mais novo da década, uma vez que todos os apanhadores da Casa haviam ingressado apenas no quinto ano. Naruto inflou-se em orgulho por carregar um título tão importante, mas ver as pessoas o cumprimentando pelos corredores era gratificante.

A escola teve uma melhora significativa dos ânimos, e a rotina voltou a se ajeitar como usualmente, para o alívio dos professores. O começo do semestre era sempre incontrolável, no entanto, passada a temporada de testes e a chegada eminente do Natal tornavam o castelo um lugar quase agradável. Grande parte dos alunos já programavam-se para passar os feriados em casa, mas naquele ano, a maior parte dos terceiranistas planejavam o contrário – a primeira visita à Hogsmead aconteceria para aqueles que permanecessem em Hogwarts nos períodos festivos.

Naruto estava animado – talvez fosse um eufemismo usar essa palavra, porque ele estava incontrolavelmente alvoroçado por aquilo –. Além de ser exultado pelo time de Quadribol (e desfilar com a capa do time era algo que ele gostava de fazer em suas horas vagas, ou seja, a todo momento), Naruto descobriu um dos novos prazeres da vida. Fazia algo que podia chamar de sucesso entre as garotas. Não somente de seu ano, mas as mais velhas também. Era procurado em seu dormitório, nos intervalos das aulas, nas refeições. Tentava dar atenção a todos, e, em seu malão, havia um espaço especial para guardar todos os presentes e bilhetes. Seus amigos o veneravam com uma mistura de inveja e admiração, enquanto suas amigas apenas reviraram os olhos e suportavam o novo protótipo de egomaníaco que estava surgindo.

Sendo bem sincero, o loiro admitia que ele era um cara legal – e não era como se ele se achasse! Era só a realidade. No auge de seus quase quinze anos, estava no time de Quadribol, mantinha uma média aceitável em suas notas, era sempre atencioso e dedicado. Há um tempo começara a treinar suas caras e bocas, e os olhares furtivos e sorrisos tortos realmente davam resultados. Quer dizer, ele fazia por merecer aquela fama, não precisava fingir falsa modéstia. As oportunidades apenas apareciam para ele, e mantinha uma relação amigável com quase todas as pessoas de seu ano.

Quase.

Hinata reprimiu um grunhido quando avistou o grupo de grifinórios cacarejando pelo corredor, rumo ao Salão Principal para o almoço. Liderados pelo neandertal-rei, berravam para se comunicar, fazendo gracinhas e piadas ruins, tentando impressionar toda e qualquer criatura que trajasse uma saia e desse risinhos. Recostou na parede para que não trombasse com a onda vermelha e amarelo, e fingiu vomitar quando o loiro virou-se para ela e sorriu desdenhoso. A garota respirou fundo, recitando em sua mente os possíveis feitiços de azaração que transformariam aquele idiota em uma doninha, ou quem sabe em um inseto insignificante.

Quando o grupo virou o corredor, desaparecendo de vista e restando apenas o som de suas vozes alvoroçadas, Hinata suspirou, apertando seus livros contra os braços. Ao seu lado, Gaara se permitiu rir baixo, enquanto ganhava um olhar fulminante da amiga. A Hyuuga odiava aquilo proferir aquelas palavras, mas ela tinha avisado.

Depois de ter conseguido uma vaga no time, o Uzumaki se tornara não apenas um idiota, mas um idiota convencido. Hinata duvidava que ele teria metade da bola que portava se as garotas não beijassem o chão pelo qual ele caminhava. Sinceramente, o que elas tinham na cabeça? Titica de coruja? O Uzumaki não era, nem de longe, bonito. Talvez os fios loiros e os olhos azuis pudessem enganá-las e distraí-las da verdadeira personalidade odiosa do garoto, mas Hinata definitivamente não ficaria com uma pessoa com quem não pudesse manter cinco minutos de conversa civilizada, não importa o quão bonita a pessoa fosse. Apesar disso, era possível avisar seu ego de longe, planando acima de sua cabeça vazia, e os sorrisinhos e olhares eram realmente irritantes para ela.

— Eu avisei. – Hinata murmurou, não perdendo a oportunidade. Gaara gemeu silenciosamente, sabendo que a morena tinha razão, mas, na maioria das vezes, a amiga estava apenas exagerando, motivada pelo ódio inexplicável que nutria pelo grifinório.

— Ele só está deslumbrado. Aposto que daqui alguns meses esse glamour todo desaparece e ele volta a ser o mesmo idiota desconhecido que sempre foi. – proferiu, enquanto caminhava ao lado da morena rumo a torre Norte, onde teriam a próxima aula.

— Ele poderia ser deslumbrado longe de mim, só para variar. – grunhiu, ressentida – As pessoas não são obrigadas a verem ele ser ovacionado apenas por ser um babaca. Merlin, como eu odeio esse tipo. – revirou os olhos – Ainda bem que Sasuke não se tornou um imbecil completo só por ter entrado no time. – falou satisfeita, porque o Uchiha realmente continuava a mesma pessoa fria e agradável de sempre.

— Eu não diria isso sobre outras pessoas, sabe. – Gaara alfinetou e Hinata sibilou, bufando em seguida enquanto andava em passos apertados.

— Na maior parte do tempo eu finjo que ele não é da família, obrigada. – Hinata apenas ignorava que o primo era igual ao Uzumaki, andando com os ombros para trás e um ar superior sempre que se juntava aos jogadores do time.

Voltaram a caminhar em silêncio, subindo a escadaria íngreme, ofegantes. Quando chegaram ao topo, era possível avistar outros alunos em jornada, com o mesmo aspecto cansado e arfante. Hinata havia assaltado a cozinha antes, para pular o almoço. De qualquer maneira, não sentia fome. Sentou-se em uma pequena elevação próxima da janela com Gaara, fechando os olhos e recostando. Sentia-se cansada, e os feriados de Natal viriam a calhar. Não voltaria para casa – quem seria louco o suficiente para isso? – e seus amigos ficariam para lhe fazer companhia. Não era de todo uma perspectiva ruim, porque haveria a visita a Hogsmead, e ela poderia fazer algumas compras e se distrair.

Os minutos passavam, lentamente, e o pequeno cubículo começava a ser preenchido com alunos, transformando a paisagem em um grande borrão colorido – apenas uma das diversas aulas que infelizmente tinham juntos –. Hinata poderia realmente ter cochilado, mas o barulho logo tornou-se impossível de ser ignorado e, com uma carranca mal-humorada, levantou-se. Encarava com frieza o grupo do lado oposto, que ria divertidamente.

— Eu realmente não queria ter essa aula. – resmungou com Gaara, que assentiu, distraído.

— Principalmente com esses primatas. – o garoto retrucou, cruzando os braços e colocando sua melhor máscara de mal. A carranca afastava a Casa oposta, garantindo, ao menos, algum sossego.

Naruto brincava de soquinhos com alguns colegas, alheio ao redor. Sorria largamente, ciente de quem estava do outro lado, provavelmente bufando de raiva. Aquela era, definitivamente, a melhor parte do seu dia. Aproveitava as várias aulas com os sonserinos para irritá-la o quanto pudesse, apenas para ver seu rosto se enrugar, os olhos vazios o encarando com raiva. E – claro –, de quebra, conseguia alguma atenção feminina, se exibindo.

Quando o sol atingiu o pico, transpassando pelo vitral e dispersando em raios translúcidos, o galpão se abriu, descendo uma escada inclinada com degraus de aparência envelhecida. Hinata esperou (não tão) pacientemente alguns colegas subirem a sua frente para que se apoiasse, evitando que pares de sapatos acertassem seu rosto. Suas mãos alcançaram a borda e se impulsionou para cima, adaptando seus olhos à pouca luminosidade do lugar. O cheiro de enxofre e incenso atingiram-na fortemente, a fazendo crispar os lábios. Se guiou através das poucas velas acesas, sentando-se em uma das mesas mais ao fundo. Acenou para Gaara, que a acompanhou, também um tanto desorientado. Os leoninos sentavam-se a frente, subitamente animados. Hinata rolou os olhos, se perguntando como alguém poderia sequer suportar aquela aula. Ao menos nisso seus colegas sonserinos concordavam consigo.

Os alunos se acomodaram aos poucos, e quando o último subiu, o alçapão se fechou com um estalo, e uma nuvem de fumaça subiu em espiral pela sala, causando algumas crises de tosse. Das sombras saiu a professora, com seus mantos coloridos cheio de flores distorcidas. O cabelo azul sempre preso com presilhas, e em seu rosto os costumeiros piercings, que cobriam-lhe quase toda a face. Trazia em suas mãos dobraduras de papel, e havia um incenso flutuando ao seu lado. Hinata espirrou, o nariz irritado de tanta névoa.

— Bem-vindos, meus alunos! Que bom que se juntaram a mim em mais uma aula! – sua voz era arrastada e um tanto oculta, como se falasse constantemente através de um pano, ou fosse fumante a vida toda. Gesticulava bastante, transitando entre as mesinhas de tomar chá, sem tropeçar em nada, apesar da semiobscuridade.

— Como se tivéssemos escolha. – Hinata sussurrou para Gaara, que disfarçou uma risada. A professora pareceu não notar, continuando seu monólogo.

— Hoje trabalharemos com os mistérios da borra da folha de chá. Depois de apreciarmos uma boa xícara de seu líquido revigorante, estudaremos a nobre arte da leitura das folhas. Em dupla, seu parceiro irá ler sua borra com o auxílio do exemplar de “Esclarecendo o Futuro”. – sua voz continha um eterno tom de urgência, apesar de amável.

Hinata revirou os olhos – ela sequer gostava de chá. Mas pegou sua xícara e serviu-se com o bule agora fumegante, fazendo o mesmo para Gaara. Brindaram silenciosamente e beberam em um só gole, que fez a Hyuuga pintar uma careta. O ruivo riu, entregando sua xícara vazia e puxando o pesado livro da bolsa, abrindo no capítulo de leitura de folhas de chá. Sinceramente, aquela matéria era um saco. Hinata não tinha a menor habilidade para Adivinhação, e não era como se quisesse ser uma bruxa médium. Pegou seu próprio exemplar, analisando as figuras confusas, comparando com os borrões na xícara que não faziam o menor sentido.

— Eu vejo um... cachorro? – virou a xícara de ponta cabeça – Parece um cachorro, ou um burro. Isso significa... fortuna. – concluiu, satisfeita, e Gaara rolou os olhos, rindo baixo – E aqui é um... sol... sol, isso. Significa trabalho pesado. Um burro debaixo do sol. Você será afortunado com trabalho. – a morena riu abafado, enquanto desviava de um pires arremessado pelo amigo. Ao redor de sua mesa, alguns pares de olhos curiosos e assombrados. Afinal, ver uma Hyuuga rindo era raro. A garota tratou de fechar a cara para eles – Vai, sua vez.

— Ridícula. – o ruivo murmurou, rindo – Tudo bem. Isso está confuso. Não sei dizer se aqui é uma cruz ou um xis. Talvez uma encruzilhada? – virou o copo cento e oitenta graus, folheando o livro.

Hinata estava prestes a dizer alguma piada infame quando se calou, avistando a professora parada ao seu lado, com os olhos arregalados e intrometidos. A morena mordeu os lábios, retraída. A mais velha estendeu a mão cheia de pulseiras de miçanga, trazendo a xícara para perto de seu rosto. Nesse momento, metade da sala já havia parado suas análises e prestava atenção na mesa dos dois sonserinos.

— Ó, minha querida... – a professora sussurrou com ternura, fazendo a garota engolir em seco.

— O que é, professora Konan? – Gaara perguntou, cauteloso. Embora não ligasse realmente para aquela besteira de Adivinhação, seu tom de voz o deixou curioso. A de cabelos azuis baixou a porcelana, balançando a cabeça com um risinho.

— Pobre criança. Tão confusa! Sabe, minha querida, por vezes, o mais profundo sentimento de ódio transfigura-se no mais verdadeiro amor. Não se deixa cegar, o manto espiritual a cerca virtuosamente!

Hinata automaticamente virou-se com o torso para trás, seus olhos fixando-se sem procurar muito nas pedras azuis, debochadas. O garoto a encarava impassível, e o contato visual não durou mais que alguns segundos. A Hyuuga voltou-se para frente, o rosto em chamas e o coração vacilando, punindo-se por ser tão idiota – aquilo era tudo uma grande merda. A professora saiu tranquilamente, enquanto alguns cochichos se levantavam a sua volta. Gaara a fitava com os cantos repuxados, mas sem rir. Hinata cruzou os braços, irritada.

A aula esticou-se o máximo que pode, tal qual uma provocação pessoal para com a Hyuuga. Assim que a professora os dispensou, a garoto voou escada abaixo, esperando por Gaara recostada na parede, longe dos olhares de soslaio. Quando o ruivo se prostrou ao seu lado, começaram a caminhar rapidamente. Hinata ainda estava com a cara fechada, as costas eretas e as mãos duras segurando seus livros.

— Não dê bola para isso. Essa aula é uma piada. – Gaara disse cautelosamente. Hinata bufou, colocando uma mecha do cabelo atrás da orelha com raiva.

— Eu sei disso. – murmurou.

— Ei, Hyuuga!

Hinata fechou os olhos, respirando tão fundo quanto seus pulmões permitiam. Faltava isso aqui para que ela explodisse e azarasse o garoto com tanta força que até seus descendentes seriam afetados pelo feitiço. O grupo falante aproximou-se, intoxicando sua bolha particular com gritos e barulho, empurrando uns aos outros escada abaixo. Hinata encolheu-se, recusando encostar um centímetro que fosse naquelas vestes imundas.

— Ouviu o que a professora falou, Hyuuga. – era óbvio que ele não perderia a oportunidade. Apareceu ao lado da garota, com um sorriso diferente, um tanto mais afetado. Seus olhos detinham um brilho maroto, e ele abraçava lateralmente um dos amigos, com uma pose curiosamente despreocupada – Talvez esse ódio todo por mim seja amor. – lhe deu uma piscadela, saindo na frente.

Hinata estava tão chocada que não foi capaz de elaborar uma resposta grossa o suficiente, permanecendo estática, com a boca aberta. Observou os fios loiros desaparecerem a sua frente, engolido por cachecóis flamejantes. Gaara não estava muito diferente, olhando desacreditado, tentando digerir o que acabara de acontecer – Naruto Uzumaki havia acabado de flertar? Com Hinata?

— Que porra é essa? – a garota murmurou, atônita. Definitivamente aquilo não tinha acontecido.

 

Naruto estava no auge. Confiante, havia aprimorado suas cantadas e seus flertes descarados, conseguindo conquistar qualquer garota do terceiro ano, e algumas quintanistas. Não inflava somente seu ego, como também melhorava sua convivência social. Entre seu grupo de amigos, era idolatrado, constantemente procurado para dar conselhos e ensinamentos sobre garotas. De maneira geral, era se tornando popular.

Não era como se ele fosse um idiota desprovido de conteúdo – passava horas na biblioteca colocando as lições em dia e estudando as matérias. Jiraya havia elogiado seu avanço com feitiços redutores, e Kakashi lhe dera nota máxima no teste teórico sobre dementadores. Não havia pego mais nenhuma detenção (não que ele ainda não aprontasse, apenas melhorara suas táticas furtivas), e até mesmo as cartas de seus pais detinham um tom mais orgulhoso. O garoto sentia que aquele seria o seu ano.

Apesar de tudo, sua mente ainda o traía algumas vezes. Quando estava distraído, ou relaxando, pegava-se pensando em uma certa garota de temperamento difícil e índole questionável. Era incontrolável – irritantemente súbito, até –. Naruto visualizava com perfeição seus detalhes, os olhos pérolas sempre frios, o rosto enrugado e a postura intimidante. Hinata o impelia a provocá-la, apenas por estar ali. Algo nela o desafiava, o fazia querer chamar sua atenção. Nos momentos que topavam em grupo, nas aulas ou nos corredores, Naruto seguia os amigos nas provocações baixas, mas, enquanto sozinho, queria poder iniciar uma boa – e civilizada – conversa. Ponderou estar enlouquecendo (era uma possibilidade real, naquele momento). Mas, depois de pensar um pouco, chegava a mesma conclusão: o desafio. Naruto queria sair com Hinata, e o estímulo deixava-o mais animado que o comum. Tinha certeza que seria fácil – até aquele momento, ninguém resistiu ao seu charme.

Estava deitado em uma das poltronas do Salão Comunal, jogando xadrez bruxo com Kiba, um de seus colegas de dormitório. Era domingo, e, pela manhã, o castelo costumava ser agradavelmente silencioso. Naruto sequer retirara seu pijama, e o cabelo bagunçado era alisado pelos dedos incessantemente em movimento. Jogava os fios para trás, e estes voltavam a cair por seus olhos, como uma mania inconsciente. Estava ganhando por algumas peças, mas quando Sakura desceu as escadas do dormitório, Kiba havia acabado de comer seu bispo.

— Infeliz. – resmungou – Bom dia, Sakura. – falou, ainda sem fitá-la. A garota bocejou, jogando-se do seu lado.

— Bom. – murmurou, coçando os olhos. Seu moletom era confortavelmente quente, e, naquele horário, poucas pessoas estavam acordadas – Você não vai para casa?

— Não, meus pais vão viajar para uma segunda lua de mel, e eu resolvi ficar. – deu de ombros – De qualquer maneira, vamos a Hogsmead! – sua voz tornou-se bem mais entusiasmada, sob os incentivos de Kiba, ao fundo.

Com o natal se aproximando, grande parte dos alunos haviam retornado para suas casas, retornando apenas nas primeiras semanas de janeiro. Os terceiranistas, com a perspectiva da primeira visita ao povoado bruxo, permaneceram no castelo, mas não compunham um número significativamente importante. O Salão Principal já havia reduzido o tamanho das mesas, e os dormitórios, magicamente decorados, comportavam todos os alunos sem apertarem-se.

Naruto nunca havia permanecido em Hogwarts durante os feriados, e estava animado com a perspectiva. Andar sozinho pelos corredores, conseguir os melhores lugares perto do lado ou as melhores mesas na biblioteca. O silêncio era bem-vindo, e conversava muito mais com os demais estudantes. Para seu infortúnio, alguns sonserinos também ficaram, mas permaneciam, em sua maioria, dentro das masmorras ou ocupando lugares isolados nos jardins. Não era uma convivência difícil, e até mesmo as provocações se tornaram amenas.

— Quem você vai levar? – Sakura ironizou, com um tom ácido, e Kiba riu, enquanto Naruto sorria amarelo.

— Ouvi dizer que as irmãs Fujimura estavam bem interessas em você. – o outro garoto alfinetou, movendo um peão distraidamente.

— Ainda não tinha pensado nisso. Tenho uma garota em mente. – sorriu misterioso, mas continuou antes que pudessem despejar perguntas: – Mas não vou dizer nada ainda. Só quando ela aceitar.

— Sua confiança é encorajadora. – Sakura resmungou, fechando os olhos e acomodando-se na poltrona.

Naruto balançou a cabeça, concentrando-se no jogo. Em três jogadas deu xeque-mate e correu para seu dormitório, a fim de trocar de roupa. Vestiu uma calça de moletom e um suéter caramelo, tentando – e falhando miseravelmente – arrumar o cabelo rebelde. Saiu com pressa, passando pelo quadro da Mulher Gorda com um ótimo humor. Tinha um palpite sobre onde a garota estaria, e decidiu que seria naquela manhã a convidaria para sair. Não era tão difícil – depois de um encontro, sua obsessão certamente diminuiria.

Caminhou com passos seguros até o jardim da ala leste, que tinha grandes árvores e muita sombra. O sol da manhã já estava morno, embora deleitoso. Passou pelas colunas e avistou o pequeno grupo com facilidade. Ali estavam os três serpentinos inseparáveis. O de cabelos ruivos estava deitado na grama, aparentemente cochilando. O outro, moreno do Quadribol, recostava no tronco, com a boca movendo-se minimamente. E ela. Usava uma calça de pano, muito diferente das saias de pregas que usualmente vestia. Mesmo com as roupas escuras e com poucos detalhes coloridos, continuava bonita. A pele branca se destacava na sombra, e o cabelo caía por seus ombros, enquanto lia um livro sobre seu colo e acenava, concordando com o que o outro moreno dizia.

Naruto respirou fundo e atravessou o gramado, se aproximando calmamente. No bolso, uma das mãos segurava a varinha, caso as coisas fugissem do controle. O primeiro a avistá-lo foi o moreno, que semicerrou os olhos em sua direção e cutucou a Hyuuga. Hinata se levantou, o olhar endurecido, embora confuso. Poucos segundos depois o ruivo se sentou, a cara amassada e de poucos amigos. O loiro se aproximou até ficar a poucos centímetros da garota, que o encarava sentada.

— Oi. – lhe dirigiu seu sorriso mais simpático – Podemos conversar? Hm, sozinhos? – completou sugestivamente, e Hinata engasgou discretamente, recompondo-se a tempo. Do seu lado, Gaara dividia-se entre rir e manter sua pose de mal.

— Eles são meus amigos. O que quer que precise me falar, pode ser dito na frente deles. – sua voz soou fria e convicta. Naruto engoliu em seco, assentindo e limpando as palmas das mãos suadas no tecido da calça.

— Tudo bem. Bem, eu... vai ter a visita a Hogsmead esse fim de semana, e... bom, eu... – gaguejou algumas vezes, e respirou fundo, controlando as palavras – Eu gostaria de saber se você quer ir comigo a Hogsmead. – soltou em um só fôlego, sorrindo grandiosamente.

Silêncio.

Mais silêncio.

— Não, obrigada. – voltou seus olhos para o livro.

Silêncio.

Naruto sentiu seu sorriso diminuir gradativamente, enquanto sua mente tentava processar aquelas simples palavras. O ruivo e o moreno esforçavam-se para não soltar altas gargalhadas, permanecendo impassíveis. O loiro trocou o peso de uma perna para outra, curvando a cabeça e encarando a garota, ainda indiferente.

— Como disse?

— Eu disse não. Por quê? É surdo? – zombou, e foi impossível para os amigos segurarem o riso, que escapou contido entre a palma da mão. Hinata o fitava quase entediada. Naruto engoliu em seco, chocado. Nunca ninguém havia lhe dito não, muito menos sendo tão petulante daquela maneira.

— Não? Como assim não?! – reagiu, resfolegando, atônito. Hinata suspirou, um tanto cansada, e, sinceramente, chocada com toda aquela situação.

— Não, eu não quero sair com você. Não. Simples assim. Sei que seu cérebro limitado pode ter dificuldade em interpretar certas palavras, mas eu não sei o que te levou a pensar que eu sequer cogitaria sair com você para qualquer lugar. – finalizou, as palavras saindo como afiadas facas direto para o coração de Naruto. O garoto ofegou, afetado, e saiu sem responder.

— Sonserina maluca. – resmungou para si mesmo, chutando o ar e caminhando pesadamente, mal suportando o orgulho ferido. Quando atingiu o corredor, estava convicto: sairia com a Hyuuga, nem que fosse a última coisa que fizesse.

Assim que o grifinório desapareceu de vista, os sonserinos caíram em gargalhada, enquanto Hinata se limitou a suspirar e rolar os olhos. Gaara literalmente riu até chorar, e até mesmo Sasuke estava rindo abertamente, sem fôlego. Riram por longos minutos, até conseguirem se acalmar o suficiente para zombar da amiga, que permanecia inconformada.

— Eu mereço? Que garoto idiota. – resmungou, emburrada, enquanto observava os amigos fazerem piadas a suas custas.

— Se fosse comigo, eu nunca mais sairia da cama. – o ruivo falou, com resquícios de lágrimas.

— Você foi genial, Hinata. – Sasuke completou, disfarçando o riso. A Hyuuga fez uma careta, ainda não entendendo o que tinha acontecido. O Uzumaki era a pessoa que mais desprezava naquele lugar, nunca, jamais, sob nenhuma hipótese ela sairia com ele.

 

Um pequeno grupo de alunos caminhava pelo sinuoso caminho de pedras rumo a Hogsmead. As carruagens guiadas sozinhas haviam deixando-os na entrada do povoado, e uma rápida caminhada permitia avistar os primeiros prédios do vilarejo. Nevava, não o suficiente para impossibilitar o passeio, mas consideravelmente para formar camadas de gelo fino no chão, amontoados como algodão molhado. O clima estava frio, e a paisagem se resumia a árvores congeladas e telhados brancos. Era uma paisagem bonita. Os estudantes protegiam-se com inúmeras camadas de roupa e grossos casacos de lã, botas até as panturrilhas e gorros tricotados. Quando respiravam, névoas subiam acima de suas cabeças, e os dedos congelavam mesmo com luvas.

Era manhã de pós-natal. No dia anterior, apreciaram uma refeição privilegiada feita pelos elfos da cozinha, com uma ceia espetacular e as melhores sobremesas. Abriram os presentes que vieram de casa e compartilharam com os colegas. Naruto entusiasmou-se com os pacotes, e ficou verdadeiramente feliz com seus pacotes de feijõezinhos de todos os sabores, seu novo suéter e um kit de poções avançado. Além disso, seus pais lhe mandaram uma câmera fotográfica com vários filmes, e ele estava realmente animado para mostrar aos amigos fotos que não se mexiam. Já Hinata ganhara apenas novos livros de seu pai – nada novo sob o sol. Apesar disso, ficou feliz por ganhar presentes dos amigos, um tinteiro novo com uma bela pena, uma agenda personalizada com berrador e deliciosos doces e tortas.

Rumo a vila mágica, os grupos eram bem divididos. Grifinórios caminhavam juntos, a maior parte do terceiro ano, por vezes enturmando-se com alguns lufanos, enquanto sonserinos andavam em silêncio, com algumas conversas localizadas, apenas. Hinata caminhava ao lado de Gaara e uma garota de seu dormitório. Sasuke havia aparatado com Itachi para o pub – uma das vantagens de ter um irmão mais velho –. Com sorte, os Uchiha conseguiriam contrabandear cerveja amanteigada para os mais novos.

Hinata e Naruto evitavam se olhar. O garoto caminhava conversando animadamente com uma das irmãs Fujimura – Shion? Ele realmente não se importava – enquanto esperava os amigos alcançá-los. Nenhum deles ficara sabendo do pequeno ocorrido, e permaneceria daquele jeito. Hinata, por outro lado, tinha vontade de rir sempre que seus olhos corriam para o loiro, desviando na mesma velocidade. Ele era um maldito babaca cara de pau.

Quando chegaram definitivamente, dispersaram-se para explorar o lugar. Era de uma beleza simplista, com casarões de idade muito antiga e aspecto acolhedor, seus telhados e entradas cobertos de neve, as pessoas transitando eufóricas. Era bem movimentado. Uma bifurcação levava até o centro de comércio ou a floresta, que abrigava a famosa Casa dos Gritos. Hinata, no entanto, queria conhecer as lojinhas. Falaram muito bem da Dedos de Mel, e ele amava doces. Queria visitar o Três Vassouras também, embora só pudesse pedir, no máximo, uma caneca quente de gim tônica. Haviam pubs e a casa de chá da Madame Puddifoot – a qual Hinata jamais se atreveria a visitar –, além do Correio de Corujas, com belos espécimes. Gaara queria ir ao pub, e combinaram de visitar a loja de doces depois.

Hinata empurrou a porta e ouviu o sininho tocar. O bar estava cheio de bruxos e bruxas visitantes, com roupas de viagem, alguns de aspecto sinistro e duvidoso. Principalmente por ser feriado, o lugar parecia mais lotado que o costume. A Hyuuga e o Sabaku no rapidamente encontraram uma mesa vaga próximo da janela e pediram dois canecões de algo bem quente. O interior do local cheirava a madeira e canela, e estava bem quente. Retiraram os pesados casacos, aproveitando a atmosfera aquecida e a mudança de ambiente. Hinata até mesmo sorriu, relaxada. Estava adorando o lugar.

Mas – obviamente – era esperar muito da sorte que seu dia continuasse bom. Logo em seguido os grifinórios entraram, sentando-se na mesa a esquerda, e Hinata ficou (vejam que surpresa!) de frente para três deles. Ela não tinha nada contra a de cabelos rosas, mas o Uzumaki era um desprazer para os olhos, principalmente com a garota loira risonha e atirada. Bufou, e Gaara apenas se permitiu rir da amiga.

Naruto notou a presença da Hyuuga e sorriu consigo mesmo, agradecendo pela oportunidade perfeita. Passou o braço casualmente pelos ombros da sua acompanhante, que sorriu acanhada. Ria de alguma besteira que os amigos falavam, mas encarava de soslaio a Hyuuga, verificando todas suas reações. Droga, ela parecia realmente bonita rindo – e usando uma blusa de frio esverdeada que realçava sua pele. O loiro resmungou internamente.

O tempo se passava e os dois grupos se divertiam. Hinata e Gaara saíram algumas horas depois, mais corados e relaxados, rumo a loja de doces. Naruto permaneceu com o grupo, embora um tanto decepcionado. A Hyuuga comprou diversos doces exóticos, arriscando uma ou duas brincadeiras com o amigo, e depois partiram pela rua principal, observando a paisagem e conversando trivialidades. Era mais fácil para Hinata permanecer na presença de Gaara.

Já no início do crepúsculo, a morena se afastou próxima das árvores secas, enquanto o ruivo ia ao banheiro. Estava distraída quando sentiu uma presença a suas costas. Virou-se e bufou, incrédula. Encarou os olhos azuis, com um brilho anormal de determinação. Sentiu um arrepio invadir-lhe a espinha, sabendo que, daquele momento em diante, havia perdido toda paz e tranquilidade que um dia viera a ter.

— O que você quer, Uzumaki? – perguntou, entediada.

— Você viu como estávamos nos divertindo? – provocou, e Hinata sabia que se referia a ele e a garota que o acompanhava – Pode ser eu e você. Vamos lá, vai ser legal. Eu prometo não ficar falando da sua preciosa casa. – zombou no final, porque não seria Naruto se não o fizesse. Hinata massageou as têmporas, franzindo a sobrancelha.

— Você é burro ou o quê? Eu não vou sair com você. – respondeu, um tanto cansada, e Naruto murchou um pouco, mas sem perder o entusiasmo.

— Não precisa desse charme todo, Hyuuga. Pode dizer sim. Ninguém precisa saber.

— Como você é insistente, garoto. – sorriu friamente, aproximando-se ligeiramente do outro, que a encarava firmemente – Não. Eu jamais sairia com um energúmeno feito você. Acho que eu prefiro beijar a Lula. – olhou para suas unhas, indiferente, e Naruto desencorajou um pouco mais.

— Ai. Essa doeu. – fez uma careta – Não se preocupe, Hyuuga. Você vai sair comigo. – piscou e deu as costas.

Hinata rolou os olhos sozinha. Era realmente engraçado aquele tipo de atitude vindo de um garoto de catorze anos. Ela era apenas alguns meses mais nova que ele, mas definitivamente era anos-luz mais madura. Por poucos centímetros não era mais alta, e ele era magro, como uma estrutura feita somente de pele e ossos. Além da aparência, sua personalidade era o que ela gostava de chamar de insuportavelmente exibida – um idiota, imaturo, petulante, inconveniente e barulhento. Não havia nenhuma possibilidade, naquela realidade ou em qualquer outra, de Hinata sair com Naruto Uzumaki.

 

A neve derreteu, o castelo tornou a se encher de alunos e as aulas voltaram com força total. Fevereiro foi marcado por testes rigorosos e Hinata se via cada vez mais cheia de lições para fazer e provas para estudar – a agenda que ganhou de natal veio bem a calhar –. Com a falta de tempo, não se envolvia em tantas provocações provindas da Casa rival, embora os grupos se alfinetassem com recorrente frequências. Naruto parecia ter se tornado ainda mais perseverante em fazer Hinata morrer de raiva. A cada vez que se trombavam, azarações, xingamentos e, uma vez, até mesmo um pequeno acidente envolvendo um dos fantasmas das Casas, aconteciam. Era inevitável, e a Sonserina não parecia querer ceder por um pouco de paz. Nos demais anos parecia quase normal, mas os terceiranistas alimentavam uma rixa que beirava o insano, e até mesmo os professores se atentavam a eles.

As provas passaram e a Hyuuga pode respirar aliviada. A amizade com Gaara e Sasuke parecia se fortalecer e algumas de suas colegas de dormitório a cumprimentavam de manhã. Não houve um só contato com sua família durante o ano letivo até aquele momento, e não era como se sentisse falta do amor caloroso que recebia de casa. Mas era óbvio que Hinata não pensava naquelas questões.

Na verdade, um novo evento se tornou o alvo de expectativas para os estudantes. O torneio da Taça Quadribol se iniciara a pouco, e, com o fim do período de testes, os times podiam treinar e se dedicar na busca do primeiro lugar. O primeiro jogo verdadeiramente esperado aconteceria naquela tarde, uma disputa acirrada entre Grifinória e Lufa-Lufa. Não que fossem realmente rivais, mas, caso Grifinória vencesse, ficariam dois pontos a frente e enfrentariam a Sonserina pela final. Era um jogo de tensões, e até mesmo Hinata, que não ligava muito para o esporte, acordou cedo.

Os corredores estavam apinhados, e os sonserinos vestiam seus uniformes e tinham os rostos pintados com listras verdes. Acomodaram-se com bons lugares nas arquibancadas, e Sasuke era, surpreendentemente, o mais animado dos três. De longe, Hinata avistou o time grifinório se preparando, e, inevitavelmente, seus olhos buscaram pelo loiro, que se aquecia com sua vassoura.

Naruto estava nervoso – era o jogo de maior peso. Tinha que pegar o pomo antes que os lufanos fizessem trinta pontos. Aqueceu-se e recebeu congratulações de seus colegas e amigos. O capitão lhe desejou boa sorte, mas confiava em seu potencial. A treinadora Shizumi apitou e os times entraram em campo. O loiro avistou a Sonserina na torcida e sorriu debochado, subitamente confiante. Montou em sua vassoura e voou céu acima, ganhando altitude e uma melhor visão do campo. As goles foram lançadas e os goleiros se posicionaram. Os artilheiros eram rápidos, mas os batedores estavam atentos. Depois de alguns minutos de jogo, ninguém havia marcado ainda.

Naruto voou com rapidez duas vezes em torno do campo, mas o brilho familiar chamou sua atenção perto de um dos gols do lado esquerdo. Inclinando-se, desviou de dois balaços e esticou o braço. Seu corpo foi jogado abruptamente para o lado pelo apanhador lufano, que também disputava o pomo. O Uzumaki, em um movimento certeiro, girou cento e oitenta graus e fez um looping, desviando do adversário e, mesmo de ponta cabeça, mantendo os olhos na pequena bola dourada, que correu para o centro do campo. Rapidamente, Naruto a seguiu, e não havia nem chance do outro apanhador conseguir alcançá-lo. Sem surpresa, o pomo parou de bater as asas de libélula entre seus dedos e o narrador anunciou a vitória leonina. Naruto inclinou-se para o ar, dando voltas de comemoração.

Hinata grunhiu, apesar de estar rindo disfarçadamente da comemoração estúpida do Uzumaki. A Hyuuga teve a impressão de tê-lo visto apontar para ela antes de abrir um largo sorriso, mas essa sensação foi engolida pelos demais jogadores que o abraçaram, enquanto a Grifinória invadia o campo para parabenizar o time. Hinata balançou a cabeça e seguiu para fora da arquibancada, convencendo-se de que estava ficando louca.


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