A M O N G U S escrita por Ero Hime


Capítulo 3
N O T I C E U S


Notas iniciais do capítulo

Faz um tempinho né? Rs.
NÃO ME BATAM. Eu estive com um pequeno bloqueio por achar que não estava ficando bom o suficiente, e reescrevi várias e várias vezes. No final, eu disse que ia ser um capítulo representando cada ano mas claro que vou precisar escrever outros sobre o terceiro ano. Fazer o quê.
Espero que gostem, e espero também que esteja ficando, ao menos, fiel com o universo! Obrigada pelo apoio e todos que estão acompanhando!



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/731850/chapter/3

As consequências dos nossos atos são sempre tão complexas, tão diversas, que predizer o futuro é uma tarefa realmente difícil.

— Ou sobre reparar pela primeira vez em algo que não se via antes –

 

Naruto estava particularmente animado naquela manhã. Levantou-se cedo e vestiu sua melhor calça e sua blusa mais nova – munido de sua inseparável gravata e seu grande casaco preto, cujo brasão estampava orgulhosamente o leão imponente vermelho e amarelo. Era primeiro de setembro, e seu malão já estava no carro, enquanto ambos, ele e seu pai, esperavam Kushina para sair. Naruto também estava ansioso – um sentimento misto que fazia com seu estômago revirasse a cada segundo, porque ele não conseguia parar quieto e a movimentação fazia os ovos do café da manhã se mexerem. Sua coruja – uma majestosa espécie bufo-de-bengala com pelugem e olhos escurecidos, bico curvado e expressão quase sempre pomposa demais – já havia partido pela madrugada, quando o Uzumaki decidira soltá-la para que exercesse sua caça, antes que voltasse a ficar confinada no grande castelo.

Hogwarts. Naruto não via a hora de voltar para Hogwarts.

Após dois anos, o garoto pensava que já não mais sentiria a mesma excitação quando avistasse as torres magnânimas da ala sul, se pondo por trás das montanhas enquanto o trem apitava e corria em sua direção – ah, como ele estava enganado! A cada visão da construção imponente, Naruto sentia uma agitação em seu âmago, com o rosto iluminado, tal qual uma criança. O castelo era, acima de tudo, como seu lar, e, suntuoso, revelava em si sentimentos mornos e saudosistas. Nunca iria cessar, apesar de tudo.

Agora, estava no terceiro ano. Passou pela segundo ano e, naquele momento, era uma pessoa totalmente diferente – se ele pensava assim, quem o contrariaria? –. Onze anos personificava uma criança, em processo de crescimento e amadurecimento, um garoto descobrindo o mundo. Mas, treze anos? Com certeza um adolescente. Alguém maduro, pleno de si e responsável por instruir as crianças que estavam chegando – um veterano, alguém em quem se espelhar. Naruto mal podia conter a expectativa, e sentia que estava diferente.

Nas férias, era inegável que havia crescido bons centímetros – estava quase da altura de seu pai naquele momento. O cabelo finalmente deixara para trás sua fase rebelde, tomando forma e deixando os fios elegantemente desarrumados, com um quê jovial. Embora seu corpo ainda permanecesse magro, seus braços começavam a mostrar pequenas saliências nos bíceps, por ajudar seus pais na fazenda, e a pele, outrora pálida, agora assumira um tom agradável de bronzeado.

Com a aparência renovada, outra coisa também mudara para Naruto – o terceiro ano tinha permissão de visitar o famoso condado bruxo vizinho, Hogsmead, cujas histórias o garoto cansara de ouvir. Lojas de doces, bares que vendia a melhor cerveja amanteigada do mundo, casas mal assombradas e passatempos divertidos. Seu pai já havia assinado a autorização – cuidadosamente guardada em seu bolso, para não perder – e o primeiro passeio aconteceria não muito depois de outubro. Com a perspectiva de sair do castelo para ir até o povoado, veio também uma nova situação, que, para Naruto, havia sido insignificante até aquele momento: encontros.

Ele era um adolescente, com novos hormônios e necessidades. Hogsmead era o lugar perfeito para levar as garotas e dar início a uma nova fase da sua vida, e, quem sabe, começar um namoro promissor, que completasse a pessoa transformada que Naruto era.

Mal podia esperar pelo terceiro ano.

 

A plataforma de King's Cross parecia envelhecer a cada ano, mas sua estrutura permanecia tão firme quanto sempre. Naruto caminhava com seu carrinho e uma expressão apreensiva. A hora da partida era sempre algo que o deixava entristecido – por seus pais serem trouxas, não conseguiam passar pela coluna mágica entre as plataformas 9 e 10 –.

Parou junto a uma fila de pessoas, usando roupas familiarmente estranhas, mas, de alguma maneira, os não-mágicos não notavam as malas gigantes e as gaiolas com corujas que desapareciam atravessando uma parede. O Uzumaki se virou, encarando os dois adultos que lhe fitavam com orgulho e afeição. Parte de si sentiu-se quente – um calor aconchegante que surgia e tomava conta de seu corpo –, mas, a outra parte insistia em ignorar o aperto no peito, porque faltava uma pessoa. Sempre estaria faltando.

Minato notou o olhar perdido do filho e se abaixou, mantendo o rosto na mesma altura dos olhos de Naruto. Pai e filho eram muito parecidos, fosse em personalidade, fosse em aparência. Naruto gostava de pensar que, se seus pais tivessem alguma centelha de sangue bruxo, seriam grandes magos.

— Ei, campeão. – o loiro mais velho sorriu, destacando as pequenas rugas que se formavam sobre suas maçãs – Não se preocupe. Vai ser um grande ano.

— Eu sei. – afirmou, confiante – Mas vou sentir saudades. – confessou, baixo, e sua mãe riu, se aproximando e segurando seus ombros com as mãos.

— Nós também, filho. Mas pode escrever sempre que quiser. Já nos acostumamos com o correio. – riram – Responderemos o mais rápido que pudermos. – Naruto assentiu, respirando fundo e sentindo-se mais calmo. Tinha uma boa família, apesar de tudo.

— Estamos orgulhosos de você. – Minato lhe puxou para um forte abraço, e Kushina o seguiu.

Quando se soltaram, Naruto pegou seu carrinho e, olhando uma última vez para trás, acenou. Voltou-se e correu sem hesitar, mal sentindo-se passar pelo portal, e, quando a luz atingiu novamente seus olhos, tudo parecia mais brilhante e barulhento. Milhares de pessoas com seus familiares, seus animais e amigos, pontos pretos que confundiam-se na multidão, muitos já usando o uniforme, como Naruto. O garoto abriu um largo sorriso inconscientemente – a sensação de estar entre os seus era inegavelmente indescritível.

Caminhava com cuidado, procurando, com os olhos, seus amigos. Muitos alunos do terceiro ano concentravam-se nos vagões centrais, e foi cumprimentado por mais pessoas que conseguia contar, embora tivesse respondido a todos com entusiasmo. Conseguiu escapar do aglomerado, desviando-se já sem suas malas, magicamente – não era o máximo? – levadas para os compartimentos de carga. No entanto, seus pés estacaram quando cruzou, involuntariamente, com duas pessoas muito familiares.

Pareciam verdadeiras cópias – vindo de alguém que tinha consciência de que se parecia com seu pai. A mais velha era um homem, de clara posição social elevada, visto que usava vestes ostensivas e apoiava-se em uma bengala cravejada e brilhante. O cabelo escorria por suas costas, preso ao fim, e era de um negror vívido, contrastando a pele pálida. Estava ligeiramente curvado sobre uma garota, e fora ela que Naruto alcançou primeiro com os olhos. Usando sua saia de pregas e seus sapatos lustrados, a capa padecia sob um dos braços, e, com a cabeça rigorosamente baixa, Naruto não pode notar se ela ainda usava o mesmo corte de cabelo. Não podia ouvi-los, mas Hinata estava com sua habitual postura ereta, imóvel, como uma estátua. O mais velho falava rispidamente, com os lábios pouco se movendo, e a Hyuuga – a sempre indelicada e hostil Hyuuga – não parecia querer responder, apenas assentindo, dura.

Naruto deu um passo vacilante para frente, mas, no mesmo momento, os dois olhos se viraram exatamente para sua direção – o garoto engoliu em seco, com um estranho instinto de fugir do perigo –. Era duas íris peroladas, como duas pequenas luas fixas em seus glóbulos. Naruto estava acostumado com o olhar de Hinata, que o encarava ora com escárnio, ora com indiferença. Mas havia, de fato, um sentimento. Os olhos do mais velho eram simplesmente vazios. Frios, de uma maneira monstruosa, como Naruto jamais pensara ser possível. Encararam-se por cerca de dois segundos, e o loiro esforçou-se verdadeiramente para não desfalecer sobre as pernas bambas. O homem puxou a manga com as mãos e voltou-se para a Hyuuga menor, dando-lhe mais duas ou três palavras e saindo, sem despedir-se. A garota permaneceu parada, concentrada, e Naruto também não ousou se mover. Por fim, ela o encarou devagar antes de lhe dar as costas, misturando-se com vestes esverdeadas.

Naruto respirou fundo, e teve a impressão de ter segurado o ar por muito tempo. O que quer que houvesse acontecido naquele instante, ele teve a certeza de que os boatos que corriam sobre a família Hyuuga iam muito além de simples fofocas maldosas – o que parecia ser o chefe Hyuuga detinha uma presença tão desumana que nenhuma palavra poderia descrever. Por alguns segundos, sentiu pena de Hinata.

Voltou-se para os grupos, e, dessa vez, não teve dificuldade em encontrar um rosto conhecido (um rosto que realmente gostaria de ver, dessa vez). Andou rapidamente até as duas garotas, recebendo calorosos sorrisos e meios-abraços.

— Oi Ino, oi Sakura! – cumprimentou-as, encarando as grifinórias com quem cultivava uma sólida amizade desde o primeiro ano – Estão animadas?

— Muito! – foi Ino Yamanaka quem respondeu. A garota era a beldade da Casa, com seu cabelo loiro sempre liso, seus olhos azuis sempre claros e sua pele sempre macia. Ino parecia o protótipo perfeito de uma boneca barbie, mas também era uma das mais promissoras estudantes de Poções – Este ano poderemos escolher mais matérias, além de começar Trato de Criaturas Mágicas! – Ino gostava particularmente das matérias estranhas, e Sakura fez uma careta.

— Escolher mais matérias? – parecia inconformada – Eu já estou sofrendo por termos Adivinhação como obrigatória. Sem falar do Kakashi. – estremeceu – Ele é ótimo, mas eu realmente não me dou bem na aula dele.

— Eu gosto de DCAT. – Naruto se pronunciou, porque era sua aula preferida – Eu queria fazer Estudo dos Trouxas, mas não sei se vou ter tempo. – mordeu os lábios, quase falando demais. As garotas o olharam como se tivesse comido titica de coruja.

— Você já é nascido-trouxa! Não precisa estudar sobre isso. – Sakura bufou, e Naruto quis rir de como ela era preguiçosa.

— Eu sei, mas seria legal ver sob a perspectiva dos bruxos. – deu de ombros – De qualquer maneira. Será que teremos aula com as cobras esse ano? – perguntou em tom preocupado.

— Muito provavelmente sim. – Ino suspirou, resignada – Queria ter aula com a Corvinal, mas eles parecem querer incentivar essa rixa. Mais um ano vendo a cara nojenta da senhorita Sou-Mais-Fria-Que-Gelo. – os dois amigos caíram na gargalhada.

— Mais oportunidades de irritar ela. – Naruto animou-se, embora algo dentro de si o incomodasse – Achei que a Hyuuga fosse melhorar depois daquela detenção, mas ela parece pior. – comentou. Depois que cumpriram a detenção juntos, no ano passado, Naruto pensou que sua convivência fosse ficar, ao menos, suportável, uma vez que a garota afirmou que não o odiava (pelo menos não particularmente). Mas, de alguma maneira, ela e seu grupo de sonserinos pareciam querer irritar cada vez mais, e suas caras de tédio ou superioridade realmente faziam o sangue de Naruto ferver.

— Não importa. Quero mesmo é ir para Hogsmead. – ambos concordaram com acenos animados – Vamos entrar, Kiba já deve ter encontrado uma cabine para nós. – engataram uma conversa sobre os diversos pontos turísticos do povoado enquanto subiam no trem, que apitava.

Àquela altura, Hinata já era portadora de um contagiante humor ácido. Andava em passos duros pelos corredores do vagão do terceiro ano, e aqueles que não saíam da sua frente sofriam com empurrões e rosnados – mas poucos eram os que se interpunham. A garota não sabia se sentia alívio ou temia pelos dias de volta para a escola, que contavam, implacavelmente, com Hiashi a escoltando até o trem, e, junto dele, os constantes sermões e reprimendas. Até seu andar era motivo para uma bronca, encontro de defeitos a todo momento, rigidez e aspereza. Até o embarque de Hinata, ela sabia que não sentiria paz de espírito.

Antes de subir, entretanto, o pai tornou a falar do assunto que a importou por toda as férias. De alguma maneira, soube de seu contato com o sangue-ruim grifinório, e o período transformou-se em uma verdadeira tortura familiar. Consolou-se durante o período de reuniões e acordos entre os ministérios de maior importância, quando pode passar algum tempo significativo com a família Uchiha, mas, apesar disso, a cada novo amanhecer considerava ser presa em Azkaban pelo resto da vida.

Agora, teria que se esforçar mais ainda para repelir o Uzumaki – não que fosse uma tarefa verdadeiramente árdua, uma vez que sua repulsa era clara –, mas o garoto era irritantemente insistente. Se via trombando com ele em cada andar do castelo, e era uma castelo muito grande. Seu sangue fervia, e tinha de lutar para manter a postura indiferente mediante tantas provocações.

Com um suspiro, encontrou a cabine e entrou, massageando as têmporas enquanto relaxava em um ambiente familiar. O lugar estava cheio com três outras pessoas e, mesmo que suas feições afastassem até o mais corajoso dos estudantes, Hinata sorrira autenticamente, um dos poucos sorrisos que se dignava a dar – era pequeno, mas aquecia seu rosto.

Ao seu lado, os cabelos flamejantes de seu melhor amigo se destacavam com a gravata verde e prateada que estava elegantemente desmanchada. Gaara começara a ganhar traços encantadores, e seus olhos verdes estavam mais intenso do que nunca. O garoto lhe dirigiu um aceno, pondo uma das mãos sobre as suas e apertando, complacente. A morena agradeceu silenciosamente, voltando-se para frente e encarando os irmãos que sempre lhe tiravam o fôlego.

O mais novo acenou sem nada a dizer, mas o mais velho sorriu brilhantemente, a fazendo corar. Vê-lo pessoalmente era ainda mais excitante – haviam se tornado mais próximos durante a estadia da Hyuuga na mansão Uchiha, e via no garoto um escape, alguém em quem podia confiar, mesmo que fosse seu último ano.

— Sempre uma grande merda. – comentou, por fim. Os garotos assentiram, compreensivos.

— Mas agora estamos indo para Hogwarts, e você pode passar as festas conosco em casa. Não precisará pensar na sua família ou em ninguém mais. – seu tom era, como usual, positivo e animado.

— Obrigada, Itachi. – a garota agradeceu profundamente. Nutria pelo mais velho mais que simples gratidão, era algo como uma admiração fervorosa.

— Não é nada demais. – sorriu, colocando uma mecha do cabelo agora grande demais atrás da orelha, gesto famoso por causar reações impetuosas entre as bruxas dos demais anos – Além do mais, você está cuidando desse idiota aqui, então eu quem tenho que agradecer. – Itachi puxou o irmão mais novo, que grunhiu e se debateu.

Pessoas alheias jamais diriam que aqueles dois garotos eram irmãos. Itachi, o aluno prodígio lendário, sequer aparentava carregar consigo o emblema serpentino. Era altivo, cativante, bondoso, altruísta. De alguma maneira, fora parar na Sonserina, mas seu espírito conquistava qualquer aluno, de qualquer Casa. Por outro lado, Sasuke Uchiha era, na melhor das hipóteses, quieto. Não se abria ou demonstrava sentimentos, sequer com seu círculo mais fechado de amigos, embora fosse prestativo e se preocupasse, à sua maneira, com as pessoas que queria bem. Apesar de tudo, Sasuke amava Itachi, e via no irmão um espelho, alguém que queria imitar – enquanto Itachi tratava o irmão como se fosse seu bem mais precioso. Com uma relação conturbada e cheia de provocações, os Uchiha eram ligados por uma força além do entendimento.

— Itachi, você não está com calor? – Hinata notou as mangas longas do suéter do mais velho, que sorriu caloroso para ela.

— Não, chegaremos em breve em Hogwarts. – seu tom deu por encerrada a dúvida, e os amigos iniciaram uma conversa que, embora cercada de tons amenos, era rodeada por uma bolha particular e confortável.

Conversavam sobre diversos assuntos, em sua maioria apenas Itachi e Hinata quem participavam, mas Gaara ora ou outra contribuía com alguma opinião. Embora tivessem insistido para que fosse com seus companheiros, Itachi permaneceu na cabine a viagem toda, conversando com os terceiranistas – o que, de certa maneira, fez Hinata sentir-se secretamente orgulhosa de si mesma. A viagem cruzava o mesmo percurso que todas as vezes, mas pareceu passar mais rapidamente, e, quando deram por si, já tinham que colocar o uniforme.

A Hyuuga respirou fundo. De uma maneira geral, ela gostava de Hogwarts. Gostava das aulas, dos professores, das oportunidades de crescer como bruxa, de ser alguém. Mas também estava insegura. Sabia que metade da sua Casa não gostava dela, e a outra metade tinha medo demais para se aproximar. Se não fosse por Gaara e Sasuke, talvez os dias no castelo fossem mais solitários que os anos que passara em sua casa. Particularmente, sua personalidade reprimia as pessoas, porque ela era uma pessoa de espírito solo. Mas ninguém gosta realmente de sentir-se sozinho.

Balançou a cabeça, livrando-se de pensamentos indesejados, e voltou para sua cabine. Itachi já havia partido para a reunião de monitores, e os amigos haviam comprado algumas iguarias do carrinho de doces. Acomodou-se, aproveitando o restante da viagem, enquanto via as estruturas do castelo ressurgirem. Observou o Salgueiro Lutador e o Lago, lembrando-se que seu dormitório agora teria vista privilegiada para o pântano. Suspirou.

— Hinata, você vai escolher alguma das matérias complementares esse ano? – Gaara perguntou, comendo feijõezinhos do seu lado.

— Não sei. – admitiu, sincera – Gostaria de fazer Runas ou Aritmância, mas aquela matéria estúpida de Adivinhação vai deixar meu horário mais apertado. – o ruivo também resmungou.

— Essa é a matéria mais inútil que nós vamos ter. E ainda por cima com aqueles idiotas da Grifinória. Sinceramente, eles são tão agradáveis quanto a Lula Gigante. – o garoto rolou os olhos, e Hinata reprimiu uma risada.

— Eu não vou fazer Adivinhação. – Sasuke se pronunciou, fazendo com que uma Hinata muito chocada o encarasse.

— Como você consegue?

— Pedi para Itachi conversar com Orochimaru, e ele cobrou alguns favores. Vou substituir com duas matérias, mas vai valer a pena. Qualquer coisa para não ter aula com a estranha da Konan. – Sasuke até esboçou um pequeno sorriso, mascarado, e os amigos reclamaram sobre como ele era um sortudo de merda.

— Eu acho ela bonitinha. Quero dizer, ela tem aquele cabelo estranho e todos aqueles objetos estranhos furados no rosto, mas até que não se joga fora. – Gaara comentou, e Hinata teve que concordar.

— Ouvi dizer que ela tem um caso com o professor de Astronomia. – a Hyuuga comentou.

— O ruivo?

— Esse mesmo.

— Ew. – os amigos riram, um dos poucos momentos em que expressavam alguma reação verdadeiramente espontânea.

— Com o horário livre, vou poder treinar para o teste de Batedor. – Sasuke comentou, apoiando-se na janela com um dos braços de apoio, e Hinata assentiu, fervorosa. Com raras exceções, somente no terceiro ano os alunos tinham permissão para fazer os testes para o time de Quadribol. Hinata já vira os amigos jogarem, e eles eram realmente talentosos montando vassouras.

Diante da perspectiva de Hogsmead e dos jogos, Hinata definitivamente animou-se com o novo ano – o suficiente para esquecer os grifinórios irritantes e sua existência.

 

Após o jantar e a seleção dos primeiranistas, os alunos começaram a se levantar em direção aos dormitórios – a viagem sempre deixava todos exaustos. Os monitores-chefe guiaram os novatos pela escadaria central a fim de mostrar algumas passagens mais importantes da escola, mas os demais seguiram normalmente pela Grande Escadaria, com seus degraus se movendo perigosamente.

Seguindo a ordem crescente, os segundanistas aglomeraram-se na frente, mas as Casas se misturavam em cachecóis de todas as cores, formando círculos coloridos e irreconhecíveis. Hinata seguiu a multidão com Gaara e Sasuke em seu encalço, conversando polidamente com duas garotas que dividiam o dormitório com ela. A reunião de pés tornava o espaço apertado, e cotoveladas não eram incomuns – ignorava-se por costume. No entanto, Hinata sentiu seu corpo ser empurrado com força para o lado, e teve de segurar no corrimão para o peso de seu tronco não jogá-la altura abaixo. Virou-se, com os olhos fuzilantes, e era óbvio que encontraria um par de íris azuis a fitando.

— Parece que não aprendeu coisas novas nessas férias, Uzumaki, como educação, por exemplo. – falou com um tom de desprezo salivando por sua língua, e Naruto a encarou, estupefato. De todas as pessoas, tinha que esbarrar nela.

— Por Merlin, Hyuuga, eu só tropecei. Me desculpe se você é intocável. – retrucou com escárnio, e os amigos de ambos prepararam-se para tomar partido, embora não estivessem realmente surpresos pela troca de ofensas usuais;

Hinata apenas revirou os olhos e continuou subindo, ignorando o loiro e tentando se acalmar – não valia a pena responder um energúmeno como ele. Naruto praguejou e Sakura riu baixo, porque o garoto era tão facilmente irritável. Já no saguão central do segundo andar, os estudantes começaram a se dispersar pelo espaço disponível, e, quando Naruto virou-se para o lado para alcançar seu grupo de amigos, deparou-se com duas garotas, aparentemente do terceiro ano, e grifinórias – o brasão em suas capas era visível. Estavam de braços dados e tinham tranças no cabelo, e sorriam com vergonha.

— Não liga para aquela vaca da Hyuuga, Naruto! Nós apoiamos você. – uma delas falou, apertando seus livros contra o peito, e Naruto levou a mão ao cabelo, pego de surpresa e sentindo o rosto corar nas maçãs.

— Poxa, meninas... obrigado! – as garotas deram risinhos e saíram com rapidez. Naruto permaneceu estático, perguntando-se se o que havia acabado de acontecer foi real ou não. Lentamente, um sorriso bobo se abriu em seu rosto, e ele se deu conta de que garotas, garotas bonitas, haviam acabado de falar com ele.

 

Ao longo de todo o mês de setembro e o começo de outubro, não era raro os diretores das Casas aplicarem detenções a todo momento, contra estudantes pegos descumprindo o toque de recolher, apenas para treinar voo na quadra da ala oeste. Levavam suas próprias vassouras ou pegavam emprestadas de alunos mais velhos, e, de alguma maneira, havia uma cadeia de vendas clandestinas de balaços e goles enfeitiçados para voarem sozinhos. Foram semanas conturbadas, envoltas de uma expectativa velada entre os mais novos – afinal, os testes de Quadribol estavam chegando.

De certa maneira, era compreensível pelos professores, e alguns deles entusiasmavam os terceiranistas afoitos a prestarem os exames admissionais. Os times de Quadribol incentivavam a integração entre os diferentes anos, e era uma disputa – na maioria das vezes – saudáveis entre as Casas. No entanto, embora tivessem seus próprios interesses pessoais, os diretores das Casas ainda precisavam zelar pela ordem e disciplina no castelo.

O sol nasceu preguiçoso através das colinas longínquas, mas Naruto estava acordado muito tempo antes disso. A ansiedade tomou seu sono e, com as pernas tremendo compulsivamente, não conseguiu manter os olhos pregados ou a cabeça tranquila. Esperou, deitado, até as primeiras movimentações no dormitório, e quando ouviu o farfalhar das cortinas, levantou-se rapidamente, correndo até o banheiro e aprontando-se com um belo banho quente. Seu estômago rosnava, mas tinha medo de colocar para fora qualquer coisa que ingerisse no café.

Naruto esperou Kiba, seu companheiro de treino e dormitório, para descer até a sala comunal, onde o resto de seus amigos esperavam. Sakura estava entre eles, com semblante risonho, e o loiro fechou a cara para ela.

— Não tem graça. – resmungou, e a garota soltou uma gargalhada alta.

— Desculpa, Naruto, não consegui resistir. Fica calmo, parece que você vai enfrentar um trasgo das masmorras. É só um teste, você é ótimo voando! Com certeza vai conseguir.

— Você acha mesmo? – uma centelha de esperança se acendeu dentro de seu peito, e sentiu-se acalmar um pouco. A rosada assentiu e Naruto sorriu para ela, respirando fundo e aprumando a capa sobre os ombros.

A caminho do salão principal, Naruto recebeu cumprimentos de várias pessoas, e, como notou – com grande entusiasmo –, grande parte eram garotas.Endireitou os ombros para parecer mais alto e retribuiu todas as palavras de encorajamento, sentindo-se, subitamente, confiante. Iria disputar a posição de apanhador, uma das mais concorridas, mas treinou muito e sua altura era um fator decididamente positivo.

Apesar de ter bebido apenas um copo de suco-de-abóbora, estava energizado, e, aos gritos de incentivo de seus amigos, marchou pelo corredor rumo ao campo, onde os capitães dos times explicariam as regras e iniciariam as disputas. Na mesa de lado oposto, Hinata bufava enquanto sentia seus olhos rolarem impetuosamente. Perdeu a fome e largou sua torrada pela metade no prato, enquanto Gaara, ao seu lado, ria baixo.

— Olhe como ele fica se achando, enquanto a trupe aplaude o idiota. – murmurou, vendo o loiro desaparecer com o amigo – Sinceramente, espero que ele caía da vassoura. Já é muito endeusado sem fazer parte do time. Vai ficar insuportável.

— O Sasuke vai fazer teste para batedor, e, com sorte, acerta um balaço bem dado nele. – riram baixo, dentro de sua bolha – E, pelo que eu soube, Neji vai fazer teste para apanhador. – Hinata fez uma pequena careta enojada.

— Pelo menos para alguma coisa meu querido primo presta. – grunhiu, se levantando, e Gaara riu um pouco mais antes de segui-la, porque era, de fato, engraçada a relação de Hinata com o resto de sua família próxima, mesmo que não falasse a respeito.

Pouco a pouco, os estudantes saíram do refeitório e caminharam em direção ao campo principal. Aquela parecia uma manhã normal de sábado, e o clima ameno não trazia consigo brisas gélidas, apenas algumas gotas de orvalho de raios de sol mornos. As arquibancadas estavam surpreendentemente cheia, com gritos de apoio e zombamentos se misturando no ar. No chão, capitães com vassouras padrão em mãos, explicando como funcionariam os testes – eram relativamente simples. Um pequeno jogo com dois times formados por Casa, e, caso houvesse mais pessoas para o mesmo cargo, fariam mais rotações. Dois apanhadores, quatro batedores e quatro artilheiros, durante cinco minutos, e quem acertasse mais goles nos aros, mais balaços e quem pegasse o apanhador, estava no time. Haveriam reservas, mas a maior parte dos times foi desfeita quando os estudantes se formaram, no ano anterior.

Naruto estava nervoso, e mal ouviu as explicações. Olhava ao redor, avistando aquele amontoado de alunos, vendo sua possível desgraça. Felizmente – ou não – havia apenas um outro garoto para a posição de apanhador, do quarto ano. Ele era grande, de músculos bem grandes, e olhar ameaçador. Engoliu em seco, encolhendo-se. Fitou o outro lado do campo, onde o time da Sonserina se preparava para jogar. Curioso, avistou um dos garotos que andavam sempre com ela, vestindo as proteções para batedor.

Os capitães apitaram quase simultaneamente, e Naruto livrou-se de todos os pensamentos quando deu impulso com os pés e levantou voo. O vento batia contra seu rosto de maneira confortável, e estar voando o deixou animado. De repente, sua visão estabilizou, e ele via com clareza tudo ao seu redor. Lembrou-se porque estava ali, e todos os treinos que fizera, e todos os incentivos que recebera. Aquele era o seu momento.

A arena era uma confusão de gritos e ordens – os capitães instruíam os jogadores, e selecionavam rapidamente os com talento e aqueles que desceriam da vassoura. Goles passavam pelos aros a todo instante, enquanto o teste dos goleiros se realizaria mais tarde. Naruto conseguiu desviar de alguns balaços com facilidade, embora desconfiasse de que alguns deles estavam vindo intencionalmente em sua direção. Ignorou, e continuou procurando pelo pomo. Deu algumas voltas rápidos e voou para cima, para ter uma visão panorâmica. Finalmente avistou, com animação, a pequena bolinha dourada e suas asas de libélula, planando próxima a um dos marcadores. Inclinou-se, ordenando que a vassoura corresse, e, em poucos segundos, sentiu o objeto em suas mãos, parando de se mexer. Houve uma explosão de gritos, e o loiro desceu até o capitão da Grifinória, que o encarava satisfeito. Naruto pegara o pomo em orgulhosos dois minutos e sete segundos, um dos melhores tempos.

Assim que pousou, uma avalanche de pessoas o encontrou, a maioria seus amigos, mas, junto foi abordado por garotas, e não só do terceiro ano. Sorria largamente, tal qual tivesse ganhado a própria Taça Quadribol, e cumprimentava quem conseguia. Quando deu por si, tinha em mãos alguns cartões em formato de coração, e, surpreso, começou a rir. Respondeu as garotas e abraçou lateralmente duas delas, em um ato de coragem. Era mais alto que todas ali, apesar de provavelmente mais novo. Era um tipo de atenção que nunca recebera, e que estava gostando muito.

Em um impulso, virou-se para o time sonserino, que havia acabado a partido. Seus olhos avistaram-na com o de cabelos flamejantes, cumprimentando o Uchiha – Naruto fechou a cara por ele ter conseguido também. Mas, confuso, avistou a garota curvando-se ligeiramente para uma outra figura, com o cabelo preso e parecido com ela própria.

Naruto não entendeu o que estava acontecendo, mas, de alguma maneira, não tinha percebido antes como Hinata era bonita.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!