A M O N G U S escrita por Ero Hime


Capítulo 1
M E E T U S


Notas iniciais do capítulo

SE eu tivesse alguma vergonha na cara, saberia que não deveria começar outra fic com uma em andamento. MAS, eu não tenho vergonha na cara, então aqui estamos.
Eu simplesmente fissurei nesse plot. Uni duas coisas das quais sou absolutamente fã, e apostei para ver no que dava!
Alguns elementos de Harry Potter serão mantidos e vistos durante o decorrer da história, mas tentei adaptar o máximo de informações que pude.
Lembrando que NÃO É um crossover, porque os personagens de ambos não interagem. É apenas um UNIVERSO ALTERNATIVO.
Fora isso, espero que apreciem. Irei dividir as postagens aqui e em Quimera, mas estou realmente entusiasmada.
E, claro, novamente é dedicada a Bruna, que me aguenta surtando e escrevendo, então nada mais justo. Espero que goste dessa pequena surpresa, bebê.



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O mundo não se divide em pessoas boas e más. Todos temos luz e trevas dentro de nós. O que importa é o lado o qual decidimos agir. Isso é o que realmente somos.

— Ou sobre o primeiro contato, conhecendo-se –

 

A vida é engraçada.

Não engraçada como uma boa piada, mas de uma graça hilária, pautando uma espécie de humor negro. É a diversão passageira, é o riso da desgraça. O humor que surge em horas inapropriadas, que toma conta das situações desastrosas. De alguma maneira, a jocosidade que torna tudo tão mais interessante.

Porque a vida é o desespero. A vida é tomada de tragédias desmedidas, de sangue, de lágrimas, de luta. É imprevisível, o desalento que toma conta de cada pessoa transeunte. É passageira, é água ribeira que escorre para o mar, se perdendo no fim da linha. E, então, são os momentos de graça que faz com que valha a pena sobreviver. Mesmo no desespero. Mesmo com a desesperança. É o riso inoportuno, afinal, que equilibra a balança.

Viver e sobreviver. Sabe como algumas pessoas chamariam?

Mágica.

Mas a vida também é feita de magias. Está nas pequenas coisas, está nos grandes feitos. A mágica se impregna em tudo que é vivo, mas também em tudo que é morto. A magia está no sol que surge, no orvalho que se forma, na natureza que brota do invisível, nas estações que aparecem e, tão novamente, se esvaem, deixando para trás a mágica. As pessoas também tem magia em si. A racionalidade insistente e desacreditada, os sentimentos incompreendidos, a psique. A magia está no ar, em cada átomo, em cada poro.

No entanto, algumas vezes, a magia é real.

Em um outro mundo, mais antigo que o mais antigo dos contos. Um mundo secreto, fora do conhecimento dos humanos normais. Um mundo mesclado, que está presente em cada loja, cada empresa, cada corporação. Um mundo onde nem os maiores dos devaneios poderiam sequer alcançar sua magnitude. Um mundo onde tudo era possível.

E haviam dois tipos de pessoas: as que esperam, e as que não esperam.

Naruto era do tipo que não esperava. Ele era um nascido-trouxa. Uma infância composta de esquisitices, de acidentes estranhos, de objetos desaparecendo. Eram uma família normal, do interior de uma cidade nublada que parecia desprezível demais para sequer ser mencionada. Seu pai era uma boa pessoa, e trabalhava na prefeitura medíocre de um lugar medíocre para quatro mil pessoas. Mas era um bom lugar, e uma boa família. Pais amorosos, aprendera ler e escrever, sabia fazer contas. Viviam em uma boa casa, com um campo aberto, e uma raposa treinada para ser um cão.

Mas sabiam que havia algo mais. Sabia que era especial. Os copos flutuando não eram sua imaginação. Os acessos de fúria com cacos voando para todos os lugares aconteciam, mas ninguém comentava. Apenas acontecia, e depois não havia acontecido.

Até aquele dia, quando corujas pousavam em cadeiras e traziam cartas carimbadas. Foi uma surpresa – não havia uma maneira normal de não ser. Mas, então, exultaram. Um antepassado qualquer de uma árvore genealógica qualquer deixara resquícios, que, até então, adormecidos, surgiram exuberantes. Um poder sublime, suntuoso. O irmão mais novo. Agora, um bruxo.

Naruto não era do tipo que esperava, e agora ele estava conhecendo outras pessoas que não esperavam, e tudo era novo. Era tudo mágico.

E de uma ironia que era o prelúdio do ridículo.

Era a maior estação de trem que Naruto já havia visto – e, considerando que ele nunca havia estado em uma, seus padrões de comparação haviam se elevado monstruosamente –, com trens apitando e pessoas se apinhando nas escadas, com malas enormes e expressões vazias. Naruto era uma criança, e, de alguma maneira, estava nascendo de novo.

Despediu-se de seus pais, que não poderiam passar pela barreira. A carta explicara, de maneira geral, tudo que ele precisava fazer para se preparar. Como era um nascido-trouxa – e também teria que se acostumar com aquela expressão –, não conhecia absolutamente nada do protocolo. Mas, com as instruções certas, conseguira comprar seu material – que incluía uma varinha! E livros de poção! Capas, e vassoura! – e chegar no terminal certo.

Naruto olhava para o alto, fascinado. Seus olhos enxergavam o brilho, a fascinação. Embora perdido, e com medo, também estava animado. Finalmente, sentia que pertencia àquele lugar. Depois de algumas lágrimas e promessas de contato, pegou seu carrinho e correu até o andar da plataforma 9. Evitou pensar que despedira-se apenas de seus pais, e continuou com um largo sorriso.

Avistou diversas pessoas com trejeitos e malões semelhantes, e as seguiu. Na lacuna entre as plataformas 9 e 10, avistou pessoas correndo, com toda a velocidade, e desaparecendo. Esfregou os olhos, ponderando estar enlouquecendo, mas, então, de novo, e de novo. Ele engoliu em seco e correu, o máximo que seus pés conseguiam, e fechou os olhos com força.

Ao tornar a abri-los, era mais do que sequer sonhara.

Era tudo mais brilhante, mais alegre, com mais cores e mais sons. Um relógio majestoso ao alto indicava que o trem sairia em alguns minutos, e as vozes se mesclavam em despedidas sentimentais. Várias idades, vários tamanhos, mas todos vestiam, orgulhosamente, o brasão que viera carimbado em sua carta. Ele se repetia em vestes, objetos, e grandioso no primeiro vagão do trem, que exibia, em suas melhores letras, Expresso de Hogwarts.

Se Naruto estivesse sonhando, desejava jamais acordar.

Entrou e procurou um vagão vazio. Seus bolsos estavam cheios de moedas brilhantes que equivaliam a dinheiro bruxo, que seus pais haviam lhe dado. Levara um tempo para se acostumar com a ideia em um contexto geral, mas era tudo tão novo. Caminhou pelo corredor, distribuindo sorrisos para desconhecidos que, como ele, também eram novatos e também queriam descobrir um mundo inédito.

Embora estivesse com alunos da sua faixa etária, havia centenas, quem sabe milhares, de pessoas. Era um corredor interminável, com portas abrindo e fechando a todo momento, revelando relances de outros corredores intermináveis. Deslizando entre os alunos, Naruto chegou a um vagão aparentemente não cheio, e abriu. Havia apenas uma pessoa.

Era a garota mais linda que ele já vira.

Uma cascata de fios pretos deslizavam por sua capa, e uma franja quase cobria seus olhos – estes que, quando se voltaram para o garoto, se revelaram grandes pérolas polidas, algo que o garoto jamais havia visto em toda sua vida. Eram instigantes, e firmes. Ela não desviara o olhar, e este era duro, com um quê de frieza ligeiramente instigada. Sentava-se com a coluna ereta, e portava uma altivez invejável. Sua pele era pálida, e tudo nela era contraste. Sua capa era da escola, no entanto, sua camiseta de botões era bordada com um brasão diferente. Ele tinha cores esmeraldas e fios prata trançados, desenhando um símbolo estranho, algo que aparentava uma gota.

Permaneceram se encarando por alguns longos segundos, até que Naruto sorriu, entrando e fechando a porta atrás de si. A garota continuou encarando-o, sem esboçar reações. O loiro sentou-se a sua frente, evitando corar com a falta de expressões em seu rosto.

— Olá! Eu sou o Naruto. Uzumaki Naruto. Eu estou bem animado. Tem tanta gente, não é? Mas eu estou adorando. É realmente legal sermos bruxos, você não acha? – sua personalidade não lhe permitia respirar entre duas sentenças, e ele tinha a necessidade desesperadora de preencher o silêncio com o som da sua própria voz. A garota permaneceu em silêncio, encarando-o de cima a baixo.

— Tanto faz. – disse, por fim, mas Naruto não desanimou. A garota tinha a voz fria, assim como seus olhos. Ela parecia uma estátua. Uma estátua de gelo – De qual família você vem?

— Como? – Naruto a fitou confuso, sem entender a pergunta.

— Sua família. Qual sua herança mágica. – repetiu, ainda inexpressiva.

— Ah, isso. Eu sou o que vocês chamam... – parou para se lembrar, com uma das mãos no queixo – Nascido-trouxa. Meus pais não são bruxos, e meus avós também não, pelo que eu saiba. – sorria amigavelmente.

A garota finalmente expressara alguma emoção.

Nojo.

Ela se levantou, encarando-o como se fosse um inseto da pior instância, uma praga, venenoso e asqueroso. Puxou sua bolsa para junto do corpo e saiu, os fios voando por suas costas de uma maneira cruelmente bonita. Fechou as portas do vagão com força, deixando um Naruto inconformado para trás. Ele jamais esqueceria aquele olhar. Era doloroso, como se ele fosse inferior a ela de alguma maneira. Seus punhos se apertaram, e ele respirou fundo.

Aquele fora o primeiro encontro.

Quando o trem começou a andar, três garotos sentaram-se com ele, e o garoto logo esqueceu-se – por hora – do ocorrido, conversando com aquelas pessoas. Dividiram suas histórias, o que os levara até ali. Todos primeiranistas. Quando Naruto disse que era nascido-trouxa, eles reagiram como se tivesse dito que preferia doce a salgado. Havia puros-sangues e um mestiço, mas aquilo não importava. Estavam traçando laços de amizade.

A viagem demorara algumas horas, o suficiente para dizerem a Naruto tudo que ele precisava saber sobre a escola de magia e bruxaria. Seus professores, sua história, as lendas e os grandes bruxos – bons e maus – que haviam passado por ela. Falaram sobre a seleção e as matérias, sobre os dormitórios e o condado bruxo. A cada nova informação, os olhos do Uzumaki brilhavam mais de excitação. Seu sangue pulsava, e ele resistia àquele impulso que crescia, confirmando, mais uma vez, que havia reconhecido seu lugar.

O trem diminuiu a velocidade, e, pela janela, era possível avistar a silhueta da escola. Naruto colara na janela, encarando como se fosse a luz pela primeira vez atingindo seus olhos. Estava maravilhado. Era um castelo, enorme, pomposo, imponente.

Os alunos desembarcaram em uma nova plataforma, onde havia um homem com capuz e uma lamparina acima de sua cabeça. Era um amontoado de alunos, de todos os anos, sendo guiados para barcos, também iluminados. Naruto olhava ao redor, admirado, seguindo seus amigos. Atravessaram o rio, e, posteriormente, haviam carruagens que andavam sozinhas — Naruto lutava para não se espantar muito.

O caminho até o castelo foi repleto de ansiedade e expectativas. Nenhum dos primeiranistas sabiam o que os aguardava, e a espera tornava tudo ainda mais convidativo. Ao chegarem, de fato, à escola, Naruto segurava-se de emoção. Era uma estrutura de proporções inomináveis, absolutamente gigante. A atmosfera era outra, e cada tijolo daquelas paredes gritava magia.

Esperaram no hall, que recebia e acomodava todos os alunos do primeiro ano, enquanto os demais haviam ido para outro lugar. Naruto olhava para os lados, vendo as demais crianças chegaram, quando, de relance, seus olhos atravessaram uma pessoa em particular. No mesmo instante, sua cara se fechou em uma carranca, e seu amigo mais próximo acenou a cabeça.

— Ela é uma Hyuuga. – Naruto não fazia ideia do que aquilo queria dizer, a não ser que fosse uma justificativa para ela ser absolutamente insuportável — Boatos dizem que todos da família, sem exceção, foram da Sonserina. São rigorosos, e falam que não são dos mais amigáveis. – nisso Naruto concordara. Também já percebera que a Sonserina, uma das casas da escola, não era das mais amadas, uma vez que todos com quem havia conversado a desprezavam.

Esperaram por novas orientações, e, guiados por alguém que Naruto não conseguira ver, entraram em um grande salão – onde grande era um adjetivo quase ultrajante para descrever a magnitude daquele lugar. Quatro mesas separadas por longos corredores, com um maior no centro. As mesas estendiam-se até os olhos se perderem, e já estavam parcialmente cheias, com alunos de chapéus pontudos e capas pretas. Naruto olhava ansioso para o palco central, que contava com uma banca, que aparentemente era dos professores, uma cadeira alta – e importante –, um banco no centro e um chapéu maltrapilho sobre ele.

Havia um velho – ele era realmente velho — na cadeira importante, mas fora uma professora loira, de vestes elegantes e, bem, uma comissão venerável, que se levantou, com um pergaminho que rolou para seus pés.

— Alunos do primeiro ano, quando chamar seu nome, subam e sentem-se, onde o Chapéu Seletor irá selecioná-los para suas casas. – sua voz dava a entender que era uma pessoa com quem era melhor não discutir.

Naruto mal se continha no lugar. Nome a nome, os alunos subiam, e o chapéu – que era falante, pelo amor de Deus! Falante! – gritava o nome de uma das quatro casas, e o indivíduo seguia para sua mesa, caracterizada pelas cores padrão. As casas aplaudiam e recepcionavam seus novos membros, enturmando-os.

Em um dos momentos, Naruto atentou-se mais firmemente à seleção.

— Hyuuga, Hinata! – chamou a professora loira, e, do meio da multidão, a garota caminhou, com os passos leves e a postura firme, apesar de graciosa. Naruto fechou a cara em uma carranca, cruzando os braços, ignorando o desconforto ao encarar seu rosto estupidamente perfeito.

Ela se sentou, com toda sua pomposidade, e o chapéu demorou-se em sua cabeça. Seu rosto permaneceu impassível, mas seus olhos vislumbraram um brilho de insegurança. O salão estava inundado de um incômodo silêncio, mas então o chapéu Seletor gritou, em alto e claro som, “SONSERINA!” – e a mesa explodiu em palmas agitadas. A garota permitiu-se exibir um pequeno sorriso, e caminhou até sua nova casa. Naruto apenas bufou.

Logo sua vez chegou. Ele estava nervoso, com as palmas suando o tempo todo, cujas quais ele limpava nas vestes. Andou com passos vacilantes, e, ao passar pela professora, recebeu um sorriso e incentivo. Sentou-se, fitando aquelas milhares de pessoas que o encaravam, com expectativa. Ele respirou fundo e, quando sentiu sua cabeça sob o chapéu, estremeceu.

Hm, um nascido-trouxa, que interessante...”, Naruto tomou um susto, sobressaltando ao ouvir a voz diretamente em sua mente, “Você precisará de coragem, garoto... Vejo que tem sede de aprendizado. Um coração puro, e a procura de novas amizades... você terá um grande futuro pela frente, e não poderia ser outra senão...”

— GRIFINÓRIA!

Naruto saltou, com um novo riso rasgando seu rosto. Desceu as escadas um tanto desnorteado, mas novos braços o cercaram, levando-o para sentar-se. Recebeu sorrisos de boas-vindas e cumprimentos alegres. Sorria largamente, sentindo-se relaxado, de uma certa maneira. Não entendera tudo que fora dito pelo chapéu, mas, naquele momento, não lhe interessava ao menos um pouco. Queria apenas aproveitar sua nova casa. Seu novo lar.

Não prestou atenção nos demais nomes sorteados, mas não tardou a finalizarem as seleções, e, com todos os alunos devidamente sentados, o centro do salão tornou-se visível. Da cadeira central, o velho se levantou, caminhando devagar, com um manto branco arrastando sobre seus pés. Naruto se virou para um aluno mais velho que estava ao seu lado, curioso.

— Quem é esse? – murmurou.

— É o diretor da escola, o professor Sarutobi. Dizem que ele é tão velho quanto o próprio Merlin. – Naruto riu, mesmo sem entender o que queria dizer. Voltou-se para o homem, com longa barba esbranquecida, e sentiu que poderia confiar nele. O homem posicionou-se no centro, e puxou uma longa varinha das vestes, tocando no pescoço com ela. No mesmo instante, sua voz se tornou mais alta e clara. Naruto abriu a boca, maravilhado.

— Alunos, muito bem-vindos à nossa escola! Aos primeiranistas, bem-vindos, aos demais alunos, uma boa volta! Espero que todos tenhamos um ano esplêndido. Coragem, bondade, força e determinação para os desafios que nos esperam. Antes de nos deliciarmos com o jantar, gostaria de dar os avisos iniciais para nossos queridos calouros. Evitem descumprir as regras de conduta. A Floresta Proibida é estritamente inacessível, salvo em companhia dos professores. Nosso querido zelador Ebisu pediu para lembrá-los que é proibido transitar pelos corredores depois do horário. – o professor riu com seus óculos meia-lua, e os alunos também sorriram entre si, como uma velha piada interna – Agora, aproveitem a refeição!

Como em um passe de mágica – seria isso um tanto óbvio? – a comida apareceu na mesa, preenchendo-a por completa, de uma extremidade a outra. Naruto sentiu o queixo cair, embasbacado com a quantidade homérica de comida, dos mais variados tipos e sabores. Os demais primeiranistas não exibiam reações diferentes. O garoto engoliu a saliva e começou a se servir, enchendo seu prato com alimentos variados.

Comeu até não suportar sequer ver comida. Sentiu-se sonolento, apesar da animação. Fora um dia longo, e apenas naquele momento o peso da viagem e do primeiro dia recaíram. A mesa foi retirada magicamente – no sentido literal, e ele ainda precisaria se acostumar com isso –, e os alunos foram instruídos a seguir os monitores, identificados por broches brilhantes e polidos. Naruto apenas seguiu a maioria, tentando se atentar ao fato das escadas se moverem, estando, a cada momento, em uma posição. Depois de se perder um pouco nos andares, pararam em um dos corredores. Haviam trombado com outra turma que estava indo pela direção contrária. O monitor estava explicando que o grande quadro de uma mulher gorda – aquele era mesmo o nome do quadro, não era culpa dele! – exigia uma senha para deixarem-nos passar, mas Naruto, distraído demais para notar que haviam parado, continuou caminhando até trombar com alguém.

Olhou para cima, para se desculpar com quem quer que fosse, mas as palavras se perderam em algum lugar quando encarou aquelas pérolas agressivas. Franziu o cenho, se afastando com rapidez, encarando dois garotos ao seu lado – ameaçadores e igualmente gélidos – com uma careta.

— Olha por onde anda, Uzumaki. – a garota reclamou, a voz entrecortante.

— Você é muito grossa, sabia? – o garoto ironizou, cruzando os braços.

— E eu não dou a mínima para a sua opinião. – respondeu com ar tedioso, e saiu, dando-lhe as costas.

Aquele fora o segundo encontro.

E Naruto já havia declarado, oficialmente, que a odiava.

As turmas se separaram, e o monitor ensinou-lhes a senha, que, provavelmente, esqueceriam em alguns dias. Naruto gostaria de ter forças para se maravilhar com o salão comunal, a lareira grande e aquecida, as cores vermelho e amarelo por todos os lados, com cortinas de leões majestosos, mas ele estava apenas cansado demais. Também não pode se entusiasmar com o dormitório, um baú – de verdade! – e cortinados. Ele apenas deitou na cama e adormeceu, embora houvesse um sorriso em seu rosto que não o abandonara na manhã seguinte.

 

 

 

Demorara cerca de dois meses para Naruto se adaptar com sua nova realidade. Era tudo absolutamente diferentes, em níveis e proporções que jamais seria capaz de explicar com palavras. Conhecera seus professores e as matérias eram incríveis – ele adorava Feitiços e Transfiguração. Aprendera a controlar a magia dentro dele, e estar entre os seus fazia-o sentir-se infinitamente melhor. Sua varinha era como uma extensão de sua mão, e as capas e o brasão vermelho e amarelo eram exibidos com orgulho.

Sua casa era a dos corajosos e destemidos. Fizera amizade com seus colegas de dormitório, mas também com as garotas de sua sala e com pessoas das demais salas. Aprendera passagens secretas e explorara partes desconhecidas do castelo, que o fascinava. Aprender – e, mais que isso, convencer — a ser um bruxo era a maior das suas tarefas. Mas, apesar de tudo, cada nova descoberta o enfeitiçava mais – não seria essa uma doce ironia?

No entanto, também aprendera coisas que desgostara. Professores que não simpatizara, histórias de grandes vilões e, o mais importante, entendera porquê a casa verde e prata era vista como inimiga dos grifinórios.

Os sonserinos eram astutos, ambiciosos e cautelosos. Enquanto Grifinória prezava a amizade e lealdade, a Sonserina incentivava o anticrescimento. Não tardou para as inimizades surgirem, principalmente nas aulas que partilhavam juntos. Os olhares de cima, as poses superiores, a necessidade contínua de deixar claro o quão pura era sua casa irritavam Naruto mais que qualquer azaração ou provocação. Desde o primeiro dia, já tinha convicção do quão ridículos eram. Não era por coincidência que seu animal era a serpente – traiçoeira e peçonhenta.

Era o quinto mês, e Naruto estava se adaptando com facilidade. Voltava da aula de História da Magia – que era particularmente chata – quando avistou uma pessoa infelizmente muito conhecida. Suspirou de irritação. Durante aquele tempo, fizera o possível e impossível para irritá-la o quanto pudesse, a cada vez que se encontravam. Na maior parte das vezes, ela não exibia nenhuma reação que não fosse sua habitual cara de tédio, mas, quando ela se afetava, xingando-o de nomes tão sujos e irrepetíveis quanto as maldições imperdoáveis, era que valia todo o esforço. Naruto divertia-se, junto de seus amigos.

Ela caminhava devagar, com o rosto concentrado no que parecia ser um livro, mas Naruto não conseguira identificar. No mesmo momento, sorriu travesso, se questionando qual azaração a deixaria mais irritada, mas, quando pegou sua varinha, avistou Pirraça, o fantasma do castelo, conhecido por suas peças que de nada serviam a não ser atormentar a vida dos alunos. O fantasma carregava um balde e procurava sua próxima vítima. O garoto parou, ponderando por alguns segundos se a deixaria ser atingida ou se a ajudava.

Suspirou. Por mais que gostasse de irritá-la, e que ela fosse uma pé-no-saco arrogante, não era legal ser atingido pela brincadeira do Pirraça. Apertou o passo, fechando os dedos em seu braço e puxando-a no momento exato em que o fantasma atirou sua gosma, derrubando-a no chão. Praguejou, flutuando para longe dali.

Naruto tropeçara, mas conseguiu apoiar a Hyuuga pelos ombros, mesmo que tivesse derrubado seus livros. Ela estava assustada e desorientada pela movimentação. Virou-se e, ao avistar o garoto, sua cara se transformou em uma máscara de raiva. Naruto deu um passo para trás, com as mãos postas para o alto, quando ela começou a pegar suas coisas, furiosa.

— Por que você simplesmente não larga do meu pé? – sibilou, assustando-o. E, logo em seguida, indignando-o.

— Eu acabei de te salvar do Pirraça, poderia ser, ao menos, um pouco mais agradecida? – ergueu o tom, exaltado. A garota se aprumou, fuzilando-o.

— Eu não pedi para ser salva, muito menos por você. – cuspiu a última palavra, como se fosse um completo desrespeito ele sequer pensar em tocar nela.

— Você é tão arrogante. – revirou os olhos – Não sei como consegue sequer se levantar com o tamanho do seu ego.

— Algumas pessoas nascem com berço. Outras – olhou-o de cima a baixo –, jamais conseguirão.

Se virou, andando rapidamente. Naruto praguejou, perguntando-se porque ainda se dera ao trabalho. Ela era uma sonserina, e agiria como tal. Pretensiosa, desaforada e insolente. Não esperaria nada mais vindo dela, e, definitivamente, jamais teria nenhum tipo de envolvimento com ela. Nunca mais.


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Notas finais do capítulo

Cada capítulo retratará o equivalente a um ano letivo, e eventuais posteridades. Gostaram?