Ouvi umas batidas repetidas na porta, caminhei um pouco até verificar pelo olho mágico, perguntei de quem se tratava, porém ninguém respondeu. Poderia ser algum animal que vive no pasto, vai saber. Virei-me para pegar a escada, mais uma vez a batida, dessa vez eram repetidas. Eram tão fortes que a porta ficou tremendo. Fui à cozinha pegar uma faca, caminhei até a porta e segurei a maçaneta. Eu não poderia estar melhor: ouço vozes, vejo vultos à noite agora tenho imaginações de que uma pessoa bem truculenta está batendo em minha porta quase meia noite.

— Se não parar com isso, eu vou chamar a polícia — falei na esperança de que tenha sido um bêbado.

— Vai pro inferno... Vai pro inferno...

A voz era rouca e baixa, mas deu para conhecer. O rancho tem um caseiro gente boa chamado Maurício e trabalhou com meus pais no passado. Não havia como desconfiar de uma pessoa que mostrou anos de serviço íntegro.

— Senhor Maurício, já vou abrir. Espere...

Abri a porta vagarosamente. A mão cheia de calos do homem de meia idade apareceu com truculência. Soltei a faca ao ver o caseiro com olhos vermelhos de demônio — poderia ser apenas uma alucinação da minha depressão? Ele veio para cima de mim e me deu um soco no rosto. Desmaiei...