VAMOS PASSEAR? - CAPÍTULO ÚNICO

"I LOVE YOU, MOMMY".

Uma vez me perguntaram se era melhor ser um lobo sem regras ou o melhor amigo do homem, mas eu sempre tive orgulho de nascer esse vira-lata charmoso que sou. Em minha casa eu recebo comida, um velho e quentinho cobertor que faço de cama, banho e carinho. Eu gosto dos humanos grandes que cuidam de mim e me fornecem tudo isso, incluindo a bolinha vermelha de borracha que me presentearam, mas meu coração pertence mesmo a filhote de humano que brinca comigo e diz o famoso: “Doug, vamos passear?”.

Aquela frase era de arrepiar, a ponto dos meus pelos eriçarem e a cabeça ergue automaticamente. Quando a Emilie, minha pequena humana, balança a coleirinha, até mesmo me falta o ar de tanta felicidade, a calda balança e abro a boca para arfar. Os humanos logo entraram naquela máquina metálica enorme e prateada que eles chamam de carro e eu sentei com a Emilie no banco de trás, ela acariciava minha cabeça o tempo todo. A viagem durou pouco dessa vez, eles pararam naquela praça no centro da cidade, onde eu e a pequena humana íamos sempre quando a mesma me levava para passear. Ela abriu a porta do carro e tirou minha coleira, certamente para colocar a de passear. Fui o primeiro a descer e esperar na calçada para que a Emilie descesse também, mas então a porta se fechou e o carro andou. Eles se foram.

Como um louco, eu corri, latindo, chamando pela minha menininha, preocupado, mas estava tudo bem, eu sei que ela voltará para me buscar, não é? É só esperar mais um dia. Há quanto tempo eles se foram? Dezesseis meses. Dois anos. Três. Eu continuo esperando-a.

Emilie, minha mamãe, onde está você? Sinto sua falta, o mundo é sombrio sem você. Estou com fome e frio, estou com medo e sozinho, os outros humanos não são tão bons quanto você, eles têm um espírito maligno. Então me abrace novamente, minha pequena, e diga-me que tudo ficará bem e seremos uma família feliz de novo. A bolinha está na minha boca e a chuva gélida e grossa cai sobre mim violentamente, mas é o único jeito de tomar banho e não morrer de sede. Minha pata está machucada, mas não dói mais que meu coração. Pequena humana, por que você me entregou à morte se eu te amava tanto?