Encontros, Acasos e Amores escrita por Bell Fraser, Sany, Gabriella Oliveira, Ester, Yasmin, Paty Everllark, IsabelaThorntonDarcyMellark, RêEvansDarcy, deboradb, Ellen Freitas, Cupcake de Brigadeiro, DiandrabyDi


Capítulo 21
O Forte Everllark


Notas iniciais do capítulo

Olá pessoas, tudo bem?

Sou a DiandrabyDi e agora é a minha vez.

Fui convidada para participar dessa coletânea pela maravilhosa Cristabel Fraser e agradeço muito a oportunidade. Todas as autoras me receberam muito bem e tenho orgulho de escrever ao lado de autoras tão lacradoras.

A Bel também foi a pessoa que me desafiou nessa rodada. Para a minha alegria, fiquei livre para escrever o que quiser, nós duas conversamos muito sobre os meus projetos e decidimos por essa escrita.

O banner fofo da minha One também foi feito pela Cristabel Fraser. Obrigada Bel, ficou lindo :)

O Forte Everllark é uma prévia da minha próxima fanfic. O primeiro capitulo adiantado para vocês.

E por mais que estivesse livre na minha escrita, escrever essa One foi um desafio enorme. Tive que escrever através de um olhar mais inocente.

Com essa One quero falar sobre as aventuras da juventude, amizade, mudanças e é claro as descobertas de um garoto. E, será que estou sentindo um cheirinho de primeiro amor no ar? É claro que sim.

Vamos para as especificações?

— Universo Alternativo.

— One Livre para todos os públicos.

— Sinopse de O Forte Everllark.

"O que não te desafia, não te transforma.
Peeta Mellark desejou que as suas férias de verão fossem diferentes, estava cansado dos dias iguais e de não ter nenhum amigo para dividir os dias de calor. Seu desejo é realizado quando Katniss Everdeen aparece em sua vida. E Peeta não demora a perceber que ao lado dela tudo se transforma em uma aventura."

Por favor, não esqueçam de ler as NOTAS FINAIS.

Enfim, Enjoy it!



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Peeta

***

Não consigo acreditar que ela foi embora, não assim. Não sem dizer adeus para mim. Não sem deixar eu me explicar.

Me sinto um idiota por ter dito aquilo para Cato e o Tresh, eles estavam pegando no meu pé e fiquei muito irritado com isso. Acabei dizendo coisas que não queria dizer e magoei Katniss com isso.

Ela é minha melhor amiga e amigos não devem magoar um ao outro.

Agora ela foi embora com a mãe dela.

Isso não pode ser verdade. Nós prometemos ser amigos para sempre.

Eu sou um completo idiota. Sou um verdadeiro otário.

Por que ela foi embora? Por que não quis ouvir minha explicação? O que vou fazer agora? Será que ela nunca vai voltar? Será que nunca vou vê-la novamente?

Não, isso não pode estar acontecendo. Por que fui dizer aquelas coisas horríveis sobre ela? Por que ela tinha que ter ouvido aquilo?

Não sei porque disse aquelas coisas, eu não queria que ela tivesse ouvido aquilo.

Katniss ficou realmente magoada, eu sei que ficou. Ela não é uma boa mentirosa, seu rosto é muito expressivo e posso ler todas as verdades em seus olhos cinzentos. Katniss é um livro aberto para mim, eu não sei por que, mas consigo lê-la melhor que qualquer pessoa.

E nunca vou esquecer o olhar de traição que ela me deu. Katniss nem quis saber de nenhuma desculpa minha e nem pude me explicar. Eu até pensei que alguns dias separados fosse fazer com que ela me escutasse, mas esperei demais e agora ela foi embora.

Foi embora para o Canadá com a mãe dela. Seu pai está estranho com o divórcio e a ida das duas mulheres, então não foi a minha intenção sobrecarregá-lo com perguntas, mesmo sabendo que foi justamente isso que fiz.

Eu apenas não consigo entender ou aceitar que Katniss foi embora. Eu ainda não posso acreditar que ela foi com a mãe dela. Katniss me disse que ficaria com o pai dela, e que era a mãe dela que iria embora.

Ela é minha melhor amiga. O que vou fazer sem ela?

***

Estava um dia ensolarado a primeira vez que a vi.

Foi o barulho do caminhão de mudança que chamou a minha atenção. Antes disso, eu estava brincando com meu caderno de desenho, estava exercitando os meus tons de laranja, pois dias atrás vi um pôr do sol nos rochedos de Mally que me tiraram o fôlego, depois não consegui tirar aquelas tonalidades de laranja, vermelho e rosa que o céu daquele dia me mostrou. Todo o céu parecia pegar fogo, então decidi recriar o que vi, mas é claro que não estava sendo tão fácil assim.

Minha irmã Prim ainda é muito pequena para me ajudar e falando a verdade, não gosto dela perto das minhas tintas, ela não entende nada de cor, sempre faz a maior bagunça. Por isso a mantenho afastada das minhas coisas.

Meu irmão mais velho está no colegial, ele é muito legal. Nós dois fazíamos várias coisas juntos, mas agora tudo o que ele pensa é na namorada e nas suas lutas. Sinto falta do nosso companheirismo.

Eu nunca tive muitos amigos, então esse verão está sendo bem chato. Na minha vizinhança não existem muitas crianças, as que existem são todas da idade de Primrose e brincar com elas não é nada divertido. Por isso, a chegada de uma criança da minha idade chamou bastante a atenção.

Mal consegui controlar minha animação quando espiei o caminhão parando na frente da casa dos velhos Hawtins, quer dizer, eu sabia que a casa tinha sido vendida porque o senhor e senhora Hawtins foram morar em uma casa para idosos, ouvi meus pais conversando sobre isso em um jantar na semana retrasada e por mais interessado que fiquei, meus pais não queriam dividir muitos detalhes.

Então tive que controlar minha ansiedade e curiosidade para esperar pelos novos moradores, no fundo queria que alguma família com filhos da minha idade se mudassem para aquela casa. E morria de medo de os novos vizinhos serem pessoas idosas, a senhora Hawtins era muito legal, sempre carregava balas de hortelã com ela e em todas as oportunidades que tinha apertava as minhas bochechas. Isso era irritante, mas as balas compensavam. Já o senhor Hawtins era um veterano de guerra, ele me contava várias histórias sobre o seu tempo de soldado.

Quando o senhor Hawtins ficou doente, ele e a sua esposa decidiram morar em uma casa que tinha muitas outras pessoas idosas. Eu sinto saudade de dois, mas queria ter amigos que moram perto da minha casa. A minha mãe me deixaria sair mais vezes se eu tivesse mais amigos do que agora.

E Prim não conta porque ela ainda é muito pequena. E garotas são chatas, tudo o que elas querem fazer é brincar de boneca, pentear os cabelos e praticar balé, pelo menos essa é minha experiência com garotas.

Quando o meu irmão tinha tempo ele saia comigo, mas agora tudo o que ele faz é correr atrás de Cindy, sua namorada. E não consigo entender por que ele gosta tanto dela. Ela tem um cabelo bonito, mas só fala de coisa de garotas ou sobre que Universidade vai frequentar. E o modo que ele a olha é constrangedor.

Eu nunca vi meu irmão assim, ele age como se tivesse levado uma pancada na cabeça. Seus olhos brilham bobamente e Henry ri de tudo o que ela diz, mesmo que a piada não seja engraçada.

Uma vez até os vi se beijando, na boca e de língua. Foi tão nojento, sei que não devia ficar espiando, mas queria muito saber que tipo de feitiço ela tinha jogado nele. Então, fiquei assustado quando os vi atrás do jardim aqui de casa, escondidos e aos beijos.

Meu rosto imediatamente queimou de vergonha. Sempre pensei que beijos eram uma coisa que apenas os pais ou casais de filmes faziam e nunca tinha visto o ato sendo realizado de forma tão explicita. E por mais que estivesse envergonhado não conseguia tirar os meus olhos deles.

Eu não conseguia ouvir nada do que eles estavam sussurrando um para o outro, mas a todo o momento Cindy dava risadinhas e meu irmão a interrompia com mais beijos. Quando não consegui aguentar mais por causa da vergonha me afastei.

Naquela noite, depois que todos fomos dormir fiquei acordado pensando em tudo o que vi. No momento que não aguentei mais de curiosidade me levantei da minha cama, atravessei o meu quarto sem fazer muitos barulhos e fui até o quarto do meu irmão. Tive que bater algumas vezes na sua porta.

Quando ele me atendeu e me deixou entrar no quarto, perguntei envergonhado porque ele estava fazendo aquilo com Cindy e se sabia que ela tinha colocado um feitiço nele.

Meu irmão Henry gargalhou e depois de me sentar em sua cama, explicou que o que ele e Cindy faziam era algo especial que apenas namorados faziam. E que sim ele sabia que estava enfeitiçado e adorava estar assim.

— Então, o feitiço está na boca dela? - Questionei confuso ao lembrar do beijo deles.

— Não apenas na boca, está nos olhos dela, está na forma que ela sorri e na macies dos seus cabelos. Isso é amor Peeta, você ainda é muito novo para sentir algo assim, mas algum dia uma garota vai aparecer e você não vai conseguir tirar seus olhos dela. - Henry me respondeu ao passar as mão nos meus cabelos e bagunçar os fios. Eu tinha onze anos na época e me senti um idiota por ser tão inocente.

— Eu vou ter que beijar assim? - Meus olhos saltavam de susto, de jeito nenhum me imaginava realizando qualquer ato parecido com uma garota.

— Sim. Mas não se preocupe, você vai querer isso, na verdade não vai conseguir controlar o impulso. - Continuou a me contar, seus olhos azuis iguais aos meus estavam cheios de diversão.

— Eca. Não quero não, é nojento. Eu vou controlar qualquer impulso dessa feitiçaria. Você vai ver. - Disse com firmeza. Na minha cabeça até conseguia ver uma garota se aproximando com seus olhos brilhando e sua boca toda babada de saliva.

Eca. Pensei aflito ao ter certeza que beijos são nojentos de verdade.

Depois disso Henry me mandou de volta para o meu quarto com apenas um aviso de “Você vai ver, Peeta.”

Naquela noite dormi muito mal, quase um ano atrás tudo o que eu entendia era que garotas tinham feitiços na boca e que quando uma garota beija um garoto ela o enfeitiça, dessa forma o pobre coitado torna-se um bobão em suas mãos. A ideia do feitiço caiu por terra alguns meses depois.

Foi por isso que fiquei muito feliz quando vi um garoto saindo de dentro do caminhão. Estava difícil ver direito, pois a criança estava com um boné vermelho e roupas largas. As pessoas que pareciam seus pais estavam ao lado dessa criança e observei o homem loiro entregar nas mãos do menino algum tipo de objeto.

Imediatamente corri para fora do meu quarto, deixando para trás as minhas tintas e as tentativas de criar o laranja perfeito do crepúsculo que vi. Minha corrida até a cozinha foi rápida e não demorei a encontrar a minha mãe.

— Mãe, os novos vizinhos chegaram, posso ir ajudar com a mudança deles? - Perguntei eufórico.

— Eles chegaram? - Questionou minha mãe ao se encaminhar para a nossa sala de visitas e se inclinar para espiar pela janela. Seus olhos castanhos atentos estavam presos no grande caminhão de mudança que já estava com suas portas abertas.

Também espiei com ela, mal pude controlar a minha animação pelos novos vizinhos que dessa vez não eram idosos, eles eram um casal jovem normal e tinham um filho.

— Posso mãe, por favor? - Voltei a pedir ao encará-la.

— Claro que pode Peeta e diga aos novos vizinhos que mais tarde vou levar um bolo de boas vindas para eles. Eles estarão exaustos depois dessa grande mudança. - Respondeu minha mãe ao passar uma de suas mãos pelo meu rosto.

Com o seu consentimento imediatamente sai correndo de casa, um largo sorriso sobre os meus lábios, enquanto atravessava o quintal e me encaminhei para o caminhão. Tive que dar uma volta completa nele para encontrar um dos nossos novos vizinhos.

Foi então que esbarrei em uma senhora alta e loira, seus grandes olhos azuis me encarraram e ela sorriu.

— Olá rapaz. - Me disse ainda sorrindo

— Olá senhora. Meu nome é Peeta Mellark, eu moro naquela casa ali. - Me apresentei e apontei para onde era a minha casa. Nesse momento percebi que minha mãe também tinha saído para o quintal e estava acenando educadamente para a nova vizinha. - Eu posso ajudar na mudança?

— É um prazer te conhecer Peeta Mellark, meu nome é Jozelyn Everdeen. - A senhora Everdeen estendeu sua mão e educadamente a cumprimentei, exatamente como os meus pais me ensinaram. - Tem certeza que você quer ajudar? É um trabalho cansativo.

— Eu gostaria muito de ajudar, se não for incomodar.– Insisti já me encaminhando para as portas abertas do caminhão, onde agora existia uma rampa de acesso para o seu interior e peguei algumas almofadas em meus braços.

— Muito obrigada, você pode colocar as coisas dentro da casa, no chão mesmo. Apenas não deixe a entrada bloqueada, ok? - Ela me instruiu de forma simpática. Seu cabelo loiro morango balançavam na brisa.

Fiz exatamente como fui instruído, ao entrar na antiga casa dos senhores Hawtins fiquei surpreso ao ver o ambiente já com muitos móveis bonitos instalados. Quando estava deixando as almofadas que peguei sobre um dos sofás, um homem alto me abordou.

— Olá rapaz, qual o seu nome? - Me questionou com sua voz grossa, sua estatura alta e porte robusto me intimidou a primeira vista.

— Olá senhor, meu nome é Peeta Mellark e sou o vizinho de vocês. Eu vim ajudar com a mudança. - Expliquei ao esticar a minha mão para um cumprimento.

— É um prazer conhecê-lo Peeta Mellark, eu sou Haymitch Abernathy. Fico muito feliz com a sua ajuda, um pouco mais de músculos sempre é bem-vindo em uma mudança. - Ele me disse depois de me cumprimentar com um aperto de mão forte.

Ainda dei mais duas viagens carregando os pertences dos Everdeens até descobrir que a criança que antes achei que fosse um menino na verdade era uma menina.

Eu estava carregando um caixa particularmente pesada com artigos para banheiro quando a vi sair de dentro da casa, meu olhar caiu sobre a menina no exato momento que ela tirou o boné vermelho e permitiu que longos cabelos castanhos caíssem por seus ombros.

Seus olhos cinzentos me encararam de modo desconfiado, mas em seguida um sorriso tímido surgiu em seus lábios. Seu rosto pequeno e bochechas coradas chamaram a minha atenção no mesmo momento.

— Peeta. - Fui acordado do meu devaneio quando a senhora Everdeen tocou o meu braço. - Vou te apresentar a minha filha.

Nós caminhamos para onde a menina estava parada, ela vestia um macacão jeans sobre uma camiseta branca. Seus cabelos castanhos ondulados eram realmente longos ao cair por suas costas e cintura.

— Filha, esse é Peeta Mellark, ele é nosso vizinho e se ofereceu para nos ajudar com a mudança. Peeta, essa é minha filha, Katniss Everdeen.

Não entendi o porque foi tão difícil cumprimentá-la, afinal ela era apenas uma garota. E até senti minhas bochechas queimarem quando fomos praticamente obrigados a dar as mãos em nosso cumprimento. Acho que consegui esconder o meu repentino constrangimento da senhora Everdeen e da sua filha Katniss.

Para a minha surpresa não demorei a perceber que Katniss era diferente de todas as garotas que conheço, até mesmo as meninas da minha escola. Não sei explicar o que é, existe alguma coisa em seus olhos cinzentos que não consegui evitar olhar. Ela tem olhos grandes e expressivos, seu rosto pequeno e bochechas rosadas me lembravam muito o rosto de elfos dos meus livros de aventura, as poucas sardas existentes sobre o seu nariz eram chamativas e delicadas o que me fez questionar interiormente, durante todo o dia da mudança, que tonalidades deveria usar para chegar a cor exata de sua pele com as sardas.

O cabelo longo dela possuía uma tonalidade linda, eram castanho escuro e quando o sol tocava nos fios sedosos, seus cabelos mudavam para uma cor quente com nuances de vermelho. Essa tonalidade iria me assombrar durante dias, quando voltasse para casa tentaria reproduzir essas cores, talvez pedisse para o meu pai novos tubos de tinta.

Katniss foi simpática o tempo todo e mesmo a sua timidez notável não a impediu de tentar puxar algum tipo de assunto comigo, confesso que fiquei mais tímido com a atenção dela.

Minhas únicas amigas garotas eram a Delly Cartwright e Madge Undersee, nós nos víamos pouco durante as férias de verão, elas não moravam tão perto da minha casa e da mesma forma que eu tinha os meus projetos de pintura, Delly tinha os seus estudos de violino e Madge de balé. Elas ficavam tão focadas nisso que nós não tínhamos muito tempo para sair e brincar.

Não demorei a descobrir que Katniss e eu tínhamos a mesma idade e que ela também frequentaria a escola que estudo.

— A reserva florestal não fica tão longe daqui, não é mesmo? - Ela me perguntou quando nós dois estávamos colocando algumas panelas que tiramos de uma caixa na cozinha.

— Não fica não. - Respondi ao encará-la. - Meus pais dizem que é perigoso ir lá.

— Aposto que não é nada perigoso. Meu pai diz que apenas os idiotas se machucam em uma floresta, nós dois acampamos juntos, então sei tudo sobre florestas. Nós dois podemos ir lá amanhã, o que acha? Eu gostaria de explorar. - Disse Katniss com confiança, ela é diferente das meninas que conheço, nem Delly ou Madge entrariam sozinhas dentro da reserva. E Katniss tem um brilho no olhar tão fascinante que acabei achando difícil negar o seu pedido. Eu conheço a reserva, meu irmão me levava lá as vezes, especialmente para nadar no lago e pescar, mas nunca fui sozinho.

— Pode ser. - Acabei respondendo, o que fez com que as bochechas de Katniss ficassem vermelhas. - Nós podemos ir de bicicleta até lá, eu sei o caminho. Também podemos ir andando, mas leva mais tempo.

— É melhor ir de bicicleta. - Ela me disse e depois saiu da cozinha para continuar a ajudar os seus pais.

A tarde passou assim e no final do dia, a casa dos novos vizinhos estava cheia de caixas fechadas e muitos objetos dispostos em todos os lugares. E o caminhão de mudança já tinha ido embora.

Eu gostei dos pais de Katniss, o senhor Haymitch e a senhora Jozelyn eram pessoas legais. O pai de Katniss mais que a mãe.

Haymitch era engraçado de um jeito brutal, suas piadas continham uma dose de sarcasmo que podiam até mesmo ser improprias para crianças, em vários momentos o peguei cantarolando músicas de rock que eu nunca tinha ouvido antes, fiquei surpreso por ter sido convidado para comer pizza com eles no final da mudança. Por isso, enquanto esperávamos o entregador de Pizza chegar ficamos na cozinha que era o único lugar da casa onde não havia muitas caixas de papelão cheia dos pertences da família.

O pai de Katniss colocou um aparelho de som para tocar em cima da bancada da cozinha, o que me deixou bastante curioso, principalmente quando um rock começou a soar por todo o ambiente. Katniss e o pai cantavam todas as músicas e riam um para o outro. Era interessante notar que eles não possuíam nenhuma semelhança em suas feições, somente os seus olhos cinzentos eram parecidos, mas Haymitch tinha cabelos loiros e sua pele era mais clara que a de Katniss. As feições de Katniss eram mais parecidas com as de sua mãe, sua pele bronzeada tinha uma tonalidade linda.

Demorei algum tempo para tomar coragem e perguntar sobre a fita que estava tocando, não queria ser enxerido. Meus pais não são muito ligados a música, principalmente o rock, então não conheço tantas bandas assim. Mas gostei desse cantor, acho que foi a animação por ver o pai de Katniss e sua filha se divertindo tanto.

— Você não conhece David Bowie? Ele é apenas o melhor cantor de todos os tempos. - Katniss me disse eufórica, enquanto o seu pai a olhava sorrindo.

— Minha filha está certa. Ele é o melhor. - Confirmou Haymitch com um sorriso orgulhoso nos lábios.

Quando a pizza chegou nós todos estávamos escutando músicas, a mãe de Katniss foi receber o entregador e não demorou nada para começarmos a comer. Tenho que admitir que a cada minuto ficava cada vez mais encantado por Katniss, ela vibrava com vida e no fundo eu sabia que queria ser amigo dela. Não entendia o porque, mas parecia que algo em meu interior tinha se ligado nela naquele momento.

— Essa é minha música preferido no mundo todo. - Katniss me disse com um enorme sorriso quando uma nova música começou a tocar.

Vê-la cantar tão animada fez o meu coração apertar de forma selvagem em um sentimento estranho para mim. Até mesmo o pai de Katniss parou de cantar apenas para admirar a sua filha. A voz de Katniss é linda e ela estava realmente entregue na canção. Dava para ver a ligação dela em cada batida da música e comecei a sentir isso também, a ligação entre a música e meu interior, mas ao contrário de Katniss que se entregou ao sentimento, eu meramente movia os meus pés na batida. Dentro de mim, sentia a música pulsar em minhas veias.

— Eu gostei, qual é o nome dessa? - Perguntei curioso.

— Heroes. - Haymitch me respondeu.

Quando fui embora no final da tarde, depois de comer três pedaços de pizza, não imaginei que a minha vida mudaria tanto e que Katniss Everdeen estaria marcada nos meus melhores momentos. No instante em que estava me despedindo dos novos vizinhos, o pai de Katniss me entregou a fita cassete com as músicas do David Bowie e me disse que Katniss já tinha essa fita gravada em algum lugar das caixas com coisas de seu quarto.

Naquela noite depois de jantar com a minha família e contar como os novos vizinhos eram legais, passei meu final de noite misturando tintas para recriar a tonalidade exata de um certo par de olhos cinzentos espertos e vivos, ao som de um rock que nunca tinha ouvido e percebi que Katniss estava certa, Heroes é incrível e também se tornou a minha música preferida.

Poucos dias depois nós dois eramos inseparáveis. Andávamos de bicicleta por todo o bairro e íamos até a entrada da reserva florestal, foi com Katniss que tomei coragem para enfim entrar na reserva e nós andávamos de bicicleta pelas trilhas sempre descobrindo aventuras e conversando sobre uma infinidade de assuntos.

Fui eu que a ajudei a pintar seu quarto, para a minha surpresa o seu pai apenas permitiu isso, com uma supervisão atenta, mas também com bastante liberdade ele permitiu que nós dois pintássemos as paredes brancas do quarto dela para vários tons de verde. Katniss não queria nada harmônico então me esforcei para criar algo bonito para ela. Eu verdadeiramente gostava de estar na presença e Haymitch e sua filha.

Os dois eram divertidos. A educação que Katniss recebia era muito diferente da que meus pais me davam, Katniss em seus 12 anos de idade tinha mais independência do que eu.

A senhora Everdeen estava sempre ocupada, ela era enfermeira e não demorou a conseguir um emprego no hospital central da nossa pequena cidade. Já o pai de Katniss trabalhava com engelharia elétrica, não sei bem no que e nem Katniss sabia explicar direito.

O dia da pintura do quarto dela foi muito divertido, todos nós cantávamos David Bowie o mais alto possível e parávamos vez ou outra para comer sorvete e panquecas, o pai de Katniss não era nada bom na cozinha, então toda a comida era industrializada, não que eu estivesse reclamando, acabei me divertindo muito e comendo um montão de porcarias que minha mãe não me permitia comer.

Nesse dia Katniss usava um short jeans e camiseta preta com a estampa de um outro cantor, Johnny Cash que também passei a gostar. Seus cabelos longos estavam presos em um rabo de cavalo alto e todos nós estávamos cheios de pintas verdes pelo corpo por causa da tinta que espirrava em nós. O rosto delicado de Katniss estava cheio daqueles pequenos pontos verdes o que apenas fazia com que seus olhos brilhassem ainda mais cinzentos e davam um contraste interessante nas suas poucas sardas.

Eu ficava um pouco sem fôlego quando a encarrava, alguma coisa crescia dentro do meu peito quando ela ficava bem pertinho de mim. E quando Heroes do David Bowie tocou, nós dois cantamos o mais alto possível, o que fez o pai dela gargalhar.

Assim que Starman começou a tocar fez com que Katniss dançasse pelo quarto com passos exagerados e braços balançando harmoniosamente em sua volta, todo aquele cabelo escuro sendo jogado de um lado para o outro tirou o ar dos meus pulmões. Eu não conseguia tirar meus olhos dela e isso me fez ter vontade de dançar também, me senti constrangido por isso, principalmente quando vi Haymitch me olhando atentamente, o que fez com que meu rosto pegasse fogo de tão quente.

Para disfarçar o meu constrangimento, acabei perguntando o por que de pintar o seu quarto com tantas tonalidades de verde.

— Katniss não conseguia decidir que tonalidade de verde queria, então escolheu as que mais gostava. - Haymitch respondeu ao sorrir para mim. Os olhos dele brilhavam quando olhavam para a filha, dava para ver que eles se gostavam muito.

— Verde é a cor mais bonita. - Ela argumentou ao me encarar. - Meu pai gosta de amarelo, e minha mãe não tem uma cor favorita, o que é muito estranho, já que todos temos que ter uma cor favorita. Você tem alguma, Peeta?

— Não sei, sempre gostei do laranja, sabe, laranja igual ao pôr do sol. Mas, tenho gostado bastante de cinza nos últimos dias. Eu tenho muitas tintas em casa, quando crescer vou ser um pintor famoso, então tenho o meu equipamento de pintura com muitas cores. - Respondi.

— Sério? Eu quero ver, algum dia você me mostra? - Katniss me perguntou com um sorriso.

E é claro que disse sim. Aquele foi o primeiro momento que percebi que existia pouca coisa que negaria para ela e por mais que fosse confuso, não foi nada assustador, eu estava feliz com a perspectiva de tê-la em minha vida, pois Katniss é a garota da minha idade mais legal de todas. E a cada momento que passava com ela, mais queria estar perto.

Nós dias seguintes, nós dois estávamos muito envolvidos nos nossos passeios de bicicleta. Logo descobri que Katniss tinha a sua própria vibração, ela é uma força da natureza, determinada, aventureira e corajosa, o som de seu riso me fazia querer rir também e quando estava com raiva tinha a carranca mais linda do mundo. Minha sorte é que nós nunca brigávamos. Não entendo porque, mas nós dois estávamos ligados, da mesma forma que a procurava, Katniss constantemente também me procurava e tínhamos tão pouco sobre o que discordar, que não existiam motivos para brigas.

Tentei não pensar que era porque ela não conhecia outras crianças da nossa idade, não queria ter pensamentos negativos sobre a nossa amizade e nem ciúmes por dividi-la com outros.

Minha família passou a adorá-la e não fiquei surpreso por isso, já que ela passava muito tempo na minha casa. Mesmo Katniss sendo muito tímida com os meus familiares, para eles ela mostrava apenas um pequeno pedaço de si. Mas quando estávamos apenas nós dois, ela passou a não ser nada tímida.

Prim e ela se deram muito bem e quando eu não estava com Katniss, era certeza que ela estaria com a minha pequena irmã. Meu irmão adorava o visual de rock dela, em uma noite depois de jogarmos baralho, que eu propositalmente deixei Katniss ganhar mais do que perder, quando ela foi embora para a sua própria casa, meu irmão me disse que ela era o tipo de garota única que nós conhecemos apenas uma vez na vida. Igual à namorada dele, Cindy.

Não entendi bem o que ele quis dizer, mas concordei sobre ela ser única. Eu nunca conheci nenhuma garota igual a ela, quando mostrei as minhas pinturas Katniss não achou estranho ou zombou de mim. Ela adorou as minhas pinturas, principalmente quando mostrei as minhas tintas e de que forma eu manipulava as cores para formar tonalidades novas e únicas. Nem Delly ou Madge tinha paciência quando eu começava a falar sobre pintura e os artistas que mais gosto. Porém, Katniss escutou tudo com paciência e atenção, perguntava de forma curiosa e queria que eu mostrasse como conseguia uma cor específica.

Era estranho ter ela no meu quarto, um lugar que sempre pensei sendo unicamente meu, ter ela olhando e analisando minhas coisas me deixou nervoso, e não era o tipo de nervosismo ruim, eu estava apreensivo porque queria que ela gostasse.

Entretanto a minha apreensão não demorou a ir embora e antes que pudesse notar, nós dois estávamos deitados juntos na minha cama, rindo da estranha coleção de selos do meu pai, marcando os nossos favoritos e escutando fitas que Katniss passou a me emprestar.

Ela insistia que meu gosto musical precisava ser aprimorado. Isso não chegava a me incomodar, estava descobrindo músicos fantásticos com ela ao meu lado. E toda vez que Katniss cantava eu me perdia um pouco mais nela.

Antes que o verão chegasse na metade nós dois eramos melhores amigos. E todo final de tarde era a mesma coisa, nós voltávamos sujos das nossas aventuras, com nossos estômagos roncando de fome e corados do sol.

Ao lado dela eu tinha coragem de explorar lugares que nunca fui antes. E fazer coisas que não faria sozinho. Eu gostava de estar com Katniss, gostava de descobrir coisas novas, ouvir músicas diferentes, ir até a sorveteria antes do almoço e comprar uma casquinha de chocolate para ela, já que esse é o seu sabor favorito de sorvete e uma de baunilha para mim.

Katniss e eu apostávamos corrida em nossas bicicletas e quando nenhum adulto estava por perto nós cantávamos Rebel Rebel o mais alto possível. Eu estava ficando maluco por tudo o que ela gostava.

Em um dia particularmente quente, quando não pude sair com ela porque tinha tido dentista marcado para o período da manhã e acabei ficando com a minha boca dolorida, ela foi rapidamente na minha casa e me disse que tinha algo surpreendente para me mostrar. Que eu adoraria e que era um segredo.

No outro dia, quando já estava mais recuperado da sensibilidade, fomos de bicicleta até a reserva ambiental fazendo o caminho usual pela trilha de pedra e barro. Grossas árvores passavam por nós e o caminho ia ficando cada vez mais silencioso. Confesso que ficava um pouco apreensivo por estarmos indo tão profundamente no bosque. Mas Katniss não parecia nervosa, então não quis demonstrar fraqueza para ela.

— Ontem quando você não podia sair, eu acabei vindo aqui na floresta e descobri algo maravilhoso. Sabe aquela árvore de amoras que paramos na semana passada? Aquela que você arranhou o braço? - Katniss me perguntou quando pedalávamos um ao lado do outro. Nesse ponto a trilha era grande o suficiente para fazer esse tipo de coisa.

— Sim, eu me lembro. - Respondi, tentando me concentrar o máximo possível no caminho difícil que fazíamos.

— Ontem, eu estava entediada, então decidi descer a trilha que existe depois da árvore de amora, fui descendo e descendo até que encontrei uma coisa muito legal. - Ela me disse com seu olhos brilhando de animação, hoje os seus cabelos estavam soltos em suas costas. O que a deixava com uma aparência quase mágica.

— Não existe nenhuma trilha ali. - Retruquei confuso, pois não me lembrava de nenhuma trilha naquele ponto, sei que passei lá poucas vezes, mas eu saberia se houvesse uma trilha lá.

— Tem sim, está escondida por um grande arbusto. Vamos mais rápido que vou te mostrar. - Katniss insistiu e assim fizemos, começamos a pedalar ainda mais rápido, quando a trilha ficou muito apertada, Katniss apenas me ultrapassou e foi pedalando na minha frente.

Tive que prestar ainda mais atenção para não acabar nós machucando caso ela freasse na minha frente.

Quando chegamos na árvore de amora, Katniss continuou a pedalar um pouco mais. Consegui frear sem machucar nós dois, e logo ela me mostrou a trilha escondida por alguns arbustos grandes e espinhentos.

Katniss não se mostrou apreensiva em seguir por esse novo caminho, eu a seguia logo atrás e observava tudo com muito atenção, afinal nós dois estávamos saindo da trilha segura e seguindo um caminho novo e inesperado. Meu coração batia rapidamente dentro do peito e minha respiração estava ofegante. Em um trecho particularmente difícil tivemos que seguir a pé, empurrando as nossas bicicletas ao nosso lado.

— Onde nós estamos indo? Esse lugar é seguro? - Questionei sem conseguir me conter. Os meus medos mais tolos começaram a aflorar dentro do meu peito, o desconhecido se estendia a minha frente e isso me enchia de temor.

— Você vai ver. - Era apenas o que ela me dizia, seus lábios apertados em um sorriso esperto.

— Katniss, não sei se essa é uma boa ideia. - Tentei argumentar ao olhar em volta e tudo o que podia ver eram árvores e mais árvores. Ao longe até conseguia ouvir um córrego em algum lugar próximo.

— É claro que é boa ideia, confie em mim. - Katniss insistiu e seus olhos estavam tão cinzentos que queimavam coragem em minhas veias.

Seguimos ainda por mais alguns minutos quando Katniss parou abruptamente e deixou a sua bicicleta jogada no chão. Logo, ela correu para o meu lado e apontou para uma grande árvore a nossa frente. Sem dúvida nenhuma a maior árvore que eu já tinha vista, envolta dela havia mais duas outras árvores que estavam tão próximas que quase pareciam uma só.

— Olhe para cima e me diga se não é a coisa mais legal do mundo. - Katniss apontou para um ponto entre o tronco grosso e a copa das árvores.

E lá estava, disfarçada entre a folhagem e os grossos galhos uma estrutura de madeira feita pelo homem. Uma casa na árvore.

Sua estrutura parecia antiga e a casa estava tão bem escondida entre as folhas da árvore que mal dava para ver as paredes de madeira. Ao encarar o que Katniss tinha encontrado senti o meu coração disparar dentro do peito.

Nunca pensei que existia algo assim dentro dessa reserva. Meus pais ou meu irmão mais velho também nunca me falaram sobre isso, provavelmente nem sabiam da existência dessa velha casa.

— Eu não consegui aguentar a curiosidade e ontem mesmo já subi para dar uma olhada. O teto precisa de reforma, nós poderíamos cobri-lo com uma lona reforçada e pedaços de madeira ou telha, e o chão também precisa de uma nova camada de madeira, a chuva estragou uma parte dele e não está muito seguro, mas eu consigo fazer essas reformas, meu pai me ensinou a usar um martelo e pregos no verão do ano passado quando nós fizemos trabalhos voluntários e aprendi algumas coisas sobre construção. - Katniss me contava eufórica, ela passeava na minha frente quase pulando de animação.

— Como subiu lá? - Perguntei confuso, já dando a volta em torno das árvores onde a casa tinha sido construída. Minha bicicleta e a de Katniss ficaram esquecidas no chão.

— Tem uma estrutura para subir na casa que em algum momento serviu de escada, agora está tomada pelo mato, mas ainda dá para subir. - Katniss disse quando pegou na minha mão e me puxou para a escada escondida.

Ela estava certa quando disse que o mato tinha crescido em volta da escada e a escondido, mas certamente era uma escada, antes que pudesse falar qualquer coisa, Katniss já foi até o lugar e começou a sua escalada para o topo. Eu a segui logo em seguida, tomando o cuidado para pisar nos mesmos lugares que ela. Assistir Katniss sumir para dentro de uma abertura entre dois grossos galhos foi um pouco assustador, mas eu estava cheio de adrenalina então não demorei a ir atrás dela.

Adentrar a casa da árvore foi uma experiência única, meu coração disparava e minha respiração estava ofegante. Katniss já estava lá me esperando em pé perto da abertura da entrada e me ajudou a entrar na casa com segurança. A primeira coisa que notei foi o ar ligeiramente estagnado.

— Nesse ponto a madeira está bem firme, mas naquele ali a madeira do chão está podre e tem um buraco, por isso não vá lá. - Ela me dizia ao apontar o lugar mais escuro da casa. Algumas teias de aranha eram vistas, mas não era nada que me deixasse com medo.

Para a minha surpresa o lugar era ainda maior do que eu podia imaginar apenas olhando do lado de fora. A casa foi construída inteiramente em madeira grossa e forte, firmemente presa na maior árvore, o chão era nivelado e além da abertura de entrada, existia uma janela inteiramente coberta pelos galhos e folhas que cresceram em torno desse buraco, tomando assim o lugar um pouco escuro, o teto também foi construído com madeira e telhas que agora já tinham se desgastado tanto que não sobrava quase nada dele apenas a fundação onde foi construído.

— Nos fundos da minha casa existe uma madeira que meu pai não vai usar, e nós temos uma lona de acampamento muito boa para colocar no teto, acho que vamos precisar de alguns pedaços de telha para ajudar a cobri-lo, também muitos pregos e mais madeira para o chão. - Katniss me dizia ao apontar para os defeitos a serem concertados dentro da casa. - Nós podemos começar a reforma amanhã mesmo e fazer desse lugar o nosso lugar seguro, nossa casa da árvore secreta, apenas para nós dois, o que acha?

Eu estava sem fôlego pela animação de Katniss, ela fazia tudo parecer tão fácil e possível que me peguei entrando naquele sonho. Ter um lugar apenas para nós dois parecia um sonho muito bom. Algo sem adultos e sem regras.

— Será que vamos conseguir reformar sozinhos? - Perguntei ao me virar a ir até a janela encoberta por folhas, o chão rangia sobre os meus pés, o que me deixava um pouco ansioso, por isso mantive a minha atenção concentrada em onde pisava.

— É claro que vamos, somos muito espertos e já disse que conheço reforma, se tivermos cuidado nada vai dar errado. Nós vamos poder trazer nossas coisas, você vai poder pintar as paredes da cor que quiser, e eu vou trazer as minhas fitas e meus quadrinhos, podemos até mesmo trazer algumas lanternas ou sacos de dormir. E ninguém vai saber que esse lugar é só nosso. Será o nosso castelo secreto, quer dizer, não um castelo, um…

— Um forte. - Eu interrompi e Katniss sorriu abertamente ao me olhar. - Uma casa apenas nossa.

— Sim, esse vai ser nosso Forte. - Ela me disse ao confirmar de modo alegre.

E assim fizemos, levou quase duas semanas para arrumar a estrutura principal do forte e íamos todos os dias para lá. Levar a madeira foi o mais difícil, primeiro porque tínhamos apenas as nossas bicicletas e a de Katniss era a única que tinha uma cesta, enquanto a minha tinha um bagageiro estreito. Ainda assim com muita insistência e cuidado conseguimos levar várias tiras de madeira pela trilha, quando os nossos pais nos questionavam, nós apenas dizíamos que estávamos construindo casas para coelhos, o que não fazia nenhum sentido lógico, mas não estávamos verdadeiramente preocupados com os detalhes.

Eu consegui surrupiar um saco de pregos do porão da minha casa e um serrote velho. Katniss conseguiu várias faixas de madeira e uma lona verde-musgo resistente para colocar por cima da nossa casa da árvore, conforme íamos arrumando algumas coisas, e tive que aprender como usar cada um dos instrumentos de construção, nós íamos fazendo uma lista de novas coisas para reforçar, reformar e reorganizar.

A casa da árvore acabou se tornando o nosso principal projeto de verão. E Katniss era realmente boa nisso, ela acabou me confidenciando que adorava construir coisas e que esperava entrar na equipe de serralheria escolar, algum dia ela queria ser engenheira ou arquiteta.

No final de duas semanas já tínhamos um lugar muito diferente daquele que encontramos. A casa da árvore agora estava cheia de vida, ainda estava encoberta pela folhagem e escondida dos olhos curiosos, mas por dentro ela tinha outra cara. O chão tinha sido reforçado com uma nova camada de madeira resistente, o teto cheio de buracos tinha sido coberto pela lona verde-musgo, Katniss ainda tinha colocado várias tábuas prendendo a lona no lugar, apenas no caso de bater um vento forte e destruir o que conseguimos com muito esforço.

Eu tremia nas bases toda vez que via Katniss escalar os galhos da árvore principal, tentando chegar ao teto e prendendo aquela lona, ela se equilibrava na ponta dos pés, mas o seu corpo era firme como o de uma ginasta. Nós tínhamos pouco tempo para descansar, a reforma da casa era o mais importante.

E mesmo alguns dedos roxos, arranhões ou pequenas contusões não eram o suficiente para nós fazer desistir.

No último dia da nossa reforma, quando estávamos serrando os últimos galhos que encobriam a luz de entrar pela pequena janela do nosso Forte, Katniss e eu decidimos nomeá-lo.

— Eu não sou muito boa dando nome para as coisas. Você já pensou em algum nome? - Perguntou ela enquanto se esforçava para segurar um galho particularmente grosso, e eu o serrava com todo a minha força.

— Eu pensei em um, mas acho que você vai achar bobo. - Consegui dizer depois de suspirar cansado, eu tinha que manter a minha atenção totalmente no que estava fazendo para não me machucar, ou pior ainda, machucar Katniss. Nós dois estávamos cansados e suados, o dia estava muito quente, o sol castigava a copa da floresta enquanto Katniss e eu cozinhávamos lentamente em nossa tarefa de reforma, o ar em nossa volta estava ainda mais estagnado.

— Não vou achar não, pode me dizer. - Ela insistiu com o seu rosto fortemente corado pelo cansaço.

— Bom, pensei em Forte Everllark, sabe, já que é o nosso lugar. - Desembuchei envergonhado, já fazia alguns dias que estava pensando em um nome para a nossa casa secreta e a mistura dos nossos sobrenomes foi o melhor que pude criar, pois queria que fosse algo especial e não apenas um nome qualquer.

— O Forte Everllark. - Katniss repetiu testando a sonoridade do nome. - Eu gosto, de verdade. É único.

Quando o galho enfim cedeu nós dois nos encaramos e rimos felizes. Eu ainda mais porque ela tinha gostado da minha proposta.

— Acho que ainda sobrou um pedaço de madeira, você podia fazer uma placa para colocar aqui dentro, nós poderíamos pendurar na entrada. - Ela sugeriu ao me ajudar a limpar a bagunça que o galho fez dentro do forte.

Agora que os galhos tinham saído, uma luz singela entrava pela janela, iluminando o interior e Katniss, a fraca luz transformando-a em um personagem de conto de fadas. Uma brisa tímida também pode entrar, o que foi um alívio para aplacar a calor chato.

Naquele dia decidimos deixar as coisas por lá mesmo, principalmente porque depois de descobrir da existência do lago Katniss estava decidida a encontrá-lo, esse foi um dos lugares em que ainda não tínhamos ido e eu fiquei animado em mostrar para ela. Tivemos que voltar mais de meia hora pela trilha e tomar a direção contraria do Forte Everllark para que eu pudesse mostrar o lago.

Eu tinha vindo até ele algumas vezes com o meu irmão, então ainda me lembrava que trilha pegar e a sua localização exata. Quando chegamos lá a imensidão de água contornada pelas árvores era uma paisagem muito bonita, especialmente porque o dia ainda estava bem quente e longe de escurecer. A água mais esverdeada brilhava igual a jade resplandescente.

— Peeta, esse lugar é lindo. - Katniss me disse ao largar a bicicleta nas margens do lago e correr para a beirada da água.

Onde a levei tinha um pequeno píer de madeira, meu irmão e eu o usávamos para pescar. Nós nunca conseguimos pegar nenhum peixe sequer, mas era divertido tentar. Algumas vezes nadávamos horas e horas e depois secávamos ao sol esperando algum peixe desavisado cair na armadilha.

Sempre gostei desse lugar, foi nele que aprendi a nadar. E esse era a primeira vez no verão que eu vinha. Estava admirando as águas quando Katniss se virou e correu desesperada em minha direção.

— Vamos Peeta, vamos nadar. - Falou eufórica. Seus olhos cinzentos brilhando de expectativa.

— Não podemos Katniss, não estamos com roupa para nadar. - Falei ao entrar em pânico pela perspectiva. Não entendia o porque, mas sabia que aquele era um grande passo, pelo menos para mim.

— Quem se importa, somos amigos, não somos? Por favor, só um pouco. – E sem nem esperar uma resposta Katniss já foi me puxando sobre o píer, a madeira velha e quente dos raios de sol rangia sobre os nossos pés e não demorou nada para chegarmos na beira do píer, ainda ficamos alguns segundos parados admirando o lago entre a madeira e a queda para a água cristalina.

O dia parecia que estava pedindo isso mesmo, um grande mergulho no lago gelado, mas eu estava muito envergonhado para sequer me mexer. Enquanto isso Katniss, sem esperar mais a minha aprovação ou não, apenas foi tirando as suas peças de roupa na minha frente, seus olhos cinzentos estavam grudados na água, desejosos pelo mergulho que logo viria.

Eu tentava inutilmente não observar o seu despir, Katniss tinha a minha idade, doze anos, mas ao contrário do meu corpo, o dela já não se parecia tanto com o corpo de uma criança. E ela não ficou nua nem nada parecido, estava com um daqueles sutiãs de tecido leve branco que minha mãe tinha, e uma calcinha também branca, mas o contraste entre o branco de suas roupas íntimas e o dourado de sua pele, pela primeira vez queimou algo dentro de mim.

Algo que nunca senti antes. Eu me peguei ofegante sem saber o motivo, meu olhos grudados nas suas peças brancas simples e mesmo sabendo que ambos ainda somos muito jovens, aquilo já não parecia coisa de criança para mim. Era algo intimo, algo mais.

Uma feitiçaria.

Será que meu irmão ficava ofegante pela sua namorada Cindy? Será que ele passou por isso também? Katniss não parecia nenhum pouco abalada por eu a ver em roupas íntimas, ela nem me esperou para pular no lago, apenas deixou suas roupas e seus tênis sujos largados na beira do píer e pulou para as águas escuras.

Quando ela ressurgiu do mergulho seus olhos me procuraram imediatamente.

— Vem Peeta, entra logo. - Seu pedido entrou profundamente em meu cérebro e sem nem perceber me peguei tirando a minha roupa, fiquei muito constrangido nesse momento, por isso fiz o mais rápido que pude. Minha cueca simples vermelha me incomodou tremendamente, então me joguei o mais rápido que pude nas águas do lago.

— Aposto que nado mais rápido que você. - Ouvi Katniss me dizer ao nadar para o meu lado.

A água gelada queimou minha pele quente, mas foi uma sensação agradável e o frio acabou acalmando a queimação que eu estava sentindo depois de ver Katniss se despindo.

— Eu ganho de você. - Falei rindo e sem esperar comecei a nadar o mais rápido possível para longe dela, marquei um ponto no horizonte e me esforcei para chegar ligeiro lá. Atrás de mim ouvia os resmungos de Katniss.

— Peeta Mellark, seu trapaceiro, eu ainda não tinha dito para começar. Isso não valeu. - Seus gritos indignados ao tentar me acalçar apenas me fizeram rir.

Ficamos na água por quase uma hora inteira. Quando saímos Katniss e eu nos deitamos na madeira quente de sol do píer e ficamos nos secando lentamente, meus dedos enrugados me incomodavam, mas a brisa fria que soprava aliviava o maior do calor.

— Esse é o melhor lago de todos, em Vancouver os lagos são muito gelados para nadar, mesmo no verão é quase impossível entrar nas águas. Aqui é muito melhor e o sol é tão quente, temos que vir sempre. - Katniss me disse ao se inclinar para perto de mim, um sorriso travesso nos lábios cheios, os olhos cinzentos presos nos meus e todo aquele cabelo escuro, agora molhado, preso em sua pele dourada.

Mais uma vez senti meu estômago revirar na barriga e uma queimação insistente crescia dentro de mim.

Essa foi a primeira vez que me vi na posição de homem e não de um menino. Foi a sensação mais estranha de todas, antes Katniss era apenas uma menina, uma amiga, agora ela era a coisa mais maravilhosa que eu já tinha visto na vida e toda a sua inocência e bochechas coradas mexiam comigo.

Quando ela voltou para a sua posição deitada não pude deixar de espiá-la, o seu corpo de menina-mulher tão diferente aguçava a minha curiosidade masculina. Minhas mãos queriam tocá-la, e eu queria me deitar ainda mais perto dela. Ficar o mais próximo possível. Queria que ela segurasse a minha mão e mais do que nunca, queria entrelaçar meus dedos nos dela, do mesmo modo que vi meu irmão fazendo com a Cindy. Tive que fechar meus punhos fortemente para controlar essa vontade.

Por mais que eu tentasse, meu olhar ainda escapava para o corpo feminino em desenvolvimento, tão diferente do meu, foi impossível não sentir meu rosto queimar de vergonha. Eu queria olhá-la até nas partes onde não podia. Se ela me visse fazendo isso eu estaria perdido, morreria de vergonha. O mundo, com certeza, acabaria, talvez ela me odiasse profundamente e até mesmo terminasse a nossa amizade.

E apenas não posso perder a amizade dela, então mantive os meus olhos nas nuvens do céu e me forcei a não olhar. Nos minutos seguintes Katniss e eu tentamos achar formas nas nuvens, um pássaro marchando, um prato de macarrão com queijo, uma tartaruga bailarina, um grande jacaré com a boca aberta. Isso sim era divertido, Katniss ria de todas as minhas conjecturas sobre as nuvens e sua risada era cristalina nos meus ouvidos.

— Katniss, você gostava de morar em Vancouver? - Perguntei curioso quando ainda estávamos deitados. Continuei a manter os meus olhos nas nuvens que passavam no céu.

— Mais ou menos. - Foi sua resposta para mim, uma resposta simples demais para matar a minha curiosidade.

— Por que mais ou menos? - Continuei a questionar.

— Eu não tinha muitos amigos lá. Passava muito tempo sozinha. Gosto mais de morar aqui. - Falou ela depois de um suspiro longo. E sua resposta me deixou muito curioso, Katniss não parece o tipo de garota que tem poucos amigos, mas não insisti no assunto. Apenas o fato de ela dizer que gostava mais de morar aqui era o suficiente para me deixar feliz.

Outra hora depois nós dois já estávamos vestidos e voltando para casa, dessa vez Katniss ganhou na corrida de bicicleta, naquela noite em minha casa, eu estava mais silencioso e contido, meus pensamentos insistiam em ir para Katniss se despindo antes de entrar no lago, ou nela deitada no píer. Era esquisito pensar nela assim, nunca pensei em Delly ou Madge dessa forma.

E assim mais um dia das nossas férias de verão tinha passado. Dizer até mais para ela foi difícil naquele final de tarde. E eu me pegava angustiado de não tê-la tão próximo de mim.

É claro que aquela foi a primeira noite que ouvimos os pais de Katniss brigarem, quer dizer, era difícil não ouvir. Minha mãe tentou nos distrair a todo custo, mas os gritos raivosos eram ouvidos muito nitidamente.

Essa briga me deixou muito preocupado, quase não consegui dormir ao pensar em uma Katniss silenciosa e nos pais dela gritando um com o outro. Meus pais nunca brigaram dessa forma e eu fiquei sem saber como reagir.

No dia seguinte durante o café da manhã, meus pais pediram para eu não comentar nada com Katniss. Disseram que as vezes os casais brigavam e que Katniss já estaria chateada, então não devia a incomodar com perguntas.

Katniss apareceu no horário de sempre, já montada em sua bicicleta e me chamando, em suas costas ela levava uma mochila preta com faixas roxas. Estava vestida como sempre, um short jeans simples e uma camiseta de banda vermelha. Seus cabelos estavam novamente presos em um rabo de cavalo, e seus olhos não indicavam nada da briga que seus pais tiveram e que pelos gritos, todos no bairro conseguiram ouvir.

Não demorei em segui-la, a expressão de Katniss podia não indicar que estava chateada, mas seus olhos diziam o contrário. O fato de ela estar muito mais silenciosa do que antes também não acalmou a minha preocupação.

Por mais que meus pais me pediram para não perturbá-la com perguntas, eu ainda assim queria saber o que aconteceu. Por isso, quando chegamos no Forte Everllark e já estávamos seguros dentro da nossa casa na árvore, foi que tomei coragem para perguntar e Katniss me contou.

— Eles brigam sempre. Foi por isso que nos mudamos do Canadá, eles estavam quase se divorciando, falei que se isso acontecesse eu ficaria com o Haymitch. Minha mãe não gostou nada disso, então eles decidiram dar uma outra oportunidade para esse casamento falido.– Katniss ia me contando enquanto arrumava alguns quadrinhos que tirou da mochila para dentro de uma caixa de sapatos vazia. Ela mantinha os seus olhos no que estava fazendo, então eu não conseguia encará-la de frente. - Meu pai escolheu esse lugar para recomeçar, mas eu sabia que a paz não duraria, minha mãe é uma pessoa difícil.

Depois de tudo o que Katniss me disse eu consegui emiti um “Hum” tímido e me calei, não sabia o que dizer, não tenho experiência nessa situação, a verdade é que eu queria consolá-la mas não sabia como fazer isso.

— Não tenha pena de mim, ou vou te odiar. - Ouvi a voz fria de Katniss me dizer, até me assustei por isso e quando nossos olhares se encontraram pude ver que ela realmente estava brava.

— Não estou com pena, só não sei o que dizer. - Fui rápido em explicar, em todo o momento mantive meus olhos nos dela e Katniss me encarava muito seriamente, como se quisesse comprovar na minha expressão a verdade das minhas palavras.

— Certo, eu acredito em você. - Sua voz doce me disse ainda com firmeza, o que fez com que sua atenção se voltasse novamente para os seus quadrinhos.– Eles vão continuar brigando, e eu não me importo. Sei que casamentos são difíceis e é por isso que nunca pretendo me casar.

As vezes Katniss tinha dessas, soltava frases muito maduras para uma garota de doze anos e isso não me assustava, apenas me deixava perplexo. Eu sabia que no fundo Katniss se importava sim com as brigas de seus pais. Seus olhos me diziam todas as verdades escondidas em sua fala. E eu gostaria de me arrastar para perto dela e abraçá-la o mais forte possível, mas sei que Katniss me odiaria por fazer isso.

— Sabe, eu estava pensando em pintar as paredes de azul, ontem a noite antes do jantar, fui ao porão e descobri uma lata de tinta ainda muito boa. - Disse ao abrir a minha própria mochila e tirar algumas coisas que separei para decorar o nosso Forte.

— É uma ótima ideia, podemos pintar amanhã. - Falou Katniss ao sorrir pela primeira vez desde que nós nos encontramos na frente da minha casa. - Vou trazer o rádio portátil do meu pai, dai podemos escutar as fitas, você ainda tem muito que aprender sobre boa música. Tem uma banda que ainda não te mostrei, se chama The Doors e eles são incríveis, vou pegar a fita escondido para nós dois ouvirmos amanhã. Também tem uma outra chamada Joy Division.

E isso foi tudo o que comentamos da briga de seus pais. A mudança de assunto foi uma ótima ideia, durante esse dia Katniss tentou me ensinar a cantar Love Will Tear Us Apart, e claro que a voz dela era tão bonita que na maioria das vezes eu ficava admirando o seu cantar.

O sol já não estava tão quente, então pedi para voltarmos, meu irmão tinha alugado alguns filmes e eu queria assistir. Perguntei se ela queria assistir os filmes na minha casa e Katniss aceitou.

A volta pela trilha e depois pela cidade foi mais divertida do que a ida. Quando chegamos fomos direto para a minha casa, Haymitch e Jozelyn estavam trabalhando, então era melhor Katniss ficar na minha casa. Não gostava de imaginar ela sozinha.

Prim estava na sala de estar quando entramos e não demorou a correr para as pernas de Katniss que a recebeu com um abraço apertado.

— Vamos patinho, vou trançar os seus cabelos. - Ela disse para a minha irmã que ria feliz por ter a atenção da minha amiga.

Passamos a tarde toda brincando com a Prim e assistindo filmes na minha televisão, Katniss adorava o De Volta Para O Futuro. Minha mãe fez pipoca e bolo de chocolate para a nossa tarde. Até mesmo o meu irmão e sua namorada estavam em casa e se juntaram ao nosso grupo.

— Katniss, você está corrompendo o meu irmãozinho com essa música ruim. Ontem ele pediu para o meu pai comprar uma camiseta do David Bowie para ele. - Henry falou ao piscar para a minha amiga, Katniss o olhou atentamente e depois sorriu de forma discreta.

— Estou apresentando um novo mundo musical e Peeta não pode ser corrompido, ele tem uma vontade de ferro. - Katniss não demorou a responder o que fez o meu rosto queimar no mesmo momento. - E não acho que você é capacitado para julgar boa música, Peeta me disse que você gosta dos Bee Gees.

— Ouch, você mereceu Henry. - Ouvimos Cindy dizer enquanto abraçava apertado o meu irmão. - Katniss está certa, seu gosto musical é péssimo.

— Ei, as mulheres vão se unir para me destruir musicalmente? - Disse ele de forma indignada, mas ainda mantendo um largo sorriso. - Você é minha namorada, tem que me apoiar.

— Eu te apoio, você sabe disso. Mesmo ouvindo músicas horríveis, eu te apoio. - Retrucou Cindy, seus cabelos castanhos claros brilhavam na meia luz refletida da televisão. E ali mesmo, na frente de Katniss, nossa irmã Prim e eu, eles se inclinaram e se beijaram, não foi nada tão intenso quanto o que eu já tinha espiado eles fazendo, naquela noite a quase um ano atrás, mas, ainda assim, era um beijo.

Minha atenção foi imediatamente para onde Katniss estava e seu olhar cinzento estava preso no beijo do meu irmão e sua namorada. Para a minha surpresa ela desviou o seu olhar para onde eu estava sentado e suas bochechas queimavam vermelhas, mas, mesmo assim, ela me deu um risinho tímido e continuou a assistir ao filme.

Muito antes do jantar, Katniss voltou para a sua casa, mas ela não foi embora antes de combinarmos o que levar para a casa da árvore no dia seguinte.

As férias de verão estavam acabando quando Katniss e eu finalizamos o projeto do Forte Everllark, as paredes tinham sido pintadas, nós dois levamos sacos de dormir para a casa da árvore, mais uma infinidade de coisas importantes apenas para nós dois, guardamos lá quadrinhos, fitas de músicas, alguns materiais para reparos do Forte, alguns salgadinhos e biscoitos lacrados, Katniss levou dois pôsteres de bandas para colar nas paredes, seu baralho e eu levei a placa do Forte Everllark pintada com cores fortes para colocar na parede do nosso esconderijo.

No último dia de arrumação, quando já estávamos atravessando a trilha de volta para casa e antes de montarmos em nossas bicicletas, Katniss disse que tínhamos que selar um pacto de confidencialidade. Uma promessa que nenhum podia quebrar em hipótese algum, eu sabia que não quebraria a nossa promessa de manter o Forte Everllark um segredo, mas acabei aceitando a sua ideia apenas para tranquilizá-la.

Eu não sabia nada de pactos, e me assustava pensar que ela poderia usar sangue, uma vez o meu irmão me contou uma história assustadora sobre isso, então deixei a minha mente viajar um pouco em como esse pacto aconteceria. Eu sei que ela tinha trazido para o Forte um canivete, nós o usamos muitas vezes nos reparos da casa da árvore, principalmente tirando lascas das tábuas que poderiam nos machucar, cortando pequenos galhos e outros pequenos trabalhos e eu não queria cortar nenhum pedaço do meu corpo para fazer pacto, mas se ela pedisse eu faria.

— O que você tem em mente para selar o pacto? - Perguntei apreensivo, meu coração começou a disparar dentro do peito, tudo o que eu podia pensar era se ela tinha trazido o canivete ou não. No fundo sabia que estava exagerando, Katniss também não gosta de sangue e não vai querer se cortar. Talvez o pacto não tivesse nada a ver com cortes. Eu não conseguia imaginar uma outra forma de selar o pacto.

Katniss parou de andar imediatamente e ficou me encarando, ela estava particularmente bonita nesse dia, usava as mesmas roupas de quando a vi pela primeira vez, um macacão jeans e uma camiseta branca por baixo. Seus cabelos soltos se moviam lentamente com a brisa de final de tarde.

— Eu já sei como fazer o pacto. Mas primeiro nós dois temos que jurar com palavras, então repita comigo. - Ela retrucou ao se aproximar de onde eu estava, ficando assim bem próxima de mim. - Eu prometo nunca contar para ninguém sobre o Forte Everllark…

— Eu prometo nunca contar para ninguém sobre o Forte Everllark. - Repeti depois dela, por dentro estava muito aliviado por nosso pacto não exigir nenhum sangue.

— E juro que vou respeitar a casa segura e tudo o que ela representa. - Continuou Katniss ainda me encarando, sua voz estava cheia de certeza e sua expressão séria.

Novamente repeti as palavras logo após ela as ditar.

— Se o pacto for quebrado por um dos dois, a amizade também será quebrada. Fim do pacto. - Ela terminou de jurar e suas palavras arrepiaram os meus pelos do braço. Pensar em perder a sua amizade me assustava de verdade.

Dizer essa última parte foi difícil, mas necessária. E me mantive firme, sei que não vou contar do Forte para ninguém. Aquela é nossa casa segura, nosso segredo. Apenas meu e dela, algo que não vamos compartilhar com ninguém.

— Agora vem a parte de selar o pacto. Feche os olhos. - Falou Katniss me encarando muito séria. Quando demorei para obedecer Katniss sorriu e continuou a dizer. - Confie em mim.

E eu confiei, mesmo com o meu coração disparado no peito a obedeci e confiei. Continuei com meus olhos fechados por alguns instantes e logo fui tomado pela sensação mais estranha e maravilhosa de todas, quando senti algo macio e morno encostar nos meus lábios.

Nesse momento não consegui manter meus olhos fechados nem mais um segundo e sem me afastar vi que Katniss tinha se inclinado para o meu corpo e estava me beijando.

Beijando na boca.

Seus lábios macios nos meus. Meu coração disparado dentro do peito, algo quente crescendo no meu corpo.

Meu primeiro beijo. Pensava eufórico. Eu não acreditava que isso estava acontecendo.

O beijo não durou muito, foi apenas um encostar de lábios, algo simples e maravilhoso. Muito melhor do que tudo o que já tinha experimentado. Por isso que quando acabou e Katniss se afastou, eu permaneci a encarando estupefato e envergonhado.

Katniss tinha as bochechas coradas e seus olhos brilhavam nós meus. Eu queria dizer alguma coisa, porém ainda estava muito chocado pela novidade.

— O pacto está selado. - Ouvi Katniss dizer com uma voz suave e logo depois ela sorriu de modo doce. - Agora podemos ir embora.

— Sim, vamos. - Depois de alguns segundos consegui empurrar as palavras para fora do meu peito, por dentro eu ainda estava cheio de sentimentos e sensações novas e brilhantes.

Katniss Everdeen me beijou na boca. Pensar nisso me deixava confuso e alegre. Nunca pensei que meu primeiro beijo fosse acontecer assim, para falar a verdade, nunca tinha parado para pensar em como seria o meu primeiro beijo. Muito menos nas sensações que teria com esse ato. Por dentro estava feliz que isso aconteceu com Katniss e que foi ela que deu esse passo. Eu sei muito bem que não teria coragem de fazer isso. Então por mais beijos dela, eu selaria uma centena de pactos.

Minha amiga não parecia muito abalada pelo acontecido, ela sorria discretamente e continuou a fazer brincadeiras e a conversar normalmente durante todo o caminho. Mas agora, algo tinha mudado profundamente dentro de mim.

Então, enquanto pedalava para casa me lembrei do meu irmão e sua namorada. Dos beijos que os vi compartilhando e de como achei eles nojentos no momento passado. Será que Katniss agora era a minha namorada? Eu deveria perguntar isso para ela? Beijos podem selar pactos?

Será que ela queria mais beijos? Eu gostaria de tentar novamente, dessa vez daria o primeiro passo. Era surpreendente notar que com ela beijos não pareciam nojentos.

— Ei Peeta, acorda. - Ouvi Katniss chamar a minha atenção, estava tão distraído pelo acontecido que nem percebi que tinha pedalado até em casa. - Hoje vou ajudar o meu pai a fazer lasanha, então não vou na sua casa mais tarde. Nos vemos depois?

— Claro, boa noite Katniss. - Respondi ao sorrir, Katniss agora brilhava em uma luz totalmente nova para mim.

— Boa noite Peeta. - Ela respondeu e continuou o seu caminho para a própria casa. Eu vi que o carro do pai dela já estava estacionado na garagem, então não tive coragem de segui-la, em outra ocasião eu até podia pedir para ir lá.

Depois de guardar a minha bicicleta na garagem corri para dentro da minha casa e subi imediatamente para o meu quarto. Ignorei totalmente os meus familiares, fechei a porta e me joguei na minha cama. Fiquei olhando para o teto branco durante vários minutos, meus dedos tocavam muito levemente os meus lábios, em minha mente eu repassava o beijo uma e outra vez, quando o silêncio já não era o bastante resolvi levantar e coloquei a fita que Haymitch tinha me dado no primeiro dia. Fiquei um tempo procurando e passando faixas até encontrar a música que queria.

Quando Heroes começou a tocar aumentei o som o máximo que conseguia, sem atrapalhar as normas da casa, e fechei os meus olhos para aproveitar a música em todo o seu esplendor. Olhos cinzentos e um sorriso doce invadiam a minha mente, provocando a minha imaginação enquanto eu cantava e dançava a música preferida de Katniss, que tinha se tornado a minha música preferida também.

Todas as vezes que escutava essa canção imediatamente me recordava de Katniss e seus cabelos escuros longos, suas camisetas de bandas, suas sardas suaves e suas falas espertas.

Naquela noite me senti poderoso, me senti feliz, realizado, tímido, grande, pequeno. Sentia uma enxurrada de sentimentos ao pensar na minha melhor amiga. É inacreditável que em tão pouco tempo ela já significasse tanto.

Eu sabia que o amanhã seria um dia inteiramente novo e estava eufórico e ansioso para rever Katniss.

As aulas começariam em uma semana e eu mal podia esperar por isso.

***

Fim da Parte 1

 

 


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Notas finais do capítulo

Voltei, muito obrigada por ler O Forte Everllark. Essa One é bem introdutória para a apresentação dos personagens. O nome da minha próxima fanfic é No Seu Olhar, e posso adiantar que muita coisa vai acontecer na vida dos nossos protagonistas. Curiosas para saber por que a Katniss foi embora?

Me esforcei bastante para criar algo diferente, por isso espero que vocês tenham gostado.

Por favor, comentem e me façam feliz!

A próxima a postar será a Adriany. Já quero agora a One dela.

Um grande abraço =)



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