Encontros, Acasos e Amores escrita por Bell Fraser, Sany, Gabriella Oliveira, Ester, Yasmin, Paty Everllark, IsabelaThorntonDarcyMellark, RêEvansDarcy, deboradb, Ellen Freitas, Cupcake de Brigadeiro, DiandrabyDi


Capítulo 15
Meu Adorável 3000


Notas iniciais do capítulo

Oieee! Boa noite lindezas.

Estou aqui fechando a segunda rodada de Encontros, Acasos e Amores. A próxima rodada, que estará repleta de novidades terá inicio em 23 de outubro e terminará em 31 de dezembro. Fiquem ligados!

Quero dizer a cada uma das autoras que estão participando dessa coletânea que me sinto honrada em participar dessa “brincadeira” com vocês.
E, aos leitores maravilhosos que estão nos acompanhando nessa coleção de ones, muito obrigada pelos comentários e favoritos. Vocês são D+

Agora vamos ao que interessa:

Euzinha, Paty Everllark fui desafiada pela linda Ellen Freitas a desenvolver um tema bem... Digamos. Inusitado, porém no geral tenho que agradecê-la, pois foi maravilhoso trabalhar com esse casal que acho LINDOOOOO! Só espero que minha desafiante goste do que preparei, embora eu tenha fugido um “tiquinho” da proposta inicial que ela me fez.

Mas vamos lá! Essa pequena sinopse é o texto, na íntegra que a Ellen utilizou ao me propor o desafio. Querida mais uma vez obrigada por esse presente.

Desafio:

Annie é uma brilhante engenheira bioquímica, a mais nova já formada na história da universidade, cheia de prémios e congratulações. Mas o único detalhe que falta é que ela não consegue de jeito algum um namorado. Até que ela resolve construir um, seu príncipe bronzeado, Finnick Odair.

Então, é isso pessoal. Boa leitura.




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“Para você, um robô é um robô. Engrenagens e metal; eletricidade e pósitrons. Mente e ferro! Feitos pelo homem! Caso necessário, destrui-los pelo homem! Mas você não trabalhou com eles, de modo que não os conhece. São uma raça mais limpa e melhor do que a nossa".

 (Isaac Asimov - Bioquímico e escritor de ficção cientifica)

 

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Por mais que quisesse, seria impossível ignorar por mais tempo o dedilhar suave dos seus dedos gélidos, por toda extensão de minhas costas. Sequer, os beijos carinhosos dedicados ao lóbulo de minha orelha.  Não sei qual das carícias eram as responsáveis, no entanto sei que os pelos de minha nuca se encontravam eriçados.

Nunca me sentira tão amada e desejada, como naqueles braços fortes. Para ele, eu era única.

A cada toque, ou ósculo dispensado em certas regiões do meu corpo, que nem eu lembrava existir, ficava nítida a curiosidade do autor quanto ao meu prazer.

Intenso...

Se me fosse permitido dar um sobrenome a Finnick, decerto seria este. Intenso.

Era incrível como eu, sempre tão frienta no quotidiano, acostumei tão facilmente à temperatura álgida de sua epiderme. Pele fria, homem quente... Contraditório. Quem sabe o adjetivo também pudesse ser usado para descrevê-lo? Pois, sim, Finnick era contraditório.

 Talvez meus parentes e amigos estivessem cobertos de razão, e eu não estivesse gozando de minhas plenas faculdades mentais.Contudo, quem poderia me condenar?  Atirar-me à primeira pedra? Eu estava apaixonada, irremediavelmente apaixonada. Perdida.  Sem capacidade alguma de responder a pergunta que me era feita entre lençóis brancos e macios.

— O que faremos agora mon petit?

Cerrei os olhos sob o som suave que invadiu meus ouvidos. “Mon petit”. De fato, eu era sua pequena. E como tal, como lhe daria respostas, se tampouco eu sabia o que fazer. A certeza crescente era que a partir dali o caminho não tinha volta.

— Não sei Finn... – sussurrei virando o corpo para olhar em seus olhos. Finnick pegou minha mão direita e colocou-a sobre seu peito.

— Sente isso? Ele está batendo... – Sorrimos emocionados, envolvidos pelo som das batidas de seu coração. – Vê? Agora somos iguais!

“Quem dera o fôssemos!”

— Eu Te amo. Entendo o que essas três palavras significam, mesmo que todos ao meu redor digam que isso é quimérico. Irão lhe dizer que esse sentimento é um defeito. Uma falha grave em meu sistema... Mas sei que não é. Amei-te desde a primeira vez que abri os olhos nesta casa e você foi à primeira coisa que irrompeu meu campo de visão.

— Xiu... – Apertei sua mão e encaixei meus dedos aos seus. Em total silêncio os encaramos entrelaçados. Finnick abriu um lindo sorriso, que me levou a recordar o porquê de estar ali. Entregue como jamais estivera a nenhum outro homem.

— Nós fizemos amor, Finnick... Eu e Você... Consegue compreender a magnitude disso?

— Por certo, esta coisa ao seu lado, tornou-se apta a assimilar essa situação abominável, e em parte sou o culpado por isso. Quem talvez nunca a entenda seja eu.

A voz estridente, imersa em ódio e desprezo, invadiu o quarto nos alertando do perigo eminente. Atemorizada me exaltei perante ele.

— Pai! Não, por favor...

— Calada!

Com dedo em riste meu genitor me silenciou, depois cuspiu no chão. Sua expressão variando entre o nojo e a decepção.  A cena que se seguiu durou somente um breve espaço de tempo. Num instinto protetor, Finnick se posicionou à minha frente, escondendo minha nudez, mas colocando-se na mira de uma pistola de grosso calibre.  De repente, deu-se o estampido abafado, e um grito de dor tomou conta de todo o quarto.

   – Não!

   Um segundo, um mísero segundo.

   E, não havia mais Finnick.

   Não havia mais meu adorável 3000.

  Não havia mais nós dois. Tudo se findou, e no lugar só imperou o silêncio. Duro. Cortante. Vazio.

  Vazio este que seria minha vida a partir daquele momento.

  O doutor Odair, por fim, cumprira sua promessa:

“Você irá se arrepender de envergonhar nossa família dessa maneira baixa e vulgar, guarde estas palavras. Você irá se arrepender.”

 

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— Annie, está ficando maluca? Invadir o cemitério de robôs do centro de pesquisa da GR, e roubar um dos obsoletos? Você não estudou para isso. Nós não estudamos para isso!

— Acalme-se, Katniss. Além do mais, na teoria não estarei roubando, sendo que muitos daqueles protótipos são criações minhas.

— Criações suas, que só saíram do papel devido às generosas verbas dos sócios da Grow Robotics. Empresa com a qual a senhorita tem firmado um exclusivo contrato de trabalho.

— Não importa! Irei pegar uma carcaça “emprestada” com, ou sem a ajuda de vocês. Ou prefere que eu recorra às opções que tenho a minha disposição? Quais são elas mesmo? Hum... Vejamos... Ah lembrei!

Opção número um: A lista contendo os nomes dos ex-peguetes gostosões da Mason, que ela solidaria com meu desespero me cedeu.

Ou, opção número dois: Considerar aos trabalhos espirituais que o guru da Madge realiza. Destacando que segunda hipótese “é batata” como a loirinha ao seu lado faz questão de enfatizar... Qual parte de que “EU TENHO QUE ARRUMAR UM HOMEM ATÉ O FINAL DO MÊS” você não entendeu?

— Valendo-se de ironia agora, Cresta? Quer saber?  Cansei de tentar colocar juízo nessa sua cabeça oca. Tranquei a boca e joguei a chave fora. Faça o que achar melhor. Só não conte comigo nessa furada. – A morena se jogou em meio às almofadas do sofá, tomando uma, em seus braços e colocando-a em seu colo. – Por mim, essa reunião acaba aqui!

— Posso falar?

— Fala Madge – incentivei. Talvez a loirinha nos brindasse com uma boa ideia dessa vez.

— No caso do Caesar Flickerman, sou testemunha que os trabalhos espirituais dele são infalíveis, ou esqueceram que em menos de três dias eu conheci o Gale.

— Madge, o Caesar é pai do Gale.  Não vale.  – Katniss resmungou a frase, ignorando a promessa anterior de não mais opinar.

— Não importa, o trabalho deu certo, não deu Everdeen? O Caesar prometeu que a pessoa amada bateria em minha porta em até três dias, e meu marido bateu no meu apartamento poucas horas após eu ter saído da residência do meu guia espiritual.

— Madge, ele foi levar o celular que você esqueceu na casa dele após a sessão! E, o Hawthorne só fez isso porque o pai o obrigou, por seu apartamento ser no trajeto que ele faria até faculdade de direito.

— Foi Annie. Porém isso já faz mais de sete anos, e estamos juntos até hoje, muito bem obrigada, amém.  É o que eu disse, meu sogro como guru é o melhor que existe em Boston.

— Se não fossemos testemunhas do quanto seu sogro amaldiçoou o fato da senhora ter esquecido o telefone naquele atelier, e ele ter mandado o Gale devolvê-lo, até acreditaria nos poderes mediúnicos dele – impliquei. 

Sempre que entrávamos no mérito que o encontro do casal havia sido fruto de coincidência, não resultado de magia como a Undersee acreditava piamente, ela se irritava.

— Você é uma cética. Um pouco de fé não faz mal a ninguém, sabia? Sua... Sua... Cientista desalmada...

Depois de encontrar o xingamento adequado para me ofender a loira bufou, mostrou-me a língua e sentou-se à direita de Katniss, tomando a almofada que a morena segurava para si e esticando um lindo beicinho no processo.

— Infantil. Você também é uma cientista – retruquei e imitei seu gesto bobo.

— Doida!

— Guerra de quem tem a língua maior? Fala sério. Entra ano e sai ano, vocês duas continuam as mesmas imaturas de sempre. Cresçam, por favor! – Johanna exclamou e dirigiu-se a mim.

— Agora me diga uma coisa ruiva, qual seu problema com a minha lista Magna para preteri-la dessa forma tão vil? Quero que fique bem claro, que os caras com que já fiquei beiram a perfeição.

— Johanna me perdoe. Todavia teus ex-namorados só beiram a perfeição. Eu preciso de um cara que seja a reencarnação da perfeição. Só desse jeito vou acabar com a empáfia, daquele idiota do Marvel e da mulherzinha dele, a Glimmer. E se, não tenho como encontrar em um mês um carinha que seja a sublimidade em pessoa, irei cria-lo.  Simples assim.

— Simples? Nada é simples nesse seu plano... Por que foi inventar essa história de noivo lindo e biliardário para os dois, Annie? Por que simplesmente não dispensou o convite, quando soube que eles organizariam o baile de confraternização dos ex-alunos da *MIT este ano?

— Joh...

— Faz ideia de como essa situação que está nos propondo é ridícula? Parece enredo de filme adolescente. Construir um namorado, para pagar de bem resolvida diante do um ex-namorado, filho da mãe?

— Aí! Acho isso tão ‘da hora... Tinha um filme antigo da Disney...

— Madge agora não! – Katniss e Johanna disseram impacientes, se eu não estivesse tão pilhada certamente acharia cômica a situação.

— Você não entende Mason. Na verdade, vocês três jamais vão entender como me sinto em relação àqueles dois...

— Então por que não tenta nos explica amiga? Mesmo que não sejam nobres, para te ajudar precisamos compreender teus motivos – Joh suspirou e também se ajeitou na poltrona.

— Johanna, eles me humilharam demais...

— Annie, o que quer que tenham feito a você já faz anos... Seu lema sempre foi “provar para todo mundo que não precisava provar nada para ninguém.” O que mudou?

— Mason, tem razão amiga. Você é a mulher mais incrível e inteligente que conhecemos. É engenheira chefe de uma das maiores empresas de tecnologia mundial. Entrou na *Massachusetts Institute of Technology com apenas quinze anos, por ser considerada pelo corpo docente da universidade um prodígio. Formou-se em física, biologia e engenharia elétrica. Recebeu grau de mestra nas três matérias. Olha para aquela estante... Vê a quantidade de prêmios e congratulações que só ressaltaram o seu intelecto genial? O que o Marvel disse, pensou, ou pensa de ti não tem relevância frente a todas essas conquistas.

— Eu sei Everdeen, mas...

Um silêncio constrangedor pairou sobre o recinto após o discurso inflamado de Katniss.  Minhas amigas me fitaram a espera de explicações plausíveis para minha crise de imaturidade. Nunca havia falado sobre minhas antigas frustrações com as três. Marvel havia sido minha primeira paixão, ainda na faculdade. Nós namoramos anos, sempre fui a namorada exemplar e apaixonada, no entanto percebi da maneira mais terrível que meu sentimento não era recíproco.

— Um dia cheguei de surpresa ao apartamento dele, após uma viagem de estudos. Assim que adentrei o local vi sobre a mesa uma bolsinha da *Tiffany, quase subi pelas paredes tamanha a alegria. Não resisti e abri a embalagem. Dentro dela encontrava-se um maravilhoso anel de brilhante, deduzi que iria ser pedida em casamento à noite. Era nosso aniversário de três anos de namoro.

“Se me concentrasse seria capaz de reviver aquele dia”.

— Saí do apartamento e não avisei que tinha chego, queria surpreendê-lo.  Fui ao salão, ao shopping, comprei um vestido exuberante, comuniquei família e amigos que ia me casar e que Marvel faria o pedido naquele mesmo dia...

— O que aconteceu amiga? – Johanna questionou após se dar conta de minhas primeiras lágrimas.

— Quando eu cheguei em casa, eles estavam no tapete da sala trans... A única coisa que enxerguei foi a joia que era para ser minha reluzindo no dedo dela... Glimmer Rambin, era minha melhor amiga, éramos unha e carne pra ser mais exata... Quando tomei coragem para perguntar. Por quê? Ele disse: “Ela sim, é uma mulher de verdade, você é robotizada demais. Mal me satisfaz na hora da foda”.

— Annie...— Katniss tentou me fazer calar, porém continuei.

— Questionei entre lágrimas a ele...  Se não me amava por que ficou comigo todo esse tempo? Sua resposta foi curta e grossa. “Simples questão de logística Cresta! Trabalhos universitários feitos com maestria e dentro do prazo pré-determinado.”

— Que canalha! – As morenas calaram-se ante a indignação da loira.

— Sei o que irão me dizer.  Que minhas vitórias e conquistas ao longo destes anos foram motivos suficientes para mostrar aqueles dois e quaisquer outras pessoas o quanto sou superior... Contudo, e por mais que isso seja verdade, as coisas que ele me disse ainda ecoam em meus pensamentos e me fazem mal até hoje.

— Cresta, isso não é saudável.

— Eu sei Katniss... No entanto, digam o que quiserem de mim.  Julguem-me por minha infantilidade. Diga que nunca viram um pensamento tão machista, e uma motivação mais tosca. Todavia após tudo que aconteceu comigo, eu pergunto a vocês. No meu lugar, qual mulher não gostaria, uma década depois de ter sido rechaçada por um ex-babaca, colocar um salto 15 e sambar na cara dele com um atual mil vezes melhor que ele?

 

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Eu podia ser facilmente diagnosticada como portadora da síndrome “mulher de dedo podre” a julgar por meu primeiro relacionamento amoroso. Mas verdade fosse dita, em todo o mundo ninguém tinha amigos mais fiéis e cúmplices que os meus.

Ver aqueles três casais entre tapas e beijos, na sala de meu tríplex, que por adequação, se transformara em laboratório de pesquisas não tinha preço, e eu não poderia estar mais feliz.

Madge, que embora a aparência frágil não revelasse, era uma das melhores designs de robôs da GR, com seu cônjuge Gale, que não conseguia ficar um minuto longe da loira.

Johanna, a melhor engenheira mecatrônica de minha equipe, ao lado de Tresh Williams, especialista em pele de silicone artificial e seu ex-peguete, ou não tão ex-peguete assim, dado os olhares suspeitos que lançavam um ao outro, vez em quando.

E Katniss Everdeen. Engenheira mecânica responsável pela estrutura dinâmica dos meus protótipos desde que cheguei à Grow Robotics, acompanhada de seu noivo Peeta Mellark, que por unanimidade fora promovido a pessoa mais importante do grupo, já que sem ele morreríamos de fome antes mesmo de completarmos as primeiras 24 horas de trabalho.

Há aproximadamente dez minutos o loiro chegara com nossas quentinhas, trazidas de seu restaurante no centro da cidade, nos encontrou discutindo sobre a estética que daríamos ao androide.

— Olhos verdes, ele precisa ter olhos verdes. Adoro homens com olhos verdes.

— E por que se casou comigo Madge?

— Porque seus olhos são igualmente lindos, e combinam perfeitamente com os meus. Marido lindo! Não precisa ter ciúme. Vem cá me dá um beijinho... – Madge sentou-se no colo do esposo e ganhou um beijinho carinhoso nos lábios.

— Eca! O casalzinho pode parar de namorar um pouco? Estamos querendo pensar aqui, e esse grude constante dos dois não está ajudando muito a coisa fluir.

— Tá com inveja? Johanna, eu e o Gale estamos em lua de mel. Acostume-se, ou peça pra sair. – A loira deu de ombros.

— Há quase oito anos? – Joh indagou antes de continuar a fala anterior da Undersee. – Olhos verdes.  Precisa ser bonito, e de preferência loiro, o tom pode ser algo puxado para o areia – alfinetou olhando Tresh nos olhos numa clara provocação. – Musculoso. Design sexy e linhas arrojadas. Está bom para começar.

— Opa! Vocês irão construir um robô, ou um carro? – Sorridente Peeta questionou da cozinha, onde dispunha os vasilhames com a comida sobre a ilha, para cearmos.

— Um robô. Entretanto, se vamos dar-lhe uma estética, por que não reforçar nele as qualidades físicas que admiramos nos homens. Tipo, ele não pode ter o salário mínimo. – A morena fez um sinal com os dedos polegar e indicador fazendo com que o Williams colocasse a mão na testa, num gesto claro de incredulidade.

— Mason quanto mais tempo passo contigo, mais me convenço de que escolheu a profissão certa. Você é completamente maluca. – Peeta disse de maneira debochada enquanto terminava de arrumar a salada na tigela.

— Toda mulher quer ter um homem bem dot...

— Johanna controle-se. – A repreendi antes que perdesse a compostura e dissesse outra pérola. – Já definimos que ele será loiro, sarado, e terá olhos verdes...

— E será bem dotado.  – Lancei lhe um olhar ferino, e foi Gale quem gritou com ela dessa vez.

Céus Mason! Tenha mais modos, por favor.

‘Tá parei, aprendiz de feiticeiro!  – replicou zombeteira.  Segurei-me para não rir da careta que o moreno fez ao ouvir a frase malcriada.

— Ele podia ser bem alto também. – Parecendo pensar, Katniss que estava em silêncio até o momento disse baixo atraindo nossa atenção.  Por cima do balcão de mármore que separava a sala da cozinha o Mellark esticou o pescoço, como que para comprovar que a frase saíra mesmo da boca de sua noiva.

— O que foi? – A Everdeen se manifestou arrancando do grupo uma sonora risada, com exceção do noivo que se manteve emburrado.

— Mellark, pelo visto, é dos mais altos que elas gostam mais.

— E dos mais bem dotados também, né Tresh? – O loiro rebateu deixando o Williams sem argumentos. – Só espero que esse “homem de lata galã” que elas estão idealizando, não nos faça perder a sanidade, ou algo mais...

Num movimento sincronizado, todos os homens presentes no recinto franziram os cenhos ao encarar o esqueleto robótico inerte no meio da sala, a seguir coçaram a testa. Resolvi mudar o rumo da prosa para não gerar mais confusões.

— Hum... Acho melhor você servir logo esse jantar antes que toda a comida que trouxe esfrie Peeta.

— Falou a voz da sabedoria. Toca aqui Annie... – Johanna levantou a mão no ar ao que logo devolvi o cumprimento. Encaminhamo-nos à cozinha.  Acomodados ao redor da mesa e Katniss levantou uma questão que rondava minha mente desde nossa invasão no cemitério de robôs.

— Annie, agora deixando toda essa falação de lado e considerando a estrutura metálica que roubamos da Grow...

— Pegamos emprestado Kat – corrigi.

— Okay! Considerando a estrutura metálica que pegamos emprestado da empresa, não podemos esquecer que o arquétipo por ser antigo possui um cérebro positrônico embutido.  É um autônomo, ou seja, não depende de conexão com o computador para agir e pensar.

— A Katniss tem razão ruiva. Ele pode ter alguns resquícios de sua “vida” anterior, ou ser um modelo anterior à especialização extrema.  Não sabemos qual a sua programação antes de ir parar no ferro velho. E vale frisar, que antigamente as famílias adequavam os robôs segundo suas necessidades.

— Tresh, sei que corremos esse risco, por isso escolhi o modelo 3100.  Eles foram os primeiros robôs familiares criados pelos cientistas da Grow Robotics. No início da minha carreira estudei muito sobre eles. Tais modelos eram utilizados como serviçais domésticos, ajudavam donas de casa na labuta diária, alguns até como babás. Eram extremamente dóceis e obedientes às três leis da robótica. Só foram aposentados por causa da modernização das máquinas.

Não preocuparia minha equipe atoa. Havia posto na balança todos os prós e contras, inclusive refletido as colocações que Katniss e Tresh estavam pondo em cheque. Há anos trabalhávamos juntos, conhecíamos quais riscos de se reformar um arquétipo, ao invés de construir um do zero. Dependendo do motivo pelo qual fora descartado, reinseri-lo na sociedade poderia ser perigoso. Só esperava que não fosse por desobediência as três leis da robótica. As regras foram criadas pelos primeiros cientistas peritos em AI visando à convivência pacífica entre humanos e robôs.  E até 2100, o ano atual, continuava vigente.

1ª - Um robô não pode ferir um humano, ou ser omisso e deixar que o mesmo machuque.

2ª - Os robôs devem se manter fiel às ordens dos humanos, salvo, caso em que tais ordens entrem em conflito com a lei anterior.

3ª - Um robô deve proteger sua própria vida, desde que não vá contra as duas leis anteriores.

Há muito não se tinha notícias que alguma máquina tivesse infligido uma das regras, as poucas desobediências aconteceram antes da especialização extremas. Período em que autônomos possuíam psicólogos roboticístas e não eram controlados por redes neurais vinculadas ao computador. Isto é, controle remoto.

— Bom, já que você diz que não teremos maiores problemas com as interconexões positrônicas dele, vamos ao que interessa.

— Tresh isso quer dizer que...

— Vamos colocar a mão na massa Undersee. Não, minto, vamos colocar a mão no silicone e dar forma ao gostosão metalizado.

— Ebaaaa!!!

 

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Após diversas tentativas frustradas e moldes de silicone perdidos, Tresh conseguiu encontrar a textura exata da pele artificial, deixando-a o mais semelhante possível à pele humana. Madge iniciou o ofício de modelar o corpo do protótipo, faltava somente o rosto.  Os movimentos ao caminhar, ainda deixavam a desejar revelando sua identidade, e Johanna trabalhava compenetrada nos sensores e na parte elétrica tentando ajeitar sensibilidade dos pés para sanar o problema. Katniss, armada até os dentes com seu maçarico e ferro de solda cuidava da mecânica, soldando as engrenagens do esqueleto metálico. Enquanto todos meus esforços eram dedicados à parte eletrônica do robô.

Antes de qualquer coisa, precisava descobrir fragmentos de sua vida passada, mas todo cérebro positrônico do robô estava codificado me impossibilitando de desvenda-lo, o proprietário fez modificações de segurança nele para evitar a reprogramação.

— Meu Deus! Vocês precisam ver isso. – A exclamação exaltada de Katniss exprimia fascínio e medo. Estávamos tão entretidos, cada qual em sua função, que mal nos atinamos que a Everdeen abrira a caixa torácica do 3100.

— Eu não acredito nisso... É o que estou pensando Kat? – inquiri abismada ao me aproximar da morena.

— Sim Cresta... É um coração. 

— Como isso é possível, Annie? – Madge se antecipou.

— Annie, isso é surreal! Um órgão biônico. Em alguns pormenores eu diria que ele é idêntico a um órgão humano.   – Tresh opinou e Johanna à sua direita encontrava-se chocada demais para questionar-me alguma coisa.  Não podia ser o que estava pensando, caso fosse nós estaríamos encrencados.

— Annie o que fizemos?  –  Katniss disse alertando os outros que havia algo errado. – Tinham dezenas de latarias naquele lugar... Por tudo que é mais sagrado Cresta, não me diga que esta carcaça a nossa frente é um...

— Gente o que está acontecendo? – Madge soou nervosa ao notar a troca de olhares entre a Everdeen e eu. 

Inerte no pedestal, o protótipo permanecia imune a nossa conversa, emocionada me acheguei a ele e acariciei sua face inexpressiva. Minha tese de mestrado toda fora baseada naquele modelo. Considerado por alguns visionários, um milagre da ciência, e contrariando todo o ateísmo que a circunda, eu ousaria dizer que ele era um milagre divino também.

— Sim Katniss... É um legitimo 3000...

 

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— Quando era criança meu pai me contava histórias sobre os autônomos humanoides, em especial os 3000. Dizia que na época em que criaram os modelos, eles foram considerados um divisor de águas na era robótica. O que gerou inúmeros debates na comunidade cientifica, pois alguns cientistas os viam como uma aberração. – Madge comentou com leve saudosismo ao lembrar-se do pai.

Para mim os 3000 eram extraordinários, sempre fui apaixonada por eles. Por causa deles escolhi minha profissão. Aquela série de robôs surpreendeu toda a equipe de criação, desde que realizaram os primeiros testes nos autônomos. Em poucos meses os arquétipos mostraram-se diferente de tudo que se conhecia no campo da cibernética. Possuíam uma capacidade rápida e elevada de aprendizado, além de traços característicos encontrados apenas em seres humanos. Como por exemplo: personalidade, emoções, e o mais impressionante. Curiosidade.

— Escutei sobre eles na universidade. – Williams a interrompeu. – Participei de uma palestra com um psicólogo roboticísta aposentado, Haymitch Abernathy esse era o nome dele. Ele tratou de alguns deles durante o *recall proporcionado pela G.R. no ano de 2040. Foi quando a empresa resolveu parar a fabricação de humanoides e retirar todos os que estavam inseridos na sociedade para extirpa-los.

Haymitch Abernathy, o nome me era conhecido. O robocísta era um ferrenho defensor dos 3000, afirmava sem medo algum que a destruição dos robôs era um grande pecado, talvez, um assassinato. Deu diversas entrevistas e escreveu dois livros. Nestes revelou que nunca vira seres mais humanos que aqueles robôs em toda sua vida, e que jamais veríamos em toda à história da humanidade.

— Foi por isso que todos foram destruídos Tresh. – Afirmei com pesar, lembrando-se de todas as pesquisas que fiz sobre os 3000. – Os cientistas tiveram medo por não conseguiam compreende-los. Os julgavam humanos demais. Até na aparência física.

— Os homens são assim, temem o que não conhecem.  Criaram uma máquina à sua imagem e semelhança, que em algum momento transcendeu suas expectativas e tornou-se capaz de amar.

— Comungo da mesma crença que o saudoso Haymitch ressaltou em seus livros Tresh, ele escreveu que o que os homens temiam era uma rebelião das máquinas contra seus criadores, por isso proporcionaram aquela matança dos robôs como ele denominou.

— Annie, eu só não entendo como encontramos um coração dentro desse aqui, além disto, como o órgão está tão preservado, visto que estamos diante de uma carcaça de metal tão danificada? Parece que ele foi alvejado na cabeça, olhe essa marca de bala. Com certeza, ele não foi destruído no recall, foi esse tiro que acabou com seu cérebro positrônico dando fim a sua existência.

Katniss que há muito se calara, encarou-me apreensiva frente à pergunta de Johanna por saber da resposta. Respirei fundo e relaxei o corpo dissipando por completo as emoções anteriores.

— É por que estamos defronte de uma lenda Johanna... Estamos diante de Finnick Odair, o humanoide responsável pela comoção geral que originou o recall de 2040.

 

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 O terceiro domingo de atividade no robô chegara ao fim. Outro final de semana que eu me encontrava trancafiada em meu tríplex trabalhando na restauração do humanoide. A lataria encontrava-se recuperada, toda a estrutura metálica estava revestida com a pele artificial. Eu havia decodificado boa parte do sistema neural do autônomo, possibilitando o uso do controle remoto. Faltavam apenas os derradeiros testes de sensibilidade e Johanna já dava como certo, de em até dois dias, Finnick estar correndo pelas ruas de Boston. Ele estava quase pronto, e a espera para liga-lo estava se fazendo angustiante.

— Não acredito que ainda esteja assim!

Katniss? Droga, você me assustou. – Coloquei a mão sobre o peito, o coração batendo a mil. A frase dita há menos de dois minutos de distância deixou-me aturdida e me fez retornar à realidade. Olhei para o relógio localizado na parede, 21h 15min. Há quanto tempo estaria sentada à sua frente o admirando? – Como entrou?

— Chave reserva, jarro de azaleia, varanda... – Katniss fitou-me visivelmente preocupada. – Toquei a companhia mil vezes. Por que seu celular está desligado?  – Se encaminhou até o rack e conferiu o visor do aparelho.

— Eu devia estar distraída, não ouvi a campainha, e o celular deve ter descarregado. – Dei de ombros e arrumei o notebook sobre meu colo direcionando a atenção para a tela do computador.

— Se alimentou pelo menos depois que fomos embora à tarde?

— Me alimentei – menti.

— Annie?

— Ah, Kat! Eu não estava com fome. Preferi terminar a parte elétrica dele para que possamos liga-lo o quanto antes, e durante a semana sabe que será impossível por conta do trabalho na GR. Aliás, o que está fazendo aqui? Não ia sair com o Peeta? – Levantei o rosto em sua direção.

— Desisti... – Katniss me encarou como se buscasse algo em meu rosto.

— O que é?

— Annie não esqueça que ele é uma máquina. Não pode investir seus sentimentos em uma máquina.

— O que está querendo me dizer com isso, Everdeen? Tirando o Mellark e o Hawthorne que não sacam bulhufas de robótica, nós todos estamos empolgados com a...

— Não se faça de boba, entendeu muito bem o que quis dizer?  Depois que teve acesso às memórias dele, parece outra pessoa.  Esqueceu completamente toda aquela baboseira adolescente de vingança contra o Marvel.

— Não foi isso que você queria desde o início?

— Não desvie o assunto. Eu conheço você, Annie. Conheço sua paixão pela história deles...

— Algo em meu coração me diz que não foi por acaso que o encontramos Katniss... Eu sempre quis saber mais sobre o amor dos dois, essa é a minha oportunidade.

— Amiga te peço, em nome da nossa amizade não vá por esse caminho...


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Era irônico ver Finnick trajando roupas esportivas – exigência de Gale, que assumiu não aguentar mais vê-lo nu diante de seus olhos. Na verdade, o que incomodava, não apenas o moreno, mas também Peeta e Tresh era que beleza não faltava ao androide. Por mais que não admitisse, acredite se quiser, o trio estava morrendo de ciúmes do robô.

Não contive o riso ao olhar para Finnick e lembrar-se do comentário que Johanna segredou em meu ouvido assim que adentrou meu apartamento pela manhã para que o Williams não a escutasse.

“Gostoso e bem dotado desse jeito, ele encabeçaria minha lista magna com toda a certeza”.

— Do que está rindo Annie? – Olhei Johanna de soslaio trocando carícias com seu ex, não tão ex assim, e sorri. Pelo visto, nossa tarefa de restauração serviu também para uni-los de novo. Desejei que dessa vez se assumissem de verdade.

— Não é nada Madge, só estou lembrando umas coisas que ouvi mais cedo, mas não vem ao caso agora.

— Acho que chegou a hora, não acha ruiva?

Peeta questionou num tom grave irrompendo minha conversa com Madge.

“Não acha ruiva?”

Repeti na mente a pergunta. Uma fração de tempo e me vi sem respostas, não pela complexidade da interrogativa, simplesmente por ter caído à ficha só naquele instante que o momento que ansiávamos há semanas havia chego.

— Amiga?  Peeta te fez uma pergunta. – Undersee me acotovelou, percebendo meu breve devaneio.

Antes de responder olhei ao meu redor e todos meus amigos miravam-me em expectação. Até mesmo Gale e Peeta que não partilhavam do mesmo apego desmedido por organismos cibernéticos e inteligência artificial que minha “equipe de trabalho” estavam eufóricos.

— Acho que sim, Peeta! – Minhas mãos estavam trêmulas.

— Então o que estamos esperando?

O Mellark, que abraçado à noiva, segurava uma taça com champanhe que fora usada para promover um brinde em comemoração pelo término de nosso serviço ergueu a mesma em direção ao meu notebook.

Nervosa, porém confiante iniciei o processo de despertar do robô, e mesmo contrariando as orientações deles de manter a distância do humanoide no primeiro minuto, não resisti. Coloquei-me no centro da sala após programar no computador, tinha certeza que ele não me faria mal.

Esquadrinhando suas memórias descobri que havia algo de familiar em cada uma delas, não saberia explicar o porquê, talvez fosse saldo das pesquisas que fiz a seu respeito no início de minha carreira, ou quem sabe fosse algo em meu DNA, no entanto era como se eu já as conhecesse.

Lentamente o loiro foi abrindo as pálpebras. Sua visão periférica fazendo o reconhecimento do local e do ambiente em que se achava.  Esses primeiros segundos eram cruciais para sabermos se haveria rejeição entre o sistema neural e o programa do computador. Em bom português se ele aceitaria ser controlado por nós, coisa que eu duvidava.

Oie?— falei simpática e ao mesmo tempo apreensiva assim que ele abriu totalmente os olhos.  Piscou diversas vezes e sussurrou algo que não captei de estalo.

Ha-H-anna? – Me aproximei sob os protestos de meus amigos para não o fazer, já que o arquétipo parecia agitar-se.

— Calma está tudo bem! – Ergui as mãos em sinal de rendição.

Mon Petit?

Como eu esperava, ele estava me confundindo com minha tia. Sempre soube de minha aparência física com Hanna Odair, irmã de minha mãe, foi por causa dessa semelhança, não por causa de meu sangue que tive acesso ainda na infância ao diário dela, anos após seu falecimento. As derradeiras frases escritas por ela ainda reverberavam em meus pensamentos como que um lindo poema de amor.

 “... Não! – Um segundo, um mísero segundo.

  E, não havia mais Finnick.

  Não havia mais meu adorável 3000.

 Não havia mais nós dois. Tudo se findou, e no lugar só imperou o silêncio. Duro.  Cortante.  Vazio.

 Vazio este que seria minha vida a partir daquele momento.

 O doutor Odair por fim cumprira sua promessa:

Você irá se arrepender de envergonhar nossa família dessa maneira baixa e vulgar, guarde estas palavras. Você irá se arrepender.”

Nas últimas linhas sentia-se através do texto toda dor que minha tia sentiu ao ver seu amado sem vida em seus braços, resultado da intolerância de seu pai.

— Você está aqui! – A expressão feliz em seu rosto deixava claro que acertara em minha suposição. Ele me tomara por sua Hanna. Katniss me alertou que isso poderia ocorrer, e me fez prometer revelar aos outros a ligação de minha família com o autônomo.

— Minha pequena... Minha pequena você está aqui!

Mal concluiu a frase, sem cerimônias o humanoide segurou-me pelos quadris e me ergueu no ar, rodando comigo em seu colo feito uma boneca de pano, ao parar colocou-me no chão e com firmeza forçou-me contra o seu corpo como se a qualquer momento eu pudesse fugir de si, quando tentei me esquivar do toque forte, ele me beijou com tanta saudade que fiquei sem reação, até que soltou meus lábios e me abraçou tão forte arrancando-me um gemido de dor.

— Meu amor, eu senti tanto sua falta. – Deixou outro selinho nos meus lábios e num gesto carinhoso colocou uma mexa rebelde do meu cabelo atrás de minha orelha. Encantei-me com o trejeito. Mas então, um barulho o fez perceber meus amigos presentes na sala, Finnick se assustou e num gesto protetor colocou-me às suas costas, postura de alguém prestes a atacar.

— Quem são vocês?

 

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 – Minha avó saiu daquela casa após a morte de Hanna e levou minha mãe consigo. As duas não conseguiram lidar com a ausência de minha tia, mamãe dizia que tudo lá a lembrava... Vovô seguiu sozinho na mansão, se enclausurou, abandonou as pesquisas. Todos os avanços em relação aos órgãos biônicos que havia criado para a Grow Robotics. Tudo. – Finnick colocou a mão no peito na altura do coração biônico que meu avô lhe tinha dado. – Quando estava prestes a falecer Isaac Odair nos procurou. Lembro-me como se fosse hoje... Eu era bem novinha na ocasião, nem o conhecia, Mags quase não falava dele.

 – Mags...! — cabisbaixo e ainda abalado com as informações que lhes eram passadas, cochichou o nome de minha mãe.

 – Ela também faleceu há seis anos... – Levantou a cabeça e nos entreolhamos. Existia tanto sentimento em seu olhar.

  – Entendo por que Isaac lhe deu as preciosas memórias dela... – disse indicando o diário de Hanna que estava sobre minhas coxas, e que acabara de lhe mostrar.

   – Ele chorou muito quando eu entrei na sala no dia em que foi nos visitar, era como se eu fosse outra pessoa. Em parte, agiu como você há alguns minutos... Ele me pediu perdão, disse que tudo que ele mais queria era poder pedir perdão a mim e a...

     – A mim...

     – É, e a você! Ele parecia tão desolado e arrependido do mal que causou a ambos... Minha mãe teve que lhe dizer que eu não era minha tia. Ele meio que pirou depois da morte da filha...

   – Eu o amava. Isaac Odair era meu criador, meu amigo... – Finnick pareceu infeliz ao falar de meu avô. – Me ensinou tudo que sei, dizia que eu era o futuro, e que juntos mudaríamos a ciência... Mas então, ele me levou para casa, e eu a conheci... E o final do conto de fadas você já conhece...

   – Deve ser difícil para ti saber que... – Engoli em seco, ao me recordar de mamãe contando que titia definhou-se após o que vovô fez a Finnick. Mags disse que ela se entregou...

   – Por que eu? Por que me acordou? Por que me condenar a viver num mundo em que ela não vive mais? Isso é cruel...

   – Eu não sabia que era você, foi uma coincidência, jamais o faria, se o soubesse – falei, como se lhe pedisse desculpa por minha insensibilidade, devia ter desistido de reanima-lo ao reconhecer sua identidade.

 – Hanna nunca acreditou em coincidências... Ela dizia que o universo conspirava sempre em nosso favor, principalmente se formos bons com ele... – Pela primeira vez ele esboçou algo semelhante a um sorriso, entretanto levantou-se num súbito e se encaminhou para o espelho próximo a janela.

  – Por que fez isso?

  – Isso o que? Por que me deu essa aparência? Não me reconheço quando me olho no espelho Hanna. Desculpe-me Annie.

  – Como lhe disse, eu e meus amigos não sabíamos quem você era quando o rou... Pegamos emprestado no cemitério da GR, e minhas amigas quiseram que...

   – Que...? – Me instigou a retomar a fala.

   – Que você fosse... Fosse boa pinta!

  – Boa pinta? – acenei positivamente, a bochecha ficando vermelha.   – Você e suas amigas me fizeram bonito? E o que mais fizeram comigo, além disso?

 

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— Me desculpa por ter feito você passar por aquilo Finnick.

O Baile de reencontro dos alunos da MIT acabara há alguns minutos, e em minha opinião tinha sido um fiasco total. Agora eu me encontrava descalço, ainda vestida com o longo vestido negro usado no baile, e tendo a companhia de Finnick que estava sentado no chão terraço de meu tríplex ao meu lado. Portando uma garrafa de champanhe em mãos e meio zonza devido ao álcool, chorava minhas pitangas por ter sido tão idiota e ter ido ao tal evento.

— Eu realmente não consigo entender o que você viu naquele cara Annie. Marvel Quaid é um verdadeiro babaca!

Toda minha expectativa para o evento se desfizera no momento que adentramos o espaço. Decoração zero, local escolhido zero, buffet contratado zero. A única sensação do acontecimento chamava-se: Finnick Odair. Que arrancou suspiros de muitas mulheres e alguns homens por onde passou exalando sex appeal.

— Katniss diz a mesma coisa...

— A Everdeen é uma mulher sabia. A propósito, todos os seus amigos são sábios e inteligentes. Vocês não apenas me religaram, mas fizeram muitas melhorias em meu esqueleto e interior.

— Menos a engenheira bioquímica aqui... No final seu cérebro permanece autônomo.

— Fico feliz com isso. Ao menos após tudo que vivi continuo sendo eu mesmo e nada mais. – Terminou a frase e se manteve quieto como se meditasse sobre o que acabara de dizer.

— Aonde você vai? – Segurei o braço do loiro ao que se colocou de pé. Fitou-me por cima dos ombros e esticou o braço em minha direção voltando-se para mim e convidando-me a levantar.

— Quer dançar senhorita Cresta? Afinal não tivemos oportunidade  naquele baile.

— Hum... Sim, senhor...? – Só naquele momento me dei conta de meus atos, em sua primeira existência ele era propriedade de meu avô que lhe deu nome e sobrenome, pois lhe construiu para ser o primeiro de uma nova geração de robôs humanoides. Todavia e agora? Eu havia o construído apenas para ser meu acompanhante em um baile bobo.

— Odair, Finnick Odair. Esse não é seu nome do meio? Sou seu agora! – Fazia sentido!

— Sei o que está passando em sua cabecinha, contudo agora vocês e seus companheiros já me trouxeram a vida, não há mais o que fazer... E em parte lhes agradeço por isso, embora hoje as coisas sejam diferentes de quando “eu era mais Jovem.”.

Ri da expressão engraçada que surgiu em sua face. Em conclusão, mesmo que em suma seu rosto e corpo revelasse um homem de no máximo vinte e cinco anos, ele já era um senhor de sessenta e oito, se considerássemos sua carcaça e cérebro positrônico.

— Irei entender se quiser me desligar novamente, enfim já cumpri o propósito para o qual fui criado. No entanto, por ora eu não quero pensar nisso, acho que a senhorita também não, por ora eu só quero matar a saudade de dançar.

Ao terminar a frase me lançou um sorriso contagiante. Olhei para suas mãos estendidas e ao recordar mais um trecho do diário de minha tia. Pensei:

“Pela nossa amizade, Katniss me perdoe por não ouvir teus conselhos.”

 

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Quando ele entrou em minha casa pensei se tratar de um dos amigos de meu pai, afinal ele era um homem!  O mais lindo que eu já tinha visto em toda a minha vida. Foi amor à primeira vista, não tinha como ser diferente. Mas aí veio o choque.  Disseram-me que ele era uma máquina.

“Tolos!”

Nos dias que se seguiram ao nosso primeiro encontro, a certeza só fez aumentar. Ele era um homem. O homem mais gentil, honesto e apaixonado que já existiu na face da terra.

“E eu Hanna Odair, era sua eleita”.

Sei que após essa vida talvez jamais o encontre.

“Quem dera pudesse o fazer.”

Entretanto sempre acreditei que o universo tem lá seus mistérios e milagres, e quem sou eu para não crer, sendo que fui tão amada por um deles.

Só peço que esse mesmo universo seja generoso para com meu amado,  não permitindo que sua existência termine assim, desse jeito tão indigno.

Peço que ele possa ser feliz e viver como o homem comum que um dia sonhou ser.

 Que meu Finnick possa ter amigos sinceros ao seu redor e também uma esposa apaixonada, a qual o ame incondicionalmente como um dia eu o amei. Que com ela o dono do meu coração possa constituir uma família, mesmo que esta não seja biológica.

 Que meu adorável 3000 em um futuro próximo encontre a pequena medida de paz com a qual ambos sonhamos, mas que juntos não  conseguimos alcançar.   E algo em meu coração diz que esse meu desejo logo se concretizará.

 

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FIM

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Algumas curiosidades.

*A frase com a qual encerrei a one foi adaptada de uma linda frase dita na cena final do filme The Last of Samurai (O último Samurai) de 2004 estrelado por Tom Cruise.   Esse filme é maravilhoso, super indico a quem queira conferir.

* Sobre a one, tentei manter uma linha bem ficção cientifica no texto que criei (não sei se consegui).  As ideias de Cérebro positrônicos, psicólogos robocístas e das três leis da robótica existem, e quem as usou pela primeira vez em seus escritos foi Isaac Asimov, de quem peguei emprestado a frase que abre minha shot.

Ele foi um escritor e bioquímico americano, nasceu na Rússia e é autor de diversas obras de ficção e divulgação científica, é também o autor do livro “Eu robô” que deu origem ao filme do mesmo nome, protagonizado pelo ator Will Smith em 2004. 

*****

 MIT: Instituto de Tecnologia de Massachusetts (Massachusetts Institute of Technology) é uma  universidade de pesquisa localizada em  Cambridge, Massachusetts nos  Estados Unidos. Reconhecida mundialmente como uma das melhores Instituições de ensino superior do mundo.

Recall: convocação por parte de fabricante ou distribuidor para que determinado produto lhe seja levado de volta para substituição ou reparo de possíveis ou reais defeitos.

Tiffany & Co: Loja americana de grife conhecida pelas joias, porcelanas chinesas, prataria e lista de casamento.


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Notas finais do capítulo

O banner Lindo que abre o capitulo foi feito pela Belrapunzel. Belzinha muito obrigada.

Galera espero realmente que tenham gostado de minha contribuição para a coletânea. Adoraria saber as opiniões de vocês através dos comentários.

Beijos no coração de todos e até a próxima.



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