Hard Times escrita por fckfic


Capítulo 1
Campo de Guerra


Notas iniciais do capítulo

Bem-vindos! Tenham uma boa leitura!



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A palavra guerra significa qualquer combate com ou sem armas. Quando se fala em guerra, somos levados a pensar em mortes, sangue, países uns contra os outros, bombas nucleares e destruição no geral. Não costumamos focar em guerras menores, aquelas que surgem no próprio ambiente de moradia. E é sobre esse tipo de guerra que vamos focar agora.

Uma tradicional família brasileira – talvez não tanto – que mora na cidade de São Paulo. A mãe é dona de casa, o pai é gerente de um famoso banco. Yasmin e Fausto. Conheceram-se na escola e são a prova de que um relacionamento da adolescência pode sim dar certo. Será mesmo?

Felipe é o irmão mais velho. 18 anos, 3° ano do ensino médio – reprovou um ano – e o grande orgulho do senhor Fausto. Yuri é o caçula. 16 anos, 2° ano do ensino médio – com ótimas notas e um futuro promissor – e o grande bebê de dona Yasmin.

Devidamente apresentados, aos poucos vamos descobrir os motivos que levaram a família Barreto a entrarem em guerra. Devo dizer que nada garante que isso não acabe em destruição, morte e sangue. O mesmo sangue.

Estudar na mesma escola que o irmão era desfavorável para os dois. Tudo o que um aprontava, o outro acabava descobrindo. Além dos minutos que tinham que compartilhar no trânsito, já que Felipe era encarregado de levar Yuri para escola em seu carro – presente do pai quando este completou 18 anos – e apesar de serem 40 minutos no total contando ida e vinda, o som alto era a desculpa perfeita para a falta de comunicação.

Mas Felipe arranjou um motivo para volta ou outra estar na frente da sala do irmão. Certo dia quando foi à sala do irmão, percebeu a bela Beatriz, conversando e rindo com as suas amigas. Conseguiu o número dela por meio de um amigo e os dois começaram a conversar. Ele estava encantado pela garota e tinha certeza de que ela também tinha interesse nele.

— Não se esqueça. Amanhã estarei na sua porta pra gente ir no cinema. – falou colocando seu corpo na frente da moça assim que ela deixou a classe após fim da última aula.

— Não se atrase. – ela sorriu e deu um rápido abraço nele, indo de encontro a suas amigas.

Yuri estava observando a cena sem entender. Não imaginava que o irmão estava de olho em sua colega. Despediu-se dos amigos e acompanhou Felipe até o lado de fora da escola, onde o carro estava estacionado. Guilherme, melhor amigo do mais velho, também seguiu junto com eles.

— O que tá rolando entre você e a Beatriz? – Yuri perguntou já sentado no banco de trás. Felipe dirigia e Guilherme estava no banco ao lado.

— Te interessa?

— Eles tão ficando Guilherme? – já que o irmão não respondeu, resolveu perguntar ao garoto que sempre foi simpático com ele.

— Ainda não, mas é questão de tempo. – Felipe deu um tapa na coxa de Gui como se o repreendesse.

— E aquele seu namoradinho? Encontrei com ele na rua, mas ele nem me cumprimentou. Nem quero saber o que você deve ter tido pra ele sobre mim.

— Não somos mais namorados. – Desculpe, eu não mencionei antes? Yuri é homossexual, mas não achei muito relevante dizer até agora.

— Já era de se esperar? Qual o maluco que aguentaria você por muito tempo?

As provocações eram constantes, mas eles sempre acabavam se ignorando. Felipe passou o caminho falando com Guilherme, enquanto Yuri permaneceu calado, ouvindo música com seus fones. Quando chegaram a casa da família Barreto, Guilherme parou na frente do caçula.

— Você tá bem? – perguntou com um olhar que Yuri não soube decifrar.

— Sim, tá tudo bem Gui.

— Que bom. – então entraram na casa e cada um tomou um caminho.

A verdade era que Guilherme havia ficado feliz com o fim daquele namoro. O motivo ele sabia bem qual era, mas ainda tentava negar a si mesmo. Sua preocupação com o irmão do melhor amigo significava muito mais do que qualquer coisa que Yuri pudesse pensar.

Os três almoçaram a deliciosa lasanha preparada por Yasmin. Guilherme não parava de olhar para Yuri durante o almoço, mas o garoto parecia estar em outro mundo e nada percebia. Felipe o convidou para dormir lá, pois iriam juntos em um evento no dia seguinte.

Após o almoço, os melhores amigos foram ver um canal de esportes na televisão e Yuri ajudou sua mãe com a louça. As palavras de seu irmão ao saber do fim de seu namoro martelavam em sua cabeça. Será que ele realmente era o culpado por não ter dado certo?

Edson e ele se conheceram na internet, numa página de séries. Em menos de duas semanas já haviam marcado de se encontrar e começaram um namoro que foi se desgastando pela falta de tempo que tinham para se ver, já que Edson morava do outro lado da cidade.

Yasmin avisou que iria se deitar porque estava muito cansada e pouco dormiu na noite anterior. Yuri permaneceu na cozinha, sentado numa cadeira e apoiando os braços no balcão. Nem percebeu quando Guilherme apareceu no cômodo até que viu o garoto de frente para ele.

— Sua cara não tá nada boa. Você mentiu quando eu perguntei se tava bem. É por causa do que o seu irmão falou?

— Pouco me importa o que o imbecil falou. Só preciso de um tempo pra superar esse fim.

— Só não se torne um mal-humorado constante igual seu irmão. É melhor ver você rindo.

— Nossa. Você nunca tinha sido tão legal comigo assim antes.

— Nunca tive nada contra você, por que não seria legal?

— Pelo fato de seu melhor amigo vulgo meu irmão me odiar, algo que é recíproco.

— Mas eu não sou o seu irmão e por isso posso pensar diferente dele. E o que penso é que você é um cara legal e nenhum idiota devia te fazer sofrer.

— Eu tava precisando ouvir algo assim, valeu. – Guilherme abriu um sorriso e foi até a geladeira pegar um vaso com água.

Serviu a água no copo e bebeu em poucos goles. Yuri o observava atentamente como nunca antes o fez. Pelo fato do garoto estar sempre com o seu irmão, nunca teve o interesse em saber mais sobre ele. Guilherme era magro, pele branca, cabelos pretos, sobrancelha grossa, lábios finos – mas nem tanto – e a barba por fazer.

Antes de sair da cozinha os dois trocaram um olhar e o mais velho abriu novamente um sorriso. E que sorriso! Então Yuri subiu as escadas para o seu quarto e resolveu maratonar uma série nova que havia chegado a Netflix pelo notebook. Assistiu os três primeiros episódios, mas o sono o impediu de continuar e resolveu não resistir.

Quando acordou já havia escuro. Seu corpo estava repleto de suor pelo calor que fazia naquele dia. Resolveu tomar um banho e assim fez. O banheiro era a terceira e última porta do corredor. A segunda era o quarto de Felipe. Havia outro banheiro na casa, mas era a suíte dos seus pais no andar de baixo.

Ao sair do banheiro a mãe lhe avisou que o jantar ficaria pronto logo. Vestiu uma camiseta velha, mas que ele adorava por ter o tecido bem leve, ideal para o calor que fazia. A boxer vermelha e uma bermuda que deixava parte de suas coxas a mostra cobria o resto de seu corpo.

Desceu as escadas e foi até a sala de jantar, sentando-se a mesa após dar boa noite. Percebeu que o pai estava calado e apenas os dois meninos conversavam. Era estranho porque Fausto sempre estava batendo um papo com Felipe, nem que o assunto fosse a maior besteira possível. Os dois tinham uma comunicação invejável e isso despertava raiva no caçula.

Yasmin também permaneceu calada durante todo o jantar, mas Yuri estava vidrado em Guilherme. Passou a olhá-lo com outros olhos após o apoio que recebeu mais cedo. Sabia que não daria em nada, porém não conseguia evitar rir junto com aquele sorriso sincero. Algumas vezes trocavam olhares, mas os dois fingiam que era por acaso.

Ao terminar o jantar, Yuri voltou pro seu quarto e os meninos foram assistir televisão. O mais novo assistiu mais dois episódios da série que começara pela tarde e depois ficou mexendo no Facebook, vendo vídeos aleatórios, assistindo clipes de cantores que ele gostava. Como ele havia dormido pela tarde, estava sem sono.

O tempo passou num voo e quando se deu conta já era mais de 03:00h. Yuri resolveu descer para beber água antes de dormir. Estava apenas com a bermuda e foi silenciosamente até a cozinha. A casa estava completamente escura, era assim que os pais gostavam.

Abriu a geladeira e serviu-se com a água. Segundos depois ouviu passos em direção à cozinha.

— Quem é? – perguntou o menino com curiosidade.

— Guilherme. – o mais velho apareceu e foi iluminado pela luz da geladeira que continuava aberta. – Vim tomar um copo d’água.

— Fique a vontade. – entregou a jarra com que havia se servido e lhe deu um copo que pegou na prateleira atrás de si.

— Acordou há muito tempo?

— Nem dormi ainda. Tô sem sono. 

— Entendi. – Guilherme bebeu a água num instante e se serviu novamente.

— Assim você não vai conseguir dormir direito tendo que ir toda hora esvaziar a bexiga.

— Eu bebo muito água mesmo. Não dá problema deixar a geladeira aberta por muito tempo?

— É a única iluminação. Não tô a fim de ligar a lâmpada.

Guilherme se aproximou de Yuri quando foi colocar a garrafa de volta a geladeira. Não foi uma aproximação inocente. Queria sentir o calor que o garoto irradiava. Estava se controlando pra não agarrá-lo ali mesmo. Prensar seu corpo e atacar aquela boca carnuda. A cena passou em sua cabeça, mas ele voltou de seu transe e deu um rápido boa noite antes de ir em disparada de volta para o quarto do melhor amigo.

Estava confuso e queria apenas parar de sentir aquilo. E se já não fosse difícil o bastante, o garoto que lhe atraía dividia laços de sangue com aquele que considerava seu irmão de outra mãe. Felipe não ficaria nada satisfeito em saber os pensamentos do amigo e consideraria aquilo uma traição.

Yuri também voltou para o seu quarto um pouco confuso. Por um momento pensou que Guilherme o agarraria na cozinha, mas então botou uma ideia na cabeça. Para ele tudo não passava de um plano do irmão para magoar seus sentimentos. Ou apenas fantasiou demais com o belo garoto.

Foi uma luta pra esses dois pegarem no sono. Pensavam um no outro enquanto a única coisa que lhe separavam era a parede entre os dois quartos. Até onde essa atração poderia leva-los?

O sol iluminou a casa dos Barreto e cada um tomou seu rumo. Fausto partiu para o trabalho, Yasmin preparou o café da manhã, Felipe e Guilherme se arrumavam para o evento geek que iriam naquela manhã e o Yuri se levantaria depois de mais algumas horas de sono.

O tranquilo dia não previa em nada para os dois irmãos a bomba que os esperaria pela noite. A bomba que poderia proporcionar uma trégua ou levar a guerra para sua fase mais sangrenta.

Felipe voltou para casa por volta das 19:00. A sessão no cinema que iria ver com Beatriz era 21:00, então considerando o tempo que se arrumaria e que gastaria no trânsito chegaria a tempo.

— Filho, que bom que chegou. Seu pai e eu precisamos conversar com você e seu irmão. – seus pais estavam na sala, com uma expressão séria no rosto.

— Não dá pra ser outra hora? Eu vou sair daqui a pouco e se parar pra conversar agora, vou me atrasar.

— É importante filho. – Fausto respondeu e Yasmin levantou do sofá para chamar Yuri.

Felipe se acomodou no sofá menor e entrelaçou as mãos. Esperava que aquela conversa fosse rápida e ao mesmo tempo tinha medo do que se tratava dado o fato de não ver o pai tão cabisbaixo como naquele momento.

— Está tudo bem pai? Qual o assunto dessa conversa? – não obteve resposta.

Yasmin voltou com Yuri e o garoto sentou ao lado do irmão, após uma careta direcionada ao mesmo. Pais sentados lado a lado à direita e irmãos igualmente à esquerda. Lágrimas surgiram nos olhos da matriarca e foi assim que eles se deram conta de que o que estava por vir era sério e mudaria aquela família para sempre.

— Meninos. Sua mãe e eu passamos por uma fase difícil recentemente e após muita conversa tomamos algumas decisões. A principal delas é que vamos nos divorciar.


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Notas finais do capítulo

Não deixem de comentar o que acharam, quero conhecer meus leitores. Leiam também minha outra fanfic: https://fanfiction.com.br/historia/728024/Entrevista_com_um_garoto/
Nos vemos em breve, espero!



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