O Vendedor de Sapatos escrita por Lisseon


Capítulo 1
Capítulo Único


Notas iniciais do capítulo

Oii gente, é a Lis ♥ Tudo bem com vocês? Comigo tá tudo ótimo o/

Então, só queria falar um pouquinho sobre a fic. Essa história veio de algo muito parecido que aconteceu comigo há muito tempo! Só que infelizmente, não acabou como essa T^T
Enfim, eu só fui me ligar que dava uma boa história quando a comentei sobre com a minha amiga e ela disse "hum, isso dá uma boa fic!" Kkkkk, a vida tem dessas né?
Bem, não sei muito o que ficar falando aqui >



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Sabe aqueles caras recém-saídos da escola, que não tem muito o que fazer e que ainda pretende escolher que faculdade quer pra vida, mas ainda sim quer trabalhar pra ter o seu próprio suado dinheiro? Pois é, sou eu.

Trabalho numa loja de calçados, não é o melhor emprego do mundo, admito, mas é melhor que trabalhar em lanchonete. Enfim, trabalhando lá, vejo todo o tipo de gente por dia: velhas que querem sapatos ortopédicos pros seus pés cansados, pirralhos que veem um tênis com luzinhas de LED e começa a fazer birra pra ganhar, garotas pré-adolescentes que ficam namorando os saltos altos das mulheres, e mulheres que ficam invejando os sapatos baixinhos e confortáveis dessas pré-adolescentes. Ah, e marmanjos que gastam dinheiro que não tem em tênis original da Nike. Bem, quem sou eu pra julgar? Lido com todo o tipo estranho de gente todos os dias, uns sorriem e são simpáticos, outros vêm te tratando achando que você é um escravo, o jeito é engolir a vontade de descer o cacete. Minha gerente sempre diz: Respira, quanto melhor atendê-lo, mais rápido ele vai embora.

Essa semana tinha sido um porre, cansativa desde segunda-feira e aquele dia era sexta-feira, o pior de todos na loja. Pior pra mim, pois é quando o negócio fica caótico. Sobe e desce do andar de estoque com dezenas de caixas que chegam a tampar a visão, a pessoa não gostar ou não ser o número que ela queria, sobe e desce de novo, depois guarda tudo, cata tudo e qualquer lixo que as pessoas simplesmente parece que deixam nos assentos por pura sacanagem e quando penso em dar uma respirada, surge outro. Sim, eu recebo por comissão, mas não deixa de cansar bastante.

Como eu falava, sexta-feira era o pior e justamente naquela sexta eu estava surtando, uma velha estava me torrando a simpatia me fazendo ir e vir do estoque com essas dezenas de caixas que falei anteriormente, e ela estava dando sinais de que não levaria nada. Pensei comigo: escolhe de uma vez, por favor, eu não aguento mais. Nesse momento, ouvi uma voz vinda de trás de mim, era uma voz feminina bonita e eu tive a impressão de a sua dona estar sorrindo. Sabe quando você reza pra ser uma pessoa agradável? Tanto de aparência quanto de simpatia? Pois é, fiquei assim, até hesitei um pouco em me virar e a expectativa, que não sei o porquê de estar ali, virar cinzas.

— Vó, leva esse de uma vez. É bonito, você gostou, acho que o rapaz tá cansado do tanto que a senhora fez ele subir e descer. - ela falou. Acho que me apaixonei sem nem perceber, essa mulher era um anjo e eu nem a aparência vi ainda. A senhora estalou a língua como se pouco se importasse. - Vó, tem outras pessoas querendo ser atendidas também. Eu, por exemplo.

— Tá, levo esse. - decidiu por fim a senhora, pegando o seu sapato antigo para colocar e guardou o outro numa caixa.

Soltei um suspiro de alívio que não passou despercebido, imagino, e me virei rapidamente para a mulher atrás de mim. Era simplesmente a mulher mais bonita que já vi, não sei se talvez me encantei com o fato de ter se preocupado com um funcionário, mas era realmente linda. Cabelos castanhos, com um tom avermelhado, um sorriso bonito, olhos castanho-claro, magra - até demais -, relativamente alta e com o rosto bem definido, que não tirava a delicadeza das expressões. Ela não devia ser mais velha que eu. Sorri um pouco envergonhado com o sorriso que ela me dava, ela segurava um celular na mão e um fone de ouvido estava em sua orelha, ela rapidamente o tirou e guardou o aparelho, dando total atenção.

— Então, acho que agora quem vai fazer você subir e descer vou ser eu. - brincou. - Relaxa, não vou te fazer subir e descer, uma escada daquele tamanho é sacanagem.

— Chega uma hora que as pernas já até acostumam. - falei. Ela riu, era uma risada desengonçada e engraçada, mas combinava com ela. - Bem, tem algum sapato que queira dar uma olhada?

Ela assentiu na mesma hora e virou de costas, indo em direção onde estava o que queria, me levantei e a segui. A garota parou em frente o vidro do mostruário e ficou andando pra lá e pra cá de um jeito bem engraçado, parecia uma criança procurando doce ou um brinquedo, até que parou e sorriu. Apontou o dedo para um par de saltos altos pretos e bem finos, olhei do salto para ela, imaginando como ela ficaria naquilo, andando de um jeito sexy. Foco, cara, foco, você está trabalhando. A garota ficou pensativa e do nada negou com a cabeça, voltando a andar.

— Não gostou daquele? - perguntei.

— É muito alto, e eu tenho certeza absoluta que, destrambelhada como sou, vou cair feito um mamão maduro. - respondeu. Ri um pouco alto demais e ela embalou na risada. - Temos que levar essa realidade em conta. - e assim, tornou a observar os sapatos, procurando inicialmente o que lhe chamara atenção antes de eu a atender.

— Espero não parecer meio... Abusado. - chamei atenção. Ela se virou para mim, fazendo com que os cabelos esvoaçassem ao seu redor e fez uma feição curiosa e desconfiada. - Qual o seu nome?

— Kim! E o seu?

— Charlie. Só "Kim" ou é um apelido?

— É um apelido pra Kimberly, mas eu não gosto muito, então fica só Kim. Tipo Kim Kardashian, tá ligado? - explicou gesticulando. Era muito engraçado ela fazer isso, gesticular enquanto fala e fazer umas expressões bem diretas, quando não gostava, ficava com uma cara fechada e levantava os ombros. Kim se expressava bem com as palavras, e reforçava isso com gestos. - Charlie é um nome bem legal, acho bonito. - sorriu.

— Obrigado... Kim também, digo, é um apelido bacana. - devolvi, me atropelando nas palavras, ela continuou sorrindo.

Eu a conhecia há poucos minutos, mas parecia que eu era atraído por ela há anos. Apesar de ser muito bonita, não é o tipo de mulher que eu corro atrás, ela tem esse jeito... Bobo e inocente, e eu costumo fugir disso, mas ali, naquele momento, me sentia como se houvesse apenas ela.

Kim continuou observando os pares de sapato e eu a seguia um pouco mais longe, olhando-a andar. Não sou um tarado, ok? Apesar dela estar usando uma saia, fiquei olhando para o cabelo. E um pouco para as pernas. Argh! Sou homem, dá licença? Admirar não mata. De repente, Kim parou e se curvou, quase grudando o rosto no vidro.

— Aquele ali tem número 37? Ou 36...? Ou 38...? - ergui uma sobrancelha tentando entender. - É que dependendo da forma, 36 serve, 38 serve...

— Hmm... Eu trago todos, sem problema.

— Ah... Não quero sobrecarregar você, vi que vocês descem aquela escada medonha com um monte de caixas tampando a cara. - preocupou-se.

 - Não esquenta, a gente acostumou. - tranquilizei. Ela sorriu e assentiu. - Ok, acho que a sua avó ainda tá sentada, por que não fica lá?

— Ah! Claro! - sorriu. - Obrigada!

Saí quase que correndo pro andar de cima, procurei o tal sapato o mais rápido possível, uma pilha de caixas quase caiu em cima de mim. Demorou uns longos minutos até encontrar todas as numerações, assim que encontrei, desci rápido. Eram apenas três caixas, não dava dor de cabeça.

Fui direto onde me lembrava de a velha chata estar, e Kim estava sentada ao lado da avó rindo e fazendo a senhora rir também. Cheguei tentando não assustar ou incomodar, bem, até a velha chata fechar a cara ao me ver. Acho que ela não foi comigo... Kim sorriu ao me ver, coloquei as caixas no chão e abri uma por uma, ela pegou um dos pares e observou.

— É bem mais bonito do que eu imaginei. - observou. Maneei a cabeça, concordando. Kim experimentou, mas esse ficou grande, era o número 37, já excluía o 38. - Ai, tomara que o 36 caiba... Sem transformar o meu pé em sardinha entalada.

Não aguentei e ri, ela gargalhou alto também. Experimentou o número menor e se levantou para ver como era o sapato no espelho que tinha ali perto, até que voltou com uma expressão nada legal.

— Meu pé virou sardinha enlatada.

Kim tirou o sapato e suspirou exasperada.

— Não quer ver outro? Aquele salto fino que você gostou? - perguntei. Ela engoliu em seco e ficou pensativa. - Se for pra alguma ocasião, ele é bem legal.

— É, acho que vou ver... Só não fique bravo comigo, tinha prometido não fazer você ir e vir com esse mundaréu de caixas.

— Só a preocupação já vale bastante. - falei, entre risos. Ela corou um pouco. Ela corou um pouco! Me levantei rápido para ir ao estoque de novo, mas antes, ouvi a velha chata dizer algo que me incomodou um pouco.

— Não cai em cantada barata não, esse garoto deve ganhar mal. Você tem que arrumar alguém com dinheiro.

Em alguns minutos, eu estava de volta com mais três caixas de sapato, 36, 37 e 38. Notei a ausência daquela senhora insuportável, Kim estava sozinha esperando. Ela sorriu docemente e pegou uma das caixas, acho que ficou incomodada ao ver que uma estava escorrendo debaixo do meu braço. Essa atitude dela estava me matando. Dessa vez, Kim ficou mais calada, experimentou o 36 e alegou ter ficado pequeno, peguei o 37 e pensei em dar em sua mão, mas algo me fez mudar de ideia.

— Ué, onde está a sua avó? - perguntei, me sentindo um pouco atrevido. Fiz mal?

— Minha mãe chegou e elas foram juntas pra lanchonete aqui do lado. Sem mais velha chata pra encher o saco. - respondeu. Rimos juntos dessa reclamação. - Ela estava te enchendo a paciência, não estava?

— Hmm... Um pouquinho... - respondi na defensiva.

— Desculpa. Ela já tem idade e a cabeça já não tá muito boa. - Eu a olhei tentando encontrar o que falar, Kim permanecia com o olhar sereno de quando a vi por trás de mim, e não parecia ter um tom de tristeza em sua voz, e sim de aceitação. Acabei não encontrando e apenas falei algo como "que pena". Acho que ela entendeu isso, é difícil dizer algo nesse tipo de situação.

Kim tentou pegar o sapato que estava na minha mão, mas me atrevi um pouco, ergui um de seus pés e coloquei o sapato. Ela riu sem graça, mas não vi uma expressão que repreendesse a minha atitude, suspirei aliviado. A garota sorriu e observou o sapato.

— Ficou certinho, Charlie. Põe o outro pra mim? - minha respiração falhou por um momento.

Ela, por um acaso, estava jogando comigo? Tratei de calçar o outro salto nela e ela sorriu, se pôs de pé e caminhou até o espelho, não consegui desviar o olhar da maneira como andava. Imaginei que ela ficaria sexy, e ficou muito mais, a minha cabeça não pensou em coisas boas quando ela caminhou de volta na minha direção, com aquele sorriso inocente que eu tinha quase certeza que escondia um divertimento por estar "brincando" comigo. Kim sentou-se no mesmo lugar de antes e retirou os sapatos.

— É esse mesmo que vou levar. Vou fazer em débito.

Me levantei e levei o par de sapatos junto com o que a avó de Kim tinha comprado até um guichê para fazer a nota fiscal, Kim colocava a sua sapatilha de volta e logo estava ao meu lado, entreguei o papel para ela, que sorriu e agradeceu, e foi para o caixa. Levei as caixas para a empacotadora guardar em uma sacola e fiquei esperando que Kim voltasse, ela me entregou a nota, já paga, e eu, as sacolas.

— Obrigada, Charlie. - sorriu e quando eu pensava em dizer algo, fui surpreendido com um beijo na bochecha. Kim corou violentamente e saiu apressada pelo corredor da loja, fiquei sem reação e não consegui me mexer até algo dar um estalo na minha mente. Bem, não foi na minha mente. Meu colega estalou os dedos perto do meu ouvido, me fazendo acordar do transe.

— Terra chamando Charlie. - brincou ele. Dei um tapa em sua mão e ele riu debochando. - A garota mexeu contigo, hein?

— Ah, vá se ferrar...

 

~~//~~

 

— Mãe, o que achou? São bonitos, né? - perguntou, enquanto desfilava com os saltos recém comprados. A mãe sorriu maroto.

— Muito bonitos. Bonitos até demais.

— Não começa, já sou adulta, posso usar esse tipo de sapato. - ralhou. A mãe riu e maneou a cabeça em aprovação, ainda mantendo o tom de deboche. A mulher, idêntica a filha, porém com evidências de sua idade, um cabelo mais curto e castanho, olhou dentro da caixa, algo ali lhe chamou a atenção, tratava-se de um papel rasgado, pegou o papel e viu que havia algo escrito.

— Viu isso aqui? - perguntou a mãe. A garota que retirava os saltos olhou com o cenho franzido e pegou o papel.

"Hey, desculpa se estou sendo abusado, mas eu te achei muito linda e atraente... Posso te ver de novo? - Charlie."

Kim sorriu e corou violentamente, agarrou o papel próximo do coração e olhou para mãe, que a fitava com ambas as sobrancelhas erguidas.

— E então? Foi aquele que te atendeu na loja?

— É... Ele mesmo. Charlie.

 

~~//~~

 

 

Quase um mês se passou desde que conheci Kim. Se eu a vi depois daquilo? Nunca, provavelmente deve ter rido do bilhete vergonhoso que deixei dentro da caixa dela. Se eu me perdoava por aquilo? Nunca, eu me sentia um completo idiota. Retardado. Imbecil. Que tipo de cara faz isso?!

Era outra maldita sexta-feira, a última antes do Natal e a loja estava mais cheia e insuportável que o normal, eu estava quase arrancando os cabelos por causa de um moleque mimado que insistia em querer o tênis mais caro, enquanto o pai deixava claro que deveria ser o mais barato. Como agir numa situação dessas? O senhor me deu a ordem de fazer nota do tênis mais barato - e sem luzinhas de LED -, e quando terminei, entreguei o papel na mão do homem e levei correndo a caixa até a empacotadora, e fui tomar água.

O jingle de Natal que tocava em loop na loja já estava me deixando enjoado, e aquele chapeuzinho idiota de Papai Noel estava esquentando mais a minha cabeça que estava prestes a explodir de dor de cabeça, me sentei na escadaria paralela a do estoque, essa dava até o escritório do dono, e ficava próxima ao bebedouro, para ver se conseguia descansar um pouco, mas a minha felicidade durou pouco. Ouvi chamarem o meu nome pelas caixas de som. "Por favor, atendente Charlie compareça ao caixa número 3. Por favor, atendente Charlie compareça ao caixa número 3." Me levantei e fui até o lugar em passos de tartaruga, a colega que cuidava do caixa entregou uma série de caixas pra eu devolver pro estoque, me contorci de impaciência, mas peguei as caixas e cumprimentei a moça, ela não tinha culpa, e estava ali sofrendo tanto quanto eu.

Entre tropeços, cheguei ao estoque, guardei as caixas em seus devidos lugares. Apesar de ser mais amontoado e caótico que lá embaixo, ali tinha um ponto positivo: sem música. O jingle de Natal não passava de um mero chiado. Respirei aliviado, sentindo aquele odor de papelão e fita adesiva. É, não ajudou tanto assim. Desci rapidamente, me preparando para aquele loop insuportável, e fui até a frente da loja, onde o som não era tão alto, fiquei organizando uma banca de tênis femininos, quando senti um toque no meu ombro, revirei os olhos pensando que fosse algum colega chato querendo me zoar, então me virei um pouco impaciente.

— Oi, Charlie!

Abri um sorriso de orelha a orelha, a dor de cabeça ficou só na lembrança a partir daquele momento. Era ela. Com o mesmo sapato que comprou daquela vez.


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Notas finais do capítulo

Você que chegou até aqui, o que achou? :D

Comentem, favoritem, recomendem se gostarem ♥ Vou ficar muito feliz ♥
Gente, eu revisei bastante, mas pode ser de algum erro ter passado despercebido. Se você achou, por favor, me fale que eu corrijo ♥
Beijinhos, até a próxima o/



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