Pov. Percy Jackson

Lá estava ela, a garota que eu ansiava tanto ver noite passada, queria dizer que Annabeth estava linda, mas não estava,ela parecia cansada como se tivesse vindo pra cá direto de uma festa.

Não sei exatamente o que pensar ou que dizer. Por dias uma visita dela era o que eu mais queria, mas agora que ela está aqui não sei mais se era mesmo o que eu queria. Sua presença com certeza não deve trazer boas notícias.

— Percy? — disse ela de novo enquanto se aproximava. De mais perto deu pra ver seus olhos inchados e vermelhos, ela andou chorando. Quero perguntar o que houve, quero consolá-la, mas ao mesmo tempo tenho medo demais de perguntar e por isso permaneço imobilizado, só aguardando que ela mesma terminasse com o mistério.

— Boa sorte... — falou Clarisse me despertando do transe. Olhei pra ela por um segundo, quase que pedindo que ela não fosse embora através do olhar. Não quero ficar sozinha com Annabeth, não se for significar o que eu penso que significa.

— O que faz aqui? — não sei de onde tiro a coragem, mas pergunto de uma vez. O silêncio dela está me deixando louco. Como é que alguém aparece assim e fica calada, apenas me encarando com aqueles culpados e sofridos?

— Eu... eu precisava te ver, Percy. — as palavras saem com dificuldade da sua boca. Estou certo desde o início, ela veio me contar algo que fez e provavelmente terminar o que temos ou tínhamos, sei lá...

— Cansou da sua arquitetura? — questionei quando percebi que ela não diria mais nada. Meu tom tem mais raiva do que eu queria demonstrar.

— Eu senti sua falta... — Annabeth ignora completamente meu ataque, não é bom sinal, ela normalmente começaria uma discussão só por isso. 

— Por que não retornou minhas ligações ou mensagens de Íris?— falei de novo. Se a visita fosse só por saudades ela não estaria tão triste.

— Eu não sabia o que te dizer.

— E agora sabe? Porque eu não sei mais o que te dizer, esperei tanto tempo para você aparecer aqui, dizendo que se arrependeu da sua decisão, mas agora com você aqui. Eu simplesmente só consigo pensar que algo mais deve ter acontecido. Você não viria até aqui só por saudades.

— Ainda não... Eu só sabia que precisava te ver. Eu te amo, Percy. Você sabe disso, né? — apesar dela não estar chorando seu desespero era palpável demais para que eu ignorasse.

— O que te fez mudar de ideia?

— Eu já disse estava com saudades. — disse ela irritada com a minha insistência.

— Olha só, Anna, eu realmente quero acreditar nisso, mas não consigo. Eu sei sobre as mensagens, tá? Eu sei que você passou todos esses meses conversando com o Jason. O que houve? Vocês dois finalmente ficaram juntos e a culpa te fez vir até aqui? — não sei de onde vem as palavras, mais do que tudo não quero que ela confirme minhas suspeitas. Só quero entender o que se passa na cabeça dela.

— Eu e ele... nós não... — Annabeth tem lágrimas nos olhos e parece arrependida de algo que não tem coragem de dizer, mas que eu já sei o que é.

— Eu sabia.— ela tenta se aproximar de mim, porém eu me afasto. Não quero vê-la nunca mais, Annabeth já disse o suficiente. Como ela teve coragem de fazer isso?

— Não é isso, Percy. Eu te amo, eu só estava bêbada e me deixei levar... Me perdoa, por favor, agora eu sei que é você que eu quero.

— Eu gostaria, mas não consigo. Eu também te amo, Annabeth, amo tanto que ignorei todas as vezes que você fez pouco de mim durante o ano, eu fingi que não havia nada de errado, lutei para que não nos afastássemos, porque eu sabia que te perderia caso nos separássemos, mas você insistiu em ir embora. Insistiu em ir atrás do Jason, mesmo eu deixando claro que não queria, você fez sua escolha naquele momento, escolheu ele. É tarde demais para mudar de ideia.

— Por favor, Percy... Eu só preciso de mais uma chance. Só mais uma não vou estragar tudo de novo, eu prometo... — falou ela com os braços enlaçados nos meus ombros.

— Annabeth, por favor... Só me deixe em paz, eu só... eu só não consigo mais olhar pra você.

— Percy, me perdoa...

— Te perdoar não quer dizer que eu vá voltar, sabe disso, né?

— Então, é isso? Está terminando tudo o que tivemos? — sequer me dei o trabalho de responder. Acho que a resposta é óbvia para que alguém tão inteligente quanto ela note.

Dali fui direto para o meu Chalé, as lágrimas escorrem pelo meu rosto, mas não me sinto triste, estou com raiva de mim mesmo por ter sido tão babaca, por ter sofrido todo esse tempo por alguém que esteve me traindo esse tempo todo.

Entrei no quarto chutando tudo o que eu via pela frente e gritando meus lamentos mais honestos. Eu te odeio, Annabeth, te odeio...

— Se sente melhor, Jackson? — a voz de Clarisse me pega de surpresa, está vindo da cama de cima do beliche. Ela esteve todo esse tempo ali?

— O que faz aqui? — falei um pouco irritado. Ela não deveria estar aqui.

— Pensei que você pudesse precisar de alguém para conversar depois que ela fosse embora. Estava certa?

— Como você sabia que eu não voltaria com ela?

— Um palpite. Por que você não sobe aqui e me fala o que aconteceu? — não cheguei a responder, só subi, talvez seja bom conversar com alguém.

— Nós terminamos.

— Pensei que vocês já tivessem terminado.

— Estávamos dando um tempo. Agora é sério, ela... ela me traiu com o babaca do Jason.

— O GRACE? Não acredito. Piper não vai gostar nada de saber disso...

— Você acha que eu devo contar a ela? — perguntei em dúvida, Piper ainda não tinha passado pela minha cabeça.

— Claro que não, por mais que eu ache que os dois mereçam sofrer o máximo possível, acho que você pode evitar esse sofrimento pra Piper.

— Não sabia que vocês eram amigas.

— Não exatamente, Jackson. Só estou tentando evitar ainda mais dor de cabeça.

— Eu to com tanta raiva, La Rue. Não consigo acreditar que ela possa ter feito isso comigo depois de tudo. Eu a amo tanto...

— Eu sei, Jackson. Não é fácil ser traído, mas não adianta nada danificar suas coisas por isso. Sabe o que adianta?

— O quê?

— Dar uma boa surra no Grace. — disse ela rindo.

— O quê? Tá doida?

— Acredite se quiser nada cura melhor um coração partido que uma surra bem dada no babaca.

— Só você mesmo, La Rue. Talvez eu siga esse conselho. — disse olhando nos olhos dela tão perto que poderia beijá-la a qualquer momento.

— Se você for esperto o bastante fará isso, Jackson, e vai me chamar para assistir, porque essa cena eu não posso perder por nada. Posso até te ajudar a encurralá-lo se quiser...

— Obrigada por isso, La Rue. Nunca pensei que seria consolado por você ainda mais dois dias seguidos. Por que está sendo tão legal?

— Já passei por isso. Sei como é horrível, não desejo ao pior dos meus inimigos e vamos lá por mais que eu não admita de vez em quando você é legal Jackson.— me aproximo mais um pouco, não consigo parar de pensar em como ela reagiria se eu a beijasse agora. Nossas respirações se misturam ofegantes, estou prestes a beijá-la quando começo a me lembrar da noite anterior...

— Nós... nós ficamos na festa dentro do armário. Por que mentiu pra mim?

— Porque eu não achei que você fosse querer se lembrar.

— E porque eu iria querer esquecer isso, La Rue?

— Por diversos motivos, Annabeth era um deles e outro é que estou indo embora, Jackson. No final das contas se você não lembrasse seria bom pra mim também.

— Indo embora pra onde?

— Vai dizer que você não sabe, Jackson? O Acampamento todo já sabe, assim que as férias acabarem eu vou me tornar uma Caçadora de Ártemis.

— O que? Por que?— disse muito surpreso.

— Ué? Porque eu quero. Não é da sua conta, Jackson.

— Não gostou de ficar comigo? — falei mais próximo dela de novo.

— Jackson, por favor, acho que isso não vem ao caso. Lutar é a única coisa que eu sei fazer, a única coisa que quero fazer com o meu futuro...

— Você sabe fazer muito mais coisas do que só lutar. Você beija muito bem sabe e além do mais não precisa ser uma Caçadora para lutar. Acho que você se daria bem numa arena de UFC, hein, acho que vale a pena tentar...

— Vai fazer o quê? Me passar o contato de um técnico... Já tomei minha decisão, Jackson, e não vai ser você que me fará mudar de ideia.— falou ela rindo.

— Vai ser um pecado desperdiçar isso com as caçadoras... — falei me aproximando de novo para beijá-la, porém ela se afasta.

— Você não vai me convencer, Jackson. Não subestima o poder de uns beijinhos, por favor — sei que não tenho nada com isso, porém não consigo parar de pensar que essa ideia dela é um erro. Um erro que se ela cometer não terá mais volta.

— Não posso nem tentar?

— Prefiro que não. — por mais que ela diga que tem certeza dessa decisão, não é essa que a impressão que ela dá.

— Tudo bem. Você deve saber o que é melhor pra você. — disse só para evitar uma discussão. Encontrarei um jeito de convencê-la do contrário até o final do verão. — Obrigada por estar aqui por mim depois de tudo, ainda não acredito no que Annabeth fez.

— Acredite se quiser eu também não. Nunca pensei que ela pudesse ser tão parecida com o meu ex.

— Ele te traiu? — perguntei surpreso. O ex-namorado dela parecia um cara bem legal.

— Não, ele também era loiro... Claro que ele me traiu, Jackson. Algumas vezes se quer saber.

— Essa raiva um dia passa? — questionei curioso e ao mesmo tempo esperançoso.

— Assim eu ainda o odeio pelo o que me fez passar, mas já não bato nas pessoas que mencionam o nome dele e nem ligo mais para as vadias que ele saia na época. Então, acho que sim passa.  Você só precisa de tempo e umas surras...

 — E de uma boa amiga, como você, para me distrair... — disse me aproximando de novo.

— Não sei se te dei uma impressão errada, mas isso não pode continuar acontecendo, Jackson. Logo serei uma caçadora e por mais que possamos ser amigos, é melhor que não passe disso.

— Você quem sabe. Obrigada por tudo de qualquer jeito.

— Não agradeça. Me leve junto para te ajudar a dar uma surra no Grace.