Black escrita por Day


Capítulo 2
Capítulo 2 — Andromeda Black


Notas iniciais do capítulo

olá pessoaaaaaaaaas, tudo bem com vocês?

espero q gostem do cap da Andy!!!!! bjs e boa leitura ♥

devo dizer que eu não revisei rsss. então, se tiver algum erro, é só me avisar.



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Ser a segunda irmã não era algo glorioso, não para ela. Vivia à sombra da mais velha, e da própria mãe, o que quase sempre a impedia ser alguma coisa por si só. Não tinha uma personalidade reconhecida, ou, se tinha, os outros não faziam a menor ideia. Era sempre a criança mais calada; depois, a aluna mais calma; depois, tornou-se a revolucionária. Explodiu em rebeldia de uma hora para outra, e talvez isso tenha sido o resultado de anos e anos com vontades reprimidas e ignoradas.

Com o tempo, contentou-se em estar sempre na média. Não era nada demais, mas também não era nada de menos. Na verdade, era o exato tipo de pessoa que não tinha muito pelo que se destacar e, por isso, acabava preferindo permanecer assim do que se arriscar em uma tentativa de se sobressair. Ela nunca seria um destaque nato como as outras pessoas da sua família, e acabou percebendo que era melhor continuar dessa forma.

Sempre foi uma criança quieta, calada, quase imperceptível. Não podia dizer que, na adolescência, tinha sido de outro jeito. Se alguém a conhecia em Hogwarts, muito provavelmente era graças à sua família e a enorme influência que tinham, e não porque ela fazia-se ser notada. Suas notas, assim como todo o resto de sua vida, eram satisfatórias; não a colocavam acima e nem abaixo de ninguém.

Pertencia à Sonserina porque, em algum lugar da sua mente, as qualidades da casa tinham sido ressaltadas ao Chapéu Seletor. Mas, às vezes, enquanto demorava a dormir no dormitório feminino, perdia alguns segundos imaginando se realmente deveria estar ali, e não na      Lufa-Lufa ou Corvinal. Entretanto, jamais se imaginava na Grifinória; ter um repúdio por tal casa era um dos ensinamentos que sua família carregava no sangue.

Sangue do mais puro que ela podia ter. Não se orgulhava tanto disso como suas irmãs e pais, embora entendesse que vir de uma família com um renome como sua, e, até certo ponto, valorizasse isso. Mas, tal valorização que ela dava não chegava ao ponto exagerado que os demais sangue-puros davam. Ela não deixava de achar aquilo um tanto quanto desnecessário. Ouvir, dentro de casa, que precisavam se sobrepor aos demais, principalmente aos trouxas e nascidos-trouxa, parecia um pensamento arcaico demais.

Pelo tempo em que foi apenas a irmã mais nova, tudo parecia bem. Os cuidados, a atenção, os mimos, tudo era só para ela. Até ver seus pais chegarem em casa com uma criança. Claro que não tinha sido de uma hora para outra, mas, mesmo assim, ela sentiu que todos seus privilégios já não eram mais seus. Ela passou, então, a ser a irmã do meio. E, por Merlin, era a pior coisa de todo o mundo.

Mas, isso não a impediu de encontrar todas as coisas que seus pais lhe negavam em outra pessoa. Primeiro em si mesma; depois nos outros. Dedicou um pouco de seu tempo para fazer de si mesma a pessoa mais independente possível. Pouco a pouco, e graças àquele tipo de negligência paternal, ela acabou por conseguir sua independência. Já não precisava mais de ninguém para fazer coisa alguma.

Era uma sensação nova, totalmente diferente de todas que já tivera na vida. Poder ser livre para fazer qualquer coisa sem que lhe jogassem infinitas limitações ou proibições beirava o indescritível. Em compensação, era claro, isso só evidenciava ainda mais o fato de quão desapercebida ela passava pela própria família. Enquanto as irmãs recebiam atenção completa, ela se contentava com algumas perguntas para saber como tinha sido seu dia e meia dúzia de cartas ao ano.

A vida tinha lhe dado um bom ensinamento em todos aqueles anos de uma convivência não muito agradável: ela, ao menos, não sofria tanta cobrança como sua irmã mais velha. Não ouvia, várias vezes todos os dias, que precisava ser isso, ser aquilo, ser de tal forma, ou, pior ainda, não ser como realmente era. Ou que precisava fazer suas coisas segundo o alto padrão da sociedade no qual estava inserida, desde que nascera e, se não fizesse algo a respeito, até que morresse.

Se parasse para pensar em cada padrão que tinha, ou em cada exemplo que lhe era dado todos os dias, ela perceberia que, no final das contas, não seria uma pessoa tão original como gostaria de ser. Tinha a melhor pessoa em quem se espelhar caso quisesse se tornar uma elitista de primeira, adoradora das Artes das Trevas, ou, ainda, uma Comensal da Morte excelente; sua irmã era tudo isso e mais um pouco.

Caso contrário, se quisesse ser a rebelde, inconsequente, tida como toda a rebeldia da família, e a vergonha de gerações inteiras, então, nesse caso, bastava que fosse ela mesma. Porque era isso, era exatamente isso, que acabou se tornando, pouco a pouco, ao longo dos anos, culminando naquele que seria o ato que sua família mais repudiaria enquanto vivessem.

Era mais do que vergonha, era desprezo, do mais puro e imutável que poderia existir. Ela sabia que não seria uma atitude sem consequências, afinal, qualquer ação que tomava reverberava em reações — positivas ou negativas. Aquela, em especial, reverberou por anos negativamente. No entanto, já era mais do que a hora de fazer algo por si mesma, de caminhar com as próprias pernas e deixar de lado toda a insegurança que anos vivendo às sombras havia lhe rendido.

Pela primeira vez na vida, sentia-se como alguém diferente de a filha de alguém ou a irmã de alguém. Ela podia, finalmente, ser ela mesma, ser conhecida pelo que fazia e não pelo que os outros fizeram. E, por mais que tivesse conquistado o que achou que era independência e liberdade, sentir aquilo que, de fato, a tornou livre e independente.

Agora, não tinha mais nada que a amarrasse ou a mantivesse presa à família e a tudo que eles sempre defenderam doentiamente. Chegava a ser doentio o modo como falavam dos trouxas e a maneira como defendiam o purismo do sangue bruxo. Ela se sentia deslocada em meio àquilo tudo e, por isso, quando se viu livre, foi a melhor de decisão que poderia ter tomado.

Andromeda Black era uma vergonha.

×××

Ela não sabia como, ou quando tinha acontecido, mas estava apaixonada. Parecia um paradoxo, afinal, quando um Black tinha estado com alguém por amor genuíno e não por ligações entre famílias igualmente poderosas e influentes? Aquela deveria ser a primeira vez, em muitos e muitos anos, talvez a primeira em todas as gerações.

Tinha sido sempre a filha que quebrava regras, e por essa razão, nem sequer ponderou antes de pular a janela de seu quarto e correr até o carro trouxa parado do outro lado da rua. Não demorou muito para que os Black fizessem contato; uma carta, um berrador para que fosse mais preciso, de sua mãe berrava a plenos pulmões que, a partir daquele dia, ela poderia desconsiderar-se da família.

Arrume outro nome! Você não mais é, e nem será de novo, pertencente à família Black! Você é uma vergonha! Um desgosto! Uma traidora do sangue! — traidora do sangue era, agora, mais uma das diversas denominações que poderiam ser dadas a ela.

Se o custo para ter uma vida perto de tudo que ela queria, e longe de tudo que sempre repudiou, então Andromeda estava disposta a pagá-lo. Quanto ao pedido, tão certo, de sua mãe para trocar de nome, ela já tinha feito isso antes mesmo de fugir definitivamente da mansão em que costumava morar. Trocaria Black por outras cinco letras que, embora, aos olhos de muitos, não carregassem tanta importância, para ela, era mais do que suficiente.

Daquele dia em diante, ela podia e devia ser chamada de Tonks. Parecia estar seguindo os caminhos da irmã mais velha, que havia se casado recentemente, embora em circunstância de extrema oposição; enquanto a primogênita estava submersa em um casamento arranjado, como muito acontecia naquele alto escalão da sociedade bruxa, ela imergia cada vez mais em uma relação saudável ao lado de um nascido-trouxa.

Ela só conseguia imaginar que aquilo — de estar agora inserida em uma família que não carregava tanto renome, importância ou mesmo aptidões mágicas de berço, como os Black — era o motivo pelo qual tinha se tornado a vergonha ou o desprezo de seus pais. Se tivesse fugido com alguém de sangue tão puro quanto o seu, com certeza sua realidade seria bem diferente.

E seu rosto não teria sido queimado da árvore genealógica. Ao menos, não estava sozinha; seu tão amado primo Sirius já tinha dado o sabor amargo do desgosto à família sendo selecionado para a Grifinória aos onze anos. Sempre achou que aquilo, de ser excluída da tal árvore, como se jamais tivesse existido, era a pior coisa que poderia acontecer. Mas, mais uma vez, estava errada; era uma sensação quase de alívio não ser mais ligada aos Black.

×××

De tudo que fora ensinada, pouca parte era relacionada a afeto, amor, atenção ou qualquer outro sentimento positivo. Não tivera as melhores pessoas em quem se espelhar para ser afetuosa, mas, em sua própria maneira, conseguiu aprender a desenvolver algum carinho pelos outros — embora, diferente do que imaginava, não fosse tão correspondida assim; ao menos sua irmã mais nova conseguia demonstrar um pouco de reciprocidade.

Contudo, nada do que tinha aprendido sozinha comparava-se ao que sentiu assim que soube que estava grávida. Não tinha aprendido qualquer palavra que pudesse descrever a sensação de mais pura felicidade e contemplação que teve ao saber que era totalmente responsável por outra vida além da sua. E era bom, era muito bom, muito melhor do que uns abraços frios e boa noite, irmã sem um sentimento real por trás.

E, no momento em que viu sua filha pela primeira vez, soube que tinha valido a pena todo o caminho nada glorioso que percorreu até ali. Ver aquela criança, que era tão dependente dela quanto fosse possível, a fazia entender que às vezes uma jornada tortuosa como a que teve levava algum tempo até ser recompensada — e, naquele caso em particular, a recompensa não poderia ser melhor.

Andromeda passava tanto tempo perdida dentro de sua bolha de maternidade, que levou algum tempo até perceber que Voldemort tivera sua ascensão junto de alguns seguidores, entre eles uma em particular que Andromeda conhecia bem demais. Sempre soube da inclinação da família às Artes das Trevas, mas não imaginava ver suas irmãs como Comensais — apesar de apenas uma ter a tal Marca Negra no braço.

Dentre os outros, esse com certeza tinha sido um dos motivos que a fizeram abrir mão de tudo que o nome Black poderia lhe proporcionar. Aquela adoração ao purismo sanguíneo, como se, depois que todos estivessem mortos, isso ainda valesse de alguma coisa, era absurdo; além, claro, da propensão a aniquilar qualquer um que discordasse de sua opinião, característica que quase todos seus familiares compartilhavam.

Ela sempre preferiu ficar de fora, manter-se isolada quando conflitos eram instalados dentro de casa. Agora, que estava finalmente longe de tudo aquilo, de verdade, conseguia se contentar em apenas saber das notícias e esperar que não reconhecesse nenhum nome entre as vítimas. Além disso, temia que, alguma hora, alguém batesse à sua porta para matar seu marido.

O medo se sobrepunha ao alívio que sentia. Por um breve segundo, tão breve que não teve a chance de apreciá-lo, imaginou se sentiria tanta aflição caso ainda estivesse com os pais — ou, àquela altura, provavelmente estaria casada com alguém tão influente quanto ela mesma deveria ter sido. Quase todas as noites, enquanto demorava mais do que o normal para dormir, não era incomum vê-la revirar de um lado para o outro na cama, repassando mentalmente que tudo ficaria bem e que a Guerra acabaria antes que ainda mais mal fosse causado a tantas pessoas inocentes.

— Vai ficar tudo bem. Eu estou aqui com você — dizia para seu bebê; era uma criança pequena demais, que não tinha chance alguma de se defender, o que era mais um motivo para que ela se sentisse na mais pura responsabilidade de colocá-la como prioridade no seu ranking de cuidados, até antes de si mesma. — Eu prometo que vai ficar tudo bem — era raro vê-la prometendo alguma coisa, ainda mais para uma criança. Entretanto, dizia aquilo mais para acalmar alguma coisa que a deixava muito mais nervosa do que ela permitia deixar transparecer.

Quando soube que Voldemort tinha sido derrotado — por um bebê, o que, por si só, era muito impressionante —, Andromeda sentiu uma onda de alívio se apossar de todo seu corpo. Mais alívio ainda sentiu ao saber que um número considerável de Comensais tinha sido mandado para Azkaban. E, mesmo que sua irmã estivesse entre eles, isso significava que, a priori, a paz estava novamente instalada no mundo bruxo.

Os anos que se seguiram não poderiam ser mais pacíficos. Ela realizou o desejo de ver a própria filha crescer em uma realidade que não era cercada pelo medo, pavor e pela angústia da presença do Lorde das Trevas — mesmo que achasse o título de Lorde demasiado desnecessário, concordava que não existia melhor nomeação para o bruxo das trevas mais poderoso daquele tempo. Sair às ruas sem temer que um ataque repentino acontecesse era tão prazeroso quanto cerveja amanteigada em um dia frio.

×××

Andromeda não gostava de lidar com a morte, talvez porque nunca tivesse sido ensinada a isso. Não tinha a menor ideia de como deveria agir quando alguém conhecido demais morria, do mesmo jeito que não sabia como agir quando um desconhecido morria. Mas, de forma alguma, isso a impedia de sentir o que podia ser comparado à compaixão àqueles que perdiam alguém.

Quando soube que seu primo Sirius estava morto, pela varinha da sua própria irmã, ela quis que alguém sentisse tal compaixão. De todos os Black, de todos os primos, ele era o único que poderia entendê-la um pouco mais. Afinal, também era um renegado, um rebelde, um maldito traidor do sangue, e tinha sido tudo isso muito antes que ela também fosse. Durante sua adolescência, quando tinha crises existenciais, ele era o único capaz de acalmá-la e isso era algo que ela prezava muito.

Doeu ainda mais saber que, mesmo que fosse alguém da família, sangue do mesmo sangue, do mais puro que existia, seus tios não pareciam se importar com a perda de um filho. Ela foi a que mais sofreu a morte dele, e talvez devesse ser assim desde o início; desde a infância, quando eles eram os melhores amigos que poderiam ter e falavam sobre tudo sem medo de que julgamentos familiares acontecessem. Agora, ela sentia que estava um pouco mais sozinha no mundo.

A partir desse dia, a morte pareceu rodeá-la. Cada vez mais, pessoas próximas ou conhecidas morriam. E tudo isso culminava em apenas uma coisa; uma terrível, odiosa e completamente não esperada coisa: o retorno de Voldemort. Toda sua busca por um mundo puro, sua sede de sangue e o elitismo exacerbado voltava a colocar um fim em vidas inocentes.

Mais uma vez, ela passou a temer pelas pessoas que mais amava no mundo. O pavor que sentia, assim como todas as outras pessoas que poderiam se sentir minimamente ameaçadas, era muito maior naquela vez, absurdamente maior do que a primeira ascensão de Voldemort. Não era incomum ver famílias trancadas dentro de casa o dia todo e evitar fazer qualquer coisa na rua para não encontrar Comensais pelo caminho. Eles estavam em toda parte, e não existia qualquer coisa que pudesse avisar sua presença.

No entanto, se nada a tinha preparado para perder o primo, certamente nada jamais a tinha preparado para perder o marido. Era uma dor que não podia ser descrita em palavras, porque não existia palavra alguma capaz de categorizar o que ela sentia. Perdê-lo era quase como perder o motivo que a fizera abrir mão de tudo o que conhecia, de todo o conforto e luxo de uma vida garantida entre a mais alta sociedade, de uma vida infeliz.

Se, em todo aquele tempo, ela falhara em descrever Ted Tonks, aquela parecia uma boa hora para finalmente ser capaz de fazer isso. Ele tinha sido sua felicidade, naqueles anos todos, nos altos e baixos, nos momentos bons e ruins, ele tinha sido a mais pura representação do que a acalmava, do que a fazia fugir da realidade não muito agradável. E ela não sabia como lidar com a ausência e a falta que ele fazia. Seu marido tinha ido embora e deixado uma saudade imensurável para trás.

Ela nunca tinha sido a primeira em nada na vida, essa era a posição e função de sua irmã mais velha, jamais a sua. Com o tempo, e muitas ocasiões sendo sempre a segunda — desde que nascera e até que morresse —, acabou se acostumando. Se, por acaso, acabasse por ser a primeira em alguma coisa, qualquer coisa, provavelmente não saberia como reagir.

E, depois de alguns anos, a hora em que ela seria a primeira em algo tinha chegado. Não precisava ser alguma coisa boa — e, de fato não era —, bastava apenas que a colocasse em primeiro lugar. Ao menos, era isso que a Andromeda criança pensava; a sua versão incompreendida, que não entendia o porquê de continuar sempre atrás de alguém, que queria estar à frente independente de tudo.

Mas, sua versão adulta, esposa, mãe e muito mais vívida estava odiando ser a primeira naquela hora. Bem ou mal, o momento que sempre quis, desde a infância, estava diante de seus olhos e era a última coisa com a qual ela queria lidar. Nunca desejou tanto, com tanta vontade, com tanta força, com tanto esforço, que sua irmã fosse a primeira de novo. Seria tão melhor para todos se a outra estivesse em primeiro lugar mais uma vez, afinal, esse era o normal, o certo, o esperado.

De novo, suas vontades não eram atendidas e, embora ela estivesse acostumada com isso, quis que, daquela vez, fosse diferente. Não entendia porque precisava ser seu marido, e não o de outra pessoa qualquer, porque precisava ser a sua nova e melhor família a ser destruída, e não alguma outra que já estivesse se destruindo aos poucos, como os Black — que vinham se destruindo há anos, pouco a pouco.

Andromeda Black — como há muito tempo já não era chamada — finalmente tinha a sua chance de ser a primeira em alguma coisa.

Andromeda tinha sido a primeira das Black a ficar viúva.


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Notas finais do capítulo

até o próximo (que já é o último pq a fic é bem curtinha hahaha)
bjs