Ana e Marcos... E Maria. escrita por Woodsday


Capítulo 1
Ana, Marcos e Maria.




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Ana e Marcos. Marcos e Ana.

Sempre foi assim, pelo menos desde que eles se lembravam. Naquela ensolarada tarde de segunda-feira, na caixa de areia do parque infantil do ensino pré, Marcos conheceu Ana. 

Acanhada, confusa e amedrontada, Ana era o oposto de Marcos. E na verdade, foi assim por muitos anos. Sempre que Ana tinha um problema, corria para casa de Marcos — que à propósito, era ao lado da sua — e sempre que Marcos tinha um problema corria para a casa de Ana. Os pais de Ana eram os de Marcos e os de Marcos também eram os de Ana.

Aos sete anos, ambos deram seu primeiro beijo — um selinho curioso e confuso, que só fizeram porque os adultos faziam — e obviamente não significou muita coisa (mas iria significar, mais tarde).

Quando tinham nove anos, Marcos e Ana foram pela primeira vez ao circo. 

Marcos se lembrava muito bem do rosto de Ana, colorindo-se em alegria ao ver tantas cores e tantos sons diferentes, lembrava-se também de achar tudo muito bonito, mas a coisa mais bonita daquele lugar era Ana. 

Sua Ana.

Naquele dia, com só nove anos de idade e pensando que as meninas eram a coisa mais chata do mundo, Marcos pensou que se um dia tivesse que se casar com uma menina, ele queria se casar com Ana. 

Mais tarde, aos quatorze, quando Marcos havia se esquecido parcialmente de que Ana era uma menina e passou a se interessar por outras meninas, a amizade veio a diminuir. Ana não o entendia em absolutamente nada e frequentemente brigavam por causa de suas outras amigas, Marcos sabia que estava pisando na bola com a melhor amiga, mas seus hormônios adolescentes não o deixavam pensar muito bem. É por isso que ele ficava feliz por Ana ser tão boa e não tê-lo virado às costas.

Uma coisa sobre Ana, é que ela tinha muita paciência com ele.

Claro que Marcos surtou quando aos dezesseis, Ana começou a namorar. Ele se recusava a se quer lembrar o nome do garoto de pernas finas e mãos bobas que estava sempre rodeando Ana como um urubu, ficava realmente mau humorado quando Ana resolvia citar seu primeiro e doce namorado durante os jantares.

Claro que Ana fazia questão de ressaltar o quão engraçado fora Marcos expulsar o rapaz de calças na mão quando espiou pela janela e os viu em uma situação intima demais para o seu gosto. Ana na época, ficou furiosa, mas agora achou o ciúmes do melhor amigo muito bem vindo. Pois foi nesse dia, que Marcos viu que não queria ninguém tocando em Ana e só de pensar em outro homem fazendo coisas com ela... Bem, ele ficava realmente furioso.

E foi nesse dia, no aniversário de dezessete anos de Ana que Marcos a beijou. 

E Ana não tinha notado que até aquele dia, que nunca tinha sido beijada de verdade. Porque Marcos sempre a beijava como se precisasse dela e como se só o fato de Ana existir, fosse bom o bastante para ele.

Depois disso, foram outra vez Ana e Marcos. Marcos e Ana. 

As desavenças foram terríveis e as brigas constantes, principalmente quando Ana queria estudar em Minas e Marcos em São Paulo, mas por fim, o amor que sentiam desde a infância venceu e ambos foram parar no Rio. Aprenderam a lidar com cabelos no chão do banheiro e toalhas molhadas em cima da cama e aproveitaram noites quentes no calçadão ou as frias, enrolados em cobertores observando o Cristo brilhar lá de longe.

Marcos nunca acreditou em metade da laranja ou almas gêmeas e todas essas baboseiras românticas dos filmes, mas sempre que observava Ana dormir e resmungar coisas sobre séries ou até mesmo brigar com ele pelos chinelos estarem jogados, ele percebia que havia sido um dos escolhidos.

Provavelmente poucas pessoas tinham essa chance na vida, de conhecer alguém que te conheça exatamente da mesma forma de volta e ainda mais ter essa pessoa para si. Marcos não entendia muito bem como poderia ter sido sua vida sem Ana, mas imaginou que não teria tanto riso ou tanto carinho. E talvez ele tivesse ido por caminhos terríveis se não fossem os sábios conselhos de sua esposa.

Agora percebia que fora abençoado, provavelmente, Deus achou que ele era merecedor de uma coisa tão grandiosa quanto esta e o entregou tal presente.

Agora: Presentes.

Observou emocionado Ana cantarolar para o pequeno embrulho em seus braços e sorriu ao vê-la se emocionar também. Estavam no quarto novo, da casa nova. Era verdade que ele quase enlouqueceu com as mudanças e a gravidez e todas as demais coisas que vem depois do casamento. Como se o casamento por si só já não o tivesse enlouquecido.

Mas valeu a pena.

Nunca uma coisa em sua vida havia valido tanto a pena quanto observar Ana carregar no colo a pequena Maria.

Porque agora já não eram mais Marcos e Ana.

Eram Marcos, Ana e Maria.


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