Karen chega no local combinado. Uma praia deslumbrante, com um calçadão lindo e cheia de palmeiras. Esta usando um vestido floral até o joelho e sapatilhas bege, e ao se aproximar de um quiosque avista Joseph.

Joseph está sentado num banco debruçado no balcão do quiosque. De bermuda, blusa polo e chinelo, está  nervoso e olha para os lados o tempo todo, até olha para trás e vê lá.

Os dois ficam parados, se olhando por alguns instantes.

Joseph se aproxima de Karen, com lágrimas nos olhos. Karen, também com seus olhos cheio de lágrimas, encara o.

—Por quê não me disse antes?—pergunta enquanto lágrimas rolam do seu rosto.

—Então você já sabe...

—Abraham não me contou, eu descobri por acidente.

Joseph demonstra o quanto ele quer abraça lá, beija lá e dizer que sempre a amou e sentiu muito a sua falta. Mas Karen não da o braço a torcer.

—Karen, eu...

— Tem muito o que explicar.

Joseph, fica constrangido ao perceber a indelicadeza de Karen num momento tão delicado.

—Que tal sentarmos no calçadão da praia? Admirando a paisagem que tanto nos faz lembrar de casa.

—Sim.

Karen demonstra uma frieza que assusta Joseph, pois ela não era assim no hospital,  e nem antes de serem sequestrados.

Os dois sentam no calçadão da praia, com o vento dando um toque final na bela paisagem.

— Está linda com esse vestido e esse corte de cabelo.

—Obrigada.

—Desculpa mas, achei que estaria feliz em me ver. Faz 11 anos que não nós vemos e...

—Eu estou feliz. Apenas  fui treinada a não demonstrar meus sentimentos.  — Karen enquanto olha para o mar.

—Treinada?

Karen respira fundo.

—Fiz muita coisa errada nessa vida Joseph... Muita coisa...

—O que aconteceu com você nesses últimos 11 anos?

Com ar de aflição, começa a contar tudo, absolutamente tudo que aconteceu desde o último dia que se viram.

Flashback modo on

Naquele dia, que o ancião nos reuniu. Meu irmão estava em casa cuidando dos meus pais, eles estavam muito debilitados.

Quando o ancião terminou de nos avisar que naquela madrugada iríamos pro lado sul da ilha, pois muitos já haviam morrido pelo calor. Fui para casa levar mais água para eles.

Lembro me que, no caminho, você veio me perguntar como estava os meus pais, e que estava indo de casa em casa ajudando as pessoas.

Quando cheguei perto da minha casa. Ouvi os gritos de Abraham, sai correndo e, quando cheguei em casa. Abraham, ainda um menino, estava desesperado chamando pela mamãe.

—Madre! Madre! Acuerda.

—O que aconteceu?

—Ella não acuerda.

—Mãe, mãe!  Abraham, como está nosso padre?

—Está dormindo.

—A nossa mãe não quer acordar. Deve estar cansada.

Eu sabia que eles não estavam dormindo... Mais não podia dizer a verdade para o meu irmão. Não naquela hora.

Anoiteceu, e meus pais estavam gelados. Abraham estava exausto e acabou dormindo debruçado no corpo da minha mãe. Eu tinha feito uma trouxa de roupa. Estava pronta para ir embora. Peguei Abraham no colo, nossas coisas e fui até o ponto que o ancião tinha combinado mas eles já tinham ido. Foi quando te vi no chão e fui correndo te socorrer.

Eu tentei te levantar, mas você não deixou

—Karen, Karen por favor. Está ficando mais  quente. Vai com seu irmão, ainda da 

tempo de alcança los.

—Eu não vou te deixar aqui...

—Vai sim, eu alcanço vocês...

—Por favor... Não me deixe...

Eu dei um selinho em você, foi tão bonito, e tão triste.

—Não vai ser há  ultima vez que iremos nos ver Joseph. Eu prometo...

Fim do flashback.

—E realmente não foi..

—Eu não chorei pela morte dos meus pais. Não enterrei eles. E nem fizemos cerimónia. —lamenta Karen, em lágrimas.

—Eu não sabia da morte deles... Eu sinto muito.

Naquele momento, aquela mulher fria, deu lugar a uma menina. Cheia de feridas e traumas.

Flashback modo on

Fui com Abraham no colo até acha los. Todos estavam dormindo no final da floresta. Quando eu começava a dormir, ouvi gritos bem de longe. Acordei e andei um pouco. Vi toda a tribo destruída, em chamas. Quando pensei em voltar e avisar a todos, tinha um cara ruivo, gordo e alto com uma arma apontada para minha cabeça. Nunca tinha visto uma arma. Atrás dele tinham mais 2.

Implorei para que não matassem nem a mim e nem a meu irmão .

—Por favor não me matem, meu irmão precisa de mim. Nossos pais acabaram de morrer.

Aquele homem horroroso, apenas ameaçou apertar o gatilho da arma, que estava apontada para minha testa. E um dos homens que estavam atrás daquele homem que estava com a arma apontada na minha cabeça, pega uma faca,se agacha e coloca a faca bem perto do pescoço do meu irmão. Me deixando desesperada. Não queria ver mais uma morte.

—Fazem o que quiser comigo, mas não machuquem meu irmão.

Era tudo o que eles queriam ouvir.

O homem tira a arma da minha cabeça, o outro a faca do pescoço do meu irmão.

—Então você vai pegar o seu irmãozinho querido e vir com a gente.

Mau sabia eu, que estava indo em direção ao inferno.

Todos que estavam lá, dormindo, morreram. Inclusive o ancião, e aqueles piratas roubaram tudo que conseguiram e depois queimaram tudo e todos.

Todos os índios da ilha das malvinas morreram, se não foi pela onda de calor, foi pelos piratas.

Obedeci aqueles "navegadores", era como exigiam ser chamados. Peguei meu irmão,  que ainda dormia, expliquei a ele que achei ajuda e que iriamos embora. Peguei o no colo e fui levada até o navio deles.