Já em casa, Grissom não conseguia parar de pensar em sua noite. Tinha ido muito mais longe do que qualquer um de seus sonhos. Dançar com Sara, cortejá-la, mesmo que sem poder, a noite toda havia sido uma ótima injeção de bom humor. Sentia-se adolescente novamente, excitado frente a uma nova paixão. Tomado pelo impulso pegou seu celular. Sara sempre lhe dera a entender que o desejava. Digitou o número da moça, o qual sabia de cor.

                Mas hesitou. O que falaria caso ela atendesse¿ Não fazia ideia do que falar. Não deveria sentir-se tão incapaz. Era um homem formado. E como Sara os havia acompanhado até a boate, havia tirado de vez da sua mente as suspeitas de Catherine com relação à colega. Eram somente um homem e uma mulher. Precisava ter coragem. Respirou fundo, posicionou seu polegar sobre a tecla de discagem, fechou os olhos fortemente e apertou a tecla sem pensar duas vezes.

               Mas a ligação chamou uma, duas, três, dez vezes e nada. Sara normalmente atenderia no terceiro toque. Seu celular estava sempre com ela. Ligou uma vez mais. E outra, e outra e mais outra. Caixa postal em todas. Começou a se preocupar. Discou o número de Catherine.

— Catherine? - atendeu a loira com a voz sonolenta. De certo estava dormindo.

— Oi, Cath! É o Gil... – identificou-se. – Temos um problema!

— O que houve? – Catherine se sentou rapidamente na cama.

— É a Sara... Acabamos de sair da boate. E ela não atende o telefone. – ocultou as verdadeiras intenções de sua ligação à sua subordinada.

— Gil, já sabe de minhas desconfianças quanto à Sara, não é?! – mais afirmando que perguntando.

— Cath, você realmente acredita que Sara esteja matando alguém nesse momento? - o perito foi ao ponto.

— Não sei, Gil. – não queria desconfiar da amiga, mas tudo levava a ela. – Já tentou rastrear o carro ou o celular dela?

— Boa ideia, Cath! Obrigado! – e desligou, deixando Catherine absorta em pensamentos.

                Foi até o laboratório e falou com Archie. Precisava saber onde ela estava. E, à essa altura, começava a desconfiar dela e de suas ações.

                Reuniu um grupo de policiais e distribuiu a foto da perita, à essa altura, dada como desaparecida. Ficou com uma foto para si. Não que precisasse. Conhecia cada detalhe daquele rosto. Mas porque se sentia mais perto dela dessa forma.

— Grissom? - Archie o chamou enquanto passava pelo corredor. – Encontrei o carro da Sara.

— Onde? - perguntou o entomologista.

— Na boate em que estavam. Boulevard! – olhou para Grissom.

— Ela nunca saiu de lá! – disse mais para si mesmo que para Archie.

— Não! – ele concordou mesmo assim. – Mas tem uma coisa mais estranha. – analisou uma tela que piscava no computador.

— O que? - nem deu tempo para Archie respirar.

— Já mandei os policiais e peritos para a boate para periciar o carro. Mas... – e foi interrompido.

— Mas o que, Archie? - Grissom estava impaciente.

— O celular dela está mandando sinal de Henderson. Próximo ao deserto.

— Já mandou alguém para lá?

— Não. Acabo de achar o sinal e... – mas Grissom o interrompeu novamente.

— Preciso do endereço, Archie! Agora!

— Claro. – escreveu-o rapidamente num pedaço de papel.

— Obrigado! – e se virou para sair. – Contate Brass e lhe mande esse endereço. Diga a ele que já estou a caminho. – disse da porta.

               Entrou no seu carro correndo e atravessou as ruas de Vegas como um raio. Parou no sinaleiro. Por que os sinaleiros demoravam tanto para abrir quando se estava com pressa? Respirou fundo. Tinha que ser racional. Pegou a foto de Sara. Olhou bem para a imagem. Fixou seus olhos nos olhos da moça na fotografia. E, de repente, um pensamento em sua mente. Pegou o endereço que Archie lhe dera e pousou sobre a foto. Soltou a foto e levou ambas mãos à cabeça. Não podia ser. O sinal abrira, mas Grissom não estava prestando atenção. Carros buzinavam atrás de sua Denalli, mas o som estrondoso lhe era alheio. A conclusão que chegara era muito mais perturbadora.

               A foto pousada sobre seu colo com endereço que Archie lhe dera cobrindo nariz e boca da imagem da perita. Aqueles olhos...

               Sara não era a assassina. Era a vítima!