Quem vai ficar com Teddy? escrita por Bianca Lupin Black


Capítulo 3
A rotina




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O despertador tocou, recebendo um soco de Harry. Ele virou de lado e resmungou, se arrastando para fora da cama, trocou de roupas, colocou os óculos e desceu para o café na cozinha, onde Malfoy discutia com Monstro para que deixasse Teddy em paz. Assim que Harry encostou o pé no batente, o elfo abaixou a cabeça e saiu.

—Obrigado – disse Malfoy, encaixando Teddy na cadeira alta.

—Por nada – Harry se serviu de café de torrada. - Você é mestre dele agora. Lembre-o disso quantas vezes for necessário.

Teddy riu, mostrando os dentinhos brancos para o padrinho, que lhe deu um beijo antes de sair.

—Tenha um bom dia – disse Harry a Malfoy.

—Você também.

Draco

—Tenha um bom dia – disse Potter com um sorrisinho.

—Você também – Draco respondeu. De verdade? Por educação? Bah, era tudo o mesmo.

Teddy soltou uma gargalhada que fez a sobrancelha de Draco se arquear.

—Não olhe assim para mim, garoto. Não é como se eu estivesse apaixonado por ele.

Teddy riu de novo, com despeito. Draco levantou os olhos para o relógio, sete e quarenta. Astoria chegaria às oito, tinha vinte minutos a sós com o menino. Limpou o rosto sujo de maçã amassada do priminho.

—Draco? Você gosta do padin?

Padin? O Potter? - o menino assentiu. - Ele tem olhos bonitos.

—Olhos bonitos… - Teddy ecoou, como se refletisse. - Draco tem olhos bonitos.

Ele teria corado com o elogio, se não viesse de Teddy. Fez menção de levantar e tirar os pratos, mas não havia pratos para serem tirados. Monstro já os levara. Uma das vantagens de voltar para uma casa com elfos domésticos, pensou satisfeito.

O menininho ergueu os braços, pedindo para sair da cadeira. Draco atendeu o desejo, deixando-o explorar a sala de refeições. Ele caminhava entre os armários velhos, fascinado. Não que houvesse algo de empolgante em móveis de mogno e carvalho com o triplo da idade de ambos somada.

A campainha tocou e Monstro foi abrir a porta. Draco suspirou aliviado. Astoria chegara, Draco estava tão grato que poderia beijá-la. E beijaria, se não fosse homossexual. Segundo o que ele acreditava, sua opção sexual foi mais um motivo para Lucius expulsá-lo, mas ele não podia negar que morando só tinha total liberdade de levar seus amantes à sua casa.

Amantes, nunca namorados, porque Draco Malfoy ia de um relacionamento a outro como mudava de emprego ou endereço.

Talvez não pudesse levar ninguém para dormir em Grimmauld Place a não ser que ele e Potter se acordassem quanto a isso – mas por ora, discutir seus hábitos sexuais com Potter estava fora de questão – então teria de dar um jeito, como sempre.

—Bom dia, Draco – cumprimentou Astoria, sorrindo e o abraçando. - Bela casa.

—Obrigado – Draco relaxou a postura. Mesmo Astoria sendo uma das poucas ligações com seu passado rígido, podia relaxar com ela. - Teddy, esta é minha amiga Astoria, que vai cuidar de você. Tudo bem?

—Oi! - saudou o menino com um grande sorriso. - Tudo.

—Preciso ir, ou Thomas me mata. Obrigado de novo, Astoria.

Ela acenou e se virou para o menino enquanto Draco corria porta afora. Marine Willows o esperava em sua sala, braços cruzados frente ao peito, olhar sisudo que fez um arrepio descer a espinha de Draco. Conferiu o relógio no telefone celular. Oito e dez. Dez minutos de atraso. A carranca de Marine se desfez, dando lugar a um sorriso de canto.

—Me conte tudo – exigiu, rindo e batendo palmas. - Como ele é?

—Ele quem? - Draco colocou suas coisas na mesa. - Não durmo nem falo com Phillip há duas semanas.

—Que Phillip, o quê, rapaz! Falo de Potter. Você mora na casa dele agora, certo?

—Como você sabe?

—Kingsley Shacklebolt – ela piscou – ligou ontem e pediu que fosse liberado do trabalho porque você e Harry Potter tinham de cuidar de um falecimento. Estou curiosa. Você e Potter são parentes? Porque seria uma pena se você não pudesse… oh, Merlim, um homem daqueles… ouvi dizer que ele joga no seu time.

—Calma lá! - ele ergueu as mãos, fazendo com que ela parasse. - Sim, estou na casa dele porque minha tia faleceu e deixou o neto conosco. Sobre ele “jogar no meu time” - fez aspas com os dedos – não sei e nem quero saber.

—Men-ti-ra – ela riu, tocando a ponta do nariz dele a cada sílaba. - Estou vendo seu nariz crescer. Está nos seus olhos. Quer saber se ele se interessaria por você.

Draco revirou os olhos. Marine era a melhor amiga que poderia pedir, e apesar de serem colegas de trabalho apenas há quatro meses, ela o conhecia como a palma da mão.

—Sua cor favorita é verde, e os olhos dele são verdes.

—Não tem nada a ver! - ele protestou.

Marine riu, mas foi interrompida pela entrada de Thomas Bonne, o chefe deles, com pastas debaixo do braço, que jogou na mesa com um estrondo.

—Bem vindo de volta, Malfoy – disse, mal humorado. - Tenho algumas coisas para você. Artigos de esportes e uma matéria de capa.

Draco e Marine estarreceram. Para todos os efeitos, Draco era novato, e novatos não recebiam matérias de capa tão cedo. Apesar de se julgar bom escritor, não sabia se estava pronto para escrever a matéria da próxima capa.

—Sobre o quê? - perguntou.

—Você e Harry Potter, é claro. Somos a única revista que pode escrever com detalhes, exclusividade e em primeira mão, graças a você. Quero isso pronto para diagramação na segunda à tarde.

Draco fez as contas. A partir daquele dia, tinha seis dias para finalizar a matéria.

—Eles estão morando juntos há um dia – interpelou Marine. - Não tem história o bastante para uma capa.

—Isso é problema dele, Willows. Até onde eu sei, você tem seus próprios artigos para escrever. Ao trabalho!

Marine encolheu os ombros e deixou a sala. Draco olhou ressentido para a pilha de coisas a fazer. Os artigos de esportes até que eram legais, incluíam quadribol, futebol e outros jogos trouxas, fora que assistir finais em estádios era parte do trabalho. Agora, a matéria de capa o incomodava.

Lucius ensinou-o desde o berço a evitar publicidade desnecessária e se lembrava bem demais da época em que Lucius, condenado a Azkaban, foi alvo de milhões de jornalistas, que não paravam de fotografar a família e escrever matérias. Quando aceitou a vaga de colunista, imediatamente pensou nos repórteres do Profeta Diário. Não seria como eles. Se manteria tão longe quanto pudesse da sessão de fofocas, bruxas ou trouxas.

E agora, essa oportunidade caiu em seu colo. Precisava de dinheiro? Mais ou menos. Podia vender seu apartamento, já que estava definitivamente instalado na casa de Potter. Eu podia tentar uma promoção agora, pensou. Tenho uma casa fixa cujo dono não pode me expulsar e ainda me declarou senhor de seu elfo.

A matéria poderia alavancar sua carreira, ainda mais tendo a vantagem de ser um dos protagonistas da história. Ninguém teria seu ponto de vista nem seus detalhes. A matéria que escreveria seria a melhor, e ele nem começara. Ha ha. Mas Marine tinha razão. Um dia não tava sustância para a matéria. Começou pelos artigos de quadribol e baseball.

E assim foi, por manhã e tarde a fio.

 

Harry

Aparatou no Ministério, pegou o elevador para seu escritório, sentou na cadeira, tomou um gole de café e respirou fundo. Tudo estava em seu lugar, como sempre. Estava tudo certo, nada anormal o esperava fora de seu local de trabalho. Harry se sentia confortável assim, mas durou pouco, até que Ron invadiu a sala, exclamando:

—Graças a Merlim você está vivo! Malfoy não te matou.

Harry revirou os olhos. Isso estava normal, apesar de tudo. Ron continuava exagerado, como desde a infância.

—Ele não faz mais esse tipo de coisa, Ron. Nunca fez, na verdade.

Ron não pareceu convencido. A Marca Negra não desaparecia, afinal. E nem a mentalidade sangue-puro que o fizera passar por maus bocados. Mas ele só estava preocupado com Harry e Teddy. Eles eram bons demais para serem maltratados por Malfoy. Por fim, o ruivo deu de ombros e se retirou.

Harry olhou para a pilha deixada por Jackson com um bilhete colado: Pense bem, amigo. Bufou, mas achou graça daquilo. Começou o trabalho, se deparando com uma convocação em especial. Kingsley o escolhera para ir à Hogwarts e selecionar alguns setimanistas para se juntarem à equipe depois da formatura, para isso, teria de viajar no dia seguinte.

Ele já participara disso antes, mas não como olheiro principal, apenas como assistente, o processo levava de uma a duas semanas. Era a chance de uma promoção no departamento, algo que não aparecia sempre. Se tivesse me mandado isso uma semana atrás, pensou Harry, com um pouco de tristeza, eu teria feito as malas na hora, mas agora…

Seus olhos hesitaram para o telefone. Há uma ligação de distância estava Hermione, a sua conselheira para todas as horas. Ela certamente saberia o que fazer. Pegou o fone, discou o número e esperou.

Harry? Não podia ter mandado um memorando? Estou no meio de uma reunião!

—Desculpe, Mione, mas é meio urgente. Meu chefe quer que eu vá para Hogwarts fazer a seleção com os setimanistas, mas agora eu tenho Teddy.

Você não sabe se seria certo deixá-lo com Malfoy e quer minha opinião— ela interrompeu, e Harry assentiu. - Certo… pese os prós e os contras com calma e decida, mas converse com Malfoy antes, ok?

—Ok.

Hermione desligou. Ela realmente estava ocupada. Jackson havia-lhe prevenido para pensar bem na proposta. Era uma grande oportunidade para ele, e precisava decidir suas prioridades.

Sua carreira chegara primeiro e ele lutara mais por ela, além de que Malfoy podia ficar sozinho com o menino por um tempo. Pescou o celular no bolso e procurou o contato de Malfoy. Apertou o botão que dizia: “Ligar” e esperou.

—Malfoy – disse à guiza de saudação.

Potter. O que foi?

—Nada demais. Só terei de me ausentar por uma semana ou duas.

Tudo bem. Até daqui uma ou duas semanas então.

Até.

Draco

Potter nem jantou em casa naquele dia. Foi quando Draco descobriu o lado encapetado de seu priminho. Monstro tentou servir bife de dragão, e Teddy gritou e esperneou quando Draco tentou alimentá-lo.

—Qual é o problema? - perguntou, cansado.

—A carne – o menino fez bico.

—Está boa, Teddy. Eu garanto.

—Não! Não! Não!

—Você não come carne? É isso?

—É! Vegela… vegeba… vegesa…

Vegetariano? – Draco palpitou, revirando os olhos. O menino é vegetariano e ninguém me avisa, pensou, lembrando-se que provavelmente Potter sabia disso. - Tudo bem. Monstro! Faça um suflê de brócolis para o menino.

Monstro não demorou a atender e Teddy gostou muito da refeição, para o alívio de Draco. Astoria deixou um bilhete, contando o que fez com Teddy durante o dia, praticamente tudo, exceto pelo banho.

Então ele respirou fundo e mandou Monstro preparar um banho para Teddy. Enquanto o elfo aquecia a água, separava roupa, toalhas e sabonetes, Draco conversava com o menino sobre sua dieta.

—A vovó tinha vacas e coelhinhos. Eu não queria comer eles, então não quero comer nenhum.

—Entendi – Teddy tinha a mentalidade infantil que o deixava tão fofo.

—E ela disse que meu papai e minha mamãe também não comiam carne.

—Você quer ser como eles? – Draco soltou um sorriso. Não conhecia bem Remus e Ninfadora Lupin, mas ouviria dizer que eram boas pessoas.

—Sim, sim, sim. Meu padin disse que a mamãe podia mudar igual eu faço e que o papai lia muito.

—Você gosta de ler?

Teddy mostrou a coleção de livros que trouxera da casa de Andrômeda: Os Contos de Beetle, o Bardo, e outros livros trouxas. Pediu a Draco que lesse uma delas antes de dormir, e ele concordou.

O banho foi uma experiência até que relaxante para ambos. Teddy já passara da fase de se debater e molhar tudo ao redor, agora ele apenas deixava que Draco o banhasse, mudando a cor dos cabelos de acordo com as bolhas que a hidromassagem da banheira fazia e brincava com Debby, o patinho de borracha.

Draco terminou e enrolou o corpinho em uma toalha azul bordada e vestiu-lhe um pijama,

—Hora da história! - o garotinho cobrou.

—Certo, certo – Draco permitiu-se rir, procurando um conto no livro. - Cinderela. Era uma vez…

***

—E fim. Boa noite, Teddy.

—Lê outra!

—Não dá, bebê. O Draco tem que trabalhar.

—Me leva junto.

—Não, é hora de você dormir. Se não dormir, não vai poder brincar com a Astoria amanhã.

—Eu gosto da Astoria.

—E de mim? Você gosta?

—Gosto! – exclamou, estalando um beijo na bochecha de Draco. - O padin não vem me dar boa noite?

—Ele está viajando, T. Mas daqui a pouco ele volta.

—Tá bom. Daqui a pouco, né?

—Daqui a pouco – Draco repetiu, cobrindo o menino com o lençol.


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