OLIMPO

Depois do que ocorreu na sala dos tronos, Zeus voltou para o seu templo fervendo de raiva, não só pela intromissão dos deuses, mas também pela petulância de Ártemis.

A caçadora não arredou pé quando foi ameçada, pelo contrário, ela enfrentou o pai mesmo sabendo que ia pagar por isso, ela estava disposta a se sacrificar por aquele garoto insolente. Ainda teve o atrevimento de lhe dá lição de moral. Quem ela pensa que é?

Tudo isso passava pela cabeça de Zeus, ele andava de um lado para outro nervoso e pensativo.

— Eu preciso dá uma lição naquela garota sem que os outros saibam – resmungou.

Então, resolveu chamar o venti que espionou Nina.

— Quero que siga as caçadoras aonde quer que elas vá – disse -, mas tenha cuidado para não ser percebido por Ártemis. Traga-me notícias, quero saber para onde elas vão e aonde vão ficar.

— Sim meu senhor – disse a criatura e saiu.

No ínterim, o grupo das caçadoras seguia em direção Norte, era como Nina havia dito, elas iriam passar por Bethel, onde provavelmente Reia estava.

— Parece que estamos indo mesmo para Bethel, pai – comentou Nina.

— Tomara, eu gostaria muito de ver a mamãe – disse -, como será que ela está?

— Te garanto que ela está muito bem, pai – disse Nina sorrindo – Eu achei ela parecida com Hera.

— Sim, das minhas três irmãs, Hera é a mais parecida com Reia – disse ele.

— Será que as duas tem o mesmo temperamento? – perguntou Nina. – Porque sério. Hera é um saco.

— Ela ficou assim por causa de Zeus – disse Poseidon rindo -, Hera é uma boa pessoa, o problema é que ela é muito ciumenta e por isso acaba descontando a sua ira nos pobres semideuses.

— Como se todos nós tivéssemos culpa das traições de Zeus.

— Ela tinha mais raiva dos filhos dele.

— Tinha?

— Sim, Hera mudou muito de uns tempos pra cá – disse Poseidon. – Depois que passou a cuidar do Jason, ela olhava os semideuses com outros olhos. Ela se deu conta de que os semideuses não têm culpa de terem nascido.

— Ao mandar Jason para Lupa treiná-lo, ela o transformou num homem de valor, um líder nato – comentou Nina.

— Exatamente, ela concluiu que se moldasse um filho de seu marido à sua vontade, ele seria o homem que ela gostaria que Zeus fosse.

— Um homem fiel – completou Nina. – Ela conseguiu, Jason é fiel e respeitador e um grande líder.

— Sem dúvida, muito diferente do pai – disse Poseidon.

— Thalia também é assim, apesar de ter pavio curto – disse Nina. – Durante a guerra de Cronos, ela quase cedeu à tentação de ter poder. Ela me disse que uma voz dizia a ela para matar o Ofiotauro e ser mais poderosa que o próprio pai. Foi por isso que ela entrou para a caçada. Assim, Cronos não teria mais como manipulá-la.

— Essa era intenção de Cronos em reviver Thalia – disse Poseidon. – Ele queria que, além de você, ela também fizesse parte da profecia. Um de vocês dois iria decidir o destino do Olimpo.

— Como o defeito fatal dos filhos de Zeus é a ânsia pelo poder, ela entrou para a caçada e deixou a decisão para mim.

— Mas no fim quem decidiu foi o filho de Hermes – disse Poseidon.

— Mas eu decidi dar a ele a lâmina maldita e ele acabou com tudo - disse ela de cabeça baixa. – Sabia que ele tinha medo de mim? Ele tentou me matar várias vezes.

— Acho que no fundo ele tinha um pressentimento sobre você – disse Poseidon. – Quando você foi reclamado, ele sabia que os seus dias de líder estavam contados. Um filho de um dos Três Grandes aparecer numa época de guerra era algo para se preocupar.

— Mas eu não tinha a intenção de ser um líder, eu mal sabia segurar uma espada – disse Nina. – E foi justamente Luke quem me ensinou a lutar.

— Nesse caso, a sua chegada foi a desculpa perfeita para ele cair fora e fazer o que tinha que fazer, já que ele não conseguiu te levar para o lado dele – disse Poseidon.

— Fico pensando na senhora Castellan, como será que ela está? – ela se pergunta. – Eu e o Nico fomos lhe fazer uma visita. Ela achava que eu era o Luke e preparava sanduiches de pasta de amendoim. Ela estava louca, vez em quando seus olhos ficavam esquisitos e ela dizia coisas estranhas. O Nico ficou com medo dela.

— Bom, não sei o que aconteceu com ela – disse Poseidon. – Você teria que perguntar a Hermes.

— Talvez quando ele voltar a ser um deus eu pergunte.

— Ele já voltou a ser um deus – disse Poseidon. – Foi ele que me trouxe o pedido de Zeus para ir ao Olimpo.

— Que bom, já estava achando que sua condição fosse permanente.

— De qualquer forma, agora há três deuses mortais.

— Pois é. Eu tô adorando ter você aqui comigo – disse Nina. – Imagine se a mamãe visse você e eu juntos, como será que ela reagiria?

— Surpresa talvez, mas logo ela se daria conta do que aconteceu – disse Poseidon sorrindo – e tentaria agir normalmente como se fosse a coisa mais normal do mundo.

— Essa é a minha mãe – disse Nina sorrindo.

Elas passaram horas andando sem descanso até que Ártemis resolve parar para que todos fizessem uma refeição.

— Vamos parar para comer depois seguiremos em frente – disse a deusa e as meninas se sentaram para descansar e comer.

Nina e Poseidon se juntaram com Thalia e Ártemis e cada um foi comendo a sua ração de viagem e conversavam descontraidamente. Eles nem se davam conta de que estavam sendo seguidos, todo tempo. O venti, mandado por Zeus, estava atento a qualquer coisa que valesse a pena ser relatado ao seu senhor. Ele se misturou à brisa local para não ser percebido pela deusa, seu cheiro de ozônio poderia delatá-lo.

— Temos que chegar antes do anoitecer – disse Ártemis – e montar acampamento.

— Estamos indo para o norte, você pretende passar por Bethel? – perguntou Poseidon.

— Sim, gostaria de falar com Reia. Talvez ela tenha alguma informação importante – disse Ártemis. – Temos que ter cuidado para não chamarmos atenção indevida.

— Se você se refere a monstros, muitas semideusas juntas chamará atenção com certeza – disse Poseidon.

— Não são os monstros que me preocupa – disse a deusa.

— Entendo – disse Poseidon. – Você acha que o Triunvirato nos localizará?

— Depois do fiasco de Nero é bem provável que os outros imperadores ficarão mais espertos – disse ela – não se mostrarão tão fáceis.

— É por isso que você quer falar com Reia, já que foi ela que avisou Apolo? – perguntou Nina.

— Exatamente, talvez ela possa nos falar mais a respeito dos planos do Triunvirato – disse a deusa.

— Vai ser bom revê-la – disse Poseidon.

O venti retirou-se discretamente e voou direto para o Olimpo.

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Zeus estava no parapeito de seu templo olhando para o céu claro quando o venti apareceu. Ele se virou e esperou a criatura se materializar.

— Meu senhor, tenho novidades.

— Diga.

— As caçadoras se dirigem para o norte em direção a Bethel, onde elas acham que Lady Reia se encontra.

— O que elas vão fazer lá?

— Segundo Lady Ártemis, ela acha que Lady Reia pode dar mais informações sobre o Triunvirato. E pelo o que parece pretende acampar por lá.

— Muito bem, continue vigiando.

A criatura faz uma reverência e desaparece.

Zeus volta a contemplar o céu azul e fica pensativo. Talvez fosse melhor deixar o castigo de Ártemis para depois, transformá-la em mortal agora seria um erro. Com a ameaça do Triunvirato pairando o Olimpo seria um grande problema, além do mais, se ela encontrar Reia será de grande proveito, pois ela pode ter informações importantes. Agora, era só aguardar.

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Depois da refeição o grupo parte novamente, dessa vez diretamente para Bethel sem descanso. Chegando lá, elas montam acampamento e Ártemis sai a procura de Reia.

Em seu estúdio, a própria estava cantarolando uma música dos anos 60 enquanto colocava uns vasos pequenos para assar. Seus leões estavam de guarda, pois com o Triunvirato ameaçando qualquer um todo cuidado era pouco.

Aos olhos mortais, os leões eram vistos como gatos comuns, mas para aqueles que podiam ver através da névoa era bem diferente. Reia nunca teve nenhum incidente até agora, mortais iam e vinham à lojinha que ela tinha ao lado do estúdio para comprar seus artesanatos.

Enquanto esperava assar seus vasos, ela pega uma peça e começa a pintar quando batem na porta. Ela franze o cenho, pois seus leões não lhe avisaram da presença de um freguês. Intrigada ela vai até a porta e abre com cautela, pela abertura ela vê uma jovem adolescente ruiva acariciar os leões. Os animais ronronavam com o carinho, ela reconhece a moça e sorri.

— Ora o que temos aqui?

— Olá avó – disse Ártemis com um sorriso.

— Olá minha neta – disse Reia. – Bem-vinda ao meu lar.

— Obrigada – disse Ártemis retribuindo.

— Você está ótima – disse ela – Vi seu irmão, não está com a beleza dos deuses. Zeus pegou pesado com o garoto.

— Pois é, ele quis fazer o mesmo comigo – disse a caçadora. – Só não o fez porque os deuses interferiram.

— O que o meu caçula anda aprontando heim? – ela pergunta.

— Muitas coisas fora do padrão – disse – Além de Apolo, Hera e Poseidon também.

— Oh! – exclamou – Acho que preciso fazer uma visita a Zeus, desde que se tornou o rei que não o vejo.

— Mas não vim falar de Zeus com você. Preciso de informações sobre o Triunvirato. Achei que você podia me ajudar – disse Ártemis.

— Bem, por enquanto eu só sei o que eu disse a Apolo, mas eu estou atenta. Eu informarei qualquer coisa que possa ser útil – disse ela. – Agora me diga, onde estão Hera e Poseidon?

— Hera está no Alasca e Poseidon está no meu acampamento ao lado do filho – disse a caçadora.

— Cara, isso foi radical – disse Reia – Zeus meteu os pés pelas mãos. Por que ele fez isso?

— Bom, Hera por ter revelado os dois acampamentos sem o consultar causando a confusão de personalidade em nós e Poseidon por ter escondido o paradeiro de Percy.

— Bem, Zeus nunca gostou de ser contrariado. Acho que mimei demais esse garoto, desde pequeno ele sempre foi mandão e vingativo.

— Por isso, ele transformou os dois em mortais. Eu teria o mesmo destino se não fosse Hades ter interferido.

— O meu menino das sombras fez isso? – ela pergunta sorrindo. – Ah, como estou com saudades dele.

— Poseidon quer vê-la, se quiser eu o trago aqui – disse Ártemis.

— Não, eu irei com você – disse Reia – Ah, como eu quero apertar as bochechas do meu garoto do mar.

As duas deusas aparecem no acampamento onde as caçadoras e Poseidon estavam jantando.

— Meninas, temos visita – disse Ártemis chamando a atenção de todos.

As meninas olham na direção da deusa e notam a presença de uma mulher vestida com roupas coloridas e uma bandana na cabeça.

Nina foi a primeira a reconhecê-la.

— Reia!

— Mãe! – disse Poseidon se levantando.

— Olá filho – disse a mulher. – Venha dá um abraço na sua mãe.

Poseidon vai até a mãe e a abraça. Reia beija o topo da cabeça do filho.

— Ah meu filho danadinho – disse ela. – Deixe-me vê-lo melhor.

Ela olha para ele da cabeça aos pés.

— Você está lindo como sempre apesar de não sentir nenhum poder em você – disse ela.

— A culpa é do seu filho favorito, aquele cabeça de vento – disse Poseidon e um trovão ecoou.

Ele bufa.

— Não diga que Zeus é meu favorito, isso não é verdade. Eu amo todos os meus filhos sem distinção.

— Tá né – disse ele.

— Oh, não fique assim, pelo menos você ficou com sua verdadeira aparência de adolescente – disse ela acariciando o rosto dele. – E cadê a sua filha linda?

— Nina! – chamou Poseidon.

Nina se levanta e se aproxima.

— Olá querida – disse Reia. – Você está cada vez mais linda.

— Obrigada senhora – disse Nina com um sorriso.

— Oh não precisa dessa formalidade, você é minha netinha querida – disse a titã.

— Ah, quanto a isso – disse Poseidon olhando para Ártemis. – Você não contou a ela?

— Não, mas se quiser contar vai em frente.

— Contar o quê? – perguntou a titã olhando de um para outro.

— É sobre mim – disse Nina. – Eu não sou bem uma garota.

— Como é?

— A Nina na verdade é o meu filho Percy, você já deve ter ouvido falar dele.

— Sim, o garoto que derrotou aquele sacripanta do seu pai – disse ela olhando para Nina. – Então você é o cara, que barato!

Nina sorri.

— Então, por que a forma de mina?

— Advinha.

— Zeus – disse ela suspirando. – Motivo?

— Ele me considera perigoso porque.... eu matei uma deusa no Tártaro.

— Pela guitarra de Jimmy Hendrix! – exclamou a titã. – Caraca, meu!

— Ele me baniu dos dois acampamentos e proibiu que deuses e semideuses me ajudassem.

— Eu propus a Percy que entrasse pra caçada, mas que em troca se tornasse uma de minhas servas. E eis Nina Johnson – disse ela apontando para a mesma.

— Uau! Isso foi demais! – disse ela admirada. – Menina, você foi dez.

— Obrigada, mas Zeus acabou descobrindo e está muito zangado – disse a caçadora.

— Me transformou em mortal por tê-lo enganado e me mandou para um beco onde dois delinquentes quase me mataram.

— Oh! – disse a titã com a mão no peito.

— Ártemis e Nina me salvaram.

— Coitado do meu filho! Que bom que vocês dois estão a salvo, mas e quanto a Hera sozinha no Alasca.

— Não se preocupe com Lady Hera. Eu pedi a Árion que fosse vê-la, ele me disse que ela está bem e mandou dizer que se Zeus quiser que ela volte ele que vá buscá-la.

— Típico de Hera – disse Reia rindo. – Bem, crianças eu sinto muito por vocês. Espero que Zeus volte à razão e se concentre no que é mais importante.

— Espero que ele não resolva voltar atrás quando for tarde demais – disse Poseidon.

— É, com o Triunvirato é melhor não vacilar, esses imperadores são muito espertos – disse a titã. – Bem, crianças preciso voltar, deixei meus vasos no forno se passar do ponto eles quebram.

— Vê se não some né mãe – disse Poseidon.

— Essa cidade é o meu refúgio, você pode vir aqui quando quiser.

— Pode deixar, eu venho almoçar com a senhora.

— Eu deixei de comer carne, falou?

— Já imagino por quê.

— Isso aí. Boa jornada pra vocês – ela disse sumindo deixando um aroma de incenso.

Os três voltam para perto das meninas.