Caçadora Pelas Circunstâncias escrita por Cris de Leão


Capítulo 50
Cap.50 - Doce Despedida




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ALASCA

Quando Hera retorna ao Alasca Despina a estava esperando.

— Então, como foi a sua visita ao acampamento?

— Discreta – disse Hera se sentando. – Quiron me contou os acontecimentos desde a ida de Apolo para lá. Agora Hermes virou mortal por culpa de Zeus.

— O que houve dessa vez?

— Zeus e Poseidon brigaram por causa de Nina e quando ele jogou seu raio acabou acertando acidentalmente o trono de Hermes o destruindo.

— E por isso ele virou mortal – disse Despina pensativa.

Hera pôde notar que a sobrinha parecia desapontada quando falou que Hermes virou mortal ao invés de Poseidon, se o pai tivesse sido atingido pelo raio ela ficaria exultante.

— Ele está sendo cuidado pelos filhos no acampamento – disse Hera. – Nero mandou uma estátua gigante para atacar o acampamento causando algumas destruições.

— Houve muitos danos?

— O pavilhão de refeições e... o chalé de Deméter.

Despina olhou para a tia, mas Hera não detectou nenhuma expressão relevante no rosto da sobrinha.

— Houve alguma baixa?

— Não, mas a maioria ficou doente porque Apolo encantou uma flecha com gripe do feno para atingir a estátua – disse -, funcionou, mas em compensação a doença se espalhou por todo o acampamento.

— Parece que Apolo, mesmo mortal se tornou um herói – disse ela sorrindo.

— Ele está se adaptando à vida mortal – disse Hera.

— Você disse que também estava se adaptando tia – comentou Despina – você poderia continuar como mortal por algum tempo.

Hera olhou para a sobrinha.

— Bem, eu já vou dormir – disse ela se levantando. – Boa noite tia.

— Boa noite – disse Hera pensativa.

Ela suspira e pega o relatório para ler, mas ao lembrar as palavras da sobrinha que disse que os cientistas em breve irão embora a deixou um pouco incomodada. Pois, sentiria falta da companhia do Dr. Bronson que era um homem bonito e agradável.

Ela de fato estava gostando dele, mas não queria e nem poderia se envolver com outro homem, isso seria um desastre e ela temia pelo doutor. Zeus já provou que não tolera rivalidade, ele matou um amante mortal de Deméter por puro ciúme o coitado foi pulverizado na frente dela. Deméter ficou arrasada, pois amava o homem. Por isso, ela temia que Zeus fizesse o mesmo com Roy e ela se sentiria culpada por essa tragédia. No entanto, ela queria poder ter coragem para fazer uma loucura, a éons é traída por Zeus e sua vida era chorar pelos cantos, vingar-se em suas amantes e nas crias e ser alvo de chacota por todos no Olimpo.

Estava cansada dessa vida.

O fato de ter experimentado a mortalidade lhe mostrou o quanto a vida é maravilhosa. Os humanos enfrentam muitos desafios e é isso que torna suas vidas preciosas, eles lutam pelos seus sonhos, por aquilo que almejam e trabalham com esse objetivo.

Ao ouvir a história de Roy, ela pôde perceber a sua sensibilidade, seu amor pelas pessoas e dar de si para ajudá-las. Ele é um homem maravilhoso que merece tudo de bom. Então, tomou uma decisão.

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Na manhã seguinte, ela acorda bem disposta e vai para a cozinha fazer o café. Despina aparece e vê a tia fazendo as panquecas.

— Bom dia tia, caiu da cama?

— Eu quase não dormi, fiquei até tarde lendo o relatório de Quiron – disse colocando a última panqueca no prato. – Prontinho. Pode se servir.

— Obrigada – disse Despina colocando uma panqueca no seu prato e o café na xícara.

Hera se senta e se serve e ao fazer isso, seu pulso fica à mostra e Despina franze o cenho, não sentia o poder da tia.

— Você não está usando a sua pulseira – ela comenta.

— Resolvi seguir o seu conselho – disse ela – só usarei quando for necessário.

Despina sorri.

— Então....

— Se eu tiver que me despedir do Roy será como Irene – disse Hera tomando um gole do café. – E eu quero aproveitar o máximo o tempo em que ele estiver por aqui.

— Eu tenho certeza que o doutor vai ficar feliz com isso – disse Despina sorrindo. – Não vai demorar as fêmeas darem à luz, hoje mesmo ou amanhã isso estará acontecendo.

— Foi o que os biólogos falaram – disse Hera – por isso eu e o Roy combinamos de assistir.

— Vai ser interessante – disse Despina alegre.

Depois do café, ambas as deusas se dirigem para o acampamento dos cientistas. Eles estavam reunidos com o senhor Beaumont que estava dando as últimas instruções.

— Vamos dividirr o grrupo – disse ele – os que ainda têm que terminarr suas observações podem fazerr isso, enquanto que os outrros podem verrificar os alces ou outrros animais que faltam.

Os grupos se dispersam e Hera procura o doutor dentre os demais, mas não o encontra.

— Não estou vendo o Roy.

— Talvez ele esteja em sua barraca.

Danielle vê as duas mulheres e se aproxima.

— Bonjour* madame Duncan, Diana.

— Bonjour Danielle – cumprimenta Hera. – Vocês já estão de saída?

— Oui*. Hoje vamos nos dividirr – informou – a senhorra querr se juntarr a nós?

— Claro, mas para onde vão?

— Bem, um grrupo irrá parra os barcos e outrros parra os alces.

— Nesse caso eu irei com o grupo em terra, não gosto do mar.

— Então eu irei com o grupo do mar – disse Despina.

— Eu também irrei – disse Danielle. – Hoje é a vez de meu pai ficarr no acampamento.

— Ele ficará sozinho? – perguntou Hera.

— Non, o doutor ficarrá com ele – disse ela.

— Ah – disse Hera decepcionada. – Eu não vi o doutor entre os grupos.

— Ele foi à cidade comprarr alguns ingrredientes parra o almoço.

— Certo – disse ela olhando para Despina que deu de ombros. – Bem, então eu vou me juntar ao grupo de terra. Com licença.

Hera suspira e se dirige até o grupo em que vai observar os alces. Ela queria muito que o doutor estivesse presente, queria vê-lo novamente.

Nisso quando ela acaba de pensar nele, um carro se aproxima do acampamento e dele sai um homem alto, moreno e muito bonito. Era ele, o coração de Hera acelera e ela dá um sorriso bobo que não passou despercebido por Despina. Ela e Danielle correm até ele para ajudá-lo com as compras.

— Olá doutor – Despina cumprimenta.

— Olá Diana, sua tia está aqui?

— Sim, ela está ali – disse apontando para a tia que estava parada feito um ás de paus.

Ele olha na direção de Hera e sorri.

— Pode deixar que levarremos as comprras – disse Danielle pegando algumas sacolas.

— Obrigado – disse ele se dirigindo até Hera que estava parada sem saber o que fazer. – Olá Irene, está tudo bem?

— Uhum – disse ela afirmando com a cabeça. – Hãã... eu soube que você vai ficar no acampamento.

— Pois é, infelizmente não poderei ir ver os alces – disse ele sorrindo. – O senhor Beuamont me pediu pra ajudá-lo no almoço. É que esse será o nosso almoço de despedida, então....

— Eu soube que vocês estão de partida – disse ela.

— Vamos voltar para Ontaro e de lá para outra expedição com destino à Antártida.

— Uau! Bem mais frio do que aqui – disse ela rindo.

— Um frio eterno – disse ele sorrindo. – E você Irene, vai continuar aqui?

— Vou – disse – até resolver a minha vida.

— Certo – disse ele sorrindo – Eu acho que seu grupo já está de partida.

— Ah, ok. A gente se vê depois – disse ela se dirigindo ao grupo.

— Estarei esperando – ele sussurra.

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Depois de algum tempo o grupo de terra retorna fazendo vários comentários. Hera sorri com os comentários, ela se dirige até o doutor Bronson que estava sentado perto da sua barraca.

— E então? Como foi?

— Foi lindo! – disse ela sorrindo. – As crias nasceram perfeitas e saudáveis segundo os biólogos.

— E a sua amiga?

— Deu a luz a uma menina – disse ela sorrindo. – Ah, foi maravilhoso Roy! Só faltava você lá.

— Eu queria muito assistir ao seu lado – disse ele -, mas já que eu não pude ver os pequenos alces eu quero convidá-la para ver a Aurora Boreal, o que acha?

— Eu adoraria – disse ela sorrindo.

— Então está combinado – disse ele – hoje à noite.

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Depois do almoço em que todos se reuniram num banquete em comemoração ao bom trabalho que fizeram no local, Hera e Despina voltam para casa.

— Você parece feliz tia – comentou Despina sorrindo.

— É claro que estou feliz – disse – Vi novas vidas nascerem e o Roy me convidou para ver a Aurora Boreal com ele.

— Uau! – disse Despina sorrindo. – Despeça-se bem dele tia.

— Eu vou tentar – disse ela.

Quando a noite chega os dois se encontram e vão para o alto de uma colina de onde podem ver o mar e por cima deste, luzes verdes brilhantes. Roy lhe explica o fenômeno e Hera não tirava os olhos dele, gostava de ouvi-lo falar. Ele era inteligente e educado e gostava dela.

— É muito lindo! – disse ela olhando para as luzes.

— Essa é uma das coisas mais belas que existe – disse ele. – Eu nunca me canso de ver.

— Sabe Roy, eu nunca tinha reparado na beleza das coisas se não fosse por você – disse ela – minha vida era tão agitada que eu não prestava atenção ao meu redor. Um exemplo é esse fenômeno, se eu tivesse olhando ficaria impressionada e diria: Uau! Que demais! Entretanto, com você me explicando como o fenômeno acontece eu vejo de um ângulo diferente e então dizer: Que coisa maravilhosa! – ela diz sorrindo. – Obrigada Roy.

— Vou sentir sua falta Irene – disse ele olhando para ela.

— Eu também Roy – disse ela – Vou sentir falta da sua companhia.

Os dois se olham por um tempo e Hera não resiste e aproxima seu rosto e o médico o pega com as duas mãos e a puxa para si e toca seus lábios. Ambos se entregam num beijo longo e cheio de sentimentos. Para Hera aquilo era algo novo, pois nunca em todos seus milhares de anos se atrevia a tanto, mas tinha que concordar com a sobrinha, ali ela não era a deusa Hera, mas Irene, a mulher comum. Nesse momento, apagou da mente a sua condição de deusa casada e infeliz, deu-se um momento de felicidade, mesmo que não durasse muito, mas que lhe deixaria marcas em seu coração.

Pela primeira vez em éons sentiu-se amada novamente, mas dessa vez por um mortal. Um homem sensível, bonito e com um coração bondoso. Sim, ela estava se apaixonando pelo doutor.

Os dois quebram o beijo por falta de ar. Eles ficam ofegantes e sorriem um para o outro.

— Doce – ele diz – Você é doce Irene.

— Roy....

— Xiuu. Deixe-me saborear esse momento – ele diz. – Quero levar essa lembrança comigo para onde quer que eu vá.

E novamente ele a puxa para si num beijo de tirar o fôlego.

— Ah Roy – diz ela ofegante.

— Eu prometo Irene, nunca vou te esquecer – disse ele.

— Eu também, sempre que eu olhar para a Aurora Boreal, vou lembrar de você – disse ela.

— Da Antártida também se pode ver, então farei o mesmo – disse ele a puxando para seus braços lhe dando um abraço aconchegante.

Hera se deixa levar e coloca os braços ao redor da cintura do médico e encosta a cabeça em seu peito. Ela estava se sentindo tão bem nos braços daquele homem que não queria que aquela noite acabasse, mas como nada dura por muito tempo era hora de voltar pra casa.

O Dr. Bronson deixa Hera perto da cabana que dividia com Despina. Esta olha pela janela a chegada da tia, ela sorri ao ver que ambos se despedem com um beijo. Hera desce do carro e espera o doutor partir e só então entra em casa.

Despina observa o semblante feliz da tia e comenta:

— A noite foi boa pelo o que posso deduzi.

— Foi ma.ra.vi.lho.sa! – disse Hera sorrindo. – Ele tão.... não tenho palavras.

— Estou feliz pela senhora – disse Despina – viu como eu tinha razão?

— Eu admito você estava certa – disse Hera. – Roy é tudo de bom.

— É pena que ele vai embora – disse Despina séria.

— Bem, não se pode querer tudo – disse Hera. – Vou sentir a falta dele. Me sinto tão bem ao seu lado, mas infelizmente eu tenho que cair na real.

— Pelo menos você agiu em tempo – disse Despina. – Assim não se arrependerá de não ter tentado.

— Você também tinha razão em outra coisa – disse – como Irene eu não senti nenhum remorso ou mesmo incômodo por ter beijado o Roy, mas se eu tivesse com a pulseira, talvez eu tivesse recusado o convite do doutor.

— Ainda bem que você tirou a pulseira – disse Despina. – Vai se despedir dele amanhã?

— Vou – disse Hera. – Quero vê-lo partir. Vai ser doloroso, mas eu vou.

— Vamos as duas, quero me despedir de Danielle – disse Despina.

Hera assente.

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Na manhã seguinte, Hera e Despina vão ao acampamento dos cientistas se despedirem. Quando chegam, eles tinham acabado de desarmar as barracas, Despina se aproxima de Danielle que amarrava a sua e colocava em cima de sua mochila.

— Danielle!

— Oi Diane, estamos voltando pra casa.

— Quer ajuda?

— Sim, por favor.

Enquanto isso, Hera conversava com o doutor.

— Vim desejar a você uma boa viagem.

— Obrigado Irene – disse ele. – O senhor Beaumont nos disse que voltaremos no ano que vem. Se você ainda estiver por aqui....

— Não posso lhe dá nenhuma certeza, mas... quem sabe a gente se encontre de novo.

— Espero que sim – disse ele sorrindo – Bom, já terminei por aqui, vou colocar a bagagem no carro.

— Eu ajudo – ela se oferece.

Assim, Roy Bronson partiu levando o coração de Hera consigo. E Hera por sua vez, guarda em seu coração a lembrança agradável do doutor.

— Não se preocupe tia, você o verá novamente – disse Despina.

— Como sabe?

— Porque você Irene está destinada a ele – disse a deusa do inverno misteriosa.

Hera franze o cenho não entendendo o que ela quis dizer.

— Como assim destinada?

— Você se apaixonou pelo doutor como Irene e não como Hera – explicou – por isso, vocês estão destinados um para o outro.

— Eu não vou ficar aqui pra sempre Despina – disse Hera. – E como sabe que eu me apaixonei por ele?

— Ora, eu vi vocês se despedirem com um beijo – disse Despina sorrindo. – Vá dizer que o beijou por curiosidade? Além do mais eu senti seu coração acelerado quando fez isso.

Hera bufa.

— É verdade, eu me apaixonei por ele – disse ela sorrindo -, mas foi melhor assim, em breve eu terei que voltar para o meu suplício como rainha.

— Você pode vir aqui quando quiser – disse Despina – é só usar o dispositivo de Hefesto.

— Eu sei – disse ela tirando a pulseira do bolso -, mas é melhor eu não usá-la por enquanto – disse recolocando no bolso – a reunião do Solstício já deve ter acabado a essa altura.

— Provavelmente Zeus mandará buscá-la – disse ela – já que ele não pode ver você aqui por causa da minha magia.

— Isso pode ser um problema – disse Hera. – Zeus ficará intrigado por não poder ver essa região. Provavelmente ele mandará seus servos investigar, me refiro aos ventis ou mesmo Bóreas.

— O Vento Norte – disse Despina. – Eu saberei se eles estiverem por perto. Posso sentir ventos frios em qualquer lugar.

— Seja cautelosa, se for Bóreas ou mesmo Quione, eles podem sentir sua presença – disse Hera.

— Certo – disse Despina.

Com isso as deusas retornam para casa.


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Notas finais do capítulo

*Bonjour – Bom dia

*Oui - Sim

Até o próximo.



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